3 DE ANNA O. A GISELE BÜNDCHEN O TRABALHO PARA CONSTRUIR A VERDADEIRA IDENTIDADE AINDA É UM CAMINHO A PERCORRER. HELEN GUARESI * O que é que pode haver em comum entre estas duas mulheres, onde a primeira viveu no final do século dezenove, foi paciente Breuer, quem ajudou a elucidar a questão transferencial na psicanálise. A segunda é a nossa top model mais famosa, que com sua beleza estonteante, conquistou o mundo da moda, e é para muitas mulheres, um padrão de beleza a ser conquistado. Qual será o paralelo que se pode traçar entre duas mulheres tão diferentes, além de que se Anna vivesse no século XXI, talvez estivesse de chapinha no cabelo e silicone nos seios, e que Gisele, vivendo no século XIX, com toda esta sedução que lhe é própria, fosse considerada uma prostituta? O que há entre estas duas mulheres, é exatamente o tempo de mais de cem anos, um tempo longo e ao mesmo, se pensarmos na construção da verdadeira identidade, quase inexistente. Quero com isto afirmar, partindo da minha experiência clínica, que nós mulheres do século XXI, ainda estamos tão distantes de nossa verdadeira identidade, quanto às do século XIX. Vivemos como realidade os fantasmas que criamos para nós! Wilhem Reich, inicialmente um psicanalista que começou a olhar para o corpo de seus pacientes, e a perceber, que neles está inscrita toda a história de suas vidas, nas tensões, torções, cortes de fluxo, respirações. Após Reich, temos os Neo-Reichianos, que estudaram e entenderam Reich em sua profundidade e também traçaram caminhos interessantes, aos quais chamamos hoje, de Psicologia Corporal. Reich postulava que nossa infância deixa marcas, e dependendo da intensidade, ou freqüência, geram defesas ou couraças: Dividiu, didaticamente, em sete os anéis de couraça: ocular oral cervical torácico diafragmático, abdominal e pélvico. Reich que estudou e compreendeu a teoria Freudiana, nos mostra, que ficamos fixados nas fases do desenvolvimento da libido. Digamos que neste caso, a questão principal tenha sido no início da fase oral, que por algum motivo, o bebê tenha vivido (sentido) uma hostilidade dirigida a ele: 3
4 necessidade de defesa, tensões nos olhos que carregam seu correspondente caracterial: falta de percepção, confusão... ESFINGE: podemos ter aqui um ponto de partida, para pensarmos as questões femininas. De certo ponto de vista, podemos ter no ÉDIPO, um início marcante do nascimento de uma mulher. Mas, vejam o que eu encontrei, circulando pela internet, e vi o quanto podemos sim, pensar nas fases do desenvolvimento da libido, e na dificuldade que temos para construir a verdadeira identidade. Mulher Fenomenal. Aos 3 anos ela olha pra si mesma, e vê uma rainha. Aos 8 anos ela olha pra si mesma, e vê Cinderela. Aos 15 anos ela olha pra si mesma, vê uma bruxa e diz: - "Mãe, eu não posso ir pra escola desse jeito!" Aos 20 anos ela olha pra si mesma, e se vê: com cabelo muito liso/muito encaracolado", mas decide que vai sair assim mesmo... Aos 30 anos ela olha pra si mesma e se vê: com cabelo muito liso/muito encaracolado", mas decide que agora não há tempo para consertar essas coisas. Então, sai assim mesmo... Aos 40 anos ela olha pra si mesma e se vê: com cabelo muito liso/muito encaracolado", mas diz: "sou uma boa pessoa" e sai mesmo assim... Aos 50 anos ela olha pra si mesma e se vê como é. Sai e vai para onde ela bem entender... Aos 60 anos ela olha pra si mesma e se lembra de todas pessoas que não podem mais se olhar no espelho. Sai de casa e conquista o mundo... Aos 70 anos ela olha pra si mesma e vê sabedoria, risos, habilidades... Sai para o mundo e aproveita a vida... Aos 80 anos ela não se importa muito em olhar pra si mesma. Simplesmente põe um chapéu violeta e vai se divertir com a vida... 4
5... Talvez devêssemos pôr o chapéu violeta mais cedo...o! Nós sabemos que estas imagens de bruxa - alta/baixa, gorda/magra, cabelo...nos aprisionam em uma auto-estima pequenina. Conforme afirmei no início, vivemos como realidade os fantasmas que criamos para nós. Do mundo da fantasia boa, diretamente para o mundo da fantasia terrível, porém, vivemos como realidade! Aprisionadas nas fases iniciais, quase não temos possibilidade de sentirmos amor-próprio, de nos vermos como somos: nossas sabedorias, risos, habilidades e defeitos. Até aqui, o que temos é uma aproximação muito grande com a psicanálise de FREUD. Alguns alunos me perguntam: mas então, se a teoria Reichiana baseia-se totalmente nas fases de desenvolvimento da libido, qual é a diferença de OUVIR FALAR e do VER FALAR. Principalmente no voltar a acreditar nos olhos, na observação. A couraça muscular do caráter é o que se vê, seu modo de ser, seu jeito, sua expressão, o modo de SER para nós, PSICÓLOGOS CORPORAIS, não é somente uma realidade interior, é uma imagem visual clara. O corpo do paciente, muitas vezes, é visto como um mundo que quer falar, ser compreendido. FREUD: Declaradamente, se pôs fora do campo visual do paciente ( se ele se pusesse a olhar muito, perceberia em pormenores que a pessoa fala com o corpo todo). A grande dificuldade, é que se você vê, também é visto, aí vemos olhares, jeitos e expressões de medo, desconfiança, desprezo, irritação, desespero...é fantástico como fica fácil trabalhar, podendo ver...é nada, pois se vemos, somos vistos, precisamos saber trabalhar com as transferências, e não ficarmos naquele lugar, onde muitos psicoterapeutas se escondem, porque saíram de traz do divã, e não suportaram. EU SOU O PSICOTERAPEUTA E VOCÊ É O NEURÓTICO!! ENTENDEU! Há tempos atrás a mãe de um paciente, que veio para a 1ª sessão, perguntou-lhe se havia gostado da terapia. E ele responde prontamente: eu gostei, ela fala comigo! Aqui também podemos falar, e é sempre importante da psicoterapia do próprio psicoterapeuta. REICH estava tentando vencer a distância corporal entre as pessoas, distância que é uma característica marcada da nossa tradição social. Ninguém toca em ninguém!!! É Proibido. Porque? Nem REICH, nem LOWEN, nem os psicoterapeutas corporais, transavam ou transam com seus pacientes. O processo psicoterapêutico, é para conscientizar o desejo e não para realizá-lo. De que tratam as mulheres em busca da verdadeira identidade nos consultórios clínicos? 5
6 Sofrimentos Amorosos!!! Há toda uma gama de amores: maridos e esposas, entre amantes, entre pais e filhos, entre amigos, amores homossexuais, amores heterossexuais. Por mais férteis que algumas relações pareçam, acabam se tornando monótonas e aprisionantes, por quê? Observo atualmente a invenção de uma série de alianças de sobrevivência; casais que somam salários para manter as despesas, avós que cuidam dos netos para a filha trabalhar, velhinhos que dividem apartamento. Considero estas alianças interessantíssimas na medida em que permitem o enfrentamento de alguns problemas cotidianos. Mas preocupo-me com a criação de outros tipos de suportes necessários para que a vida seja sentida como PULSAÇÃO E POTÊNCIA.?! O sistema capitalista aprisiona desejos e paixões, vão sendo convertidos em força de trabalho e compulsão a consumir. Há um certo tratamento em nossa sociedade, que consiste em reduzir o sentimento amoroso a essa espécie de apropriação do outro, da imagem do outro,do sentir do outro. Nesta busca simbiótica, é o amor que sai perdendo. Na modernidade, acaba ocorrendo um movimento amplo, de moralização da sociedade, produzindo indivíduos que se aproximam por semelhanças nos hábitos e valores. Até os bairros passam a ser protegidos contra a contaminação popular, cada pessoa deve manter um estilo que não se afaste do convencional. É a manifestação de intolerância à diversidade. No início do século, a maioria das pessoas se contentava em ganhar apenas o suficiente para prover suas necessidades básicas, e alguns pequenos luxos, deixando uma parte do tempo livre para o lazer. Contudo, a partir da década de vinte, a comunidade empresarial americana, precisou buscar alternativas, para reverter uma das mais graves crises econômicas já vividas. O setor de marketing vai se fortalecendo na luta pela conquista de novos mercados, produzindo demandas, que jamais haviam sido desejadas antes. Com isto, o trabalhador disciplinado, vai se convertendo, em consumidor insaciável!! Estas relações amorosas, com objetos substitutos, podem chegar a lugares realmente assustadores, se ponderarmos a auto estima aprisionada X padrão de beleza e sucesso da Gisele Bündchen. Desejos de aplicar silicone, lipo-escultura, chapinha no cabelo, cirurgias. Cortes na carne para alcançar um pouquinho de amor próprio? Quando uma pessoa tem sua energia bloqueada para seu próprio uso, ela deixa de ser plenamente senhora de si.perde a capacidade de auto-regulação. Assim posso afirmar, sem medo de errar: O trabalho para construir a verdadeira identidade ainda é um caminho a percorrer!!! 6
7 Bibliografia: REICH Wilhelm Análise do caráter São Paulo - 2004 Ed. Martins Fontes BOADELLA David Nos caminhos de Reich 1985 São Paulo Ed. Summus Editorial GAIARSA Jose A. Reich 1980 São Paulo 1982 Ed. Agora DAL RI Adriana GUARESI Helen Geração Reichiana 2005 Curitiba Ed. WUNDERLICH REVISTA REICHIANA nº 06 1997 São Paulo Instituto Sedes Sapientae *HELEN GUARESI Psicóloga Clínica CRP 08/03912 Psicoterapeuta Corporal. Fundadora e Diretora do Instituto REICHIANO Psicologia Clínica e Centro de Estudos. Coordenadora do Curso de Formação e Especialização em Psicologia Corporal, entre outros. Supervisora do Geração Crescente e Jornada Paranaense de Psicologia Corporal. 7