1 O desenvolvimento da consciência nos grupos de manifestações populares. Denise Gomes Vieira Graduanda do curso de Psicologia da Faculdade de administração, ciência, Educação e Letras- FACEL. RESUMO Este artigo busca discutir o desenvolvimento da consciência de grupo durante as manifestações, utilizando para embasamento a linha sócio histórico, a partir do olhar da psicologia. Mostrar o quanto participar de movimentos sociais implica no desenvolvimento de faculdades especificamente humanas. O homem ultrapassa uma relação imediata como meio, baseada única e exclusivamente na satisfação individual de suas necessidades e constrói uma relação mediata com a vida, pensando a coletividade e o bem-estar da população como um todo. Deixa interesses individualistas e toma as rédeas da sua própria vida e da história da humanidade. Palavras-Chave: Consciência; Manifestações populares; Psicologia Social. ABSTRACT This paper discusses the development of group consciousness during the demonstrations, using historical grounding line partner, from the look of psychology. Show how to participate in social movements implies the development of specifically human faculties. The man goes beyond an immediate relationship as a means, based solely on individual satisfaction of their needs and build a mediated relationship with life, thinking and collective well-being of the population as a whole. Let individualistic interests and "take the reins" of their own lives and in human history Keywords: Awareness, popular manifestations; Social Psychology..
2 A partir da psicologia este artigo tem como objetivo apresentar algumas discussões acerca do desenvolvimento da consciência e sua relação com as manifestações populares. Espera-se que, assim, possamos contribuir para que novas pesquisas sobre o tema sejam produzidas. Não temos a intenção de responder todas as lacunas pertinentes ao assunto, pois seria humamente impossível em um artigo. Este artigo é fruto de longas reflexões na iniciação cientifica da faculdade de Ciência, educação, ciências e letras - Facel. Consciência A visão de consciência que será apresentada nesse estudo é segundo o olhar da psicologia sócio histórico, que parte do pressuposto que a consciência juntamente com a atividade permite o homem relacionar-se com mundo, uma relação ativa contextualizada em um tempo histórico e construída socialmente (Lane, 2004). O homem em relação com mundo, atua e transforma esse mundo (atividade) e inevitavelmente é transformado também. O homem aprende a ser homem socialmente, é inserido em uma cultura, nas relações estabelecidas com o outro e com o meio, esse meio foi constituído humanamente pela atividade, o trabalho (Aguiar,2000). Aguiar (2000) sintetiza com maestria essa ideia: O homem é, assim, visto como um ser inerentemente social e, como tal, sempre ligado às condições sociais. Homem que, além de produto da evolução biológica das espécies, é também produto histórico, mutável, pertencente a uma determinada sociedade, em uma determinada etapa de sua evolução. Não se está simplesmente afirmando, no caso, que o homem se encontra ligado ao mundo e à sociedade ou que é influenciado por ela, mas sim que se constitui
3 sob determinadas condições sociais, resultado da atividade de gerações anteriores. (Aguiar. 2000 p.126) Desse modo, a consciência não é vista com um reflexo passivo do ambiente, pelo contrario a consciência se produz de maneira ativa e dinâmica com base nos acontecimentos da realidade do indivíduo, portanto a consciência possui um caráter social e histórico. Sobre essa temática Lev Vigotski discorre: A característica essencial da consciência reside na complexidade da reflexão, no fato de que nem sempre o resultado exato reflete, ou seja, pode haver alterações da realidade que ultrapassam os limites do visível e das experiências imediatas, exigindo a busca de significados que não são observados diretamente.( Aguiar,2000 apud VYGOTSKI,1991 a:17) Segundo Aguiar (2000) a consciência é mutável, e determinada pelas condições sociais e históricas específicas, ressaltando que toda produção social e cultural são produtos da atividade humana, que se utiliza de instrumentos para satisfazer determinada demanda, mudando o mundo externo e também o seu mundo interno, é uma relação dialética. É fundamental ao falar de consciência ressaltar a importância que a linguagem e o pensamento têm na sua constituição, a linguagem é o instrumento essencial para a sobrevivência da espécie, através da linguagem são constituídos os signos e significados que possibilitam com que o indivíduo se relacione com os outros, consigo próprio e com sua consciência. Aguiar (2000) afirma que: A linguagem é, portanto o instrumento fundamental nesse processo de mediação das relações sociais, no qual o homem se individualiza, se humaniza, apreende e materializa o mundo das significações que é construído no processo social e histórico. Nessa
4 busca de compreensão da consciência como construção social, não é possível separar pensamento e palavra, uma vez que, como diz Vigotski, o pensamento não é simplesmente expresso em palavras, mas por meio delas que ele passa a existir ( AGUIAR,2000.p.104). Aguiar (2000) escreve sobre a complexidade da consciência: Vê-se, então, que as formas de pensar e sentir o mundo expressam uma integração, muitas vezes contraditória, de experiências, de conhecimentos (aspectos significados), de uma história social e pessoal (mediada pela ideologia, pela classe social, pelas instituições etc.) e de emoções vividas, mas não necessariamente significadas. Finalizando, a consciência deve ser vista como um sistema integrado e multideterminado, em uma processualidade permanente, na qual é possível a reconstrução interna do mundo objetivo (AGUIAR,2000p.108). Com base em tudo que foi apresentamos consideramos a consciência não como algo de origem biológica ou do interno do individuo, pelo contrário a consciência é determinada a partir das vivencia estruturadas pela cultura produzidas pela humanidade, ou seja, o homem interage ativamente com um mundo de ações, significados, sentidos (...), é por esse mundo externo, como um reflexo da realidade, que se forma a consciência. Partindo desse pressuposto que a consciência não é algo puramente natural da espécie, e que, portanto, pode ser desenvolvida de maneira critica saudável e construtiva, esse artigo se dispõe a estudar esse desenvolvimento ou elevação nas manifestações populares.
5 Manifestações populares Agora que já conhecemos o que significa consciência, partiremos para definições de grupo. Martins (2007) utiliza a definição para grupo como: Compreender o grupo enquanto relações e vínculos entre pessoas com necessidades individuais e/ou interesses coletivos, que se expressam no cotidiano da prática social. Além disso, o grupo é também uma estrutura social, uma realidade total, um conjunto que não pode ser reduzido à soma de seus membros, supondo alguns vínculos entre os indivíduos, ou seja, uma relação de interdependência. À semelhança de qualquer vivência humana, o processo grupal implica relações de poder e de práticas compartilhadas. (MARTINS,2007. p 78) Entendemos que, portanto que qualquer grupo é responsável por manter ou modificar as relações sociais, isso acontece claramente nas manifestações populares, são pessoas que juntas formam um grupo e buscam modificar sua realidade, buscando transformar essa realidade, seja reivindicar melhor qualidade de vida ou a manutenção de direitos já conquistadas. É importante ressaltar que a sócio histórica considera o ser humano um social e histórico, ou seja, desde pequenos todos nós somos pertencentes a vários grupos o primeiro deles geralmente é a família, passando para os amigos, vizinho e assim por diante. E a história de cada indivíduo vai influenciar nesse grupo (Martins, 2007) abordando: Martins (2007) faz uma citação muito relevante ao tema que estamos A definição hegemônica de grupo social que se caracteriza como interdependência entre seus membros, existência de um objetivo comum, pela diferenciação de papéis, pela presença ou emergência de uma liderança. (MARTINS, 2007. p 78).
6 Nessa citação a autora caracteriza o grupo como, pessoas que tem um objetivo que os une, isso acontece em movimentos sociais, são inúmeras pessoas que ultrapassa uma relação imediata como meio, baseada única e exclusivamente na satisfação individual de suas necessidades e constrói uma relação mediata com a vida, pensando a coletividade e o bem-estar da população como um todo. Traremos como exemplos de manifestações populares três importantes mobilizações brasileiras, são elas: Diretas-Já ocorridas 1984, movimento próimpeachment do presidente Collor (1992), e por fim a mais recente manifestação, chamada popularmente como movimentos dos 20 centavos(2013). A campanha das Diretas-Já foi realizada entre Janeiro e abril de 1984, grandes mobilizações por todo país pedindo a volta de eleições diretas para presidentes, extintas desde 1964, com a ditadura militar. As campanhas surgiram em meio ao uma grave crise política e um regime militar autoritário (Bertoncelo.2009) De acordo com Kingo (2001) a campanha direta já mobilizou milhões de pessoas, que com apoio de partidos opositores lutavam a conquista posteriormente ao pelo direito a voto. Com a mobilização, a população conseguiu abrir o caminho para que em 1989 fosse realizada a primeira eleição direita. Fernando Collor de Mello foi primeiro presidente a ser eleito conforme a Constituição democrática de 1988, com aproximadamente de 35 milhões de votos. Sallum Jr. e Casarões (2011) descrevem o contexto dessa vitória e seus significados para população brasileira, o povo comemorava a efetivação do grito das diretas já, o movimento de democratização nascia no país. O último presidente eleito por meio de eleição direta havia ocorrido em 1960, ou seja, trinta anos atrás. Porém Collor passou a receber várias denúncias de corrupção e sua popularidade e prestígio decaiu. Em 1992 milhares de pessoais, grande parte jovens universitários gritaram pela saída de Collor do poder, as manifestações foram rapidamente se espalhando pelo país, uma das maiores manifestações aconteceu em São Paulo em 18 de setembro do mesmo ano, e contou com a presença de aproximadamente 750 mil pessoas. Foram abertos inquéritos que culminaram no impeachment de Collor,Também isso foi comemorado como sinal de força da democracia brasileira, e seu vice Itamar franco continuou seu mandato. Mastuscelli,2010)
7 O movimento do passe livre ou vinte centavos como ficou conhecido é algo muito recente iniciou-se em meados de junho desse ano (2013) e não existe literatura cientifica que fale sobre o assunto. Multidões tomaram as ruas das capitais e logo se alastrou até por pequenas cidades, pessoas com cartazes, exigindo a redução dos custos das passagens de ônibus, além de reivindicar saúde, segurança, educação e muitas outras. As contribuições da manifestação dos vinte centavos, ainda estão sendo colhidas, em muitos estados; a passagem de ônibus abaixou (inclusive no Paraná). A história ainda está escrevendo a importância que teve esse movimento social. Consciência e manifestações populares A manifestação social implica no desenvolvimento e elevamento de faculdades especificamente humanas, como a consciência definida por Aguiar (2000),p.108 como: Vê-se, então, que as formas de pensar e sentir o mundo expressam uma integração, muitas vezes contraditória, de experiências, de conhecimentos (aspectos significados), de uma história social e pessoal Ressaltando esse desenvolvimento acontece somente por meio da interação, pois o homem é um ser social, que se constituem com o outro, e também com seu meio histórico, portanto só pode ser entendido se analisado essas relações e vínculos. O Homem se constitui a partir da ação sobre a realidade, e essa ação visando satisfazer uma demanda, mudando a realidade ele toma consciência de sua nova realidade, é um processo dialético. Durante as manifestações o homem supera uma relação imediata como meio, baseada exclusivamente em suprir uma demanda individual do aqui e agora e constrói uma relação visando a coletividade, reivindicando melhor saúde de qualidade, educação entre outras, como aconteceu nas manifestações como Diretas-já, impeachment do Collor (1992), movimentos dos 20 centavos, O que há de comuns nesses movimentos são os interesses individuais deixam de ser considerado e o bem comum é o motivo de luta, trazendo conquistas concretas
8 como o direto ao voto, a queda de um presidente e a redução no custo da passagem do transporte coletivo. Partindo dessas reflexões e pressupostos expostos no decorrer desse artigo, podemos afirmar que toda e qualquer ação de transformação na sociedade só podem ocorrer quando às pessoas se unem (Lane,2004). Considerações finais Notasse com esse estudo que participar de movimentos sociais implica no desenvolvimento e elevação de faculdades tipicamente humanas, a consciência, O homem ultrapassa uma relação imediata como meio, baseada exclusivamente na satisfação individual de suas necessidades e constrói uma relação mediata com a vida, pensando na coletividade. A literatura que trata do tema de movimento popular é escassa, existem poucos estudos na que procuram investigar os impactos ou contribuições que podem trazer, sugere-se pesquisa sobre maior produção de pesquisa sobre esse tema. Foi pesquisa em várias bases de dados e livros e as literaturas encontradas apresentavam a visão direito, sociologia, e historia, conclui-se com isso a necessidade de produção da psicologia sobre essa temática. Foi justificada no decorrer do trabalho a importância da psicologia estudar as diversas formas movimentações e organização humana,além do engajamento da psicologia em questões ligadas a politicas publicas. O psicólogo social deve ser comprometido com a realidade social.
9 Referências: AGUIAR, Wanda Maria Junqueira. Reflexões a partir da psicologia sóciohistórica sobre a categoria "consciência". Cad. Pesqui. [online]. 2000, n.110, pp. 125-142. ISSN 0100-1574. Bertoncelo, Edison Ricardo Emiliano. Eu quero votar para presidente : uma análise sobre a Campanha das diretas. Disponivel em<http://www.scielo.br/pdf/ln/n76/n76a06.pdf.acesso em 26 de jun2013.. KINZO, MARIA D'ALVA G..A democratização brasileira: um balanço do processo político desde a transição. São Paulo Perspec. [online]. 2001, vol.15, n.4, pp. 3-12. ISSN 0102-8839 LANE. S.T; CODO. W e ORGS. Psicologia Social: o homem em movimento. São Paulo : Brasiliense,2004. MARTINS, Sueli Terezinha Ferreira. Psicologia social e processo grupal: a coerência entre fazer, pensar sentir em Sívia Lane. Psicol. Soc. [online]. 2007, vol.19, n.spe2, pp. 76-80. ISSN 1807-0310. Martuscelli, Danilo Enrico. O PT e o impeachment de Collor.Opin. Publica, Nov 2010, vol.16, no.2, p.542-568. SALLUM JR., Brasilio and CASAROES, Guilherme Stolle Paixão e. O impeachment do presidente Collor: a literatura e o processo. Lua Nova [online]. 2011, n.82, pp. 163-200