EMPREGO E TRABALHO DECENTE: um conceito produtivo para o País



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Transcrição:

EMPREGO E TRABALHO DECENTE: um conceito produtivo para o País BRASÍLIA 2011

EMPREGO E TRABALHO DECENTE: um conceito produtivo para o País

Kátia Abreu Presidente Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil - CNA Antonio Oliveira Santos Presidente Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo - CNC Márcio Lopes de Freitas Presidente Confederação Nacional das Cooperativas - CNCOOP Robson Braga de Andrade Presidente Confederação Nacional da Indústria - CNI José Carlos de Souza Abrahão Presidente Confederação Nacional de Saúde - CNS Fábio Colletti Barbosa Presidente Confederação Nacional do Sistema Financeiro - CONSIF Clésio Soares de Andrade Presidente Confederação Nacional do Transporte - CNT

SUMÁRIO APRESENTAÇÃO INTRODUÇÃO... 7 Informações Gerais sobre a Conferência Nacional e as Conferências Estaduais de Emprego e Trabalho Decente... 7 Emprego e trabalho decente... 11 Múltiplos entendimentos... 11 Um conceito para um País produtivo... 13 Indicadores de trabalho decente... 17 O trabalho em um mundo em transformação... 18 Terceirização... 18 Redução da jornada legal... 20 Horas extras... 21 Participação do salário na renda... 22 Rotatividade... 23 Convenções da OIT... 24 EIXO TEMÁTICO I: PRINCÍPIOS E DIREITOS... 27 Condições de igualdade... 27 Condições de segurança: prioridade à vida e à saúde... 29 Condições de remuneração... 31 Solução de conflitos... 34 EIXO TEMÁTICO II: PROTEÇÃO SOCIAL... 35 Trabalho informal... 35 Proteções legais a grupos de pessoas vulneráveis... 38 Integração de migrantes ao mercado de trabalho... 40 EIXO TEMÁTICO III: TRABALHO E EMPREGO... 43 Contexto macroeconômico... 43 Apoio à inclusão produtiva... 45 Sustentabilidade empresarial e ambiental... 50 Cooperativismo... 53 EIXO TEMÁTICO IV: FORTALECIMENTO DO TRIPARTISMO E DO DIÁLOGO SOCIAL COMO INSTRUMENTO DE GOVERNABILIDADE DEMOCRÁTICA... 55

APRESENTAÇÃO Esta cartilha reúne informações para subsidiar o debate a ser realizado na I Conferência Nacional de Emprego e Trabalho Decente e nas conferências estaduais e distritais que a precedem. Com o intuito de contribuir para a construção de uma Política Nacional de Emprego e Trabalho Decente, a partir das prioridades estabelecidas no Plano Nacional de Emprego e Trabalho Decente, sistematiza elementos e apresenta argumentos que permitem aprofundar a reflexão sobre o tema. Como regra geral, o documento ratifica a relevância do trabalho decente, tanto por razões de caráter social e humanitário como por questões associadas à competitividade. Afinal, emprego decente é emprego produtivo, que somente pode ser ofertado por empresas sustentáveis. Por outro lado, alerta também para distorções decorrentes de entendimentos equivocados acerca de responsabilidades e atribuições. Sem dúvida alguma, as empresas precisam cumprir rigorosamente suas responsabilidades legais e contratuais. Contudo, não podem responder por deficiências decorrentes da atuação do Estado ou da sociedade. Além disso, o documento defende o progresso das discussões sobre a modernização das relações de trabalho e o aprimoramento de instrumentos de negociação e das instâncias de diálogo social. Acredita-se que apenas dessa maneira será possível assegurar a agilidade requerida pela dinâmica da economia e dos mercados, preservando os direitos fundamentais do trabalhador. Embora não exaustiva, a Cartilha reúne dados, informações e pontos de vista importantes para subsidiar as discussões, apoiar o amadurecimento do processo de modernização das relações de trabalho e ampliar as condições de trabalho decente. Está estruturada em cinco seções: uma introdução e quatro blocos que abordam, de maneira agregada, os principais temas definidos para as conferências, enfatizando aspectos conceituais e factuais. Espera-se que a leitura deste documento seja proveitosa e contribua para os necessários avanços do emprego e do trabalho decente no Brasil.

INTRODUÇÃO Informações Gerais sobre a Conferência Nacional e as Conferências Estaduais de Emprego e Trabalho Decente Em junho de 2003, o Governo Brasileiro e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) firmaram um memorando de entendimento que previa o estabelecimento de programa de cooperação técnica para a promoção de uma Agenda Nacional de Trabalho Decente, por meio de consulta às organizações de empregadores e de trabalhadores. Essa agenda foi lançada em maio de 2006 e deu origem, em 2009, ao Plano Nacional de Emprego e Trabalho Decente (PNETD). Em novembro de 2010, foi convocada, por meio de Decreto Presidencial, a Primeira Conferência Nacional de Emprego e Trabalho Decente (I CNETD), que será realizada em 2012. O objetivo geral dessa Conferência é contribuir para a construção, o fortalecimento e a promoção de uma Política Nacional de Emprego e Trabalho Decente a partir das prioridades estabelecidas no PNETD. Prioridades do Plano Nacional de Emprego e Trabalho Decente: ATENÇÃO Gerar mais e melhores empregos, com igualdade de oportunidades e de tratamento; Erradicar o trabalho escravo e o trabalho infantil, especialmente em suas piores formas; e Fortalecer os atores tripartites e o diálogo social como instrumento de governabilidade democrática. 7

A I CNETD terá participação de, no máximo, 1.200 delegados e sua composição obedecerá à seguinte orientação: Poder Executivo: 30%; Representação de Empregadores: 30%; Representação dos Trabalhadores: 30%; e Outras organizações: 10%. O Regimento Interno da Conferência recomenda, ainda, a participação de pelo menos 30% de mulheres na composição das delegações. A I CNETD será precedida de conferências estaduais, sendo também facultada a realização de conferências municipais ou intermunicipais 1. Essas conferências deverão priorizar os temas nacionais, embora possam contemplar questões de interesse local. A participação nas conferências estaduais é requisito para a participação na Conferência Nacional, e somente poderão participar da I CNETD, no máximo, 25% do número comprovado de participantes da respectiva conferência estadual. As delegações estaduais para I CNETD terão seu número máximo de delegados definido com base nos dados da População em Idade Ativa (PIA), resultando nas quantidades informadas no quadro a seguir. Delegações Estaduais para I CNTED: SP: 70 delegados; IMPORTANTE MG: 60 delegados; CE, BA, RJ, PR, RS e PE: 50 delegados cada UF; PA, MA, SC e GO: 40 delegados cada UF; AM, PI, RN, PB, AL, ES, MS, MT e DF: 30 delegados cada UF; e RO, AC, RR, AP, TO e SE: 20 delegados cada UF. 1 Nesse caso, as resoluções serão apreciadas pelas respectivas conferências estaduais. 8 EMPREGO E TRABALHO DECENTE: UM CONCEITO PRODUTIVO PARA O PAÍS

Composição da Bancada de São Paulo para a CNTED EXEMPLO O estado de São Paulo terá direito a 70 delegados. Respeitada a proporção, serão: 21 delegados(as) para representação do governo; 21 delegados(as) para representação dos empregadores; 21 delegados(as) para representação dos trabalhadores; e 7 delegados(as) para outras organizações. Para isto, a conferência estadual de São Paulo deve contar com, no mínimo, 280 participantes. As Conferências Estaduais deverão seguir as regras da I CNETD e respeitar as proporções de representantes do governo, dos empregadores, dos trabalhadores e de outras organizações. Para essas conferências, não foram estabelecidas limitações para o número de participantes. As entidades empresariais, cientes da importância de participar de forma qualificada, apresentar propostas e defender posições por meio de argumentações sólidas e fundamentadas, têm avançado na sistematização de informações e proposições sobre os temas a serem tratados. Esta cartilha é mais um avanço nessa direção, sistematizando informações sobre os 18 temas propostos para a I CNETD, organizados em torno de quatro eixos temáticos: Eixos temáticos da I CNETD Eixo 1 - Princípios e direitos; ATENÇÃO Eixo 2 - Proteção social; Eixo 3 - Trabalho e emprego; e Eixo 4 - Fortalecimento do tripartismo e do diálogo social como instrumento de governabilidade democrática. INTRODUÇÃO 9

Para ordenar os debates e facilitar o encaminhamento das conferências, os quatro eixos temáticos foram subdivididos da seguinte forma: Eixo 1 - Princípios e direitos: Igualdade de oportunidades e de tratamento, especialmente para jovens, mulheres e população negra; Negociação coletiva; Saúde e segurança no trabalho; Política de valorização. Eixo 2 - Proteção social: Prevenção e erradicação do trabalho infantil; Prevenção e erradicação do trabalho escravo e do tráfico de pessoas; Informalidade; Migração para o trabalho. Eixo 3 - Trabalho e emprego: Políticas macroeconômicas de crédito e investimento para a geração de mais e melhores empregos; Inclusão produtiva de grupos vulneráveis; Sistema Público de Emprego, Trabalho e Renda e educação profissional; Micro e pequenas empresas, empreendedorismo e políticas públicas de microcrédito; Cooperativas; Empreendimentos de economia solidária; Emprego rural e agricultura familiar; Empresas sustentáveis; Empregos verdes e desenvolvimento territorial sustentável. Eixo 4 - Fortalecimento do tripartismo e do diálogo social como instrumento de governabilidade democrática: Mecanismos e instâncias de diálogo social, em especial a negociação coletiva. Nesta cartilha, os eixos temáticos são apresentados de maneira agregada, de modo a simplificar o entendimento e enfatizar os aspectos comuns de maior relevância e impacto para a discussão. 10 EMPREGO E TRABALHO DECENTE: UM CONCEITO PRODUTIVO PARA O PAÍS

Emprego e trabalho decente Múltiplos entendimentos Os entendimentos sobre emprego e trabalho decente estão sujeitos a um elevado grau de subjetivismo, não existindo definição universalmente aceita. Por isso mesmo, é preciso tornar as discussões o mais objetivas possível à luz das realidades dos diferentes setores e regiões do País. De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o trabalho decente é considerado como aquele adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, equidade e segurança, capaz de garantir uma vida digna 2. Já o entendimento do escritório da OIT no Brasil é que trabalho decente é um trabalho adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, equidade e segurança, capaz de garantir uma vida digna 3. Em outras ocasiões, contudo, o escritório da OIT no Brasil chegou a registrar que trabalho decente é um trabalho produtivo e adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, equidade, e segurança, sem quaisquer formas de discriminação, e capaz de garantir uma vida digna a todas as pessoas que vivem de seu trabalho 4. De acordo com esse último entendimento, o trabalho só é considerado decente se for produtivo. Esse é um ponto fundamental para a construção de uma visão de trabalho decente sustentável e aderente à realidade, a partir da qual seja possível estabelecer diretrizes concretas e eficazes para garantir um ambiente de competitividade econômica e bem-estar do trabalhador. Para ser decente, o trabalho tem primeiro que ser produtivo. IMPORTANTE Somente a partir desta associação pode-se construir um ambiente que assegure competitividade econômica e bem-estar do trabalhador. 2 Fonte: disponível em http://portal.mte.gov.br/i-cnetd/i-cnetd/trabalho-decente.htm. Acesso em 29/08/2011. 3 Fonte: disponível em http://www.oit.org.br/content/pr%c3%a9-lan%c3%a7amento-da-confer%c3%aancia-nacional-de-trabalho- -decente-ser%c3%a1-realizado-em-bras%c3%adlia. Acesso em 29/08/2011. 4 Fonte: disponível em http://www.oit.org.br/topic/decent_work/trab_decente_2.php. Acesso em 06/2011. Esse entendimento é replicado em diversos outros documentos sobre trabalho decente (ver, por exemplo, http://www.seter.pa.gov.br/index.php?option=com_ content&view=article&id=131:oficina-capacita-tecnicos-na-construcao-do-trabalho-decente&catid=42:noticias-destaque. Acesso em 29/08/2011). INTRODUÇÃO 11

Deve-se ressaltar, ainda, alguns aspectos subjetivos que permeiam o entendimento divulgado pelo escritório da OIT no Brasil: Adequadamente remunerado : trata-se de um termo vago e subjetivo, que depende da percepção do sujeito. É razoável supor que a maior parte da população economicamente ativa gostaria de ganhar mais e por isso se julga inadequadamente remunerada. Entretanto, será que isso é suficiente para configurar um trabalho indecente? A adequação da renumeração depende, entre outros fatores, das condições de sustentabilidade econômica da empresa e da produtividade do trabalho executado. Aumentos na remuneração estão também associados às condições de mercado, regulação e competição. Assim, ações como a redução de impostos e de encargos incidentes sobre a folha de pagamentos no Brasil, por exemplo, poderiam contribuir para aumentos na remuneração dos empregados. Condições de liberdade : a defesa da liberdade e o repúdio ao cerceamento de direitos são praticamente consensuais. A rigidez da legislação trabalhista brasileira, porém, impõe com frequência limites à liberdade que todos defendem. Existem formas mais modernas de trabalho - a exemplo do trabalho remoto ou de modelos de contrato apoiados em pessoas jurídicas - que proporcionariam melhores condições de trabalho e mais conforto aos trabalhadores. Entretanto, ao impor sanções às empresas que recorrem a essas alternativas, a legislação cerceia sua utilização, restringindo a liberdade dos indivíduos. Será que a utilização de novos modelos caracterizaria trabalho indecente? Não se poderia afirmar que os impedimentos à livre negociação entre empresas e trabalhadores e a permanente tutela do Estado cerceiam as condições de liberdade que deveriam vigorar? Condições de equidade : a operacionalização desse conceito é complexa e subjetiva. Como remunerar equitativamente pessoas que exercem o mesmo trabalho, mas com qualidades e/ou produtividade diferentes? Como remunerar equitativamente pessoas que pertencem a categorias profissionais diferentes, regidas por distintos acordos e convenções? Será que a imposição de condições de equidade não contradiz a meritocracia e as próprias condições de liberdade? Condições de segurança : a questão, nesse caso, é estabelecer os limites das obrigações do setor empresarial. As empresas têm grandes responsabilidades com a segurança do trabalho e devem zelar pelo bem-estar do trabalhador no exercício de sua função. Porém, será que lhes caberia responder por fatores externos ao ambiente de trabalho e fora de seu controle e de sua jurisdição? Será que a exposição a riscos associados à violência urbana cuja prevenção é papel do Estado configuraria trabalho indecente? Da mesma forma, será que problemas decorrentes da violência no trânsito poderiam ser atribuídos às empresas? Vida digna : trata-se, mais uma vez, de um conceito vago e subjetivo, que depende da percepção do sujeito. O que é vida digna para o empregador? Quais são suas dimensões? E qual seria a visão do empregado? Objetivamente, o trabalho é digno quando as proteções legais e contratuais são rigorosamente respeitadas. Se elas não são suficientes para que se alcance a dignidade pretendida, seria preciso definir novas leis ou novas normas contratuais. 12 EMPREGO E TRABALHO DECENTE: UM CONCEITO PRODUTIVO PARA O PAÍS

Responsabilização indevida do empregador Acidente de percurso é aquele no trajeto de casa para o trabalho e vice versa EXEMPLO A vendedora Maria do Carmo foi atingida por um tiro na perna durante um assalto no coletivo em que se deslocava da residência para o trabalho, caracterizando um acidente de percurso. No Regime Geral de Previdência Social (RGPS) o acidente de percurso (trajeto) é um tipo de acidente de trabalho, assim como o acidente típico, que ocorre no desempenho da atividade ou por doença profissional. Ao classificar o assalto sofrido por Maria do Carmo como acidente de trajeto, impõe-se um custo ao empregador, quando a responsabilidade de garantir segurança pública a todos os cidadãos é do Estado. Um conceito para um País produtivo Os múltiplos entendimentos apresentados na seção precedente apoiam-se em aspectos muitas vezes subjetivos, cujas interpretações podem resultar em distorções e dissensos que dificultam os avanços pretendidos. Além disso, nem sempre associam o trabalho decente a critérios de produtividade e sustentabilidade da empresa, essenciais para a viabilidade das propostas e para sua aderência à realidade. Alguns outros entendimentos sobre trabalho decente procuram agregar maiores níveis de objetividade e aderência à realidade. De acordo com o professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, Cássio de Mesquita Barros Júnior, um trabalho decente significa um trabalho produtivo, no qual se protegem direitos, que proporciona remuneração e proteção social adequadas 5. O professor da Universidade de São Paulo (USP), José Pastore, por sua vez, afirma que um trabalho decente significa um trabalho produtivo no qual os direitos dos trabalhadores e dos empreendedores são respeitados e cumpridos. 5 BARROS JUNIOR, C. M. As reformas necessárias na legislação trabalhista na perspectiva das novas diretrizes da OIT (Organização Internacional do Trabalho). Revista do Tribunal Superior do Trabalho, São Paulo, v. 67, n. 4, out/dez 2001 (Disponível em: http://www.mesquitabarros.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3:as-reformas-necessarias-na-legislacao- -trabalhista-na-perspectiva-das-novas-diretrizes-da-it&catid=7:artigos&itemid=3&lang=es. Acesso em 29/08/2009). INTRODUÇÃO 13

IMPORTANTE O adequado entendimento de trabalho decente deve levar em conta aspectos relativos à produtividade do trabalho, procurando ser mais direto para vencer os aspectos subjetivos. Além disso, deve enfatizar o fato de que os direitos são fixados em leis e contratos negociados entre as partes envolvidas. Desde que não contrariem a legislação, os contratos de trabalho negociados por meio de acordos e convenções coletivos devem ter o mesmo peso que as leis. Assim, é preciso avançar em direção a um conceito moderno de proteção do trabalho. A lei trabalhista deve estabelecer regras gerais para todos, mas, ao mesmo tempo, abrir espaços para que as partes possam negociar e definir diferentes ajustes. Desse modo, os que não sabem, não podem ou não gostam de negociar terão a lei regendo suas vidas. Os demais, porém, poderão fixar proteções por meio de acordos e convenções coletivos que, evidentemente, devem preservar direitos fundamentais inflexíveis, como a proteção ao menor e à gestante e o combate à discriminação, por exemplo. Não há dúvidas de que existe um amplo consenso em torno dos direitos fundamentais do ser humano. Por isso mesmo, é possível avançar com segurança em discussões que contribuam para aprimorar o entendimento sobre o trabalho decente, evitando que o mau uso de suas múltiplas dimensões crie impedimentos para o trabalho produtivo e para a competitividade. É preciso, portanto, conciliar o trabalho produtivo e o respeito aos direitos fundamentais do trabalhador, evitando desvirtuamentos que prejudiquem a sustentabilidade das empresas e comprometam a geração de novos postos de trabalho decente. Desvirtuamento na caracterização de trabalho análogo à escravidão EXEMPLO O trabalho rural é regulado pela Norma Regulamentadora 31 (NR-31) do Ministério do Trabalho e Emprego. O empregador está obrigado a cumprir 252 itens. Para muitos, o descumprimento de um único item caracterizaria o trabalho escravo. Se um empregado é contratado para trabalhar numa roça de café, por exemplo, e, por alguma razão, o dono da propriedade o transfere para cuidar do jardim e do gramado da sede da fazenda, isso só pode ser feito mediante exame médico aprovando a sua aptidão para o novo trabalho. Caso contrário, seria caracterizado o trabalho análogo à escravidão 6. 6 Fonte: disponível em http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/tag/trabalho-escravo/. Acesso em 29/08/2011. 14 EMPREGO E TRABALHO DECENTE: UM CONCEITO PRODUTIVO PARA O PAÍS

A essência do trabalho decente pressupõe que o trabalho seja produtivo e que se respeitem e cumpram os direitos dos trabalhadores e dos empreendedores. Não se questiona o fato de que o trabalho decente envolve esforços e garantias de proteção aos trabalhadores. Por essa razão, a ênfase na sustentabilidade, na produtividade e na aderência às condições concretamente observadas é pertinente, revestindo-se de grande importância. IMPORTANTE Como o trabalho decente requer a geração de empregos que somente podem ser ofertados por empresas economicamente sustentáveis, os dois conceitos estão indissoluvelmente atrelados. TRABALHO DECENTE EMPRESA SUSTENTÁVEL Para se alcançar um entendimento apropriado de trabalho decente, é preciso ter em mente também que as empresas não podem responder por deficiências da atuação do Estado. Muitos dos custos suportados pelas empresas originam-se de deficiências que provêm da carência de investimentos públicos ou de fragilidades institucionais. É esse o caso do pagamento de auxílio-transporte e auxílio-educação, dos gastos com segurança privada e dos custos associados a deficiências na infraestrutura, à insegurança jurídica e à complexidade burocrática. O entendimento do setor empresarial acerca do trabalho decente deixa claro que: O trabalho decente começa por ser produtivo. O trabalho decente requer a sustentabilidade da empresa. O trabalho decente depende de muitos fatores que estão fora do controle do setor empresarial: níveis de crescimento econômico, crédito e tributos, condições de infraestrutura e burocracia, entre outros. Essas condições sistêmicas, muitas vezes, prejudicam severamente as empresas: a produtividade além do portão da fábrica é comprometida, por exemplo, por aspectos como elevada carga tributária e infraestrutura. O trabalho decente deve respeitar a economia e a cultura de cada país. O trabalho decente contribui para a competitividade. INTRODUÇÃO 15

Além disso, o trabalho decente pressupõe empenho, comprometimento e zelo na execução das tarefas e na geração de bens e serviços de qualidade. Trata-se do estabelecimento de uma relação de cooperação e parceria entre as empresas e os trabalhadores: confiança e respeito mútuo são requisitos essenciais para o trabalho decente. O trabalho decente envolve direitos e obrigações de empresas e trabalhadores. ATENÇÃO Por fim, cabe destacar que, para proporcionar trabalho decente, as empresas necessitam de condições externas adequadas que incluem: Um bom ambiente de negócios; Regras claras e justas; Reduzidos custos de transação; Acesso ao capital; Incentivos ao investimento; Gasto público mais produtivo, permitindo a redução de impostos e encargos sociais; Infraestrutura de boa qualidade; Instituições modernas, em especial no campo do trabalho; e Recursos humanos qualificados. Independentemente dos diferentes entendimentos, é indiscutível que as empresas que dispõem de condições dessa natureza têm maiores possibilidades de gerar postos de trabalho decente. Não basta defender a criação de empregos de boa qualidade: é preciso garantir as condições de competitividade para que isso ocorra. IMPORTANTE Por isso, não se deve dissociar a discussão do trabalho decente dos debates que envolvem o aprimoramento do contexto macroeconômico, institucional, regulatório e de infraestrutura no Brasil. 16 EMPREGO E TRABALHO DECENTE: UM CONCEITO PRODUTIVO PARA O PAÍS

Indicadores de trabalho decente Transformar o entendimento de trabalho decente em indicadores quantitativos não é uma tarefa fácil. De fato, a construção de indicadores de trabalho decente é complexa e multifacetada, envolvendo dificuldades conceituais e problemas associados à disponibilidade de estatísticas apropriadas. Por isso mesmo, o debate é intenso e as definições estão sujeitas a permanentes ajustes. O documento Taller regional sobre la medición del trabajo decente 7, da OIT, apresenta 66 indicadores estatísticos, agrupados nos dez elementos fundamentais da agenda de trabalho decente, acrescidos de uma área de contexto econômico e social. O quadro abaixo apresenta essa proposição, que ressalta preocupações associadas à necessidade de refletir as circunstâncias específicas de cada país, assegurar disponibilidade de informações comparativas para outros países e levar em consideração as condições do entorno. Oportunidades de emprego (11 indicadores); Salários adequados e trabalho produtivo (7 indicadores); Horas decentes de trabalho (5 indicadores); Conciliação entre trabalho, vida familiar e vida pessoal (2 indicadores); Trabalho a ser abolido (4 indicadores); Estabilidade e segurança do trabalho (2 indicadores); Igualdade de oportunidades e tratamento no emprego (7 indicadores); Entorno de trabalho seguro (4 indicadores); Seguridade social (8 indicadores); Diálogo social e representação de trabalhadores e de empregadores (5 indicadores); e Contexto econômico-social e trabalho decente (11 indicadores). Por sua abrangência, contudo, alguns dos indicadores apresentados dizem respeito a aspectos que extrapolam os entendimentos sobre trabalho decente. Esse é o motivo pelo qual os indicadores estatísticos são segmentados em i) principais; ii) adicionais; iii) de contexto; e iv) que podem ser incluídos no futuro. Enquanto indicadores associados ao trabalho infantil e às desigualdades entre homens e mulheres no que diz respeito à participação no mercado de trabalho, por exemplo, são explicitamente relacionados a temas que compõem a I CNETD, medidas de produto per capita, por outro lado, estão associadas a um leque muito mais amplo de questões. Dessa forma, alguns dos indicadores propostos não conseguem necessariamente traduzir as condições efetivas de trabalho decente. 7 Taller regional sobre la medición del trabajo decente en Perú: versión preliminar: documento de taller: Lima, 15 y 16 de abril de 2010 / Organización Internacional del Trabajo; OIT Lima (ILO-LIMA); OIT/EC Proyecto Monitoreo y Evaluación de los Progresos del Trabajo Decente (MAP).- Ginebra: OIT, 2010. Disponível em: http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---dgreports/---integration/ documents/meetingdocument/wcms_146372.pdf. Acesso em 29/08/2011. INTRODUÇÃO 17

O trabalho em um mundo em transformação A economia mundial tem passado por grandes transformações, que abrangem os processos produtivos, as tecnologias e as relações de trabalho. O ritmo e a amplitude das mudanças impõem a adoção de novas formas de organização capazes de ajustar-se com maior velocidade às necessidades e à dinâmica de mercados. No âmbito das conferências sobre emprego e trabalho decente, os temas de maior relevância foram agrupados em eixos, de modo a organizar as discussões e facilitar os encaminhamentos. Não obstante a pertinência desses eixos, alguns assuntos merecem destaque especial, pois estão na ordem do dia e envolvem pontos sensíveis para os quais é necessário dedicar atenção. São exemplos desses temas: terceirização, duração da jornada legal, recurso a horas extras, participação do salário na renda e rotatividade do trabalhador. Aspectos relacionados a determinadas convenções da OIT também têm sido debatidos com frequência, como é o caso da demissão imotivada, vedada pela Convenção 158. Esta seção da Cartilha abordará cada um desses assuntos, detalhando os principais fatos e argumentos que podem contribuir para as discussões. Terceirização A terceirização é um fenômeno essencialmente gerencial, associado à emergência de novos padrões de produção. Refere-se à transferência de atividades para outras empresas, o que permite à contratante organizar melhor a produção, concentrando-se em atividades que fazem seu modelo de negócio funcionar com mais eficiência. Com isso, a terceirização contribui para a ampliação dos níveis de qualidade e produtividade, a redução de custos e a competitividade. Terceirização x Precarização ATENÇÃO A terceirização não deve ser confundida com a precarização das relações de trabalho, pois esta não decorre do formato de contratação. Essa proposição é válida, inclusive, porque a contratante é subsidiariamente responsável pela preservação dos direitos estabelecidos na legislação. 18 EMPREGO E TRABALHO DECENTE: UM CONCEITO PRODUTIVO PARA O PAÍS

De modo a assegurar proteção dos direitos trabalhistas e segurança jurídica para todas as partes envolvidas, é necessário estabelecer um marco legal adequado para a terceirização. Isso implica, inclusive, a superação da dicotomia entre atividades-meio e atividades-fim, uma vez que essa distinção não se ampara em parâmetros bem definidos. O fundamental, nessa discussão, é que todos tenham proteções trabalhistas e previdenciárias plenamente garantidas. O estabelecimento de um marco regulatório adequado para a terceirização requer a superação da dicotomia entre atividades-meio e atividades-fim. IMPORTANTE Desde que sejam garantidas proteções trabalhistas e previdenciárias, qualquer atividade deve ser passível de terceirização. Em diversas situações, a terceirização pode trazer um conjunto de vantagens para a empresa contratante, para a empresa contratada e para os trabalhadores. Benefícios da terceirização: Redução de custos decorrente, entre outros fatores, da redução do ativo imobilizado e da otimização do uso do espaço físico; Concentração de esforços em atividades de maior retorno; Acesso a novas tecnologias, como ocorre, por exemplo, no caso da terceirização de atividades de tecnologia da informação; Melhoria de qualidade, ao permitir, por exemplo, que os processos se tornem mais ágeis; e Geração de empregos. A combinação desses benefícios induz à melhoria de competitividade, ao aumento da rentabilidade e a um ambiente propício à criação de novos postos de trabalho qualificado, garantindo condições para a existência de empresas sustentáveis. INTRODUÇÃO 19

Redução da jornada legal A jornada legal de trabalho de 44 horas semanais vigente no Brasil é compatível com o parâmetro de 48 horas fixado pela própria OIT. Na verdade, a OIT preocupa-se apenas com jornadas excessivas. Assim, a jornada de 44 horas corresponde tão somente a um teto legal. Na Alemanha e na Inglaterra, por exemplo, a jornada legal de trabalho é de 48 horas, mas as partes têm liberdade para negociar jornadas mais curtas. Por isso, não é necessário estabelecer uma nova lei para reduzir a jornada legal, mas criar condições favoráveis à jornada negociada. Os defensores da redução da jornada legal de trabalho argumentam que a medida proporcionaria a criação de novos empregos. Entretanto, a realidade é mais complexa do que a lógica aritmética. Como alternativas à contratação de novos trabalhadores, as empresas poderão, por exemplo: Comprar máquinas para mecanizar a produção; Reduzir sua produção; Intensificar o trabalho dos empregados existentes; Migrar para outros países com melhores condições de competitividade. Redução da jornada legal: os resultados podem não ser os esperados EXEMPLO Não é razoável supor que uma empresa composta por um funcionário que trabalha 44 horas semanais contrate outro trabalhador caso a jornada seja reduzida para 40 horas, de modo que cada um deles trabalhe, em média, 22 horas por semana. A redução da jornada, muitas vezes, termina funcionando como um incentivo à prática de horas extras, cuja restrição está longe de ser um consenso entre a classe trabalhadora. Além de não levar necessariamente à criação de novos empregados, a redução da jornada de trabalho não reconhece as particularidades e necessidades de diferentes setores e ignora também os efeitos negativos sobre as microempresas e empresas de pequeno porte, responsáveis por mais da metade dos postos de trabalho no país. É importante ainda ressaltar que aumentos no custo de mão de obra (em decorrência da contratação de novos funcionários ou do pagamento de horas extras) podem impactar a rentabilidade das empresas. Como consequência, podem levar ao abandono de investimentos cuja rentabilidade seja inferior à de investimentos de risco semelhante. Alternativamente, podem repercutir em aumento de preços, prejudicando os próprios trabalhadores. 20 EMPREGO E TRABALHO DECENTE: UM CONCEITO PRODUTIVO PARA O PAÍS