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Transcrição:

São Paulo, domingo, 27 de junho de 2010 GILBERTO DIMENSTEIN Porres da elite É claro que as drogas merecem atenção, mas as pesquisas mostram que o grande problema é o álcool Um bar em São Paulo, próximo à PUC, decidiu cobrar bebida por hora: a pessoa paga uma quantia fixa e bebe o que quiser durante o tempo estipulado. Esse tipo de promoção ilustra uma informação revelada, na semana passada, por uma pesquisa da USP: 1 em cada 5 universitários brasileiros corre o risco de desenvolver dependência do álcool. Esse dado surpreende a opinião pública, para quem, segundo recentes pesquisas, as drogas são objeto de crescente preocupação, mas o álcool não. Essas pesquisas refletem-se nas posições assumidas por Dilma Rousseff e José Serra, os principais candidatos à Presidência. Dilma apresentou seu projeto contra o crack. José Serra arrumou uma briga com a Bolívia, acusando (e com certa razão, diga-se) suas autoridades policiais de conivência com o tráfico. Por tabela, o ataque bate em Lula, aliado de Evo Morales. É eleitoralmente compreensível, portanto, que o exgovernador, embora metido nas universidades nos anos 60 e 70, tenha dito que nunca sequer experimentou maconha. É claro que as drogas merecem atenção, mas as pesquisas mostram que o grande problema é a bebida. Neste ano, depois de descobrir que 30% dos estudantes das escolas particulares da cidade de São Paulo se tinham embebedado no mês anterior à pesquisa, a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) decidiu estender o levantamento para todo o Brasil, incluindo também a rede pública. "Não tínhamos a menor ideia de que faríamos essa descoberta", conta a coordenadora da pesquisa, Ana Regina Noto, do Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas).

Os dados da Unesp e da USP ajudam a explicar a polêmica provocada na semana passada pela notícia de que a festa de formatura organizada por estudantes de uma tradicional escola paulistana ofereceria "open bar". Segundo o trabalho da Unifesp, são os estudantes das escolas mais caras que revelam maior propensão a exagerar na bebida. Temos, no Brasil, cerca de 50 milhões de jovens. Se 30% deles (15 milhões de pessoas) ficam "altos" pelo menos uma vez por mês, é fácil imaginar a dimensão dos riscos de acidentes, de prática de sexo inseguro ou da própria dependência. Em São Paulo, a cada 39 minutos, o trânsito despeja uma pessoa no pronto-socorro do Hospital das Clínicas. Todos sabemos que boa parte dos acidentes está associada ao álcool. Mais graves ainda são os registros de atos de violência ligados à bebida. Por falta de informação, a sociedade aceita muito mais um adolescente tomando um porre por mês do que fumando um "baseado". Toleram-se até mesmo as mensagens que glamorizam o álcool, a exemplo do que se fazia no passado, quando fumar era charmoso e sexy. Cientificamente está provado que a maconha provoca muito menos danos do que o álcool, a principal causa de internação nos hospitais psiquiátricos. Nem a cocaína e o crack causam tantos danos. O crack, por exemplo, quase não aparece na pesquisa da Unifesp. Pergunto: quantos bares são punidos por vender bebida a menores de 18 anos? Não há solução simples. Além de fazer cumprir a lei que proíbe a venda de álcool a menores de 18 anos, é preciso alertar sobre os perigos do vício nas famílias, nas escolas e nos meios de comunicação. O levantamento da Unifesp dá uma boa notícia: entre jovens, cai o consumo de tabaco. Isso é resultado de décadas de campanhas que associam o fumo não ao charme e à sensualidade, mas ao câncer e até à impotência sexual. Cigarro não é igual a álcool. Beber moderadamente e com responsabilidade dá prazer e não prejudica a saúde. O desafio para os governos e para a sociedade, além da indústria da bebida e dos publicitários, é encontrar um meio de gerar essa

atitude responsável. Debater o tema nas eleições sem preconceitos e moralismos já seria um bom começo. PS- A Unifesp vai ampliar a pesquisa para descobrir os fatores que previnem o abuso do álcool e das drogas. Já se sabe, porém, que é preciso ajudar os jovens a ter autoestima e projetos de vida. Respeitar-se, apostar no futuro e ter diálogo familiar são a chave para minimizar o problema. Esse estudo, especialmente as recomendações, é leitura obrigatória (www.dimenstein.com.br). São Paulo, quinta-feira, 24 de junho de 2010 Pais querem barrar "open bar" em festa de alunos Menores terão álcool à vontade em formatura RICARDO WESTIN DE SÃO PAULO Os adolescentes do colégio Santa Maria, na zona sul de São Paulo, já conhecem o farto cardápio de bebidas de sua festa de formatura: vodca, saquê, cachaça, caipirinha, cerveja e "drinks à escolha" dos estudantes. A empresa de eventos escolhida pelos alunos promete "open bar" (bebida livre). A festa será em dezembro. Como a maioria dos alunos tem 16 ou 17 anos e a lei proíbe que se dê álcool a menor de idade, algumas famílias proibiram os filhos de ir à formatura. Outras ponderam que não é para tanto. A direção do colégio, por sua vez, diz que não apoia a festa e aconselha os pais a procurarem a polícia. A Folha entrou em contato com a Impacto Eventos, mas os responsáveis não ligaram de volta. Uma aluna de 16 anos disse que o contrato não diz quem terá direito ao bar. "Tanta bebida assim, obviamente, não será para os pais dos formandos. Será para os próprios adolescentes", diz Sérgio Berti, pai de aluno. Berti se recusou a assinar o contrato com a Impacto. "Já fui a formaturas assim. De repente, os adolescentes começam a cair e a desmaiar no meio da pista de dança por causa da bebida."

O pai Roque Carvalho Filho, por outro lado, confia na filha. "Sei que ela não é de beber. Além disso, os familiares vão estar lá. Não vai ser coisa só de adolescente." A psicóloga Rosely Sayão diz que o problema não é haver bebida, mas os pais a aceitarem. "Eles têm 17 anos, então vão dar um jeito de beber", diz. "Quando o pai dá o aval, assume a responsabilidade que deveria ser dada aos filhos, importante para o crescimento deles." A Impacto cobra R$ 1.210 do aluno. Cada um ganha seis convites. A empresa oferece bebida, comida, DJ, local da festa e UTI móvel. São Paulo, segunda-feira, 14 de junho de 2010 SEXO & SAÚDE Jairo Bouer - jbouer@uol.com.br Beber é fácil, mas a culpa é de quem? NA SEMANA passada, um estudo do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, ligado à Unifesp, publicado na Folha, mostrou que um terço dos jovens das escolas particulares da cidade de São Paulo tomou um porre no mês anterior à pesquisa. O resultado não chega a ser uma novidade, já que trabalhos anteriores mostraram dados semelhantes, mas indica, mais uma vez, a dificuldade do jovem em achar seu limite quando o assunto é o álcool. Beber em excesso não acontece só em escolas particulares. Nas públicas, o fenômeno se repete. A bebida é democrática. Quem tem dinheiro compra a mais cara, quem não tem se vira com o que consegue. Bebe-se muito, e cedo. Quem você acha que tem mais dificuldade em controlar o quanto bebe: o adolescente ou o jovem mais maduro? Na média, quanto mais novo, maior a dificuldade de controle. Pressão e aceitação do grupo, autoestima e necessidade de afirmação ajudam a explicar o que acontece. Mas quem é o responsável? Só o jovem mesmo? Será que trabalhos de prevenção e de responsabilidade nas escolas resolveriam a questão? Pode ajudar, mas o processo é mais amplo! Bebida no Brasil, acreditem, é barata. Em outros países há mais taxas sobre esse produto. Nas casas, bebe-se por qualquer razão: relaxar, confraternizar, afogar as mágoas,

festejar. O que não faltam são motivos! Desde cedo a criança vê os pais bebendo e é convidada a participar da festa! A TV tem uma enxurrada de propagandas: cervejas e bebidas "ice" já aparecem à tarde. Em tempos de Copa do Mundo, tente contar quantas vezes as bebidas vão aparecer na telinha. Pode apostar, bem mais do que os gols que serão marcados pela nossa seleção. Para completar, comprar bebida não é complicado para os menores. De quem é a "culpa" mesmo? São Paulo, terça-feira, 08 de junho de 2010 ANÁLISE Consumo precoce começa com exposição à publicidade CARLOS SALGADO ESPECIAL PARA A FOLHA A relação entre jovens e consumo de álcool é alarmante. Garotos e garotas entre 14 e 17 anos são responsáveis por 6% de todo o consumo anual de álcool do país. O número prova a fragilidade do país em fazer cumprir a lei (que proíbe a venda para menores de 18 anos) e em conter os perigos da experimentação, que acontece cada vez mais cedo. O porre pode, para muitos, parecer só uma brincadeira da garotada. Mas evidencia o sintoma de uma conduta social que inconscientemente aprova o consumo de álcool. Nos lares brasileiros, os jovens crescem assistindo a familiares e amigos consumirem bebidas alcoólicas nos mais variados eventos. Ou, ainda, após as tradicionais partidas de futebol, numa combinação contraditória entre álcool e esporte. Para o jovem, beber parece estar associado com status, suposto amadurecimento e possibilidade de mais relações pessoais e afetivas. Por essas razões, é preciso apostar fortemente na prevenção desde a infância. A proposta não surtirá efeito se os menores continuarem expostos à publicidade de bebidas, sempre associadas a cenários paradisíacos, formas perfeitas e diversão. Estudo que levantou 420 horas de programação televisiva identificou que a maioria das propagandas de bebidas ocorre em programas esportivos, com ao menos 10% de audiência de jovens.

Sabemos também que o álcool é apenas a porta de entrada para outras drogas. É a partir dele que o jovem fica mais exposto à experimentação de outras drogas. Limitar a publicidade, portanto, é o meio de dar uma adequada concepção em torno do consumo do álcool. CARLOS SALGADO é psiquiatra e presidente da Abead (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas)