XVIII Encontro Baiano de Educação Matemática A sala de aula de Matemática e suas vertentes UESC, Ilhéus, Bahia de 03 a 06 de julho de 2019 A MATEMÁTICA E O ALUNO SURDO: INCLUSÃO, DESAFIOS E ESTRATÉGIAS NO CAMINHO DA APRENDIZAGEM Érica Nascimento da Fonseca IFBA Campus Valença ericafsc28@gmail.com Márcia Rebeca de Oliveira Lima IFBA Campus Valença marciarebeca@ifba.edu.br Resumo: Tratando-se do ensino para alunos Surdos, sabe-se que ainda há muitas opiniões divididas em relação à inclusão escolar. Alguns profissionais não possuem o conhecimento da Língua Brasileira de Sinais (Libras) e por conta disso enfrentam desafios para lidar com esses alunos em sala de aula. Diante dessa realidade, esse trabalho busca investigar a visão sobre a inclusão escolar de alguns profissionais na área da matemática que possuem ou possuíram alunos Surdos em suas salas de aula, bem como os desafios presente nesse processo de ensino-aprendizagem e também algumas sugestões de estratégias que podem ser utilizadas para facilitar esse ensino. Essa pesquisa é uma extensão do trabalho de conclusão de curso e apresentou caráter qualitativo, focando principalmente nas relações sociais e como elas se dão. Os dados foram produzidos através da aplicação de questionários virtuais com docentes residentes de 12 cidades diferentes, principalmente do estado da Bahia e também através de levantamento bibliográfico. Os resultados obtidos com essa pesquisa nos permite evidenciar que é possível a inclusão de alunos Surdos no ensino regular, desde que haja melhorias nas escolas e conscientização por parte de todos envolvidos no processo. Palavras-chave: Inclusão escolar. Ensino-aprendizagem matemática. Alunos Surdos. INTRODUÇÃO O ensino da matemática para o aluno Surdo é um tema que nos leva a várias vertentes, pois são inúmeros os desafios que permeiam o ensino e aprendizagem desse discente. A falta de preparo profissional do docente, o desconhecimento da Língua Brasileira de Sinais (Libras) e a dificuldade em encontrar uma metodologia adequada bloqueiam esse processo,
uma vez que, muitas vezes o professor poderá se sentir inseguro e incapaz de realizar o ensino. Dentro dessa perspectiva, faz-se necessário a busca por estratégias voltadas a capacitação do mediador para a difusão dos conteúdos, tendo em vista que o uso de materiais de apoio, tais como: jogos, textos e exercícios focados nos recursos visuais, podem contribuir de forma a facilitar essa comunicação e consequentemente a aprendizagem. Visando melhorias no ensino de alunos com deficiência, e nesse caso o aluno Surdo, é necessário encontrar caminhos que ajudem esses docentes em sala de aula, ressaltando como a metodologia e os recursos favorecem essa comunicação. Vale ressaltar que se encontra em lei a obrigatoriedade da inclusão em cursos de formação de professores. Entretanto, não é isso que é vivido pela maioria dos profissionais da educação, pois mesmo recebendo a formação adequada, muitas vezes não se tornam aptos a mediar o conhecimento ao aluno Surdo para que o mesmo possa acompanhar e aprender concomitantemente a seus colegas. Assim, objetiva-se para esse trabalho investigar a visão sobre a inclusão escolar de alguns profissionais na área da matemática que possuem ou possuíram alunos Surdos em suas salas de aula, bem como os desafios presente nesse processo de ensino-aprendizagem e também algumas sugestões de estratégias que podem ser utilizadas para facilitar esse ensino. METODOLOGIA A proposta metodológica segue o direcionamento sistemático em uma revisão bibliográfica possibilitando a reflexão acerca das ideias de alguns teóricos, e ainda, para os fins desta análise, será utilizada a aplicação de questionários virtuais que foram elaborados com questões abertas e fechadas, destinados a professores de matemática que já tiveram ou têm experiência em ensinar alunos Surdos, objetivando entender a forma que se dá esse ensino para os discentes e quais são as dificuldades e estratégias relatadas por esses professores. Essa pesquisa contou com a participação de 18 profissionais da educação na área da matemática que já ensinaram ou ensinam a alunos Surdos. E que são residentes de diversas cidades da região Nordeste, principalmente do estado da Bahia. O intuito em aplicar esse questionário com profissionais de diferentes localidades é descobrir se há e em quais pontos existem convergências e/ou divergências a respeito dessas questões. Para preservar a identidade, nessa análise, esses professores serão nomeados como: P1, P2, P3, P4... P18.
RESULTADOS E DISCUSSÕES Em relação à revisão bibliográfica, a busca por referências foi feita através de artigos entre os anos de 2012 a 2016. Todas as pesquisas foram feitas no idioma português-brasileiro, aliados com temas diretamente ligados ao conteúdo, sem que houvesse fuga do tema. Segue análise do material selecionado para isso: AS EXPERIÊNCIAS REFLETIDAS COM OS ARTIGOS Os autores Nogueira e Borges (2012) após observações em uma escola pública inclusiva notaram que a professora de matemática não utiliza a Libras para se comunicar com as alunas. Por isso, durante as aulas ela buscava falar pausadamente, com a intenção de que as mesmas fizessem a leitura labial. Essas alunas são acompanhadas por uma Intérprete de língua de sinais ILS. Esta ficava sentada próxima das discentes e o momento em que ela mais se aproximava da lousa era para indicar a presença de elementos matemáticos nas fórmulas. Porém essa exploração visual acontecia em momentos raros. Assim, pode-se observar que a exploração da leitura labial e também do visual, ainda que não aconteça com frequência são as estratégias utilizadas pela professora. Entretanto, fica claro que uma das maiores dificuldades nesse processo tanto para a professora como para as alunas é a falta de comunicação direta entre as mesmas, e mesmo que ainda contem com a presença da ILS em sala de aula, isso se torna limitante e com pouco sucesso, em alguns casos. Outra experiência analisada foi dos autores Lemos e Dörr (2016). Nessa escola é exigido que a professora de matemática faça uso, em suas aulas, principalmente de recursos visuais. Durante certo período, as provas foram em Libras, mas, como a instituição não conta com laboratório de gravação, hoje as provas são aplicadas apenas na modalidade escrita. Em relação às dificuldades encontradas referem-se à grande quantidade de alunos em sala, o que obsta o atendimento mais atento às necessidades específicas dos alunos Surdos, que, por ser minoria, não determinam o ritmo e enfoque das aulas. Assim, com base nos artigos analisados observa-se que a presença de um ILS é usada como uma estratégia pedagógica inclusiva pelos professores de matemática. Outra metodologia bastante utilizada vista nos artigos é o uso de recursos visuais como facilitadores no aprendizado desses alunos Surdos. Apesar dos professores buscarem o uso de metodologias ou estratégias diferenciadas, pode-se, perceber que eles também enfrentam alguns desafios. A pouca ou quase inexistente comunicação entre o professor e o aluno Surdo é o maior dos desafios para esses professores.
OS DADOS OBTIDOS COM OS QUESTIONÁRIOS Com o intuito de sentir essa realidade mais próxima, essa pesquisa também contou com a aplicação de questionários virtuais, direcionados a professores de matemática. Dessa forma, o questionário foi dividido em duas partes: A primeira, para obter algumas informações do professor. E a segunda parte foi composta com perguntas diretamente ligadas ao tema específico, buscando saber quais os desafios esses professores encontraram ao ensinar matemática para alunos Surdos e sua opinião a respeito da inclusão e educação do Surdo. Sobre a temática, foi perguntado aos professores suas opiniões a respeito da inclusão dos Surdos no ensino regular. Mediante as respostas, pôde-se concluir que a maioria desses profissionais é a favor da inclusão. Entretanto, algumas pessoas são contra, pela forma que ainda é apresentada na educação brasileira, muitas vezes de forma parcial e não total. Observe que na fala de P9 isso é claro: P9: A inclusão, no modelo em que se encontra é eficiente do ponto de vista social, mas incapaz de proporcionar educação de qualidade ao surdo porque o ensino é disseminado em português e não em Libras. Entretanto, há pessoas que defendem a inclusão de Surdos no ensino regular, ainda que reconheçam que há muito que melhorar para que se torne ideal e realmente favoreça a vida escolar desses alunos. Vejamos: P3: Acho justo fazer com que os surdos sejam capazes de fazer parte do mundo dos ouvintes de forma igual já que são iguais só não usam a fala. Um dos desafios bastante relatados pelos entrevistados foi em relação ao pouco material de apoio disponível para o ensino. Muitas vezes as instituições de ensino não dão o suporte necessário para que esses professores possam fazer um trabalho diferenciado com esses alunos. Nesse sentido, vejamos o que relatam alguns professores: P11: A dificuldade que não tem muitos materiais prontos para surdos. P17: As dificuldades são bolar estratégia que realmente traga um ensino de qualidade. Também, de acordo com as respostas desses profissionais, conclui-se que a estratégia mais utilizada por eles são aquelas voltadas para o visual, pois não se realiza como as línguas
orais, pelo canal oral auditivo, mas sim pelo canal visual-espacial, ou por expressões faciais e movimentos gestuais perceptíveis pela visão (BRITO, 1998) e também destacadas como uma das que promove melhor desenvolvimento desses alunos Surdos. Podemos observar no relato a seguir: P5: Geralmente utilizo imagens previamente baixadas, jogos educativos e até mesmo encenações pra ajudá-los a entender o conteúdo. Sendo assim, é interessante destacar a importância do papel do professor com o aluno Surdo. É necessário que ao planejar a aula esse profissional pense não só no aluno ouvinte, mas também no Surdo, buscando atender melhor as especificidades desse educando. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho de investigação constatou que ainda há muito que se discutir em relação à inclusão escolar, pois esta deve acontecer como um todo e a realidade das escolas inclusivas brasileiras, muitas vezes não evidenciam isso, visto que não possuem estruturas suficientes, alguns professores, ainda que possuam alguma formação em Libras não estão aptos a lidar com alunos Surdos em sala de aula e existem poucos materiais didáticos disponíveis. Os desafios, de fato, existem e são diversos. Entretanto são desafios que muitas vezes, também devem ser vencidos primeiramente no ambiente familiar. Existem casos em que os familiares ou o próprio Surdo não se aceita e por isso não se considera parte da comunidade surda. Dessa forma não tem contato com a língua materna e ao chegar às escolas é que buscarão esse conhecimento, tornando ainda mais difícil sua passagem no âmbito educacional. Apesar dos desafios existentes, há estratégias que podem contribuir positivamente na aprendizagem da matemática para alunos Surdos. Também se evidencia que é possível a inclusão de alunos Surdos no ensino regular e posteriormente o ensino da matemática, desde que haja melhorias nas escolas e conscientização por parte de todos envolvidos no processo, almejando o acesso e a permanência desses alunos bem como a equidade do direito a educação a todos. Referências BRITO et al. (org). Língua Brasileira de Sinais. In: Brasil, SEESP. Brasília, 1998. v3. LEMOS, L. de J.; DÖRR, R. C. Os desafios e a percepção do ensino de matemática para alunos surdos. São Paulo, SP, 2016. NOGUEIRA, C. M. I.; BORGES, F. A. Uma análise das aulas de matemática para alunos surdos inclusos em uma turma do 9º ano do ensino fundamental. Campo Mourão, PR, 2012.