INCLUSÃO E ACESSIBILIDADE EDUCACIONAL: PERSPECTIVAS SOB O OLHAR DA EDUCAÇÃO ESPECIAL



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Transcrição:

INCLUSÃO E ACESSIBILIDADE EDUCACIONAL: PERSPECTIVAS SOB O OLHAR DA EDUCAÇÃO ESPECIAL CAMARGO, Renata Gomes UFSM re_kmargo@hotmail.com Eixo Temático: Diversidade e Inclusão Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo As temáticas inclusão e acessibilidade educacional têm sido largamente discutidas na atualidade, com vistas à reflexão de saberes que venham contribuir através da incursão dos mesmos nos contextos educacionais, visando à busca constante pela qualidade da participação e aprendizagem dos alunos. Neste sentido, é que se apresenta o presente artigo, que parte do questionamento de como a modalidade educacional educação especial relaciona-se com a inclusão e acessibilidade educacional, através do entrelaçamento destas que pode facilitar a referida busca, logo esta pesquisa através da sua proposta, justifica-se pela oportunidade de visualização deste cruzamento e através da sua compreensão desencadear possibilidades de práticas educacionais e novas pesquisas. Sendo assim, objetiva-se para este artigo a construção de uma discussão teórica sobre os entrelaçamentos entre inclusão educacional, acessibilidade educacional e Educação Especial, apresentando estudos que nos auxiliam a compreender os sentidos desta relação para a constituição de uma educação de qualidade, que visa à significação e efetividade da participação e aprendizagem dos alunos. Isto fez-se partindo da abordagem qualitativa da pesquisa (OLIVEIRA, 2008; GIL, 2010), através do método pesquisa bibliográfica (OLIVEIRA, 2008). Como principais referenciais teóricos, utilizou-se Beyer (2006), Brasil (2008), Glat & Oliveira (2003) e Manzini (2005). Dentre as primordiais considerações, tem-se que os distintos, porém complementares, sub-temas abordados no texto, dentre estes, a formação de professores e adaptações curriculares, são aspectos importantes para inclusão e acessibilidade educacional, se vistos sob a luz dos conhecimentos e práticas da Educação Especial, seu entendimento é ampliado e facilitado, visando a promoção da inclusão e acessibilidade educacional dos alunos, uma vez que a trajetória desta modalidade educacional, em diferentes âmbitos, tem pensado o ensino com vistas à buscar nas potencialidades de seu alunado, e também, os meios para auxiliar nas suas necessidades educacionais especiais. Palavras-chave: Acessibilidade educacional. Inclusão educacional. Educação especial. Introdução

12335 A partir do paradigma educacional da inclusão, que tem orientado na atualidade as ações educacionais dos profissionais docentes em todos os níveis de ensino, têm-se, como um dos fatores preponderantes, a garantia da acessibilidade educacional dos alunos. Entende-se acessibilidade como diferente de acesso, pois vai além deste conceito que diz respeito simplesmente ao ingresso dos alunos nas instituições educacionais, trazendo a preocupação com a permanência dos mesmos nestes espaços, visando à qualidade e eficácia da sua participação e aprendizagem no contexto educacional. Os sistemas de ensino devem organizar as condições de acesso aos espaços, aos recursos pedagógicos e à comunicação que favoreçam a promoção da aprendizagem e a valorização das diferenças, de forma a atender as necessidades educacionais de todos os alunos. A acessibilidade deve ser assegurada mediante a eliminação de barreiras arquitetônicas, urbanísticas, na edificação incluindo instalações, equipamentos e mobiliários e nos transportes escolares, bem como as barreiras nas comunicações e informações (BRASIL, 2008, p.12). Neste sentido, este artigo traz uma reflexão teórica a respeito da acessibilidade e inclusão educacional, sob o olhar da Educação Especial, partindo do entendimento sobre a relevância de problematizar e compreender como diferentes ações e saberes vêm sendo organizadas para os alunos como com características singulares, no intuito de contemplar a constituição da sua inclusão e acessibilidade educacional. Conforme a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), a atuação da Educação Especial na escola visa elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as possíveis barreiras para a plena participação e aprendizagem dos alunos com necessidades educacionais especiais nas instituições educacionais (BRASIL, 2008). Logo, os conhecimentos, recursos e metodologias inerentes á esta modalidade podem ser acessados para auxiliar na elaboração de estratégias para organização da inclusão e acessibilidade educacional nas escolas para todos os alunos. Neste sentido, Beyer (2006, p. 28) questiona [...] assim, a questão que passou a ser formulada foi: como, de que forma, com que meios pôr em movimento ações escolares inclusivas? Porém, oferece possibilidades, que implicitamente confirmam a supra afirmação dizendo que,

12336 Precisamos entender que as crianças são diferentes entre si. Elas são únicas em sua forma de pensar e aprender. Todas as crianças, não apenas as que apresentam alguma limitação ou deficiência, são especiais. Por isto, também é errado exigir de diferentes crianças o mesmo desempenho e lidar com elas de maneira uniforme. O ensino deve ser organizado de forma que contemple as crianças em suas distintas capacidades (BEYER, 2006, p.28) Blanco (2004) complementa a idéia apresentada acima, quando traz que as instituições educativas tem a difícil e obrigatória tarefa de ensinar, respeitando e considerando as necessidades, diversidade e diferenças de cada um e, ainda, oferecendo igualdade de oportunidades. Complementando com a participação efetiva no processo de ensino-aprendizagem, sugere-se que esta assertiva compreende uma conceitualização ampla de uma educação inclusiva que garante a acessibilidade educacional de seus alunos. Sendo assim, objetiva-se para este artigo a construção de uma discussão teórica sobre os entrelaçamentos entre inclusão educacional, acessibilidade educacional e Educação Especial, apresentando estudos que nos auxiliam a compreender a significância desta relação para a constituição de uma educação de qualidade. Para contemplar o objetivo deste artigo, parte-se de uma abordagem qualitativa da pesquisa, parafraseando Oliveira (2008) e Gil (2010), têm-se que a pesquisa qualitativa é um estudo aprofundado, detalhado e explicativo do objeto escolhido para investigação, através da busca por informações legítimas. Ainda como método utiliza-se a pesquisa bibliográfica, que segundo Oliveira (2008, p. 69) apresenta-se como [...] um estudo direto em fontes científicas, sem precisar recorrer diretamente aos fatos/fenômenos da realidade empírica. Escolheu-se este método pela necessidade de estudar e discutir diferentes conhecimentos para construir relação pretendida. Desenvolvimento A discussão que permeia as práticas de inclusão e acessibilidade educacional envolve muitos aspectos, dentre estes, a formação de professores como importante elemento para a promoção das referidas práticas.

12337 Nesta percebe-se, que o entendimento de que os conhecimentos relativos à constituição da inclusão e acessibilidade educacional, que precisam estar presentes na formação de professores, é ainda muito deficitário. Um alternativa para isso seria a formação do professor como mais reflexivo, para que possa entender que a atuação da perspectiva da inclusão e acessibilidade educacional diz respeito à todos os profissionais da educação, bem como, em primeira instância, a relevância das instituições de formação e as de atuação dos profissionais da educação, possam estar buscando configurar-se como reflexivas, definidas como, [...] organização que continuadamente se pensa a si própria, na sua missão social e na sua organização, e se confronta com o desenrolar da sua atividade em um processo heurístico simultaneamente avaliativo e formativo. (ALARCÃO, 2003, p. 37) Neste sentido, somente se consegue garantir o acesso, e mais que isso, acessibilidade educacional para promover a inclusão escolar, como colocam Glat e Oliveira (2003), se o professor sentir-se incluído, envolver-se com seus alunos, sentindo-se comprometido com a efetivação da acessibilidade para constituição da inclusão educacional dos seus alunos. Isto pode partir de um repensar da sua prática e de sua formação, colocando-se como reflexivos perante estas, fazendo presente as contribuições da Educação Especial nesta atitude. Assim, se apresenta a pergunta garantia de acesso é realmente garantia de inclusão? Provavelmente como uma ação isolada e pontual não, mas pode configurar-se como um meio de construção desta, por isso a necessidade de se pensar sobre inclusão e acessibilidade educacional de maneira conjunta. Acessibilidade educacional, desta forma deve proporcionar para que se tenha tudo para todos com qualidade na escola, corroborando com esta afirmação pode-se trazer para a reflexão a atuação da modalidade educacional Educação Especial. Justifica-se isto, no fato de que a referida modalidade trabalha essencialmente contribuindo com sua atuação e orientação para a promoção das ações voltadas para a inclusão e acessibilidade educacional junto às pessoas com necessidades educativas especiais, colaborando para o desenvolvimento e facilitação da sua aprendizagem e participação,

12338 pensando e auxiliando na constituição de um ensino que privilegia as características da demanda contribuindo para a organização das adaptações pertinentes. Em outras palavras, através da atuação e contribuições da Educação Especial [...] pode-se criar condições de acessibilidade para que as pessoas possam ter acesso à determinadas situações ou lugares. (MANZINI, 2005, p.32). Isto não pode limitar-se aos alunos com necessidades educacionais especiais, deve-se estender-se à todos os alunos, podendo a atuação dos professores ser facilitada se tomar dos objetivos, conhecimentos e práticas da Educação Especial como auxilio na organização das suas práticas. Porém, estas orientações não podem trazer consigo confusão na sua aplicação, por isso é importante que se pense o que se pretende proporcionar aos alunos incluídos para que seja garantido á eles aquilo que os próprios alunos consideram relevantes para que sua participação e aprendizagens sejam efetivas no meio educacional. Um dos aspectos mais importantes á se pensar, através dos saberes relacionados à Educação Especial, é como se pode construir a acessibilidade cognitiva, em outras palavras, como promover um ensino de qualidade e aprendizagens significativas, o que presume a oportunidade dos alunos com necessidades educacionais especiais poderem seguir com independência e efetividade sua caminhada acadêmica, que se pode estender à todos os alunos incluídos. A construção da autonomia compreende, de um lado, a detecção, a redução ou a eliminação dos obstáculos que geram as situações de inadaptação escolar, e, do outro, o conhecimento mais aprofundado das condições de funcionamento da inteligência dessas pessoas, sem o que não se pode prover um processo interativo entre o sujeito e o meio escolar o menos deficitário possível em trocas intelectuais e interpessoais. Precisamos encontrar soluções que se assemelhem às rampas nas calçadas e ao manejo das cadeiras de rodas, que possibilitam aos deficientes físicos o deslocamento o mais autônomo possível no espaço físico. (MANTOAN, 1998, p. 4) Esta citação, quando propõe a reflexão sobre as alternativas para a constituição da inclusão e acessibilidade educacional, dá abertura para discutir questão das adaptações curriculares que podem ser implementadas para facilitação da constituição da acessibilidade dita cognitiva.

12339 Conforme Blanco (2004), existe uma tendência cada vez maior para construção de currículos abertos e flexíveis, que possibilitem responder ao desafio da compreensibilidade e da diversidade na escola. Assim, a Educação Especial atua auxiliando através de discussões acerca dos conhecimentos desenvolvidos com mais especificidade nesta área do conhecimento, para que se reflita e elabore propostas de adaptações curriculares para que os alunos não tenham prejuízos no seu processo de ensino-aprendizagem, se assim, for pertinente, e de acordo com as suas necessidades. As adaptações curriculares, propriamente ditas, objeto das discussões apresentadas no presente relatório, são modificações do planejamento, objetivos, atividades e formas de avaliação, no currículo como um todo, ou em aspectos dele, para acomodar os alunos com necessidades especiais (GLAT & OLIVEIRA, 2003, p.3). E ainda, podem realizar-se em três diferentes níveis: Adaptações no nível do projeto pedagógico (currículo escolar) que devem focalizar, principalmente, a organização escolar e os serviços de apoio, propiciando condições estruturais que possam ocorrer no nível de sala de aula e no nível individual. Adaptações relativas ao currículo da classe, que se referem, principalmente, à programação das atividades elaboradas para sala de aula. Adaptações individualizadas do currículo, que focalizam a atuação do professor na avaliação e no atendimento a cada aluno. (GLAT & OLIVEIRA, 2003, p.3) Isso permite visualizar que a construção da inclusão e acessibilidade educacional, constituem-se em desafios para a escola contemporânea muito amplos e complexos, envolvendo mais que fatores materiais, também aspectos subjetivos e do processo de ensinoaprendizagem, porém, são as pequenas iniciativas que desencadeiam o processo, e cada ação eficaz voltada para a esta construção, provavelmente estará resultando qualitativamente no desenvolvimento educacional dos alunos. Além disso, Bayer (2006, p.66), fazendo uso do exemplo dos alunos com deficiência, enfatiza:

12340 [...] para que o atendimento escolar de alunos com deficiência seja possível no ensino regular, deve haver a tomada de consciência e a disposição de participação no processo por parte dos vários sujeitos envolvidos (pais, crianças, professores, gestores, etc.). Assim, concluí-se esta discussão, apontando que as ações em prol da organização da inclusão educacional e juntamente com esta a manutenção da acessibilidade educacional dos alunos, implica um repensar de práticas, estruturação de recursos e organização das escolas, porém isto perpassado por uma atitude pró-ativa dos sujeitos envolvidos na mesma. Considerações finais Ao tratar de temas que envolvem a a inclusão e acessibilidade educacional combinadas com a educação especial, por exemplo a formação de professores e adaptações curriculares, buscou-se fazer um entrelaçamento com os conhecimentos e práticas mais relacionados à modalidade educacional Educação Especial, a fim de dar uma visualização geral das temáticas, apontando possibilidades para estas na sua constituição na escola. Neste sentido, Beyer (2006, p. 28), coloca que, A primeira condição para a educação inclusiva não custa dinheiro: ela exige uma nova forma e pensar. Precisamos entender que as crianças são diferentes entre si. Elas são únicas em sua forma de pensar e aprender. Todas as crianças, não apenas as que apresentam alguma limitação ou deficiência, são especiais. Por isto, também é errado exigir de diferentes crianças o mesmo desempenho e lidar com elas de maneira uniforme. O ensino deve ser organizado de forma que contemple as crianças em suas distintas capacidades. Na citação acima encontra-se elementos importantes abordados no texto, como a influencia da reflexão do professor sobre a sua prática, a importância de entender as singularidades dos alunos para assim conseguir melhor atendê-las, bem como aponta a reestruturação da organização escolar para que estas ações tenham efetividade, tema trabalhado através da reflexão das adaptações curriculares. Estes distintos, porém complementares, temas abordados no texto, se vistos à partir da Educação Especial, tendem a ter seu entendimento e aplicação na escola facilitados, uma vez

12341 que a trajetória desta modalidade educacional, em diferentes âmbitos, tem pensado o ensino com vistas à buscar nas potencialidades de seu alunado os meios para auxiliar nas suas necessidades educacionais especiais. Como o objetivo da inclusão e acessibilidade educacional, é estender este pensamento ao ensino de todos os alunos, a Educação Especial pode auxiliar, por meio da visualização e entendimento das suas práticas pelos demais profissionais da educação e instituições educacionais, que valorizam a individualidade dos alunos para que estes melhor participem no coletivo, para que todos os alunos também compartilhem deste benefício. Por fim, outro ponto importante a ser destacado é ampliação das ações de inclusão e acessibilidade educacional, para além da discussão teórica que realizou-se neste artigo, tanto em pesquisas quanto em práticas extensionistas, para a construção, socialização e aplicabilidade dos conhecimentos científicos nos contextos educacionais. REFERÊNCIAS ALARCÃO, I. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. 2ª. Ed. São Paulo:Cortez, 2003. BAYER, H. O. Inclusão e Avaliação na Escola de alunos com necessidades educacionais especiais. 2. ed. Porto Alegre: Mediação, 2006. BLANCO, R. A atenção à diversidade na sala de aula e as adaptações do currículo. IN: COLL, C.; MARCHESI, Á.; PALACIOS, J. Desenvolvimento psicológico e educação: Transtornos de desenvolvimento e necessidades educativas especiais. Porto Alegre: Artmed, 2004. BRASIL. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. MEC/SEESP, Brasília: 2008. DUARTE, E. Inclusão e Acessibilidade: Contribuições da Educação Física Adaptada. IN: Revista da Sobama, v. 10, n. 1., Dezembro/2005. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5ª. ed. São Paulo: Atlas, 2010. GLAT, R. & OLIVEIRA, E. da S. G. Adaptações Curriculares. Relatório de consultoria técnica, projeto Educação Inclusiva no Brasil: Desafios Atuais e Perspectivas para o Futuro. Banco Mundial, 2003. Disponível em http://www.cnotinfor.pt/inclusiva. Acesso em 20/05/2010. MANTOAN, M. T. E. Educação escolar de deficientes mentais: Problemas para a pesquisa e o desenvolvimento. IN: Cadernos CEDES, vol.19, n.46, Setembro/1998.

12342 MANZINI, E. J. Inclusão e Acessibilidade. IN: Revista da Sobama, v. 10, n. 1., Dezembro/2005. OLIVEIRA, M. M. de. Como fazer pesquisa qualitativa. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.