UM MODELO DE GESTÃO POR RESULTADOS SEGUNDO A TEORIA DA AGÊNCIA Um Estudo de Caso: Banco do Estado de Santa Catarina S/A



Documentos relacionados
Administração de Pessoas

ADMINISTRAÇÃO GERAL GESTÃO DO DESEMPENHO

PROJETO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA INTERNACIONAL. Projeto 914 BRA PRODOC-MTC/UNESCO DOCUMENTO TÉCNICO Nº 03

Desenvolve Minas. Modelo de Excelência da Gestão

Planejamento e Gestão Estratégica

AS ETAPAS DO PLANEJAMENTO

Gestão e estratégia de TI Conhecimento do negócio aliado à excelência em serviços de tecnologia

Modelo de Gestão CAIXA. 27/05/2008 Congresso CONSAD de Gestão Pública

Noções de Planejamento Estratégico e Gestão Estratégica

Processos de gerenciamento de projetos em um projeto

Categorias Temas Significados Propostos

Por que sua organização deve implementar a ABR - Auditoria Baseada em Riscos

A GESTÃO E AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO NA INCUBADORA TÉCNOLÓGICA UNIVAP

Projeto de Gestão pela Qualidade Rumo à Excelência

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

POLÍTICA DE GESTÃO DE RISCOS DAS EMPRESAS ELETROBRAS

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

Motivação para o trabalho no contexto dos processos empresariais

GESPÚBLICA. Brasília ǀ 25 de Setembro de 2012

PRODUTOS DO COMPONENTE Modelo de Gestão Organizacional Formulado e Regulamentado

Política de Gestão de Riscos das Empresas Eletrobras

PrimeGlobal PGBR. Uma excelente alternativa em serviços de auditoria, consultoria e Impostos. Diferença PrimeGlobal

ANÁLISE E MELHORIA DE PROCESSOS APLICADA AO ESTÁGIO CURRICULAR

POLÍTICA DE SAÚDE E SEGURANÇA POLÍTICA DA QUALIDADE POLÍTICA AMBIENTAL POLÍTICA DE SEGURANÇA

NORMA ISO Sistemas de Gestão Ambiental, Diretrizes Gerais, Princípios, Sistema e Técnicas de Apoio

SERÁ ENCAMINHADO AO CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO O NOVO CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM MATERIAIS, COM INÍCIO PREVISTO PARA 2008

(MAPAS VIVOS DA UFCG) PPA-UFCG RELATÓRIO DE AUTO-AVALIAÇÃO DA UFCG CICLO ANEXO (PARTE 2) DIAGNÓSTICOS E RECOMENDAÇÕES

Organização em Enfermagem

Planejamento Estratégico Setorial para a Internacionalização

Gestão de impactos sociais nos empreendimentos Riscos e oportunidades. Por Sérgio Avelar, Fábio Risério, Viviane Freitas e Cristiano Machado

Proposta de Plano de Desenvolvimento Local para a região do AHE Jirau

REMUNERAÇÃO ESTRATÉGICA SETEMBRO 2.011

Como implementar a estratégia usando Remuneração e Reconhecimento

Profº Rogério Tavares

1. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

Alternativas de Modelo Institucional e Gerencial

Gerenciamento de Projetos Modulo II Clico de Vida e Organização

Avaliação da Eficiência Energética do Grande Cliente. Eng. Gilson Nakagaki COPEL Distribuição S.A.

Cultura do Planejamento Estratégico e Gestão do Desempenho

Os cinco subsistemas de Gestão de Pessoas

CAPITAL DE GIRO: ESSÊNCIA DA VIDA EMPRESARIAL

POLÍTICA DE SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL DAS EMPRESAS ELETROBRAS

Gerência de Projetos Prof. Késsia Rita da Costa Marchi 3ª Série

POLÍTICA DE GESTÃO DE RISCO - PGR

Política de Eficiência Energética das empresas Eletrobras

5 Considerações finais

Gerenciamento de Projetos. Faculdade Unisaber 2º Sem 2009

FACULDADE DO NORTE NOVO DE APUCARANA FACNOPAR PLANO DE DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL

Relatório de Gerenciamento de Riscos (Pilar lll)

Política de Sustentabilidade das Empresas Eletrobras

Ano: 2012 Realiza Consultoria Empresarial Ltda.

Porque estudar Gestão de Projetos?

A Sustentabilidade e a Inovação na formação dos Engenheiros Brasileiros. Prof.Dr. Marco Antônio Dias CEETEPS

DESCRIÇÃO DAS REVISÕES

Rita/João Abril -2014

CÓDIGO CRÉDITOS PERÍODO PRÉ-REQUISITO TURMA ANO INTRODUÇÃO

POLÍTICA DE GESTÃO DE RISCOS

RESENHA. COSTA, Eliezer Arantes. Gestão Estratégica: construindo o futuro de sua empresa - Fácil. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

A NECESSIDADE DE UMA NOVA VISÃO DO PROJETO NOS CURSOS DE ENGENHARIA CIVIL, FRENTE À NOVA REALIDADE DO SETOR EM BUSCA DA QUALIDADE

Síntese do Projeto Pedagógico do Curso de Sistemas de Informação PUC Minas/São Gabriel

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO COOPERATIVISMO: QUEM MOVIMENTA SÃO AS PESSOAS

SIMULADO TURMA 1414 TUTORA TACIANE DISCIPLINA: LOGÍSTICA

Boa Tarde!!! Boas Vindas ao Café da Gestão. Planejamento Participativo para uma Gestão Democrática Um Estudo de Caso no Poder Executivo

POLÍTICA DE GESTÃO DE PESSOAS DA SUPERINTENDÊNCIA NACIONAL DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR PREVIC

Unidade Ribeirão Preto -SP

Financial Services. Precisão competitiva. Metodologias específicas e profissionais especializados na indústria de seguros

Gerenciamento de Projetos Modulo VIII Riscos

Manual de Risco Operacional

3.6 3 A DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES E AS ORGANIZAÇÕES DO CONHECIMENTO

redes.co m.br com p uta dores. com. br

Contabilidade e Controlo de Gestão. 2. O ciclo de gestão. Contabilidade e Controlo de Gestão. 3º ano - Gestão Turística e Hoteleira - Ramo- GT

Balanced Scorecard INTRODUÇÃO

SEJAM BEM-VINDOS CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM GESTÃO DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL

Questões de Concurso Público para estudar e se preparar... Prefeitura Olinda - Administrador. 1. Leia as afirmativas a seguir.

Sumário 1 APRESENTAÇÃO LINHAS GERAIS Diretrizes Básicas Objetivos Público-Alvo... 4

Cliente Empreendedorismo Metodologia e Gestão Lucro Respeito Ética Responsabilidade com a Comunidade e Meio Ambiente

Introdução à Administração Financeira

...estas abordagens contribuem para uma ação do nível operacional do design.

ADMINISTRAÇÃO I. Família Pai, mãe, filhos. Criar condições para a perpetuação da espécie

Gerenciamento da Integração (PMBoK 5ª ed.)

Módulo 6 Cultura organizacional, Liderança e Motivação

Fanor - Faculdade Nordeste

Administração Prof. Esp. André Luís Belini Bacharel em Sistemas de Informações MBA em Gestão Estratégica de Negócios

Política monetária e senhoriagem: depósitos compulsórios na economia brasileira recente

20/5/2011. Gestão x avaliação. O ciclo PDCA APO APO. Métodos contemporâneos para avaliação de desempenho

A ESTRUTURA DA GESTÃO DE

ACoordenação da Pós-Graduação da Faculdade São Luís

5 Conclusão. FIGURA 3 Dimensões relativas aos aspectos que inibem ou facilitam a manifestação do intraempreendedorismo. Fonte: Elaborada pelo autor.

ESTRUTURA DE GERENCIAMENTO DO RISCO OPERACIONAL

Liderança Organizacional

CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA CONCEITOS PARA REVISÃO

UNITERMOS: Marketing esportivo, futebol, administração esportiva.

PLANEJAMENTO OPERACIONAL - MARKETING E PRODUÇÃO MÓDULO 16 AS QUATRO FASES DO PCP

PROPRIEDADE REGISTRADA. O que fazer para alcançar ar o Desenvolvimento Empresarial Sustentável?

REFERÊNCIA Transporte Rodoviário Agenda Setorial 2012 Acompanhamento/Monitoramento da política pública de transporte rodoviário

ANEXO II DOS TERMOS DE REFERÊNCIA

Transcrição:

1 UM MODELO DE GESTÃO POR RESULTADOS SEGUNDO A TEORIA DA AGÊNCIA Um Estudo de Caso: Banco do Estado de Santa Catarina S/A Jorge Luiz dos Santos Martinho Luís Kelm Aline França de Abreu Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC E-mail: santosjl@besc.com.br, mkelm@terra.com.br, aline@eps.ufsc.br ABSTRACT Organizations having a wide net units as an outstanding characteristic, all under a central command, live with a permanent conflict of interests, always in search of survival and corporation competitiveness, and this in each unit. This article presents the Agency Theory whose assumptions deal with typical conflicts of net organizations. It reports a case of Outcome Management Model applied to a banking institution, a model which contains solutions to the agency conflicts in its scope. KEY WORDS outcome management, agency theory, agency conflicts, management models. RESUMO As organizações que têm como característica marcante uma ampla rede de unidades, todas sob um comando central, convivem com permanente conflito de interesses, sempre em busca da sobrevivência e competitividade corporativa e por unidade. Este artigo apresenta a Teoria da Agência, cujos pressupostos tratam dos conflitos típicos de organizações em rede, e relata um caso de Modelo de Gestão por Resultados, aplicado a uma Instituição Bancária, que contém em seu escopo soluções para os conflitos de agência. PALAVRAS CHAVES Gestão por resultados, teoria da agência, conflitos de agência, modelos de gestão. INTRODUÇÃO A crescente complexidade no ambiente de negócios, com a atuação simultânea de várias forças, as quais Porter (1996) chama de Forças Competitivas, impeliu as organizações a funcionarem com um escopo igualmente complexo. O grande desafio contemporâneo é incutir uma dinâmica flexível e ágil a este novo modelo organizacional. Para fazer frente a esta dinâmica competitiva, seja como característica inerente, seja como estratégia de gestão, as organizações têm buscado a estruturação de unidades administrativas que viabilizem um maior grau de autonomia. Como exemplo de estrutura que tem na descentralização uma característica inerente cita-se as instituições financeiras de varejo com sua rede de agências. Como estratégia de gestão tem-se o desmembramento de grandes corporações na forma de unidades estratégicas de negócios. Uma estrutura descentralizada, se de um lado traz consigo uma maior agilidade e capacidade de inovação, por outro exige a criação de instrumentos de gestão que assegurem a consecução dos objetivos globais dessas corporações. Adicionalmente, essa estrutura organizacional faz emergir um conflito potencial entre direção e dirigidos, em função de uma difícil conciliação quanto aos objetivos pessoais e organizacionais, com reflexos na motivação e empenho dos atores organizacionais.

2 Este artigo discute as implicações da gestão por resultados em uma organização com estrutura descentralizada, a partir da perspectiva da teoria da agência descrito por Jensen & Meckling (1976). No primeiro tópico do artigo são apresentados os fundamentos da Teoria da Agência, prosseguindo com a descrição de um caso prático de gestão por resultados para, finalmente, analisar a contribuição dos instrumentos de suporte a gestão por resultados na resolução dos conflitos de agência e melhoria da produtividade na área de serviços bancários. A TEORIA DA AGÊNCIA O modelo de gestão por resultados, foco deste estudo, não obstante permitir uma vasta gama de abordagens quanto a sua utilização, será aqui avaliado como instrumento de minimização dos conflitos de agência, considerando a abordagem proposta por Eisenhardt (1989). Para tanto, é necessário primeiramente destacar alguns aspectos dessa abordagem, começando com a premissa relacionada ao conceito de firma que, segundo Alchian & Demsetz (1972) 1, pode ser vista como "...um processo cooperado agregando um conjunto de recursos humanos, de capital e tecnológicos com vistas à obtenção de um produto final que suplante, a nível de utilidade e valor, a soma das contribuições individuais de cada fator de produção". Dessa visão de firma depreende-se ainda a não visualização da contribuição de cada elemento da equipe para a formação do resultado final, o que decorre de dois fatores, primeiramente, o resultado final suplanta a soma de insumos processados, o que dificulta ou torna, no mínimo, oneroso 2, o acompanhamento do nível de esforço de cada indivíduo dentro da organização. Em segundo lugar, deve-se destacar que o resultado final é também influenciado por variáveis exógenas, não controláveis pelo grupo de trabalho. Em outras palavras, parte do sucesso ou insucesso de um empreendimento poderá, muitas vezes, não ser decorrência do trabalho e esforço dos indivíduos, mas fruto de variáveis ambientais, o que torna a parcela de esforço atribuível a cada membro do grupo de difícil identificação. Os Conflitos de Agência Neste conceito de firma, pautada por um processo de delegação de autoridade e atribuições, surgem dois personagens que assumem papéis bem definidos nas relações contratuais mencionadas por Jensen & Meckling (1976). O primeiro, identificado como Principal, é o empreendedor original, aquele que detém a posse da organização ou delega alguma atribuição a outrem e que no caso em estudo é representado pela direção do BESC ou, em um nível ainda maior, pelos acionistas da Instituição. O segundo personagem, identificado como Agente, é aquele que irá executar ou administrar o empreendimento sob delegação do proprietário ou superior hierárquico (principal). Nesta concepção de firma, e a partir desta relação, erige-se a Teoria da Agência 3, que segundo Eisenhardt (1989) irá preocupar-se com a resolução de dois problemas que podem ocorrer em uma relação de agência. O primeiro problema surge quando: 1) os objetivos do principal e agente são conflitantes e, 2) é difícil ou oneroso para o principal verificar se o agente está agindo segundo seus interesses. O segundo problema refere-se ao fato de o Principal arcar com o risco do empreendimento 4. Isso surge como problema quando principal e agente têm diferentes propensões ao risco e, em função disso, podem adotar diferentes ações. Este problema pode ser bem caracterizado na situação em que, ocorrendo insucesso no empreendimento, os acionistas serão penalizados porém, quem determina este desempenho é o agente. Outros elementos subjacentes à Teoria da Agência estão relacionados a um pressuposto comportamental de auto-interesse oportunista, por parte dos agentes econômicos (Williamson, 1987). 1 E antes destes Coase (1937). 2 Implica custos de monitoração do comportamento e esforço dos integrantes de cada grupo de trabalho. 3 Para revisões da Teoria da Agência vide Barnea, Haugen & Senbet (1985) ou Eisenhardt (1989). Para uma visão de seus fundamentos ver Alchian & Demsetz (1972), Jensen & Mecling (1976) e Fama (1980). 4 Risk Sharing

3 Os Custos de Agência Deve-se destacar que o conflito entre principal e agente aqui apregoado, embora sendo potencial, é iminente e, acima de tudo, oneroso em qualquer circunstância, ou seja, manifestando-se ou não o conflito, existirão custos, conforme descrido a seguir a partir de Jensen & Meckling (l976): custos de monitoração incorridos pelo principal; que são as despesas incorridas pelo principal na instituição de mecanismos (sistema de informações, auditoria externa ou interna, conselho fiscal, entre outros) que visam vigiar o comportamento do agente dentro da organização; custos de demonstração do agente; dada a possibilidade de conflito, o agente terá interesse em demonstrar que sua ação administrativa não vem em detrimento dos resultados da firma, visto que, do contrário, ele será penalizado financeiramente junto ao mercado de trabalho, ou a firma poderá ter seu valor de mercado deprimido, entre outros. perda residual; que decorre da redução do pagamento de dividendos ou comprometimento de fluxos futuros da firma que, em última instância, seriam transferidos aos acionistas, vistos aqui como credores residuais. A utilização da gestão por resultados com toda uma dinâmica de definição dos termos dos Contratos de Resultados, seus aspectos motivacionais relacionados, entre outros, contribui na redução desses conflitos e custos de agência, principalmente no que concerne ao monitoramento e demonstração do agente, conforme será exposto na seqüência. O CASO DO BANCO DO ESTADO DE SANTA CATARINA SA - BESC A Organização O Banco do Estado de Santa Catarina S/A, organização onde foi implementado o modelo de gestão por resultados em estudo, possui atualmente 251 agências que cobrem a maior parte do território catarinense, mais cinco localizadas fora do Estado. Vinculados às suas respectivas agências, existem 330 Postos de Serviços, os quais, ao serem somados às agências, totalizam 586 pontos de atendimento. Atualmente o banco possui 4.815 empregados, dos quais 1.292 estão lotados na matriz e 3.523 nas agências e postos de serviço. O modelo ora analisado foi implantado no BESC sob a consultoria da Fundação Dom Cabral, de Belo Horizonte, Minas Gerais, com início em março de 1995 até dezembro de 1998, período em que foram cumpridas e aprimoradas a maioria das etapas previstas no modelo. Um Novo Conceito de Resultado A busca contínua, de um lado, da satisfação dos clientes/consumidores dos produtos e serviços, e de outro, de soluções que atendam as necessidades e expectativas dos colaboradores internos, acionistas e da sociedade foram aceitos como um desafio pelo Banco do Estado de Santa Catarina S/A (BESC) e transformados em resultados empresariais. Esse desafio levou o BESC a adotar o Programa BESC para Excelência Empresarial (PROBEX), que se constitui em um programa de gestão, e o Empresariamento com Sinergia, sendo este um estilo de gestão. Ambos, programa e estilo, forjam um modelo por resultados. O cerne do modelo de gestão (programa + estilo) se constitui nos Resultados Desejados (RD). Em torno dos Resultados Desejados, as pessoas atuam, se utilizando de processos e têm como norte a filosofia,/estratégia empresarial. A sinergia 5 do modelo reside na forma como ocorre o relacionamento entre essas três partes. Daí surge o nome do estilo: Empresariamento com Sinergia (figura 1). 5 No Dicionário Aurélio, Sinergia é definida como: 1)Ato ou esforço coordenado de vários órgãos na realização de uma função. 2) Associação simultânea de vários fatores que contribuem para uma ação coordenada. 3) Ação simultânea em comum.

4 Filosofia Estratégia RD Pessoas Figura 1 Processos Fonte: BESC Os objetivos e finalidades preconizados, tanto do programa quanto do estilo, se constituem nas duas faces da mesma moeda, quer dizer, o programa depende do estilo para prosperar e vice-versa. O BESC criou o PROBEX Programa BESC para a Excelência Empresarial, constituído por um conjunto de projetos e ações, voltados para garantir a sobrevivência e a perpetuação da Instituição. O PROBEX objetiva fazer do BESC uma empresa ágil, competitiva, voltada para a obtenção de resultados, focalizada na plena satisfação de seus clientes e na criação de um ambiente onde as pessoas, seus colaboradores, possam realizar-se como seres humanos e como profissionais. O Empresariamento com Sinergia, adotado pelo BESC, como seu estilo de gestão, é um conjunto de crenças e práticas que devem ser comunicado, entendido e praticado por todos na empresa, como base para garantir sua sobrevivência e crescimento. Os Campos de Resultado Em função dos Resultados Desejados, onde a maximização do lucro, puro e simples, teve que ceder para uma concepção de maximização do valor, como filosofia empresarial, resultando assim na criação de cinco Campos de Resultados que se constituem no pano de fundo ou cenário de atuação que são: patrimônio humano, mercado e imagem, tecnologia e processos, desenvolvimento econômico e social e econômico-financeiro. Os cinco campos de resultados estão classificados como sendo de plantio ou de colheita. São de plantio os campos patrimônio humano, mercado e imagem e tecnologia e processos e de colheita os campos desenvolvimento econômico-social e econômico-financeiro. O Modelo e Sua Dinâmica O modelo de gestão em estudo divide a organização em quatro quadrantes: 1) no primeiro se estabelecem as Definições Empresariais Básicas como uma postura do topo, a partir da filosofia/estratégia; 2) do segundo segue uma Ação Empresarial Planejada, com base nas Definições Empresariais do quadrante anterior, e também a partir da filosofia/estratégia; 3) no terceiro situam-se as Pessoas Adequadas, que atuam conforme as Definições Empresariais do primeiro quadrante; 4) no quarto se posta uma Organização Adequada, composta de processos adequados, que são utilizados por pessoas adequadas. Um processo de gestão estratégica interage a partir das Definições Empresariais Básicas em direção à Ação Empresarial Planejada, e um processo para a excelência tem início nas Definições Empresariais Básicas, perpassando os quadrantes Pessoas Adequadas e Organização Adequada, culminando na Ação Empresarial Planejada (figura 2). DEFINIÇÕES EMPRESARIAIS BÁSICAS POSTURA DO TOPO P1 Filosofia Estratégia AÇÃO EMPRESARIAL PLANEJADA P2 P2 Pessoas PESSOAS ADEQUADAS P2 RD Processos ORGANIZAÇÃO ADEQUADA P1 = Gestão Estratégica P2 = Processo para a Excelência Figura 2 Fonte: BESC

5 Em cada quadrante foram alocados projetos cujos objetivos atendem uma parte do todo, permitindo uma Ação Empresarial Planejada, sempre com foco nos Resultados Desejados. No quadrante das Definições Empresariais Básicas situa-se o projeto análise estratégica do negócio. No quadrante Ação Empresarial Planejada localizam-se os projetos contrato de resultados e Sistema de Informações Gerenciais. No quadrante Pessoas Adequadas estão os projetos comunicação interna, capacitação gerencial e reconhecimento e recompensa. No quadrante Organização Adequada ficam os projetos estrutura organizacional e malha de responsabilidades. Definições Empresariais Básicas A análise estratégica do negócio resultou de um estudo combinado do cenário atual e futuro, da missão e princípios, das premissas e diretrizes estratégicas e do plano de governo. Tudo isso, tendo em vista o que se pretende, o que se quer, o que se deseja alcançar, ou seja, os Resultados Desejados. A análise estratégica do negócio cumpre dois ciclos distintos. No ciclo mais longo, de cinco anos, é dada ênfase para as diretrizes estratégicas, e no ciclo mais curto, de um ano, a ênfase recai nas premissas estratégicas, porém, ambos os ciclos consideram as outras variáveis já mencionadas. Ação Empresarial Planejada A Ação Empresarial Planejada envolve o planejamento e gerenciamento dos resultados, o que se dá através dos Contratos de Resultados e do Sistema de Informações Gerenciais. Como é da natureza de um contrato, existem dois atores (agente e principal), com direitos e obrigações definidos para ambos. Para os colaboradores ou agentes, o Contrato de Resultados é o instrumento gerencial que possibilita acordar compromissos para o alcance dos Resultados Desejados e requerer apoio e recurso para realizá-los. Para os dirigentes ou principal, o Contrato de Resultados possibilita o acompanhamento e avaliação entre o planejado e o realizado, cujas informações são imputs no processo de tomada de decisões. O Sistema de Informações Gerenciais é a ferramenta que tem como finalidade possibilitar o acompanhamento e avaliação das metas compromissadas nos Contratos de Resultados e suas comparações com as premissas estratégicas, além de alimentar o processo de tomada de decisões. Como conseqüência, o Sistema de Informações Gerenciais proporciona o acompanhamento do desempenho e da tendência do negócio em todos os níveis. O gerenciamento dos Contratos de Resultados se dá com base no, e o evento que proporciona a comparação do planejado com o realizado, a análise de tendências e decisões de ajustes, é a Avaliação Gerencial Mensal (AGM) e a Reunião Mensal de Avaliação de Resultados (REMAR) (figura 3). A primeira ocorre no nível operacional, nas agências, e a segunda no nível tático, nas unidades empresariais e em cada diretoria. PREMISSAS E DIRETRIZES 1 1 PLANOS PARA AÇÃO DAS UNIDADES Resultados Compromissados 2 PLANOS PARA AÇÃO DA EMPRESA Resultados Compromissados 1 = Premissas e Diretrizes desdobradas em metas 2 = Metas consolidadas 3 = Metas com tendências 4 = Metas para avaliação Bases para Alcance (Apoios e Recursos) 3 Bases para Alcance (Apoios e Recursos) 4 4 AVALIAÇÃO GERENCIAL MENSAL E DE RESULTADOS Figura 3 Fonte: BESC

6 Pessoas Adequadas Os três projetos deste quadrante visam instalar as condições que Herzberg (1960) denomina Fatores Higiênicos. Sintetizando, o que o modelo propõe é uma parceria entre dirigentes e colaboradores, continuamente alimentada por interesses convergentes. A partir desta convergência as relações entre principal e agente, papeis aqui representados pela direção e colaboradores de cada unidade administrativa, são conduzidas de forma a se contornar o conflito e custos relacionados. Organização Adequada A organização adequada ao Empresariamento requer um redesenho organizacional, envolvendo a estrutura e processos, que neste caso, foi viabilizado através dos projetos de estrutura organizacional e malha de responsabilidades. O projeto estrutura organizacional tratou de uma readequação da estrutura hierárquica existente no sentido de viabilizar o sucesso da ação empresarial planejada. O projeto malha de responsabilidades, fundamental para o funcionamento deste modelo, tem como objetivo mapear os assuntos empresariais e classificá-los quanto em termos de decisão e execução Modelo Básico de Funcionamento A linha do negócio se configura com a atuação sinérgica das Unidades de Negócios, Unidades Empresariais e Diretoria. As três formam o eixo central e motriz da organização, em torno do qual as Unidades de Desenvolvimento e Suporte irão atuar permanentemente e o Grupo de Desenvolvimento Estratégico extemporaneamente (figura 4). Das atuais agências, com posturas tipicamente operacionais, evolui-se para verdadeiras Unidades de Negócios, com ampliação da capacidade empreendedora. Para as atuais gerências regionais a idéia é chegar a Unidades Empresariais, com o aumento do escopo de atuação, formando as quase-empresas, onde é preponderante o pleno apoio às Unidades de Negócios, recorrendo-se às Unidades de Desenvolvimento e Suporte na busca de soluções de negócios. À Diretoria cabe agir como um órgão colegiado que coordena e integra a atuação de todas as unidades, com vistas a atingir as premissas e diretrizes estratégicas. Para tanto, a Diretoria se vale dos Contratos de Resultados como instrumento para gerenciar e acompanhar a atuação conjunta das unidades. Neste modelo, os atuais departamentos transformam-se em Unidades de Desenvolvimento e Suporte, onde cada uma, na sua especialidade, tem duas responsabilidades: 1) fornecer o suporte necessário à Diretoria, Unidades Empresariais e de Negócios, para que estas últimas tenham condições de atingir o que foi compromissado nos Contratos de Resultados; 2) oferecer soluções inovadoras e proporcionar atualização tecnológica, sempre na linha do negócio. O Grupo de Desenvolvimento Estratégico é o fórum onde se praticam as crenças centrais do Empresariamento, pois é o lugar onde a diretoria e os principais executivos traçam as estratégias. Está representado em linha tracejada no diagrama da figura quatro porque não tem existência permanente, sendo formado para atividades programadas. DIR. GDE UE UDS DIR = Diretoria UE = Unidade Empresarial UN = Unidade de Negócios UDS = Unidade de Desenvolvimento e Suporte GDE = Grupo de Desenvolvimento Estratégico UN Figura 4 Fonte: BESC

7 ANÁLISE DESTE MODELO DE GESTÃO POR RESULTADOS Ã LUZ DA TEORIA DA AGÊNCIA O modelo de gestão descrito neste estudo insere-se no contexto da Teoria da Agência por atender um de seus pressupostos, o qual afirma que, em qualquer atividade onde existe a delegação de autoridade e responsabilidades há um conflito potencial. No caso, entende-se que a diretoria do Banco pode ser vista como Principal, e as Unidades, com seus vários colaboradores, representam os Agentes nessa relação, estes, posto que agenciam, representam e operacionalizam os interesses do Principal na consecução de um conjunto de metas definidas aqui pelos Campos de Resultados. Os conflitos entre Principal/Agente, na dimensão em análise 6, ocorrem sob duas perspectivas: primeiramente com relação ao foco das estratégias a serem adotadas, o que poderia levar a um não alinhamento do que a Diretoria espera que seja efetuado e o que as Unidades efetivamente priorizam e implementam. Essa perspectiva, não obstante, pode ser controlada por um sistema periódico in loco, com custos bem mais significativos que o modelo proposto, na medida em que esse último traz em seu escopo os objetivos e as estratégias alinhadas entre si, e com os indicadores de avaliação de eficiência. O modelo também é coerente com o proposto por Kaplan & Norton (1997) no Balanced Scorecard, ao não se limitar a um conjunto aleatório de medidas de desempenho financeiro, mas articular metas e indexar indicadores mais abrangentes, de cunho social, ambiental, mercadológico, tecnológico e humano, sempre articulado com as diretrizes estratégicas. A segunda perspectiva do conflito que este modelo de gestão consegue atenuar está relacionada a uma busca de coalizão de interesses entre Principal e Agente. Na medida que os Contratos de Resultados são construídos conjuntamente pela direção e colaboradores das unidades, em momentos e instâncias pré-estabelecidos, o foco de um eventual conflito pode ser explicitado e ajustado por um processo responsável de negociação interna. Essa dinâmica tem demonstrado eficácia ao reduzir os conflitos ex post e tem conduzido, principalmente, a um elevado grau de integração e articulação entre os membros das unidades. O presente modelo materializa a relação contratual simbólica mantida pela direção e colaboradores, mencionada por Jensen & Meckling (1976). Ao serem firmados os Contratos de Resultados, os termos da relação são adequados a um estilo de gestão descentralizado, onde a essência da competitividade está em garantir um nível de comprometimento e de alinhamento de ações pulverizadas, todavia, sob uma orientação maior, no caso, os Campos de Resultado. Um aspecto adicional do modelo refere-se a possibilidade de flexibilização do conceito fixo de remuneração para uma abordagem de remuneração variável, ao atrelar ao Contrato de Resultados um Programa de Participação nos Resultados PPR. Finalmente, pode-se observar a existência de coerência entre metas desejadas e estratégias implementadas, e o conseqüente interesse entre os vários colaboradores nas suas consecuções. Pela existência do PPR, há uma grande tendência de se instalar um processo de auto fiscalização entre os vários colaboradores, uma vez que a unidade é avaliada por esse prisma. Com isso, há uma redução dos problemas adverse selection e moral hazard. CONSIDERAÇÕES FINAIS O ambiente contemporâneo tem sido marcado por uma dinâmica competitiva extremamente agressiva, onde a capacidade de monitoramento permanente do mercado e a sensibilidade quanto a mudanças de hábitos e necessidades dos clientes, e a incorporação destas alterações nos produtos ou serviços da organização podem significar o sucesso ou não de um empreendimento. O desafio da gestão nesse contexto consiste em articular os recursos disponíveis de forma próativa, coesa e alinhada a um conjunto de orientações globais oriundas da opção competitiva da organização. Para tanto, as organizações têm buscado nos modelos alternativos de gestão uma atuação descentralizada, que se aproxima com o que foi visto nesse artigo. 6 A análise poderia ser efetuada considerando os acionistas o Estado de Santa Catarina e demais como principal, e todo o corpo funcional, inclusive diretoria executiva, assumindo o papel de agentes dos interesses dos primeiros. Nessa dimensão haveria uma nítida separação entre propriedade dos instrumentos de trabalho e de sua utilização.

8 A ênfase na utilização de estruturas organizacionais descentralizadas, em suas várias modalidades, se de um lado tem permitido uma atuação mais próxima do mercado, permitindo que grandes organizações sejam desmembradas organizacionalmente e operem como se fossem uma rede, traz em seu bojo alguns problemas já identificados com o que se denomina de conflitos e custos de agência. O presente estudo apresentou uma alternativa que minimiza esse conflito através de um modelo de gestão por resultados, como implementado pelo Banco do Estado de Santa Catarina BESC. Este modelo está ancorado em um conjunto de Contratos de Resultados firmado entre direção e unidades, e conduz a uma coalizão interna de objetivos, permitindo que as ações de cada unidade se mantenham alinhadas às orientações corporativas, sem, contudo, levar à empresa-mãe perda de autonomia e flexibilidade, fundamentais para a competitividade. BIBLIOGRAFIA ABREU, A.F., Sistemas de Informações Gerenciais Uma Abordagem Orientada à Negócios,, Florianópolis: Editora IGTI, 1999. ALCHIAN, Armen A. & DEMSETZ, Harold, Production, Information Costs, and Economic Organization. The American Economic Review, December, 1972, p.777-795 BANCO DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Relatório da Administração Gestão 1998. Florianópolis, 1998. BANCO DO ESTADO DE SANTA CATARINA S/A; Programa BESC para Excelência Empresarial PROBEX. e Empresariamento com Sinergia; Florianópolis, Florianópolis-SC, 1996, 1997 e 1998. BARNEA, A. & HAUGEN, R. & SENBET, L., Agency problems and financial contracting. Englewood Cliffs; Prentice-Hall, 1985. COASE, R.H., The Nature of the Firm. Economica, 1937, p.386-405. COBRA, M.R.A., Serviços ao Cliente: uma estratégia competitiva, São Paulo: Ed. Marcos Cobra, 1992. COLLINS, J. & PORRAS, J., Empresas Visionária: feitas para durar, São Paulo: Mac Graw Hill, 1995. DENIS, D.J. & DENIS, d.k. & SARIN, A., Agency theory and the influence of equity ownership structure on corporate diversification strategies. Strategic Management Journal, v.20, 1999, p.1071-1076. EISENHARDT, K., Agency theory: an assessment and review. Academy of Management Review, v.14, 1989, p.57-74. ERDMANN, Herdmann Rolf. Organização de Sistemas de Produção. Florianópolis SC : Insular. 1998. FAMA, E.F., Agency problems and the theory of the firm. Journal of Political Economy, v.88, 1980, p.288-307. FUNDAÇÃO DOM CABRAL. Programa BESC para Excelência Empresarial PROBEX. Belo Horizonte, 1997. HERSZBERG, Frederick. Work and Nature of Man. Cleveland : The World Publishing Co., 1996. KATZ, D. & KAHN, R., Psicologia social das organizações, São Paulo: Atlas, 1970. PECI, Alketa, Emergência e Proliferação de Redes Organizacionais: Marcando Mudanças no Mundo dos Negócios, Revista de Administração Pública-RAP. FGV, São Paulo, Nov/Dez/1999. PORTER, Michael, Como as Forças Competitivas Moldas a Estratégia, São Paulo: Editora Campus, 1986. SCHUMACHER, E. F. ; O Negócio é Ser Pequeno, Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 1983. THOMPSON, J..D., Dinâmica Organizacional: fundamentos sociológicos da teoria administrativa, São Paulo: Mac Graw Hill, 1976. WILLIAMSON, O. E., The Economic Institutions of Capitalism. New York: The Free Press, 1987.