TRANSTORNOS DE ANSIEDADE E DO SONO. Marco Aurelio Soares Jorge

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Transcrição:

TRANSTORNOS DE ANSIEDADE E DO SONO Marco Aurelio Soares Jorge

Transtornos de Ansiedade Os transtornos ansiosos se caracterizam pelos sintomas de ansiedade e comportamento de evitação, incluindo transtorno de pânico, ansiedade generalizada, fobias, transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno do estresse pós-traumático. (CID-10 F40-F48)

ANSIEDADE A ansiedade é uma reação comum a eventos da vida e geralmente não necessita ser medicada. O uso de medicação está indicado quando a ansiedade se torna severa, a ponto de prejudicar ou impedir as atividades rotineiras. É importante ressaltar que o sintoma de ansiedade não é exclusivo dos quadros neuróticos, estando muitas vezes presentes nos quadros de transtornos de humor ou nos transtornos psicóticos.

Diagnóstico Diferencial O diagnóstico diferencial dos transtornos ansiosos deve ser feito com alguns quadros clínicos que freqüentemente mimetizam ansiedade: 1.cardiovasculares (angina pectoris, infarto agudo do miocárdio), 2.respiratórios (síndrome da hiperventilação), 3.metabólicos (hipoglicemia), 4.endócrinos (hipertireoidismo, síndrome carcinóide), 5. uso de medicamentos, como os corticóides.

A ansiedade também está presente em outros transtornos mentais como a depressão, a abstinência de benzodiazepínicos, o uso de drogas como o álcool, as anfetaminas ou a cocaína.

INSÔNIAS quanto à duração: ocasionais transitórias crônicas (p ex. por transtornos psiquiátricos, insônia psicofisiológica, mioclonias noturnas, apnéia do sono). Quanto à etiologia uso prolongado de hipnóticos, álcool ou medicamentos afecções clínicas causas idiopáticas.

Os Ansiolíticos/Sedativos-Hipnóticos Os medicamentos usados no tratamento da ansiedade e da insônia são chamados de ansiolíticos/sedativo-hipnóticos ou tranquilizantes menores (em oposição aos tranquilizantes maiores, os antipsicóticos). O álcool e o ópio têm sido usados, há muito tempo, como tranqüilizantes. No século 19, foi introduzido o uso de brometos e barbituratos. Posteriormente, o meprobamato passa a ser utilizado, sendo finalmente substituído pelos benzodiazepínicos.

Classes Terapêuticas Compreendem os barbitúricos, os benzodiazepínicos e os não-benzodiazepínicos. Barbitúricos - são sedativo-hipnóticos, anticonvulsivantes e anestésicos. Foram substituídos pelos benzodiazepínicos, por causa de desenvolvimento de rápida tolerância aos efeitos terapêuticos, sérios efeitos adversos, alto risco de dependência e overdose com morte. Benzodiazepínicos - são os mais usados atualmente. Possuem maior eficácia que os barbitúricos, apresentando menores efeitos adversos e menor risco de vida com superdosagem. Acarretam em menor grau tolerância, dependência e síndrome de abstinência. Não-benzodiazepínicos - Recentemente, tem sido introduzidos na clínica os ansiolíticos não-benzodiazepínicos (buspirona) e hipnóticos não-barbitúricos (zopiclone e zolpiden), que parecem apresentar menores efeitos adversos. O potencial de abuso com buspirona é pequeno, tornando-se uma droga útil em pacientes com maior propensão ao mesmo.

Indicação clínica dos ansiolíticos Tratamento dos transtornos de ansiedade e transtornos do sono. apesar de também serem utilizados como anticonvulsivantes, relaxantes musculares, auxiliares na anestesia e no tratamento de efeitos adversos ao uso de antipsicóticos como acatisia/distonia aguda.

Benzodiazepínicos Compreendem mais de 20 grupos, que se equivalem terapeuticamente, havendo diferenças no tempo da meia-vida. Variações na estrutura química e na farmacocinética influenciam a potência, o início e a duração da atividade clínica, o tipo e freqüência de efeitos adversos após doses únicas ou múltiplas e fenômenos de abstinência. (Janicak, 1996)

Farmacocinética Lipossolubilidade - Quanto mais lipossolúvel (solúvel no meio gorduroso), mais rápido é o início da ação (midazolam e o diazepam) Absorção São, geralmente, administrados por VO, sendo completamente absorvidos no trato gastrintestinal, sendo diferentes quanto à velocidade de absorção, o que influencia o início da atividade terapêutica.

Farmacocinética (cont) Meia-vida - Compreendem os de ação ultracurta (< 5 h), ação curta a intermediária (6-12 h) e ação longa (> 12 h). Potência - A potência é bastante variável entre os inúmeros benzodiazepínicos.

Farmacodinâmica Mecanismo de ação - está relacionado à ligação com o ácido y-aminobutírico (GABA), que é o mais potente sistema inibidor da neurotransmissão no S.N.C. Curva dose-resposta são medicamentos cujos efeitos são dose-dependente. A medida que a dose administrada é aumentada, os efeitos terapêuticos ou adversos são maiores. Efeitos Adversos - Também são dose dependente. O mais comum é a sedação. Outros efeitos adversos são a desinibição comportamental (com sintomas como agressividade, excitação paradoxal, irritabilidade e outros), prejuízo psicomotor e prejuízo cognitivo

Farmacodinâmica (cont) Tolerância, dependência e síndrome de abstinência. Depende de: tempo de uso, dose, tempo de suspensão e meia-vida do benzodiazepínico. Pacientes em tratamento com benzodiazepínicos de meia-vida mais curta, por longos períodos, em doses altas e com suspensão abrupta do uso estão mais propensos a apresentar esta síndrome.

Farmacodinâmica (cont) A síndrome de abstinência pode ser: branda com quadro de ansiedade, sudorese, taquicardia, cefaléia, insônia e anorexia grave com quadro de desconforto abdominal, náuseas, vômitos, alteração da pressão arterial, aumento da temperatura corporal, sensibilidade excessiva a luzes e sons, confusão mental e convulsões.

Farmacodinâmica (cont) Abuso - geralmente seguros quanto à overdose a não ser que tenham sido associados a álcool, barbitúricos, determinados antipsicóticos e/ou antidepressivos, entre outros. Interação medicamentosa - interagem com, álcool, clozapina, levodopa, nefazodone, verapamil e diltiazem (estes dois últimos diminuem os níveis sanguíneos de midazolam), entre outros.

COMPOSTO QUE INTERAGE Cimetidina e Ranitidina MECANISMO DE INTERAÇÃO Inibição do sistema citocromo P450 RESULTADO DA INTERAÇÃO Aumento dos níveis plasmáticos de BZD Anticoagulantes orais (warfarin) Heparina Digoxina desconhecido Diminuição da taxa de ligação protéica dos BDZ Diminuição da filtração glomerular da digoxina Possível aumento do tempo da protrombina Sedação excessiva Aumento da vida média da digoxina com possível intoxicação Aumento dos níveis plasmáticos dos BDZ Aumento dos níveis plasmáticos dos BDZ Diminuição dos níveis plasmáticos dos BDZ Aumento dos níveis plasmáticos dos BDZ Dissulfiram (antietnol) Inibição das enzimas hepáticas Álcool (uso agudo) Inibição das enzimas hepáticas Álcool (uso crônico) Indução das enzimas hepáticas Isoniazida Inibição das enzimas hepáticas Estrógenos Inibição do metabolismo Aumento dos níveis plasmáticos dos BDZ Fumo (tabaco) Indução de enzimas Diminuição dos níveis hepáticas plasmáticos dos BDZ Rifampicina Indução de enzimas Diminuição dos níveis hepáticas plasmáticos dos BDZ Contraceptivos orais Diminuição do Aumento dos níveis metabolismo plasmáticos dos BDZ Levodopa Desconhecido Diminuição dos efeitos antiparkinsonianos da levodopa Paroxetina e fluoxetina Inibição de P450 e 2C19 Diminuição do clearence de diazepam e alprazolam

FIM