RELATORA : MINISTRA DENISE ARRUDA EMENTA CONFLITO DE COMPETÊNCIA. EXECUÇÃO FISCAL AJUIZADA PELA CEF. COBRANÇA DO FGTS. LEI 8.844/94. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL INALTERADA PELA EC 45/2004. 1. Discute-se a competência para julgamento de ação de execução fiscal ajuizada pela CEF para a cobrança de valores devidos ao FGTS. 2. Ao dar nova redação ao art. 114 da Carta Magna, a EC 45/2004 aumentou de maneira expressiva a competência da Justiça Laboral, passando a estabelecer, no inciso I do retrocitado dispositivo, que compete à Justiça do Trabalho processar e julgar "as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios". 3. Não obstante isso, nos termos do art. 2º da Lei 8.844/94, cabe à Fazenda Nacional a cobrança dos créditos do FGTS, sendo que a CEF pode atuar como sua substituta processual. 4. Evidencia-se, portanto, que a cobrança da contribuição referente ao FGTS e a obrigação relativa ao seu recolhimento, bem como a relação jurídica existente entre o fundo em questão e o empregador, não têm natureza trabalhista, não estando a presente demanda, de conseqüência, incluída na esfera de competência da Justiça do Trabalho. 5. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal da 3ª Vara de Marília - SJ/SP -, o suscitado. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da PRIMEIRA SEÇÃO do : A Seção, por unanimidade, conheceu do conflito e declarou competente o Juízo Federal da 3ª Vara de Marília/SJ-SP, o suscitado, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Humberto Martins, Herman Benjamin, José Delgado, Luiz Fux, João Otávio de Noronha, Teori Albino Zavascki e Castro Meira votaram com a Sra. Ministra Relatora. Ausente, justificadamente, a Sra. Ministra Eliana Calmon. Brasília (DF), 13 de setembro de 2006(Data do Julgamento). MINISTRA DENISE ARRUDA Relatora Documento: 647708 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 02/10/2006 Página 1 de 5
RELATORA : MINISTRA DENISE ARRUDA RELATÓRIO A EXMA. SRA. MINISTRA DENISE ARRUDA (Relatora): Em ação de execução fiscal ajuizada pela Caixa Econômica Federal para a cobrança de valores devidos ao Fundo de Garantia dotempo de Serviço - FGTS -, o Juízo Federal da 3ª Vara de Marília - SJ/SP - declarou sua incompetência para julgamento do litígio, determinando a remessa dos autos à Justiça do Trabalho, sob o fundamento de que a EC 45/2004 transferiu para a Justiça Laboral a competência para julgamento de todas as ações que se originam de relações de trabalho. Encaminhados os autos ao Juízo da 2ª Vara do Trabalho de Marília/SP, foi suscitado o presente conflito de competência, entendendo que "a relação de trabalho a que se refere o inciso I do art. 114 é aquela existente entre as partes em litígio, e não como interpretou o MM. Juízo Federal". O Ministério Público Federal opinou pela competência da Justiça Federal, em parecer assim sumariado (fls. 144/147): "Conflito negativo de competência entre a Justiça do Trabalho e a Justiça Federal comum. Execução fiscal ajuizada pela Caixa Econômica Federal. Cobrança de valores referentes ao FGTS. Ação que não tem por objeto a relação de trabalho. Incidência do art. 114, I, da CF, afastada. Precedente do STJ. Parecer pela declaração de competência do Juízo Federal da 3ª Vara de Marília - SJ/SP, o suscitado." É o relatório. Documento: 647708 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 02/10/2006 Página 2 de 5
VOTO A EXMA. SRA. MINISTRA DENISE ARRUDA (Relatora): Trata-se de conflito em que se discute a competência para julgamento de execução fiscal proposta pela Caixa Econômica Federal - CEF - para cobrança de importância relativa ao FGTS. Apesar das recentes alterações da ordem constitucional, assiste razão ao Juízo Suscitante. Ao dar nova redação ao art. 114 da Carta Magna, a EC 45/2004 aumentou de maneira expressiva a competência da Justiça Laboral, passando a estabelecer, no inciso I do retrocitado dispositivo, que compete à Justiça do Trabalho processar e julgar "as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios". Não obstante isso, a competência para julgamento de demandas como a dos autos não foi atraída para a Justiça do Trabalho. O art. 2º da Lei 8.844/94 prevê que "compete à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional a inscrição em Dívida Ativa dos débitos para com o Fundo de Garantia do Tempo de serviço - FGTS, bem como, diretamente ou por intermédio da Caixa Econômica Federal, mediante convênio, a representação Judicial e extrajudicial do FGTS, para a correspondente cobrança, relativamente à contribuição e às multas e demais encargos previstos na legislação respectiva". Evidencia-se, portanto, que cabe à Fazenda Nacional a cobrança dos créditos do FGTS, sendo que a CEF pode atuar como sua substituta processual. Desse modo, conclui-se que a cobrança da contribuição referente ao FGTS e a obrigação relativa ao seu recolhimento, bem como a relação jurídica existente entre o fundo em questão e o empregador não têm natureza trabalhista, não estando a presente demanda, de conseqüência, incluída na esfera de competência da Justiça do Trabalho. Nesse sentido é a jurisprudência uníssona da Primeira Seção, conforme os precedentes a seguir: "CONFLITO DE COMPETÊNCIA EXECUÇÃO FISCAL INSCRIÇÃO DA DÍVIDA PELA FAZENDA NACIONAL COBRANÇA PELA CEF EXECUTIVO DA UNIÃO COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL EMENDA CONSTITUCIONAL 45/2004. 1. A dívida ativa para com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS é inscrita pela Fazenda Nacional, que pode, por autorização legal (Lei 8.844/94) transferir a cobrança para a Caixa Econômica Federal. Apesar da delegação de competência, o título não perde a característica de executivo fiscal da União. 2. A modificação, pela Emenda Constitucional 45/2004, do art. 114 da CF não altera a competência para o julgamento do feito. 3. Conflito de competência conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da 3ª Vara Cível de Muriaé - MG." (CC 60.237/MG, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ de 26.6.2006) Documento: 647708 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 02/10/2006 Página 3 de 5
"CONFLITO DE COMPETÊNCIA. EXECUÇÃO FISCAL PROMOVIDA PELA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. DÍVIDA DE FGTS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. 1. A relação jurídica que se estabelece entre o FGTS e o empregador, da qual decorre a obrigação de recolhimento de contribuições para o referido Fundo, tem natureza estatutária, e não contratual. Ela decorre da lei, e não da relação de trabalho. A ação de cobrança é proposta pela CEF em favor do FGTS, e nenhum dos dois figura na relação de trabalho. Assim, é da Justiça Federal e não da Justiça do Trabalho a competência para processar a causa. 2. Conflito conhecido e declarada a competência do Juízo Federal da 3ª Vara de Marília, o suscitado." (CC 55.415/SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 27.3.2006) "CONFLITO DE COMPETÊNCIA. EXECUÇÃO FISCAL. CONTRIBUIÇÕES DE FGTS. ART. 114, INCISO I, DA CF/1988 (REDAÇÃO DA EC N 45/2004). HIPÓTESE DOS AUTOS NÃO-CONTEMPLADA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. ART. 109, INCISO I, DA CARTA MAIOR. 1. Conflito de competência negativo suscitado pela Justiça do Trabalho em face da Justiça Federal, relativo à ação de execução fiscal promovida pela CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF objetivando cobrar valores devidos ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS. 2. O art. 114, inciso I, da CF/1988, alterado pela Emenda Constitucional n 45/2004, não contempla hipótese de execução fiscal promovida pela CEF em face de empresa devedora de FGTS, tendo em vista que o vínculo entre devedor e credor forma negócio jurídico sem as características da denominada relação de trabalho. 3. Compete, portanto, à Justiça Federal processar e julgar o aludido feito, consoante a disciplina do art. 109, inciso I da Carta Maior. 4. Conflito de competência conhecido para declarar competente o Juízo Federal, suscitado." (CC 52.099/SP, Rel. Min. José Delgado, DJ de 20.2.2006) Depreende-se, portanto, que a análise da demanda em questão permanece no âmbito de competência da Justiça Federal. À vista do exposto, deve-se conhecer do conflito para declarar a competência do Juízo Federal da 3ª Vara de Marília - SJ/SP -, o suscitado. É o voto. Documento: 647708 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 02/10/2006 Página 4 de 5
CERTIDÃO DE JULGAMENTO PRIMEIRA SEÇÃO Número Registro: 2005/0143647-9 CC 54162 / SP Números Origem: 200261110033083 8142005 EM MESA JULGADO: 13/09/2006 Relatora Exma. Sra. Ministra DENISE ARRUDA Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro FRANCISCO FALCÃO Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. WALLACE DE OLIVEIRA BASTOS Secretária Bela. Carolina Véras AUTUAÇÃO ASSUNTO: Execução Fiscal CERTIDÃO Certifico que a egrégia PRIMEIRA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: "A Seção, por unanimidade, conheceu do conflito e declarou competente o Juízo Federal da 3a. Vara de Marília-SJ/SP, o suscitado, nos termos do voto da Srª Ministra Relatora." Os Srs. Ministros Humberto Martins, Herman Benjamin, José Delgado, Luiz Fux, João Otávio de Noronha, Teori Albino Zavascki e Castro Meira votaram com a Sra. Ministra Relatora. Ausente, justificadamente, a Sra. Ministra Eliana Calmon. Brasília, 13 de setembro de 2006 Carolina Véras Secretária Documento: 647708 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 02/10/2006 Página 5 de 5