Promoção da igualdade de género em contexto escolar. Alice Mendonça Universidade da Madeira

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Transcrição:

Promoção da igualdade de género em contexto escolar Alice Mendonça Universidade da Madeira 1

Introdução: Compatibilidade Aluno ideal o perfil feminino. Será que a escola ao tratar todos de igual modo, está a promover a igualdade entre os géneros? 2

Tabela 1. Alunos matriculados por nível de ensino consoante o género (2007/2008) Pré Ensino Básico Ensino Ensino Superior Escolar (1º/2º/3ºciclos) Secundário H 129390 580659 156190 172515 M 121239 520025 173803 197902 As reprovações e o abandono escolar, fenómenos predominantemente masculinos alteram a proporção de rapazes e raparigas que frequentam cada um dos ciclos. Este facto traduz-se num ensino secundário maioritariamente feminino e num ensino universitário que dá continuidade a esta tendência. 3

Tabela 2. Reprovação e desistência no 1º ciclo consoante o género (2005-2008) 2005/2006 2006/2007 2007/2008 Valores % Valores % Valores % Género absolutos absolutos absolutos H 12051 5,0 10524 4,3 9577 3,9 M 8072 3,6 7428 3,3 6952 3,1 4

Tabela 3. Reprovação e desistência no 2º ciclo consoante o género (2005-2008) 2005/2006 2006/2007 2007/2008 Valores % Valores % Valores % Género absolutos absolutos absolutos H 17463 13,6 16930 13,2 13164 10,0 M 7939 7,1 7612 6,8 6184 5,3 O volume de rapazes que reprovam e abandonam o sistema educativo representa o dobro dos valores femininos. 5

Tabela 3. Reprovação e desistência no 3º ciclo consoante o género (2005-2008) 2005/2006 2006/2007 2007/2008 Valores % Valores % Valores % Género absolutos absolutos absolutos H 42085 22,2 41297 21,4 32348 15,9 M 28818 15,9 28182 15,4 22915 11,5 No 3º ciclo a diferença percentual entre os dois géneros não resulta numa efectiva duplicação. Podemos então equacionar a desistência rapazes que não chegaram a integrar este ciclo ou a sua mobilidade para cursos profissionalizantes, conducentes a um melhor aproveitamento. 6

Tabela 5. Evolução dos alunos diplomados no ensino superior por género (2003-2008) 2003/2004 2004/2005 2005/2006 2006/2007 2007/2008 H 32,8 34,8 34,6 38,6 40,4 M 67,2 65,2 65,4 61,4 59,6 Esta situação atinge o seu auge no ensino universitário onde o género feminino domina em praticamente todas as áreas, quer qualitativa quer quantitativamente. 7

3. Razões para a existência de diferentes resultados entre os géneros: a) Questões biológicas e estereótipos tipos sociais Os comportamentos entre os dois géneros apresentam-se já diferenciados ao nível do ensino pré-escolar, com as raparigas a manifestar mais autonomia, auto-controlo e maturidade físico-motora. Actividade cerebral diferenciada (as características inatas a cada género g distinguem os comportamentos) predisposições genéticas + estereótipos tipos de género g = diferenças comportamentais e de desenvolvimento (emocional, intelectual, motor, social) Rapaz -Actividades competitivas - Jogos físicos violentos - Grupos numerosos e hierarquizados Rapariga - Moderação dos comportamentos - Compreensão dos sentimentos - Maior concentração - Maior capacidade de aquisição 8

4. Como reage a escola? as raparigas são mais favoravelmente avaliadas pelos professores. Os professores valorizam aspectos do comportamento feminino f mais conformes com as suas representações do bom aluno. A escola premeia as disposições fundamentais da socialização feminina (mais compatíveis com a socialização escolar). A vantagem do aproveitamento feminino não traduz necessariamente diferenças de aprendizagem reais, uma vez que os professores, sobreavaliam as raparigas relativamente aos rapazes, pelo facto de utilizarem os mesmos indicadores para ambos os géneros. 9

5. Sugestões e recomendações Nos Estados Unidos as escolas oficiais foram autorizadas a abrir turmas diferenciadas. No Reino Unido, as escolas do ensino Pré Escolar receberam instruções para reforçarem os exercícios de escrita com os rapazes de 3-43 anos, de modo a reduzir as fortes diferenças entre os sexos, na escrita e leitura, que se fazem sentir no início do 1º 1 ciclo. E em Portugal? Necessidade de um ensino diferenciado desde o Pré-Escolar. A ênfase deverá ser colocada na motivação para a escrita e não na obrigatoriedade de manusear materiais característicos do ensino formal. 10

Sugestões: separação das crianças as consoante o género g durante alguns momentos do dia Exige: um planeamento rigoroso, objectivos bem definidos motivação lúdical a componente aprendizagem/valorização da escrita surja sempre associada à componente lúdica. l 11

A Lei permite? A Lei de Bases do Sistema Educativo (1986) atribui ao Estado a responsabilidade de assegurar a igualdade de oportunidade para ambos os sexos e acrescenta que no ensino pré-escolar, cada educador tem autonomia e responsabilidade para gerir o currículo, devendo estimular o desenvolvimento da criança tendo em conta as suas características individuais. 12

Trata-se de um novo desafio social para evitar a existência/criação de uma geração de rapazes excluídos dos sistemas escolares e profissionais por incapacidade de rivalizar com o género g oposto. 13