Reflexões sobre as mudanças climáticas e a dinâmica da malária na Amazônia Marly Satimi Shimada 1,Angela Imakawa 2 1 Aluna do curso de Especialização em Saúde Ambiental Centro de Pesquisa Leônidas e Maria Deane FIOCRUZ Amazônia Rua Terezina, 476. Adrianópolis Manaus AM. Brazil, email: msatimi@yahoo.com.br Universidade do Estado do Amazonas,UEA-Darcy Vargas,1200.Pq Dez Manaus AM. Brasil,email:aimakawa@yahoo.com.br ABSTRACT: The climate variability is being progressively more debated in Brazil. Its impact affects directly the human health, specially the epidemiological aspects of Brazilian north region. Some aspects of the climate effects can increase the spreading rate of diseases like malaria, as well as the environmental conditions are propitious to the reproduction and survival of pathological agents and vectors. The climate changes can accelerate not only the transmission cycles but also extend their geographical distribution, both for higher latitudes or altitudes Palavras-chave: Variabilidade Climática, malária, Amazônia 1 INTRODUÇÃO A malária é um grave problema de Saúde Pública no mundo, colocando em risco 40% da população de mais de 100 países. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que ocorra no mundo cerca de 300 a 500 milhões de novos casos e um milhão de mortes ao ano (WHO, 2002). No Brasil, sabe-se que a grande maioria dos focos concentra-se nos Estados da Amazônia Legal, com cerca de 99,7% dos casos registrados, sendo considerado um dos principais problemas de saúde pública na região (ASSIS, 2007). O aquecimento global do planeta tem gerado uma preocupação sobre a possível expansão da área atual de incidência de algumas doenças transmitidas por insetos (TAUIL, 2002). Porém, devem-se levar em conta que são múltiplos os fatores que influenciam a dinâmica da doença transmitida por vetores, além dos fatores ambientais (vegetação, clima, hidrologia, topografia); como os sócio-demográficos (migrações e densidade populacional); além dos biológicos (ciclo vital dos insetos vetores de agentes infecciosos) e dos médicosociais ( estado imunológico da população, efetividade dos sistemas locais de saúde e dos programas específicos de controle de doenças, etc.) e as origens históricas da doença na região, estes dois últimos sempre muito esquecidos nas apressadas análises causais entre o impacto das mudanças climáticas e as doenças vetoriais (OPAS/OMS, 2008). Na Amazônia, a presença da floresta equatorial de clima quente úmido, adicionandose as inter-relações dos fatores ambientais, ambos desempenham papel importante no risco de transmissão de malária que podem ser divididos em dois grupos: meio natural e meio antrópico (modificado e influenciado pela ação humana). O meio natural inclui a topografia, hidrologia, tipo de solo e clima, e demais aspectos da fisiografia da bacia hidrográfica. Enquanto que no meio antrópico, pode-se citar as migrações populacionais, a ocupação 1
desordenada nas áreas rurais, assim como nas margens de rios, o uso inadequado de corpos d água, etc. Além disso, a quantidade de chuva potencializa o risco de transmissão no final da estação chuvosa, quando os solos estão mais úmidos e a variação do nível da água dos rios e igarapés propicia a formação de criadouros de mosquitos em suas margens (CRUZ, et al., 2008). O ciclo de vida dos vetores, assim como das águas de rios e lagos que participam da cadeia de transmissão de doenças, está fortemente relacionado à dinâmica ambiental dos ecossistemas onde estes vivem. Neste contexto, a presente pesquisa tem como objetivo um estudo comparativo dos casos de malária do ano de 2005, onde houve uma grande seca e do ano de 2009, que foi o caso de uma cheia extrema. 2 - MATERIAIS E MÉTODOS A área de estudo, o Estado do Amazonas, caracteriza-se por ser o maior do Brasil ocupando uma extensão territorial de 1.570.745,680 km². Trata-se de um estudo qualitativo de caráter descritivo, com informações de dados secundários de casos de malária que foram obtidos junto ao banco de dados do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica Malária (SIVEP Malária) do Ministério da Saúde. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO As mudanças climáticas podem ser entendidas como qualquer mudança no clima ao longo dos anos, devido à variabilidade natural ou como resultado da atividade humana (IPCC, 2007a). O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) divulgou recentemente que há 90% de chance do aquecimento global observado nos últimos 50 anos ter sido causado pela atividade humana (IPCC, 2007b), através do aumento das emissões de gases de efeito estufa. Esse aumento nas emissões de gases estufa poderá induzir um aquecimento da atmosfera, o que pode resultar em uma mudança no clima mundial a longo prazo (McMICH AEL, 2003). As mudanças climáticas refletem o impacto de processos socioeconômicos e culturais, como o crescimento populacional, a urbanização, a industrialização e o aumento do consumo de recursos naturais e da demanda sobre os ciclos biogeoquímicos (McMICHAEL, 1999; CONFALONIERI et al, 2002) Os mecanismos dos impactos dos eventos climáticos sobre a saúde humana podem ser apreciados, de forma resumida no esquema abaixo: 2
Figura 1: Variabilidade climática, vulnerabilidade social e saúde no Brasil, Confalonieri, 2003. Para discutir sobre as questões climáticas no Brasil é importante primeiro diferenciar a variabilidade natural do clima das mudanças climáticas e, em seguida, distinguir que mudanças climáticas podem resultar tanto do aquecimento global como também de alterações da cobertura vegetal. Eventos extremos relacionados à variabilidade intra-sazonal e inter anual do clima comumente são causados pela instabilidade da interação bidirecional dos oceanos tropicais com a atmosfera global. As mudanças climáticas globais afetarão a saúde humana principalmente por meio de alterações nos padrões das doenças infecciosas endêmicas transmitidas pela água (exemplo: cólera, leptospirose) ou por vetores animais (malária, dengue, leishmanioses, arboviroses). Ao serem criadas condições ambientais mais favoráveis à reprodução e à sobrevivência de patógenos e vetores, as mudanças climáticas poderão acelerar os ciclos de transmissão bem como estender as suas áreas de distribuição geográfica, tanto para latitudes quanto para altitudes maiores. Outro aspecto associado com as mudanças climáticas diz respeito às alterações nos eventos extremos, tais como as tempestades, furacões, ondas de calor e inundações. Projeta-se que as mudanças climáticas globais modificarão a distribuição dos padrões locais metereológicos, principalmente a prevista intensificação do ciclo hidrológico. Isso pode ter conseqüências com relação a fatalidades associadas com acidentes e com epidemias de doenças transmissíveis, decorridos dos desastres climáticos. Em última instância, a diversidade biológica, em todos os seus níveis, mantém seu papel estratégico e permite a possibilidade de adaptação das populações humanas e de outras espécies às pressões ambientais externas cada vez mais importantes nos cenários futuros. Esses cenários, principalmente os relacionados às mudanças climáticas globais, sinalizam um rearranjo importante na distribuição geográfica e abundância das espécies. O aumento de apenas alguns graus na temperatura poderá deslocar o habitat de muitas espécies para latitudes e altitudes mais altas, alterando, assim, a incidência de doenças antes restritas a determinadas regiões. Esse parece ser o caso da malária, cujas espécies de Plasmodium necessitam de temperaturas altas (entre 20 e 35 C depe ndendo da espécie) para completar a fase de esporogenia nos mosquitos (vetores) que, por sua vez, também poderão ampliar suas distribuições geográficas em conseqüência dos mesmos fatores abióticos. Devemos ter ainda em mente que os diferentes processos de mudanças ambientais globais interagem entre si e podem potencializar os seus efeitos sobre a saúde humana. 3
4 CONCLUSÕES As flutuações climáticas sazonais produzem um efeito na dinâmica das doenças vetoriais como, por exemplo, a maior incidência da dengue no verão e da malária na Amazônia durante o período de estiagem. Os eventos extremos introduzem considerável flutuação que podem afetar a dinâmica das doenças de veiculação hídrica, e que podem se agravar com as enchentes ou secas que afetam a qualidade e o acesso à água. Mas no caso de 2005, como mostra o gráfico houve um aumento considerável de casos de malária, e tivemos uma seca extrema. Já ano de 2009 houve uma grande cheia, e menos casos de malária em relação ao ano de 2005. Casos de malária de 2003 a 2009 no Estado do Amazonas 35000 30000 25000 20000 15000 10000 5000 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Figura 2: Casos de malária de 2003 a 2009, Sivep-malária. A ocorrência da infecção malárica é perfeitamente entendida e simples, no entanto as relações estabelecidas entre o mosquito e homem com o ambiente tornam complexos a compreensão das características que determinam a ocorrência de maior ou menor número de casos. Portanto, não se podem desvincular as questões ambientais da dinâmica da malária, esta caracterizada como doença e os fatores a ela relacionados. Os problemas de saúde pública constituem um componente crítico das dimensões humanas nas mudanças ambientais globais. O estabelecimento de critérios de qualidade ambiental depende, em grande parte, da mensuração dos seus efeitos sobre os sistemas biológicos, em especial sobre a saúde e a sobrevivência humana. A avaliação dos efeitos sobre a saúde relacionados com os impactos das mudanças climáticas é extremamente complexa e requer uma avaliação integrada com uma abordagem interdisciplinar dos profissionais de saúde, climatologistas, cientistas sociais, biólogos, físicos, químicos, epidemiologistas, dentre outros, para analisar as relações entre os sistemas sociais, econômicos, biológicos, ecológicos e físicos e suas relações com as alterações climáticas. 4
Não se conhece o suficiente sobre a ampla gama de possíveis conseqüências para a saúde dos complexos processos que fazem parte das mudanças globais. Portanto, mais pesquisas se fazem necessárias, tanto em nível conceitual quanto empírico. 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSIS, M.C. A relação entre a dinâmica da Malária e problemas sócio-ambientais na bacia do Rio Purus. In: III Simpósio Nacional de Geografia da Saúde I Fórum Internacional de Geografia da Saúde. Curitiba, 08 a 11 de outubro de 2007. CONFALONIERI, U. et al. Mudanças globais e desenvolvimento: importância para a saúde. Informe Epidemiológico do SUS, v. 11, n.3, p. 139-154, 2002. CONFALONIERI, U. Variabilidade climática, vulnerabilidade social e saúde no Brasil. Terra Livre, SP, Ano 19-vol I n.20, p.193-204, 2003. IPCC. Intergovernmental Panel on Climate Change. The Science of Climate Chang. The Scientific Basis Contribution of Working Group 1 to the IPCC, The assessment report, Cambridge University, 2001a MC MICHAEL, A.J. From hazard to habitat: rethinking environment and health. Epidemiology, v. 10, n. 4, p. 460-464, 1999. Global climate change and health: an old story writ large, p 1-17. In: MCMICHAEL, A.J. et al. (eds). Climate change and human health. Risks and responses. Genebra: WHO, 2003 OPAS.Organización Panamericana de la salud. Evaluación de los efectos de la contaminación del aire en la salud América Latina y el Caribe. 2005. TAUIL, P.L. Controle de doenças transmitidas por vetores no sistema único de saúde. Informe Epidemiológico SUS, v. 11, n. 2, p. 59-60, 2002. 5