TÍTULO: A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NO TRABALHO COM A SAÚDE REPRODUTIVA AUTORES: Ludmila Fontenele Cavalcanti (ludmario@uol.com.br) Luciana Patrícia Zucco (lpzucco@uol.com.br) Maria Magdala Vasconcelos de Araújo Silva (jobmag@iis.com.br ) INSTITUIÇÃO: UFRJ ÁREA TEMÁTICA - SAÚDE OBJETIVO Considerando a importância que a saúde reprodutiva assume no campo dos direitos humanos, especificamente no campo dos direitos sexuais e reprodutivos, e no quadro sanitário brasileiro, o Núcleo de Estudos e Ações em Saúde Reprodutiva e Trabalho Feminino da Escola de Serviço Social da UFRJ desenvolve, desde outubro de 1998, proposta político-pedagógica voltada para a interação entre os conteúdos temáticos e as demandas da sociedade expressas nas unidades públicas de saúde, tendo como objetivos: 1. articular os diferentes conteúdos à formação profissional do aluno; 2. estimular a produção teórica dos estagiários de Serviço Social; 3. promover a capacitação técnica na assistência à saúde da mulher; 4. estimular a produção teórica dos Assistentes Sociais e estagiários de Serviço Social; 5. identificar formas de atuação do Assistente Social no PAISM e no SUS/RJ; 6. formular o diagnóstico acerca das realidades locais, dos espaços institucionais dos serviços de saúde; 7. desenvolver pesquisas e estudos relativos à saúde da mulher; 8. assessorar à produção de material educativo e didático; 9. apoiar projetos institucionais; 10. constituir acervo das práticas sociais relativas à saúde da mulher. METODOLOGIA
O Núcleo desenvolve suas atividades através de quatro áreas de ação responsáveis pela consolidação do tripé do ensino/pesquisa/extensão relativas à: a) qualificação da atenção à saúde reprodutiva; b) qualificação profissional; c) avaliação e monitoramento das políticas sociais públicas; d) formação profissional do aluno estágio. O Núcleo tem como áreas de intervenção fundamentais no âmbito do PAISM as práticas educativas e a avaliação de programas e/ou serviços. Este implementa a extensão através da parceria estabelecida com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, com as unidades campos de estágio próprios da universidade e com organizações não governamentais. A extensão é aqui dimensionada como filosofia, ação vinculada, política, estratégia democratizante e metodologia voltada aos problemas sociais. Tal concepção foi sistematizada, em 1987, no Fórum de Pró-Reitores de Extensão em seu I Encontro Nacional. A extensão universitária foi, então, entendida como processo educativo, cultural e científico, que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre universidade e sociedade. Portanto, a preocupação atual está centrada no objetivo de reafirmar a extensão como processo acadêmico em função das exigências da realidade, indispensável na formação do aluno, na qualificação do profissional e no intercâmbio com a sociedade. RESULTADOS Trabalhar de forma extensionista implica em consolidar parcerias com os diferentes programas e unidades numa perspectiva de intersetorialidade, bem como institucionalizá-las. Tal fato, além de representar um desafio ao docente, possibilita, externamente, a troca de conhecimentos entre as instituições e profissões, indispensável ao perfil que se deseja para o profissional de Serviço Social: crítico, propositivo e criativo. Este movimento se reproduz, internamente, no conjunto das disciplinas que conformam a formação do aluno, e que pode ser potencializado com a disciplina que acompanha o exercício da prática, neste caso, a Metodologia Aplicada na área de Saúde Reprodutiva.
O Núcleo de Estudos e Ações em Saúde Reprodutiva e Trabalho Feminino implementa a extensão articulada ao estágio curricular, na medida em que este é um dos instrumentos que a viabiliza como momento da prática profissional, da consciência social e do compromisso ético-político. No campo da formação profissional, observa-se a consolidação dessa área de estágio, bem como o rebatimento na sua qualidade, reafirmando a saúde como uma área prioritária de inserção do assistente social e, particularmente, a saúde reprodutiva. Dentre os vários motivos que levam ao reconhecimento desta área como fundamental, pode-se afirmar: a) a saúde das mulheres como importante para a saúde da humanidade; b) o papel universal da mulher na condição de cuidadora; c) o seu papel na reprodução, na economia e no sustento das famílias; d) o entendimento dos direitos sexuais e reprodutivos como inerentes aos direitos humanos; e) a inserção das mulheres nas organizações sociais. Levando em conta a estruturação da área de estágio, observa-se não somente a sua consolidação, como também o crescimento significativo da mesma. Até 1995, a Saúde Reprodutiva contava com apenas 10 alunos, havendo apenas uma turma de Metodologia Aplicada. Atualmente, até o ano de 2002, passaram 463 alunos, e a Saúde Reprodutiva chegou a contar com 03 turmas duas no diurno e uma no noturno. Tal crescimento é, certamente, fruto de um esforço extensionista envolvendo os professores deste Projeto. As unidades de saúde, campos de estágio na área de saúde reprodutiva, são acompanhadas diretamente pelo Núcleo, o que permite a apreensão dinâmica da realidade vivida pelos usuários e a produção de trabalhos acadêmicos, solicitados aos alunos, que vão ao encontro dessa demanda. Os instrumentos didático-pedagógicos utilizados pelos professores no acompanhamento do estágio curricular contemplam conteúdos voltados para a compreensão das demandas sociais e para a instrumentalização da prática profissional. O acompanhamento às atividades de estágio é mediatizado por
visitas institucionais, reuniões com os profissionais nas unidades de saúde e na unidade de ensino, realização de eventos, assessoria às unidades de saúde (para elaboração e realização de programas e projetos) e trabalhos acadêmicos solicitados aos alunos. O Núcleo, ao tornar-se referência no trabalho com saúde reprodutiva, ampliou suas atividades para além das unidades campos de estágio e vem atuando no sentido de qualificar os profissionais no atendimento à saúde da mulher. Várias instituições demandaram por trabalhos que compreendiam oficinas, cursos e palestras voltadas para a temática, com a presença de profissionais de saúde, usuários e estagiários de diversas unidades de ensino. Foram realizadas capacitações sistemáticas de supervisores e de profissionais de saúde através de eventos temáticos e cursos, além de desenvolver pesquisas articuladas com as demandas institucionais. As ações de capacitação técnica foram desenvolvidas com base na demanda identificada no acompanhamento aos campos de estágio, com a parceria de várias instituições e organizações não governamentais. O Núcleo, através do acompanhamento e da assessoria aos campos de estágio, potencializa a produção teórica dos assistentes sociais e estagiários, através de trabalhos acadêmicos, que sistematizam a prática profissional, sendo apresentados em vários espaços científicos. A discussão acerca das diversas formas de atuação dos profissionais no PAISM e no SUS ocorre através da promoção, organização e coordenação de eventos e de capacitação. Em articulação com a disciplina de acompanhamento ao estágio e de modo consecutivo, também vem sendo construído o perfil da população usuária dos serviços voltados para a saúde da mulher a partir das unidades campos de estágio. Essa atividade contribui para o exercício da dimensão investigativa da profissão, para a identificação de questões a serem abordadas em trabalhos de extensão e nas monografias de fim de curso (graduação e residência) e para o redirecionamento de projetos institucionais voltados à demanda (assessoria à equipe de Serviço Social).
Os perfis têm sido sistematicamente apresentados em Congressos, Jornadas de Iniciação Científica da UFRJ, assim como nos espaços institucionais onde foram coletados os dados. Observa-se uma certa dispersão em relação à bibliografia, à memória das práticas voltadas para a saúde da mulher e aos materiais educativos disponíveis aos alunos e profissionais que hoje atuam na área da saúde e da educação, tanto na esfera pública quanto privada. O intercâmbio com diferentes instituições, ONGs e projetos isolados, que atuam diretamente com a saúde da mulher, assume um significado especial, pois dá visibilidade ao Projeto de Extensão desenvolvido pelo Núcleo, assim como possibilita a troca de conhecimentos e materiais. Integram o acervo consolidado: livros, periódicos, publicações esporádicas, sites na internet, materiais educativos (folders, cartilhas, kit de método contraceptivo, álbuns seriados, slides, jogos, entre outros), sistematização de oficinas, vídeos, entre outros. O acervo, permanentemente atualizado, vem sendo utilizado de modo sistemático por alunos de graduação, alunos de cursos de pós-graduação (latu sensu e stricto sensu), professores e assistentes sociais inseridos nas unidades campos de estágio, no sentido de qualificar a produção de trabalhos e pesquisas e a intervenção profissional. As pesquisas coordenadas pelos professores do Núcleo se integram a partir da articulação entre as diferentes temáticas relacionadas com a saúde da mulher e com o trabalho feminino. Tais pesquisas são marcadas por um caráter extensionista tanto no desenvolvimento de atividades estratégicas como na abordagem dos objetos escolhidos. A elaboração de catálogo de recursos comunitários na área da Saúde Reprodutiva, de um portifólio denominado A construção dos direitos reprodutivos na rede pública de saúde e de projetos de álbuns seriados, insere-se no contexto da formação profissional, o que permite a formulação de um projeto de ação profissional e focaliza o referencial teórico-metodológico relativo às temáticas. Esses trabalhos respondem também a uma demanda institucional dos campos de estágio por produção de materiais educativos voltados para a construção dos direitos de cidadania.
Os resultados apontam, ainda, para o desenvolvimento de ações preventivas voltadas para a alteração do quadro sanitário da saúde reprodutiva através da implantação de serviços de atendimento e de desenvolvimento de projetos no Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher. No que se refere à sistematização das atividades desenvolvidas pelo Núcleo, a constante apresentação de trabalhos em congressos (nacionais e internacionais) e jornadas, além da exposição através de mesas-redondas, palestras e conferências, vêm consolidando a experiência realizada. Também contribuem para a visibilidade da proposta a construção de site na internet e montagem de acervo fotográfico. A experiência do Núcleo de Estudos e Ações em Saúde Reprodutiva e Trabalho Feminino demonstra que a construção da proposta político-pedagógica constitui-se na produção de conhecimento resultante da interação e da troca de saberes sistematizados, ou seja, do saber acadêmico e do saber popular. Em outras bases, a relação ensino/ pesquisa/ extensão/ assistência teria como conseqüências a democratização do conhecimento, a participação da comunidade, a produção acadêmica resultante do confronto com a realidade, o processo dialético de teoria e prática e a noção de extensão como trabalho interdisciplinar e intersetorializado, favorecendo a visão integrada do social. Entende-se que os resultados apresentados contribuem para reafirmar a construção e consolidação de uma universidade pública, democrática e cidadã, que tem como postulados ético-morais o compromisso com o conhecimento voltado para o desenvolvimento da realidade social e do povo brasileiro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BURIOLLA, MAF. 1996. Supervisão em Serviço Social: o supervisor, sua relação e seus papéis. São Paulo: Cortez.. 1995. O Estágio Supervisionado. São Paulo: Cortez. GALVÃO, L & DÍAZ, J (org.). 1999. Saúde Sexual e reprodutiva no Brasil. São Paulo: HUCITEC; Population Council. IAMAMOTO, MV. 1998. Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. São Paulo: Cortez, p. 123-148.
MINAYO, MCDS. 1994. O Desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo - Rio de Janeiro: HUCITEC-ABRASCO. MINAYO & DESLANDES, SF (org.). 2002. Caminhos do Pensamento: epistemologia e método. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ. OSIS, MJMD. 1998. PAISM: um marco na abordagem da saúde reprodutiva no Brasil. In: Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 14 (Supl. 1): 25-32. SAMPAIO, CC et. al. 1995. Interdisciplinaridade em questão: análise de uma política de saúde voltada à mulher. In: Serviço Social e interdisciplinaridade: dos fundamentos filosóficos à prática interdisciplinar no ensino, pesquisa e extensão. (org. SEVERINO, AJ, Sá, JLM). São Paulo: Cortez, p. 67 95.