FREQUÊNCIA DE ENTEROPARASITAS NAS AREIAS DAS PRAIAS DA PARAÍBA



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Transcrição:

108 FREQUÊNCIA DE ENTEROPARASITAS NAS AREIAS DAS PRAIAS DA PARAÍBA Abrahão Alves de Oliveira Filho 1, Heloísa Mara Batista Fernandes 2, Natália Daniele de Freitas Alcântara 3, Thais Josy Castro Freire de Assis 4, Francisca Inês de Sousa Freitas 5 RESUMO: As doenças parasitárias e infecciosas constituem ainda hoje um sério problema de saúde pública no mundo. Considerando a escassez de pesquisas que abordem os níveis de contaminação de parasitas intestinais em areias de praias, este estudo teve como objetivo principal, avaliar a frequência de enteroparasitas nas areias das praias da Paraíba. Os exames foram realizados durante o mês de maio de 2011, totalizando 112 amostras. Os exames parasitológicos usados nesta pesquisa foram analisados de acordo com o método de Hoffmann, Pons & Janer (1934) ou Técnica de Sedimentação Espontânea e o método de Rugai e colaboradores. Do total, 67,8% estavam positivos para a presença de pelo menos uma espécie de parasita intestinal. As amostras de areia úmida apresentaram uma maior taxa de positividade para a presença de formas parasitárias, tendo sido detectada uma alta frequência de cistos de protozoários (62,5%), além disso, observou-se também a presença ovos (21,88%) e larvas (15,62%) de helmintos. Unitermos: Exames parasitológicos, Litoral Paraibano, Parasitas intestinais. INCIDENCE OF INTESTINAL PARASITES IN THE SANDY BEACHES OF PARAÍBA ABSTRACT: The infectious and parasitic diseases are still a serious public health problem worldwide. Considering the few studies that address the levels of contamination of intestinal parasites in beach sands, this study aimed to assess the frequency of intestinal parasites in the sandy beaches of Paraíba. The tests were conducted during the month of May 2011, totaling 112 samples. The parasitological tests used in this study were analyzed according to the method of Hoffman, Pons & Janer (1934) or the spontaneous sedimentation technique and the method of Rugai and employees. Of the total, 67.8% were positive for the presence of at least one species of intestinal parasite. Samples of wet sand had a higher rate of positivity for the presence of parasitic forms, have been detected a high frequency of protozoan cysts (62.5%), moreover, there was also the presence of eggs (21,88%) and larvae (15,62%) of helminths. Uniterms: Parasitological tests, Paraiba Coast, Intestinal parasites. INTRODUÇÃO As doenças parasitárias e infecciosas constituem ainda hoje um sério problema de saúde pública no mundo, sendo responsáveis, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), por cerca de 2 a 3 milhões de óbitos anualmente em todo o planeta (Silva et al, 2010). As infecções parasitárias são muito comuns nas regiões tropicais e subtropicais e em populações mais carentes, porém, apesar do grande avanço tecnológico, do alto padrão educacional, da boa nutrição e de boas condições sanitárias, mesmo países desenvolvidos estão sujeitos a estas doenças (Mascarini, 2003). A transmissão das enteroparasitoses ocorre, na maioria dos casos, por via oral passiva, vinculada a áreas cujas condições higiênico-sanitárias são precárias e à falta de tratamento 1 Farmacêutico, Laboratório de Tecnologia Farmacêutica, Pós-Graduação, CCS/UFPB, João Pessoa, PB, Brasil, abrahao.farm@gmail.com; 2 Farmacêutica, Laboratório de Tecnologia Farmacêutica, Pós-Graduação, CCS/UFPB, João Pessoa, PB, Brasil, heloisa_mara@hotmail.com; 3 Farmacêutica, Laboratório de Parasitologia Clínica, CCS/UFPB, João Pessoa, PB, Brasil, nataliadfalcantara@hotmail.com; 4 Fisioterapeuta, Laboratório de Tecnologia Farmacêutica, Pós- Graduação, CCS/UFPB, João Pessoa, PB, Brasil, thaisjosy@yahoo.com.br; 5 Prof. Farmacêutica, Departamento de Ciências Farmacêuticas, CCS/UFPB, João Pessoa, PB, Brasil, fisf@bol.com.br

109 adequado de água e esgoto, o que facilita a disseminação de ovos e cistos. Muitas vezes, a transmissão é facilitada pelo aumento do contato interpessoal proporcionado pelos ambientes coletivos (Mamus et al, 2008; Machado et al, 1999). A elevada prevalência de parasitoses intestinais em países subdesenvolvidos é responsável por quadros clínicos variáveis, os quais, freqüentemente, se encontram associados à diarréia crônica e à desnutrição, interferindo no desenvolvimento físico e cognitivo principalmente, das crianças. (Ludwig et al, 1999). No entanto, as infecções parasitárias são quase sempre negligenciadas. Os indivíduos permanecem parasitados de forma silenciosa por longos anos, o que causa sérios problemas, principalmente quando se trata de crianças, nas quais a evolução da infecção pode determinar desde quadros assintomáticos, até falta de apetite, seguida por emagrecimento e diarréia (Vargas, 2004; Orlandi et al, 2001). Dentre os helmintos, os mais freqüentes são os nematelmintos Ascaris lumbricoides e Trichuris trichiura e os ancilostomídeos Necator americanus e Ancylostoma duodenale. Estima-se que cerca de 1 bilhão de indivíduos em todo o mundo alberguem Ascaris lumbricoides, sendo pouco menor o contigente infectado por Trichuris trichiura e pelos Ancilostomídeos. Estima-se também, que 200 a 400 milhões de indivíduos, respectivamente, alberguem Giardia duodenalis e Entamoeba histolytica (Ferreira e Vieira, 2006). A carência de dados publicados sobre enteroparasitoses interfere significativamente sobre tomadas de decisões mais precisas para gestores públicos, pois servem de importante indicador das condições de saneamento básico em que vive determinada população (Costa-Macedo et al, 1998). Fundamentado nas afirmações supracitadas e na escassez de pesquisas que abordem os níveis de infecção de parasitas intestinais em areias de praias, um excelente local de propagação das doenças causadas por tais organismos, este estudo teve como objetivo principal, avaliar a frequência de enteroparasitas nas areias das praias da Paraíba, contribuindo, dessa maneira, com informações atuais sobre o tema, para o referido estado. MATERIAL E MÉTODOS O estado da Paraíba possui uma população estimada em 3.766.528 habitantes, divididos em 223 municípios que totalizam uma área territorial de 56.469,466 km², da qual 98% estão situados na região semi-árida do Nordeste. A densidade demográfica paraibana é de 66,7 hab/km², sendo a capital, João Pessoa, a mais populosa de suas cidades. No litoral encontra-se a Planície Litorânea que é formada pelas praias e terras arenosas. A economia baseia-se principalmente na agricultura, pecuária e nas indústrias alimentícia, têxtil, de couro, metalúrgica e de calçados (IBGE, 2011). Trata-se de um estudo transversal, envolvendo a análise das 14 praias com maior densidade populacional do litoral paraibano (Bessa, Manaíra, Tambaú, Cabo branco, Ponta dos seixas, Jacarapé, Carapibus, Tabatinga, Praia do Sol, Barra de Gramame, Praia do Amor, Jacumã, Coquerinho e Tambaba), no qual o universo da pesquisa foi composto por quatro amostras de areia coletadas em duas faixas distintas, uma úmida e outra seca, para cada uma das praias, totalizando 112 amostras. As coletas do material foram realizadas de maneira aleatória, abrangendo todos os entornos desta região litorânea. Os ensaios foram realizados durante o mês de maio de 2011. Os exames parasitológicos usados nesta pesquisa foram analisados de acordo com o método de Hoffmann, Pons & Janer (1934) ou Técnica de Sedimentação Espontânea e o método de Rugai e colaboradores, modificado segundo Carvalho et al. (2005), e desenvolvidos no Laboratório de Parasitologia Clínica da Universidade Federal da Paraíba. Para o tratamento estatístico desses dados e elaboração de gráficos utilizou-se as planilhas do Microsoft Excel.

110 RESULTADOS E DISCUSSÃO As parasitoses intestinais estão relacionadas ás condições sanitárias e representam um importante problema de saúde pública nos países subdesenvolvidos (Santos e Merlini, 2010). Foram analisados os resultados dos exames parasitológicos das 112 amostras de areia de praia, dos quais 67,8% apresentaram positivos para a presença de pelo menos uma espécie de parasita intestinal (Gráfico 1). Um dos principais motivos que justificam a alta frequência de formas parasitárias nas amostras analisadas, decorre da contaminação ambiental, o que ressalta as precárias condições básicas de educação e saneamento na região. Figura 1 Resultado do levantamento parasitológico das amostras de areia das praias da Paraíba. Quando separados os resultados de acordo com o tipo de areia, percebeu-se que as amostras de areia úmida apresentaram uma maior taxa de positividade para a presença de formas parasitárias, na qual 85% das amostras apresentaram-se positivas (Gráfico 2). Este dado sugere que a melhor sobrevivência no solo das formas infectantes, ocorre quando estas encontram condições adequadas, como por exemplo, a alta umidade e a baixa exposição à luz solar. Areia Seca Areia Úmida Gráfico 2 Resultado do levantamento parasitológico segundo o tipo de areia das praias da Paraíba. Ao analisar os dados obtidos, agora considerando a forma parasitária encontrada nos laudos dos exames, pode-se perceber que a maior parte encontrava-se positiva para a presença de cistos de protozoários (62,5%), no entanto, observou-se também a presença de ovos (21,88%) e larvas

111 (15,62%) de helmintos (Gráfico 3). Esta alta prevalência de cistos, segundo Pereira-Cardoso et al. (2010), podem ser sugestivos de condições de higiene inadequada do local, visto que servem como indicador de condições sócio-econômicas de uma determinada região. Além disso, a baixa ocorrência de formas infectantes de geo-helmintos na amostra estudada pode estar relacionada ao longo período de seca que experimenta esta parte do estado durante o mês da pesquisa, o que dificulta a permanência e o desenvolvimento das formas imaturas no solo (Silva et al, 2010a). Observando os dados positivos, mas agora, separando-os de acordo com a espécie de enteroparasita nos resultados dos exames (Gráfico 4), pode-se notar que os cistos de Endolimax nana e Entamoeba coli foram os mais freqüentes, correspondendo a 28,1% e 25%, respectivamente, do total de formas encontradas. Embora estes protozoários não sejam considerados patogênicos, sendo comensais no intestino humano, é importante salientar, porém, os índices encontrados, uma vez que esse é um parâmetro para medir o grau de contaminação fecal a que o ambiente está exposto (Rezende et al, 1997). A presença de larvas de Strongyloides stercoralis (15,6%) e de ancilostomídeos (3,1%), nos laudos parasitológicos deste estudo, chama atenção para as autoridades responsáveis pelo saneamento básico da região, visto que o ciclo de vida destes parasitas, bem como as suas transmissões, envolvem o contato direto do homem descalço com a terra, hábito este, bastante comum entre todos os freqüentadores de solos litorâneos. Figura 3 Resultado do levantamento parasitológico segundo a forma parasitária encontrada na areia das praias da Paraíba. Além disso, a frequência de Giardia lamblia (6,3%) e de Ascaris lumbricoides (6,3%) é de extrema preocupação, pois a infecção por estes parasitas pode interferir no crescimento humano, se estiverem em grande número e as condições gerais de saúde do hospedeiro forem precárias (Silva et al, 2010b).

112 Figura 4 Resultado do levantamento parasitológico segundo a espécie de parasita intestinal encontrada na areia das praias da Paraíba. CONCLUSÕES A elevada freqüência de formas parasitárias detectada nas amostras de areia das praias selecionadas para esta pesquisa revela a necessidade de melhorias, por meio dos órgãos responsáveis, nas condições de saneamento básico do litoral paraibano, bem como, investimentos em mecanismos de prevenção e educação sanitária, visto que uma infecção por enteroparasitas pode acarretar prejuízo não só ao indivíduo, mas também ao estado, em decorrência dos gastos com o tratamento da população. No entanto, é recomendada a realização de outros inquéritos parasitológicos, após a implantação destas medidas, para sempre monitorar as reais taxas de contaminação por cistos, larvas e ovos de parasitas intestinais na região estudada. AGRADECIMENTOS A Francisco Simão de Figueiredo Júnior, técnico do Laboratório de Parasitologia Clínica do Departamento de Ciências Farmacêuticas da UFPB, pela ajuda na leitura e organização dos exames parasitológicos. REFERÊNCIAS Carvalho, S.M.S.; Gonçalves, F.A.; Campos Filho, P.C.; Guimarães, E.M.; González, Y.; Cáceres, A.P.S.; Souza, Y.B.; Vianna, L.C. (2005). Adaptação do método de Rugai e colaboradores para análise de parasitas do solo. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 38, n(3), p. 270-271. Costa-Macedo, L.M.; Silva, J.R.; Rodrigues-Silva, R.; Oliveira, L.M.; Vianna, M.S.R. (1998). Enteroparasitoses em pré-escolares de comunidades favelizadas da cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Caderno de Saúde Pública, v.14, p. 851-855. Ferreira, D.S.; Vieira, G.O. (2006). Frequência de enteroparasitas na população atendida pelo Laboratório de Análises Clínicas Dr. Emmerson Luíz da Costa. Saúde e Ambiente em revista, v. 1, p. 70-75.

113 Hoffman, W.A.; Pons, J.A.; Janer, J.L (1934). The sedimentation-concentration method in schistosomiasis mansoni. Puerto Rico Journal of Public Health and Tropical Medicine, v.9, p.281-298. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2010). - http://www.ibge.gov.br/estadosat/perfil.php?sigla=pb. Acessado em: 04 Junho 2010. Ludwig, M.K.; Frei, F.; Alvares Filho, F.; Ribeiro-Paes, T.J. (1999). Correlação entre condições de saneamento básico e parasitoses intestinais na população de Assis, Estado de São Paulo. Revista da Sociedade brasileira de medicina Tropical, v. 32, p. 547-555. Machado, R.C.; Marcari, E.L.; Cristante, S.F.V.; Carareto, C.M.A. (1999). Giardíase e helmintíases em crianças de creches e escolas de 1º e 2º graus (públicas e privadas) da cidade de Mirassol (SP, Brasil). Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 32, p.697-704. Mamus, C.N.C.; Moitinho, A.C.C.; Grube, C.C.; Melo, E.M.; Weiler, E.B.; Abreu, C.A., ; Beltrão, L.; Soares, P.B.; Beltrame, S.; Ribeiro, S.; Aleixo, D.L. (2008). Enteroparasitoses em um centro de educação infantil do Município de Iretama/PR. Sabios Revista Saúde e Biologia, v. 3, p. 39-44. Mascarini, L.M. (2003). A historical approach of the trajectory of the parasitology. Ciências e saúde coletiva [online], v. 8, p. 809-814. Orlandi, P.P.; Silva, T.; Magalhães, G.F.; Alves, F.; Cunha, R.P.A.; Durlacher, R.; Silva, L.H.P. (2001). Enteropathogens associated with diarrheal disease in infants of poor urban areas of Porto Velho, Rondônia: a preliminary study. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 96, p. 621-625. Pereira-Cardoso, F.D.; Araújo, B.M.; Batista, H.L.; Galvão, W.G. (2010). Prevalência de enteroparasitoses em escolares de 06 a 14 anos no município de Araguaína- Tocantins. Revista Eletrônica de Farmácia, v.7, p. 54-64. Rezende, C.H.A.; Costa-Cruz, J.M.; Gennari-Caroso, M.L. (1997). Enteroparasitoses em manipuladores de alimentos de escolas públicas em Uberlândia (Minas Gerais), Brasil. Revista Panamericana de Saúde Pública, v.2, p. 392-397. Santos, A.S.; Merlini, L.S. (2010). Prevalência de enteroparasitoses na população do município de Maria Helena, Paraná. Ciência e saúde coletiva, v.15, p. 899-905. Silva, F.S.; Paulo, A.D.C.; Braga, C.M.M.; Almeida, R.J.; Galvão, V.P. (2010a). Frequência de parasitos intestinais no município de Chapadinha, Maranhão, Brasil. Revista de Patologia Tropical, v.39, p. 63-68. Silva, R.R.; Siqueira, R.V.; Silva, A.C.; Andrade, G.F.; Monteiro, M.R.P.; Grasselli, C.S.M.; Martinho, H.S.D. (2010b). Prevalência de parasitoses e estado nutricional de pré-escolares de centros educacionais municipais no sul de Minas Gerais. Revista da Sociedade Brasileira de Nutrição e Alimentos, v.35, p. 59-72. Vargas, M.; Gascon, J.; Casals, C.; Schellenberg, D.; Urassa, H.; Kahigwa, E.; Ruiz, J.; Vila J. (2004). Etiology of diarrhea in children less than Five years of age in Ifakara, Tanzania. The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v.70, p. 536-539.