EFÊMERIDADE, LIQUIDEZ E SOCIEDADE DO CONSUMO NO SNAPCHAT: UMA ANÁLISE DA REDE PELA PERSPECTIVA DE BAUMAN 1

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Transcrição:

EFÊMERIDADE, LIQUIDEZ E SOCIEDADE DO CONSUMO NO SNAPCHAT: UMA ANÁLISE DA REDE PELA PERSPECTIVA DE BAUMAN 1 Introdução Luiz Carlos Pinto da Costa Júnior 2 ; Paula Lima Xavier Freire 3 O objetivo do presente artigo é analisar como a rede social Snapchat reflete os valores da Sociedades dos Consumidores, conceito formulado por Bauman em sua obra Sociedade Para o Consumo A Transformação das Pessoas em Mercadoria (2008). Pretendemos entender como nosso objeto de estudo, o Snapchat, reforça esses valores através de uma análise dos motivos que levam seus usuários a utilizar a rede social. A análise é associada com alguns elementos da ideia de uma Sociedade do Espetáculo, formulada por Guy Debord, mas atualizadas para o momento atual do capitalismo pós-industrial. Para este trabalho, escolhemos 20 usuários da plataforma com idade entre 16 e 25 anos, que passam pelo menos duas horas por dia na rede social. Fizemos esse recorte para que nossa amostra contenha ao máximo usuários que são engajados com a marca e que estão dentro da faixa etária dos que mais utilizam mais ávidos pela ferramenta 4. Justificativa O Snapchat é uma plataforma de compartilhamento instantâneo e efêmero de conteúdo, mais especificamente de vídeos e fotos. Ela foi criada em 2011 pelo jovem americano de 21 anos, Evan Spiegel, na época estudante de Design de Produtos. Com apenas três anos de existência, a plataforma já possuía mais de 100 milhões de usuários 5. Atualmente, 1. Artigo apresentado ao Eixo Temático 17 Arte / Entretenimento / Práticas de produção e consumo online do IX Simpósio Nacional da ABCiber. 2. Pesquisador é professor da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). É Doutor e Mestre em Sociologia (UFPE). E-mail: lula_pinto@riseup.net 3. Pesquisadora é aluna da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). É voluntária de Iniciação Científica do PIBIC/Unicap. E-mail: paula.xf93@gmail.com. 4 A empresa informou que 86% dos usuários de sua base têm entre 13 e 35 anos. Como o Snapchat se tornou um fenômeno entre os mais jovens? Época Notícia. Disponível em: <http://epocanegocios.globo.com/empresa/noticia/2016/05/como-o-snapchat-se-tornou-um-fenomeno-entre-osmais-jovens.html> Acesso em 24 de outubro de 2016. 5 Snapchat chega a 100 milhões de usuários e pode valer até R$100bi. Disponível em: <http://link.estadao.com.br/noticias/geral,snapchat-chega-a-100-milhoes-de-usuarios-e-pode-valer-us-10- bi,10000030630> Acesso em 24 de outubro de 2016.

esse número chega a 150 milhões de usuários, sendo que o maior crescimento é de jovens com até 24 anos da idade. O crescimento acelerado da plataforma, assim como seu vínculo com práticas em que a privacidade são liquidificadas, sugerem a necessidade de um olhar mais atento de causas e efeitos sobre aspectos da sociabilidade contemporânea. O espetáculo da superficialidade Nesse sentido, é interessante recuperar a perspectiva de Guy Debord (2005), naquilo que ela tem para contribuir para essa análise: a ideia de que toda a vida se anuncia como uma imensa acumulação de espetáculos; nas sociedades contemporâneas, a vida vivida diretamente teria migrado, se afastado numa representação. Nessa perspectiva, o eu que circula nas redes sociais e em especial no snapchat é moldado em função dum espetáculo globalizado. A crítica de Debord está no contexto de uma retomada de certa nostalgia da autenticidade (FILHO, 2003) que emerge em meados do Século XX e que denuncia esse admirável mundo novo de pós-realidade, onde todos são atores e platéia de um show da vida. Essa crítica tem um caráter eminentemente moral. Entretanto, a crítica de Debord permite compreender a espetacularização daqueles setores da vida ainda não colonizados ou tomados pela racionalização e controles burocráticos. O quadro de referência é o do capitalismo e seu imperativo de acumulação, crescimento e lucro. A atualidade da obra de Debord está, assim em fornecer subsídios para pensar o Snapchat como instrumento que obstrui o diálogo evidentemente, de forma diferente do que fazem os meios de comunicação de massa tradicionais, e também como integrante de um conjunto de instrumentos que realizam sem obstáculos os desígnios da razão mercantil, assim como novas técnicas de governo. O espetáculo contínuo da vida íntima, gerado pelo próprio sujeito, radicaliza a noção de que o espetáculo impede a consciência do desejo e o desejo consciência de alcançar a plenitude das capacidades humanas com fins em si mesmas o corolário da abolição sociedade de classes. Os detalhes da rede O maior diferencial da rede é que os conteúdos só ficam disponíveis na plataforma por, no máximo, 24 horas, e depois são imediatamente descartados. Dessa forma, as interações entre os indivíduos na rede quase não têm solidez, e todos podem escolher seu melhor momento para consumo e quais melhores mercadorias sob a forma de conteúdos

pessoais a serem consumidas naquele instante. O descarte instantâneo e a efemeridade dos momentos é uma das particularidades da sociedade líquida de Bauman: A sobrevivência dessa sociedade e o bem-estar de seus membros dependem da rapidez com que os produtos são enviados aos depósitos de lixo ( ) Nessa sociedade, nada pode reivindicar isenção à regra universal do descarte, e nada pode ter permissão de se tornar indesejável. (BAUMAN, 2007) Portanto, uma rede social que possibilita que os momentos sejam também efêmeros e descartáveis, transformando a vida numa constante experiência de consumo, tem muitas chances de sobreviver numa modernidade líquida. Na verdade, ela alimenta a noção de contingência nas relações sociais que está na entrelinha de Bauman, ao mesmo tempo em que é alimentada por essa característica. Em 2015, o Snapchat lançou os recursos de filtros animados que os usuários poderiam colocar em suas fotos e vídeos para torná-los mais atrativos ou, ressignificando através das discussões de Bauman, aumentar o consumo de mercadorias da plataforma. O recurso de edição fez um enorme sucesso, com anônimos e pessoas famosas utilizando os efeitos estéticos não apenas no Snapchat, mas em outros ambientes digitais, como Facebook e Twitter. De tempos em tempos, surgem novos filtros para as pessoas utilizarem e aumentarem o consumo delas próprias nas plataformas. Apenas fotos ou vídeos de 10 segundos não são mais suficientes para despertar a vontade do outro de consumir nossas vidas coisificadas em bytes. A obsolescência atinge a própria representação do eu e de sua aparência, assim como suas formas de consumo. Os membros da sociedade de consumidores são eles próprios mercadorias de consumo, ( ) tornar-se e continuar sendo uma mercadoria vendável é o mais poderoso motivo de preocupação do consumidor, mesmo que em geral latente e quase nunca consciente. É por seu poder de aumentar o preço de mercado do consumidor que se costuma avaliar a atratividade dos bens de consumo os atuais ou potenciais objetos de desejo dos consumidores que desencadeiam as ações de consumo. (BAUMAN, 2008) Diante desse fenômeno, nos perguntamos: estaria o Snapchat reforçando os valores de uma sociedade líquida e consumista? Nos propomos a responder esta pergunta através de uma análise do envolvimento dos usuários com a plataforma e do relacionamento mantido com

outros usuários dentro da rede, considerando também o contexto de espetacularização do eu ( vida, na verdade) orientada por uma releitura atualizada da obra de Debord e de seu legado. A liquidez dos momentos, proporcionadas pelos mecanismos de descartes da rede, seria de fato um dos motivos preponderantes que levam à adesão da rede? Ou é seria a possibilidade de vender nossas vidas, empacotar os acontecimentos diários em vídeos e fotos de 10 segundos e fornecer no mercado de consumo do Snapchat? Em que medida, ainda, a maior ou menor espetacularização do que é dessa forma embalado pode ser mais ou menos aceito? A partir de um questionário elaborado para entender o uso dos usuários, estamos nos propondo a responder essas e outras perguntas acerca do Snapchat, seu impacto na sociedade e sua ligação com a Sociedade dos Consumidores proposta por Bauman e, desta, com as noções de espetacularização do eu. Consideramos que entender esses comportamentos são essenciais para conhecer as motivações e valores compartilhados na sociedade do Século XXI, bem como atualizar alguns instrumentos de análise desenvolvidos no contexto da indústria cultural do Século XX. CONSIDERAÇÕES FINAIS No entendimento de Debord, os indivíduos contribuem com a lógica do espetáculo circundante como peças de uma engrenagem das forças produtivas. O princípio do fetichismo da mercadoria avança sobre o eu, engendrando factóides comportamentais e, em última instância, um deslizamento generalizado para uma lógica de parecer e a uma estética da mercadoria a ela associada. A sofisticação de alguns desses pressupostos e caminhos, bem como a emergência de outras possibilidades de interação e parceria e trocas, poderão ser enriquecidas a partir da interação com outros pesquisadores no contexto da Abciber 2017. Palavras-chave: Snapchat; mercadoria; consumo; espetáculo Referências bibliográficas BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadorias. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.. Vida líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.

. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000. DEBORD, Guy. Sociedade do Espetáculo. Cascais: Edições Antipáticas, 2005. FILHO, João Freire. A sociedade do espetáculo revisitada. Revista FAMECOS. Porto Alegre, n. 22, p. 33-46, dez. 2003 LEN, Fernando; MAZZILLI, Paola. Imagens Líquidas: Um estudo sobre a construção de identidades no aplicativo Snapchat. Disponível em: <http://www.portalintercom.org.br/anais/sudeste2015/resumos/r48-1547-1.pdf> Minas Gerais, 2015. NUNES, Renato. A fragilidade das relações humanas na pós-modernidade. Revista Espaço Acadêmico. Nº 100. Setembro, 2009. MENEZES, José Eugênio de O; REBOUÇAS, Cauê de Souza. Snapchat: o imediatismo imagético e os laços afetivos. Disponível em: <http://portalintercom.org.br/anais/nacional2016/resumos/r11-3056-1.pdf> São Paulo, 2016. VIDAL, Manuella Teixeira. A obra, o autor e o tempo: As narrativas líquidas no Snapchat. Disponível em: <http://anais-comunicon2016.espm.br/gts/gtpos/gt1/gt01- MANUELLA_VIDAL.pdf> São Paulo, 2016. SANTOS, Josecler Rodrigues do. O eu como conteúdo: Uma observação pelo Snapchat. Disponível em: <http://repositorio.ucb.br/jspui/bitstream/10869/5945/1/josecler %20Rodrigues%20dos%20Santos.pdf> Brasília, 2015.