A Religião na sala de aula um debate sobre o Ensino Religioso para a proposição de uma área de conhecimento



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Transcrição:

95-100-Apresent-Dossier2-Simposio.qxp 17-02-2008 0:14 Page 95 PARTE II A Religião na sala de aula um debate sobre o Ensino Religioso para a proposição de uma área de conhecimento coordenação de EULÁLIO AVELINO PEREIRA FIGUEIRA Simpósio & Debates

95-100-Apresent-Dossier2-Simposio.qxp 17-02-2008 0:14 Page 96

95-100-Apresent-Dossier2-Simposio.qxp 17-02-2008 0:14 Page 97 S I M P Ó S I O Apresentação dos trabalhos Eulálio Avelino Pereira Figueira Departamento de Teologia e Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Brasil) O conjunto de textos apresentados nesta edição refletem um debate que vem-se realizando, em especifico no Brasil, acerca da pertinência e da importância dos estudos em torno do fato religioso e, neste caso aqui posto, de como estes estudos devem constituir-se objeto e campo disciplinar, de forma a constituir-se uma área de estudo e de ensino, com a constituição de uma disciplina formal dentro das salas de aulas das escolas, em especifico nas escolas de ensino laico, público. Nas escolas que têm sua origem em e nas instituições religiosas esta disciplina já existe, no entanto, entendemos que debates devem ser feitos acerca do seu enfoque quer metodológico, quando de conteúdos e didáticas. Estes textos são de especialistas pesquisadores, e de professores das séries iniciais do ensino fundamental e médio. Os textos foram apresentados e debatidos no I Encontro do GT Nacional de História das religiões e das Religiosidades da ANPUH: Identidades Religiosas e História; realizado na Universidade Estadual de Maringá, Paraná Brasil.O tema do Simpósio que reuniu as mesas e as comunicações se deu sob o titulo: A Religião na Sala de aula: Um debate sobre o Ensino Religioso para a proposição de uma área de conhecimento. Foram objetivos do Simpósio recolocar o debate sobre o Ensino de Religião na escola, para construir bases que sirvam de justificativa para a criação de uma área de conhecimento que se defina como ciência da religião. Refletir e anali- REVISTA LUSÓFONA DE CIÊNCIA DAS RELIGIÕES Ano VI, 2007 / n.º 12 97-99 97

95-100-Apresent-Dossier2-Simposio.qxp 17-02-2008 0:14 Page 98 EULÁLIO AVELINO PEREIRA FIGUEIRA sar as práticas que ocorrem no Brasil sobre metodologias e didáticas de uma disciplina: Ensino Religioso. Discutir e propor temas e conteúdos que constituam o objeto de estudo de uma disciplina Ensino Religioso como área de conhecimento com sua pertinência e metodologia. Justificativa Tratar da temática do que deve ser ensinado dentro de uma sala de aula, sabendo que não se trata de um ato gratuito e muito menos sem repercussões. Mesmo que se tenham todas as justificativas sobre a necessidade de que semelhante tarefa se põe como constitutiva e constituinte de nossa era e de nossa sociedade, ainda assim a temática do debate acerca do que ensinar e para que se ensina constitui-se um desafio impar para os educadores. Não podemos esquecer que o debate sobre o educar e sobre o ensinar passa pelo debate sobre a existência humana e passa pela discussão de, como diz Levinas, da inumanidade. Vimos assistindo com uma freqüência cada vez maior e mais barulhenta aos descasos e até menosprezos das práticas e dos conhecimentos com que grupos humanos e sociedades, por vezes têm produzido e elaborado suas razões para se dizerem seres vivos e seres vivos humanos. Tem sido rotineiro, pelo mundo fora a desvalorização e desconsideração dos argumentos apresentados por grupos humanos, suas respostas diante da produção da vida. Mas, rapidamente é tratado de se descaracterizar a possível força do argumento diante do valoroso em prol do desenvolvimento, do progresso e da modernidade, procurando até aproximar aquele modelo de uma certa primitividade, ou na melhor das hipóteses de uma certa exóticidade. Voltando ao nosso foco de problema: o que devemos ensinar dentro de uma sala de aula, e o que ensinamos em que se torna importante para que alguém se torne o suficiente capaz para viver na sociedade, ou nas sociedades de nosso tempo, nos remete para uma segunda discussão não menos desafiante e delicada que a anterior, a saber: é possível formar alguém e o que significa formar alguém? Claro que este teor de discussão nos leva para a discussão positivista sobre a natureza humana e que já foi falada tanto por Hobbs, Lock, Rousseau e outros seus discípulos. Não digo que não deva ser objeto de retomada de discussão, mas, pelo que nos pretendemos tratar neste ensaio, esta discussão nos levaria a um outro caminho que, como disse, neste espaço nos levaria a outros debates. Mas acho que é necessário retomar o debate, desde que se avance às lacunas do reducionismo quer criacionista, quer darwinista. Proponho que, de forma direta e sem mais rodeios, apresente-se a religião, isto é a distinta senhora alvo de nossa contenda neste Simpósio Temático. Afinal porquê e para quê trazer a religião para dentro da sala de aula? Trata-se de assumir o debate sobre o foco da pertinência do objeto na medida em que ele reclama um estudo. A justificativa para o estudo da religião na sala de aula deve ser construída no princípio do que alguém pode atingir com tais estudos. Proponho que seja formulada a seguinte pergunta a todos os pais que buscam uma escola que tenha em suas norma curriculares o ensino da religião: porque o senhor pede o ensino da religião para seu filho? O senhor está pondo o seu filho na escola que oferece o estudo da religião por que essa escola se apresenta diferente em quê, daquela que não oferece tal estudo? 98 REVISTA LUSÓFONA DE CIÊNCIA DAS RELIGIÕES

95-100-Apresent-Dossier2-Simposio.qxp 17-02-2008 0:14 Page 99 APRESENTAÇÃO DOS TRABALHOS O Ensino de religião não deve estar para formar cidadãos nem mais conscientes nem tão pouco mais responsáveis. Tratar da religião na sala de aula significa enfrentar as grandes questões que afetam a forma como homens e mulheres nesta nossa sociedade constroem suas razões efetivas para viver como vivem e porque vivem. Discutir religião já nas séries iniciais da educação formal, significa assumir a necessidade de perceber que a vida não está posta somente na necessidade de construir modos de coesão social. REVISTA LUSÓFONA DE CIÊNCIA DAS RELIGIÕES 99

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