IMPLICAÇÕES DA FORMAÇÃO CONTINUADA DOCENTE PARA A INCLUSÃO DIGITAL NA ESCOLA PÚBLICA



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Transcrição:

IMPLICAÇÕES DA FORMAÇÃO CONTINUADA DOCENTE PARA A INCLUSÃO DIGITAL NA ESCOLA PÚBLICA Adriana Richit, Bárbara Pasa, Valéria Lessa, Mauri Luís Tomkelski, André Schaeffer, Andriceli Richit, Angélica Rossi Universidade Federal da Fronteira Sul adrianarichit@gmail.com; bapasa1@hotmail.com; lessavaleria@yahoo.com.br; mauriluis@gmail.com; andre_schaeffer@yahoo.com.br; andricelirichit@gmail.com; angelica11_12@yahoo.com.br Resumo Nesse trabalho apresentamos algumas reflexões sobre a concretização da inclusão digital na escola pública, destacando o papel da formação continuada nesse processo. Para tanto, analisamos, na perspectiva qualitativa, uma ação de formação continuada de professores, implementada na modalidade de Curso de Extensão, que foi promovida por integrantes do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Matemática e Tecnologias GEPEM@T. O Curso engajou docentes de matemática de escolas públicas de Erechim, Rio Grande do Sul, Brasil, com o objetivo de promover a formação continuada na perspectiva da inclusão digital. A análise dos dados coletados nessa experiência evidencia que a inclusão digital na escola pública é um processo nascente, pois ainda não superamos as etapas iniciais, como a democratização das tecnologias e do acesso à Internet. No que diz respeito às escolas públicas do Rio Grande do Sul, verifica-se que importantes iniciativas estão sendo implementadas, revelando um quadro positivo no que se refere ao acesso às tecnologias, contudo, estudos mostram que pouco se avançou em relação à formação continuada para uso de tecnologias na prática pedagógica e no desenvolvimento profissional do professor. Em face dessas constatações, compreendemos que a concretização da inclusão digital na escola pública pressupõe, a priori, processos de formação continuada que sejam desenvolvidos na perspectiva da inclusão digital do professor. Ou seja, o professor precisa apropriar-se desses recursos de maneira que processos de ressignificação do conhecimento matemático, das práticas pedagógicas de sala de aula e desenvolvimento profissional sejam deflagrados. Palavras-chave: Inclusão Digital, Formação Continuada de Professores, Educação Básica. Abstract In this article present some reflections on the implementation of digital inclusion in public school, highlighting the role of continuing education in the process. For this purpose, we analyze, in qualitative view, an action continuing education of teachers, implemented in the form of Extension Course, which was promoted by the Group of Studies and Research in Mathematics Education and Technology - GEPEM@T. The course engaged math teachers from public schools in Erechim, Rio Grande do Sul, Brazil, with the objective to promote continuing education in the perspective of digital inclusion. The analysis of data collected in this experiment demonstrates that digital inclusion in public school is a nascent process, as it has 1081

not overcome the early stages, such as the democratization of technology and Internet access. With regard to the public schools of Rio Grande do Sul, it appears that major initiatives are being implemented, revealing a positive picture with regard to access to technology, however, studies show that little progress has been made in relation to continuing education for use of technology in pedagogical practice and professional development of teachers. Given these findings, we understand that achieving digital inclusion in public school assumes a priori that continuous training processes are developed from the perspective of digital inclusion teacher. That is, the teacher needs to take ownership of these resources so that reframing processes of mathematical knowledge, pedagogical practices of classroom and professional development are triggered. Keywords: Digital inclusion, Continuing education of teachers, Elementary education. 1. FORMAÇÃO CONTINUADA DOCENTE E PRÁTICA PEDAGÓGICA COM TECNOLOGIAS: UMA BREVE INTRODUÇÃO Incorporar as tecnologias à prática de sala de aula implica para o professor apropriarse desses recursos e de modos de utilizá-los em sala de aula. Diante disso, a necessidade de se investir em formação continuada docente torna-se um imperativo, principalmente no que se refere ao uso pedagógico das tecnologias nas práticas de sala de aula e a concretização da inclusão digital na educação. Em relação à formação de professores estudos evidenciam que em nível de Brasil a situação é crítica. Há grande demanda por formação, ao tempo que as ações implementadas têm se mostrado insuficientes para produzir mudanças significativas na educação ofertada na escola pública. Em resposta a essas demandas, pesquisadores, gestores da educação e especialistas têm buscado novas diretrizes à formação docente. Ademais, a sistematização dessas discussões têm mobilizado entendimentos sobre esse processo, dentre eles a ideia de desenvolvimento profissional docente, que designa um processo de crescimento na competência em termos de practicas lectivas e não lectivas, no autocontrolo de sua atividade como educador e como elemento da organização escolar (PONTE, 1997, p.44), constituindo-se no movimento das experiências e esforços empreendidos pelo professor na reorganização da prática pedagógica. No contexto das escolas públicas do Rio Grande do Sul, observa-se que mesmo com as iniciativas oficiais, o uso de tecnologias na prática pedagógica de sala de aula não tem se efetivado. Em relação à matemática, verifica-se que essa é, ainda, abordada de 1082

forma compartimentalizada, desconectada das demais áreas do conhecimento e desprovida do uso de tecnologias. Diante disso, enquanto membros do GEPEM@T, planejamos e desenvolvemos a ação Formação Continuada de Professores: caminhos para a inclusão digital, por meio da qual buscamos favorecer a inclusão digital de professores e alunos da rede pública da região, contribuindo para a concretização de mudanças na cultura escolar. A referida ação constituiu-se em contexto para a realização de um estudo que visa analisar o modo como as ações de formação continuada docente, voltadas ao uso pedagógico das tecnologias, impactam no processo de inclusão digital na escola pública. 2. DELINEAMENTOS METODOLÓGICOS DO ESTUDO A investigação realizada situa-se na perspectiva qualitativa, baseada em um conjunto de práticas interpretativas que permitem a produção de novas compreensões sobre o fenômeno estudado. A partir desses pressupostos, realizamos entrevistas e aplicamos questionários aos professores, visando saber como se percebem face ao processo de inclusão digital almejado na escola pública, e sobre o impacto das ações de formação continuada na prática pedagógica docente, na cultura escolar e na prática social dos sujeitos. Além disso, foram realizadas observações das discussões dos professores sobre as possibilidades de abordagem da matemática a partir do uso de tecnologias e sobre as suas conjecturas nas atividades de experimentação matemática. Por meio dos delineamentos metodológicos descritos, buscamos compreensões sobre as implicações das ações de formação continuada, voltadas ao uso pedagógico das tecnologias e ao processo de inclusão digital na escola pública. 3. FORMAÇÃO DOCENTE: IMPLICAÇÕES PARA O PROCESSO DE INCLUSÃO DIGITAL Analisando a ação Formação Continuada de Professores: caminhos para a inclusão digital, identificamos vários aspectos que se constituem em entraves para a concretização da inclusão digital. Verificamos, entre outras coisas, que os professores das escolas públicas estaduais enfrentam dificuldades diversas no que diz respeito à formação e prática pedagógica com tecnologias, tais como as precárias condições de trabalho que os impedem de investir em formação continuada; mudanças nos planos 1083

de carreira do magistério e o descumprimento das diretrizes desse documento que os desmotivam; bem como carência de projetos de uso das tecnologias nas escolas. Contudo, para esses profissionais, embora os desafios citados, o professor precisa comprometer-se com sua formação e prática docente. O estudo evidencia, ainda, que a inclusão digital na escola pública é um processo nascente, pois ainda não superamos as etapas iniciais, como a democratização das tecnologias e do acesso a Internet, conforme destaca o depoimento a seguir. Ainda estamos engatinhando no processo de inclusão digital. Muitos são os obstáculos que precisam ser superados, entre eles: mudanças na formação tecnológica do professor, mudança na cultura de utilização dos recursos tecnológicos na educação por parte de alunos e professores e disponibilização de recursos mais adequados e, principalmente, internet de maior velocidade e conexão estável (Professor M., dez./2011). No âmbito das escolas públicas do estado verificamos que importantes iniciativas estão sendo implementadas, revelando um quadro positivo acerca do acesso dos alunos e professores a esses recursos, contudo, pouco se avançou em relação à formação docente para uso de tecnologias na prática pedagógica, desenvolvimento profissional do professor e constituição de uma cultura de uso das tecnologias em educação. De acordo com o depoimento de uma professora que participou do Curso ainda não conseguimos explorar todas as potencialidades das tecnologias para fazer aulas diferentes para nossos alunos e nem para o nosso crescimento profissional (Professora E., nov/2011). Em face dessas constatações, compreendemos que a concretização da inclusão digital na escola pública pressupõe, a priori, processos de formação continuada que sejam desenvolvidos na perspectiva da inclusão digital do professor. Ou seja, o professor precisa, primeiramente, ser incluído nesse processo, assim como precisa apropriar-se desses recursos de tal maneira que processos de ressignificação do conhecimento matemático, das práticas pedagógicas de sala de aula e desenvolvimento profissional sejam deflagrados, conforme sugerem os estudos de Richit (2010), Penteado (1997) e Ponte et al. (2003). 1084

REFERÊNCIAS PENTEADO, M.G. (1997). O Computador na Perspectiva no Desenvolvimento Profissional do Professor. 1997. 342 f. Tese (Doutorado em Educação). Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP. PONTE, J.P. (1997). O conhecimento profissional dos professores de Matemática. Relatório final do Projecto: O saber dos Professores: concepções e práticas. Lisboa: DEFCUL. OLIVEIRA, L. (1997). A acção-investigação e o desenvolvimento profissional dos professores: um estudo no âmbito da formação contínua. In: SÁ-CHAVES, Idália (Org.). Percursos de Formação e Desenvolvimento Profissional. Porto (Portugal): Porto Editora, p.91-106. RICHIT, A. (2010). Apropriação do Conhecimento Pedagógico-tecnológico em Matemática e a Formação Continuada de Professores. 279 f. Tese (Doutorado em Educação Matemática). Universidade Estadual Paulista, Rio Claro. 1085