A PRODUÇÃO EM TEMPO DE CONVERGÊNCIA: A WEB 2.0 E O WEBJORNALISMO PARTICIPATIVO. Palavras-chave: Web 2.0. Webjornalismo participativo. Interatividade.



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Transcrição:

A PRODUÇÃO EM TEMPO DE CONVERGÊNCIA: A WEB 2.0 E O WEBJORNALISMO PARTICIPATIVO Resumo Helize de Souza Vieira Janaína Cristina Marques Capobianco O objetivo desta pesquisa é analisar o processo de produção jornalística do webjornalismo participativo e qual a função exercida pelo jornalista profissional neste novo cenário. Para isto, foram escolhidos como objeto de estudo os Portais G1 (www.g1.com.br) e ig (www.ig.com.br) e seus respectivos espaços destinados à publicação do conteúdo produzido pelo cidadão comum, Vc no G1 e Minha Notícia. Foi realizado um estudo bibliográfico sobre as temáticas web 2.0, webjornalismo, interatividade e jornalismo participativo. Realizou-se coleta e análise das matérias produzidas pelos interagentes entre o período de 29 de março a 14 de abril de 2008. Preliminarmente percebe-se que o conteúdo produzido e publicado nos Portais, tenta seguir uma estrutura jornalística. Porém constata-se uma carência no que se refere a um dos princípios legitimadores do jornalismo: o embasamento em fontes. A participação do interagente é intensa em temas cotidianos e bizarros e quase nula em casos de grande repercussão nacional. Percebe-se, portanto, que o jornalista se faz necessário para avaliar e verificar a procedência verídica da informação e a partir disso, como um gerenciador de conteúdo, permitir a publicação. Mesmo em uma dinâmica de produção diferenciada, o profissional da comunicação é importante para a credibilidade da informação produzida pelo interagente. Palavras-chave: Web 2.0. Webjornalismo participativo. Interatividade. Esta pesquisa que teve como objetivo compreender a aplicação do webjornalismo participativo em dois Portais brasileiros de notícia, G1 e ig, e a função do webjornalista profissional dentro desse processo de produção, utilizou-se de alguns conceitos como o de jornalismo e de interatividade, para demonstrar um pouco da complexidade que envolve a temática. Pode-se afirmar que a internet rompeu as formas tradicionais das pessoas se comunicarem. Isso aconteceu através do avanço rápido da tecnologia. O resultado desse avanço é o fenômeno da convergência midiática, ou seja, a junção do texto, som e imagem em uma única mídia (a internet); assim como a criação de ferramentas de fácil usabilidade que viabilizam novos processos comunicacionais e de interatividade. Estes avanços tecnológicos foram os responsáveis pela principal característica que diversifica o webjornalismo do jornalismo tradicional. Anteriormente, o webjornalismo nada mais era do que a transposição de conteúdo do meio impresso para

o digital. Porém, com o surgimento de novas ferramentas e características de produção para o meio, entre elas o hipertexto, a instantaneidade e imediatismo na divulgação da informação, exigiu-se que o jornalista se adaptasse a uma nova dinâmica profissional. Ao invés de um jornalista especializado pensado anteriormente, o profissional da web precisa dominar as técnicas específicas de diversos meios, devido à convergência midiática. A pluralidade passa a ser a principal característica do jornalista, pois se exige um domínio maior da prática de seleção, produção, edição e publicação de material jornalístico. O surgimento do hipertexto como um dos recursos primordiais da internet alterou a forma de leitura e conseqüentemente de escrita do texto jornalístico. Com esse recurso tornou-se possível a não linearidade da leitura. O leitor passa a escolher a ordem de percorrer o texto e a quantidade de informação que julga necessário para sua compreensão a respeito do assunto abordado. Para alguns teóricos o hipertexto é a base da principal característica da esfera digital, a interatividade. A priori a interatividade é inseparável do hipertexto, porque ela é fundamental para constituir uma nova maneira do leitor se relacionar com o texto. Pois, a partir do momento em que ele passa a escolher a forma e a seqüência da leitura textual pode-se afirmar que ele está praticando uma ação interativa. A interatividade pode ser analisada e compreendida de diversas formas. Ao seguir a linha de raciocínio de Berlo (2003), pode-se entender a interatividade enquanto agente do processo de comunicação, esta é a forma como indivíduos buscam se relacionar, utilizando-se da produção e recepção de mensagens que tenham sentidos para todas as partes. Primo (2007a) diferencia dois tipos de interação: a interação reativa e a interação mútua. A interação reativa é predeterminada, ela não permite que os interagentes criem novas alternativas ou cheguem a resultados que já não tenham sido previstos, podendo ser encaixada na lógica do estímulo-resposta. Pois [...] em sistemas reativos, basta apresentar as mesmas variáveis, nas mesmas condições, que elas apresentarão consistentemente os mesmos resultados. (PRIMO, 2007a, p. 116). O teórico usa como exemplo de interação reativa o clicar em um link ou jogar um videogame, ambas são atividades interativas, porém [...] limitadas por certas determinações e, se a mesma ação fosse tomada uma segunda vez (mesmo que por outro interagente), o efeito seria o mesmo. (PRIMO, 2007a, p. 57). Ou seja, independente de

quem jogue o videogame, as fases e as possibilidades de ações no jogo serão sempre as mesmas, tudo já está predeterminado. Ao contrário da interação reativa a interação mútua é flexível e indeterminada. Segundo ele, durante o processo de interação mútua ocorrem modificações recíprocas dos interagentes. Ela tem como característica relações interdependentes e processos de negociação, nos quais os interagentes afetam-se mutuamente à medida que vão construindo um relacionamento a cada intercâmbio de informação, e este relacionamento vai se transformando à medida que o processo de interação vai se desenvolvendo. Dentro do ambiente virtual, a interação mútua pode ser exercida através da troca de e-mails, de programas de conversação instantânea (chats, MSN, Skype, etc), envios de comentários, participação em fóruns de discussão, entre outros. Ela rompe com a lógica de causa e efeito, afinal se trata de um processo dinâmico, contínuo e imprevisível, pois os interagentes não conseguem prever qual será o final dessa atividade pelo fato de não existir limite, um ponto de partida e um ponto de chegada. São infinitas as formas de estabelecer e desenvolver as relações dentro desse tipo de interação. A internet propiciou a fusão do emissor com o receptor, criando o interagente que é parte essencial no processo comunicacional desenvolvido na rede. Como afirma Brambilla (2005, p. 02), o interagente [...] permite que cada pessoa seja um nó simultâneo de criação, assimilação e reconstrução da mensagem midiática. A participação do interagente só foi possível devido a instrumentos que contribuíram para a interação. A Web 2.0 é um desses instrumenos e está relacionada aos sites que têm a participação e colaboração ativa do usuário. Os interagentes, como são chamados, compartilham, publicam, organizam informações e contribuem com a ampliação de lugares para a participação de outros interagentes. Isso alterou a lógica da comunicação e a visão que os grupos de comunicação faziam do usuário. Produtores e públicos podem ser uma única pessoa, não existe mais a fronteira que distancia um do outro. Enquanto os editores da Web criam plataformas que facilitam as ações online, dispensando a necessidade de ter instalado no computador programas que conduziria essas ações, os interagentes produzem o conteúdo. A abertura de softwares oferecida aos interagentes permite que eles explorem a criatividade ao se aventurarem na rede. A produção e publicação de conteúdos na Web por eles os deixam

livres para compartilhar conteúdos, isso descentraliza a comunicação e a torna mais aberta às intervenções de outros interagentes. Embora seja uma prática ainda muito nova, cerca de dez anos, o webjornalismo (termo cunhado por Mielniczuk (2003) para denominar o jornalismo publicado na World Wide Web - WWW) se aperfeiçoou de acordo com as evoluções tecnológicas. Isso proporcionou significativas modificações no processo de produção jornalística. Dentro desse novo contexto, o jornalismo participativo se ressalta como uma nova forma de se produzir jornalismo. Ele surge na internet a partir do momento em que a web 2.0 fornece ferramentas de uso simplificado para que os usuários possam publicar e consumir informação de forma rápida e constante. Para o editor Tim O Reilly, a web 2.0 é um desdobramento cultural devido à crescente possibilidade de interação e de compartilhamento, com o usuário, da responsabilidade pela gestão do conteúdo publicado na internet. Apesar de o webjornalismo participativo ter surgido desligado de uma visão empresarial, hoje ele ganhou lugar em grandes portais dividindo espaço com o webjornalismo tradicional. Os G1 (o portal de notícia das organizações Globo www.g1.com.br) e o ig (Internet Generation www.ig.com.br), por exemplo, reservam os espaços Vc no G1 e Minha Notícia, respectivamente, para a publicação de notícias produzidas e enviadas por internautas. Porém, além de ter seu material avaliado por profissionais, o internauta ainda precisa cumprir etapas e regras para ter seu material divulgado. Devido ao atual cenário, o webjornalista profissional adquire novas funções e características que atendam ao presente processo de produção. Uma função antiga do jornalista que é a de gatekeeper, ou seja, de filtrar informações decidindo quais devem ou não ser publicadas deu lugar a de gatewatcher. Pois o webjornalismo participativo propiciou que as demais pessoas (interagentes desse processo) também se tornassem gatekeepers. A função de gatewatcher consiste na filtragem do conteúdo enviado pelos interagentes do processo do webjornalismo participativo. Conforme Primo e Träsel (2006), com a grande quantidade de informações que passaram a circular na rede e o espaço ilimitado proporcionado por esta, cria-se a necessidade de avaliá-la, mais do que descartá-la (fato que ocorre quando se exerce a função de gatekeeper). Esse processo de avaliação é utilizado por sites ou portais que abrigam o webjornalismo participativo, e o

fato de a notícia ser avaliada por um profissional faz com que ela ganhe maior credibilidade perante aos leitores. Para analisar como é o processo de participação do interagente na produção de conteúdo nos Portais G1e ig, decidiu-se, primeiramente, definir o período de análise entre os dias 29 de março de 2008 a 14 de abril de 2008. O recorte desse período temporal se justifica pela intenção de focar o estudo no contemporâneo, pois além do jornalismo participativo ser uma prática atual esse período delimitado reflete uma intensa e massiva manifestação popular devido a morte da Isabella Nardoni. No momento seguinte houve a seleção das matérias produzidas pelos interagentes e publicadas nos espaços cedidos pelos Portais G1 e ig, respectivamente, Vc no G1 e Minha Notícia, para que assim pudesse quantificar o total de matérias publicadas no período compreendido. As matérias foram divididas em Grupos Temáticos, ou seja, reuniram-se as matérias que tinham temática igual ou complementar, compondo assim conjuntos de análises. Dessa forma, a partir da seleção de 47 matérias encontradas no período delimitado no Portal G1 e de 113 matérias encontradas no Portal ig produzidas por interagentes e publicadas nos respectivos espaços reservados, formaram-se seis Grupos Temático: Opinião; Cidades/Cotidiano/Mundo; Esportes; Entretenimento/Celebridades; Meio ambiente/saúde; Casos Bizarros. Para analisar o material jornalístico coletado no sites G1 e ig no período de 29/03/08 à 14/04/08 e reunido nos Grupos temáticos apresentados, será utilizado o seguinte sistema de análise: após a leitura das matérias de cada grupo temático, passa-se à análise do material produzido sob os critérios: Relevância do tema / Noticiabilidade; Linguagem jornalística; Fontes utilizadas/consistência; Utilização correta da língua portuguesa; Recursos multimídia. Através da análise das notícias do VC no G1 e Minha Notícia constata-se que o processo de produção jornalística participativa na internet é intenso e crescente. Pode-se afirmar isso devido à vasta quantidade de matérias produzidas por interagentes em um curto período de 15 dias. Esse número relevante de produção jornalística participativa nos Portais só foi possível a partir do advento da Web 2.0, que é uma plataforma da qual surge novos princípios e práticas comunicacionais e que está relacionada aos sites que têm a participação e colaboração direta do usuário. Ela facilitou a utilização dos recursos que

viabilizam a publicação de conteúdo na rede, pois não é mais necessário dominar técnicas específicas de softwares e hardwares. Conclusão Dentro desse contexto, as ações do interagente não se limitam mais a receber conteúdo, mas também a produzi-lo e publicá-lo. Atualmente todo cidadão comum pode produzir um material jornalístico ao presenciar um fato que seja de interesse da sociedade, ampliando a cobertura jornalística. Essa cobertura jornalística participativa se dá através não só do envio de textos contendo as informações, mas também com a utilização de recursos multimídias (som e imagem) como pôde se verificar nas matérias analisadas nos espaços VC no G1 e Minha Notícia. Dentre as 161 matérias coletadas, 92 delas, o que representa 57,14% do total, continham fotos e/ou vídeo, que ampliam a qualidade e a quantidade da informação fornecida. Ou seja, a partir das facilidades proporcionadas pela Web 2.0 ocorreu uma descentralização e consequentemente um aumento das informações encontradas na rede. Agora, tanto o jornalista quanto os interagentes têm acesso às fontes de informação e espaço para publicação do conteúdo. Pode-se constatar na pesquisa que os espaços VC no G1 e Minha Notícia, oferecem os dois tipos de interação, conceituados por Primo (2007a). As interações reativas estariam ligadas à utilização de hipertextos para acessar outras notícias ou matérias jornalísticas de conteúdos semelhantes. E a interatividade mútua está no envio de matérias a serem publicadas, assim como na possibilidade da troca de informações com os responsáveis pelo espaço, através do recurso fale conosco, e também com outros interagentes que participam dos espaços através do envio de materiais que complementem as matérias já publicadas. Ou, no caso do Minha Notícia, através de comentários que podem ser feitos no espaço abaixo de todas as notícias. No que se refere ao webjornalismo participativo, verifica-se que ele sistematiza o conceito de interatividade mútua ao propiciar uma forma aberta e horizontal de produção e publicação de conteúdo jornalístico na internet. Agora, qualquer pessoa que tenha acesso à internet e disposição, pode publicar e trocar informações na rede. Ou seja, é uma forma independente de produção de notícias que permite que o então receptor tenha um papel ativo dentro do processo de comunicação.

Os Portais, por imporem normas editoriais, enquadram as notícias produzidas pelos interagentes nas características jornalísticas, dentre elas a noticiabilidade. Foi constatado que este critério está presente na maioria do material analisado, do total de 161 matérias, 154, o que corresponde a 95,65%, atendem a essa exigência. E de forma genérica obedecem à linguagem jornalística ao oferecer informações que respondem, mesmo de forma precária, as seis perguntas (o quê? Quem? Quando? Onde? Como? Por quê?) que formam o lead da notícia. Contudo, mesmo tentando seguir os padrões jornalísticos uma grande maioria não utiliza ou cita fontes, das 161 matérias analisadas 97, o que equivale a 66, 46%, não cita ou utiliza fontes de informação, que é um dos critérios básicos do jornalismo. Para Lage (2006): Poucas matérias jornalísticas originam-se integralmente da observação direta. A maioria contém informações fornecidas por instituições ou personagens que testemunham ou participam de eventos de interesse público. São o que se chama de fontes. (LAGES, 2006, p. 49). Através desses dados verifica-se que mesmo atendendo ao critério de noticiabilidade, as notícias não possuem consistência por não possuírem fontes. Seguindo o raciocínio de Dalmaso (2002), se o interagente utilizasse fontes de informação ele concederia sustentabilidade e credibilidade ao material produzido, pois para Lage (2006) a utilização de fontes é a melhor forma de se obter a versão mais próxima da realidade do fato. No entanto, pergunta-se: É papel do interagente aprofundar temas, investigar a realidade, consultar fontes diversas para produzir uma informação completa e que contribua para com a coletividade? Talvez seja necessário voltar à discussão clássica da responsabilidade social inerente a profissão do jornalista. Apesar de ter surgido com um conceito de produção aberta e desvinculada a interesse políticos, econômicos ou empresariais, o webjornalismo participativo logo foi integrado a grandes Portais de notícia, como é o caso dos Portais G1 e ig que foram objetos de análise dessa pesquisa, assim como seus respectivos sites VC no G1 e Minha Notícia. É válido ressaltar que, de acordo com Cardoso e Andrade (2006), a proposta de abrigar o webjornalismo participativo dentro dos Portais tem uma visão mercadológica, de troca, ou seja, o Portal oferece espaço e credibilidade e com isso conquista informação gratuita e maior número de acessos. Segundo Silva (2006), os Portais se apropriaram da produção de informação coletiva, e a partir do momento em que eles inserem essa prática, culminam em uma

deturpação das características originais desse processo de produção participativa, pois passou a ser restrito e submetido a normas editoriais. Dentro desse cenário, ao analisar os Portais G1 e ig e os espaços respectivos, VC no G1 e Minha Notícia, constatou-se que a aplicação do webjornalismo participativo acontece sob regras e cerceamento. É necessária uma burocracia no que se refere ao cadastramento, no qual o interagente concede todo o direito autoral para o Portal, se responsabiliza por questões judiciais ou extra-judiciais e se abstém de toda e qualquer remuneração proveniente do material fornecido. Há também exigências estruturais, limitação de espaço, tamanho de arquivos de fotos e vídeos, tipos de arquivos, há necessidade indispensável de todo material fornecido ser acompanhado de texto, restrições referentes a temas e não é permitido enviar materiais cujos direitos autorais pertençam a terceiros. Contudo, isso não concede garantia de que o material enviado seja publicado no espaço destinado. Embora contraponha-se a intenção original do webjornalismo participativo, de produção open source, essas restrições tornaram-se necessárias devido ao número exponencial de informação disponível na rede, que nem sempre são credíveis. Como a maioria do material produzido pelos interagentes nos espaços VC no G1 e Minha Notícia no período destacado para análise não possuem consistência jornalística, o jornalista profissional passa a exerce um novo papel dentro desse processo de produção participativa. À medida que se torna necessário suprir essa falha no material enviado para os espaços analisados, todas as matérias produzidas pelos interagentes desse processo comunicacional passam por uma filtragem realizada por jornalistas profissionais dos Portais G1 e ig. Nesta etapa, verifica-se a veracidade da informação ali contida. Isso legitima e concede credibilidade às notícias. Pois, de acordo com Rodrigues (2006) o que confere credibilidade é o caráter do orador, que neste caso são os Portais que integram consolidadas empresas de comunicação no país e os jornalistas profissionais que neles trabalham. O cenário revelado pela pesquisa aponta que, ainda que a profissão tenha sofrido profundas transformações nas últimas décadas, devido à revolução nas tecnologias, à qualificação e profissionalização das fontes 1, entre outros fatores, mais do que nunca, 1 Chaparro, 2007. M. Pragmática do jornalismo. São Paulo: Summus, 2007.

por mais paradoxal que pareça, o jornalista é profissional estratégico e fundamental no processo de produção jornalística e difusão da informação. O profissional da comunicação em um mundo globalizado, em que noticiar é considerado uma das formas mais eficientes de interferir na realidade, é categoria de extrema relevância, demandado em todas as áreas do conhecimento e do mundo profissional. Ao jornalista são necessárias, no contexto apresentado, as competências clássicas da profissão, sobretudo o cunho investigativo, e, além disso, capacidade gerencial, perfil mais do que nunca generalista e plural, para lidar com a organização e reorganização de conteúdos e processos diversos na prática jornalística. Em um universo de difusão excessiva de informação, a capacidade de gerenciar conteúdo, de explorar os diversos recursos disponíveis pela convergência de mídias, pela Web 2.0 e hipertextualidade, é importante e valorizada, assim como a produção de conteúdo. De acordo com Primo (2007a), se não houver um gerenciamento do conteúdo produzido pelo interagente esse material ficará perdido na imensidão do ciberespaço, podendo jamais ser lida ou encontrada. Um exemplo dessa equivalência de importância entre a produção e o gerenciamento da informação é o Google (www.google.com.br) uma empresa que apenas organiza as informações e disponibiliza em seus sites, que conforme Coutinho 2 (2008) é atualmente a empresa de comunicação mais valiosa no mundo. Portanto, o jornalista profissional se depara com duas necessidades antagônicas, a de se especializar em uma área de atuação e ao mesmo tempo ser um profissional generalista, que exerça com propriedade todas as funções necessárias para a prática do webjornalismo. Nesse cenário somam-se a essas exigências novas funções surgidas com o novo processo de produção participava, no qual o jornalista reafirmou sua importância no sentido de gerenciar e manter a qualidade e a credibilidade das informações oferecidas. Referências 2 Marcelo Coutinho em palestra na Universidade Federal de Mato Grosso, realizada pelo Núcleo Estudos Comunicação, Infância, Juventude, do Departamento de Comunicação Social, no dia 03 de julho de 2008 (http://www.cpd1.ufmt.br/necoij/mostra_noticias.php?id=35& akacao=85124& akcnt=5e342a4f& a kvkey 510c&utm_source=akna&utm_medium=email&utm_campaign=Boletim+Necoij+03).

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