PARECER nº 003/2018-Adv 1. RELATÓRIO Consulta formulada pelo FORUM NACIONAL PERMANENTE DE CARREIRAS TÍPICAS DE ESTADO, acerca dos limites de atuação da entidade no sufrágio de 2018. O Consulente relatou que lançou uma carta de princípios, indagando a possibilidade de divulgação dos candidatos que a assinaram; se poderia realizar um evento com vídeos e cobertura jornalística com esses candidatos; se este material poderia ser publicado em seu sitio, ratificando os princípios contidos na carta, e impulsionado nas redes sociais. Há a dúvida ainda, se os diretores poderiam se identificar como representantes das carreiras durante o evento e em publicações eleitorais. Questiona a possibilidade de apoio aos candidatos que assinaram a carta de princípios, tendo em vista a vedação legal de contribuição financeira. 2. FUNDAMENTAÇÃO 2.1 DO CONCEITO DE PROPAGANDA ELEITORAL Inicialmente, cumpre conceituar o que é propaganda eleitoral. O TSE entende como ato de propaganda eleitoral aquele que leva ao conhecimento geral, ainda que de forma dissimulada, a candidatura, mesmo que apenas postulada, a ação política que se pretende desenvolver ou razões que induzam a concluir que o beneficiário é o mais apto ao exercício de função pública. Sem tais características poderá haver mera promoção pessoal apta, em determinadas circunstâncias a configurar abuso de poder econômico mas não propaganda eleitoral". (Ac. nº 16.183, de 17.02.2000, Rel. Min. Eduardo Alckmin. DJU, 14-5-1999, p.13.112) 1
Ressalta ainda que (...) 1. A fim de verificar a existência de propaganda subliminar, com propósito eleitoral, não deve ser observado tão-somente o texto dessa propaganda, mas também outras circunstâncias, tais como imagens, fotografias, meios, número e alcance da divulgação. (...). (Ac. nº 19.905, de 25.2.2003, Rel. Min. Fernando Neves. 25.2.2003) A regulamentação da propaganda eleitoral, portanto, consiste em assegurar os direitos de informação e de liberdade de expressão, mas sem olvidar a lisura do pleito, a igualdade entre os candidatos e os demais direitos fundamentais, notadamente a intimidade, a privacidade, a honra e a imagem da pessoa. Neste sentido, Carlos Mário da Silva Velloso e Walber de Moura Agra 1 sustentam: Como representa uma ferramenta poderosíssima para garantir a adesão dos cidadãos, podendo mesmo fazer com que acontecimentos falsos assumam a veste de verdadeiros, a legislação eleitoral optou por regulá-la em suas minudências, de modo que possa ser realizada de maneira paritária a todos os candidatos, na tentativa de evitar o abuso do poder econômico. A salvaguarda da normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou político e a igualdade de oportunidades entre os candidatos norteiam a legislação eleitoral e a atuação da Justiça Eleitoral em relação a todos os tipos de propaganda, notadamente, as realizadas por intermédio dos meios de comunicação de massa, como a internet, com todas as suas possibilidades. 2.2 DA ANÁLISE DAS INDAGAÇÕES O Consulente indagou a possibilidade de divulgação de candidatos que firmaram compromisso com a carta de princípios elaborada pela entidade; se poderia realizar um evento com vídeos e cobertura jornalística com esses candidatos; se este material poderia ser publicado em seu sitio, ratificando os princípios contidos na carta, e impulsionado nas redes sociais, bem como se os diretores poderiam se identificar como representantes das carreiras durante o evento e em publicações eleitorais. Da análise da legislação eleitoral, depreende-se que nenhuma entidade, especialmente a de classe, pode veicular propaganda eleitoral de candidato em eleições para cargos públicos. É vedado, pois, qualquer uso das dependências da entidade para promover 1 VELLOSO, Carlos Mário da Silva. AGRA, Walber de Moura. Elementos de Direito Eleitoral. São Paulo: Saraiva. 2009, p. 149. 2
candidato, seja discurso, seja jantar, seja principalmente doação de dinheiro ou de algum outro bem. Por conseguinte, há a vedação, ainda que gratuitamente, à veiculação de qualquer tipo de propaganda eleitoral em sítios de pessoas jurídicas, com ou sem fins lucrativos, sítios oficiais ou hospedados por órgãos ou entidades da administração pública direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (Lei nº 9.504/1997, art. 57-C, 1º, incisos I e II, e Res. TSE n º 23.551/2017, art. 24, 1º, incisos I e II). Com efeito, o art. 24, VI, da Lei n 9.504/97 dispõe que é vedado, a partido e candidato, receber direta ou indiretamente doação em dinheiro ou estimável em dinheiro, inclusive por meio de publicidade de qualquer espécie, procedente de entidade de classe ou sindical. vedação, pontificando: O Egrégio Tribunal Superior Eleitoral já pacificou essa REPRESENTAÇÃO. PROPAGANDA ELEITORAL INDEVIDA FEITA POR ÓRGÃO SINDICAL. 1. A experiência demonstra que no processo eleitoral a penetração dos órgãos sindicais é imensa, exatamente porque atingem aqueles que são interessados, e que, por isso, têm grande capacidade de articulação corporativa, com inegável força de mobilização. 2. A publicação objeto da Representação estampa matéria de conteúdo nitidamente eleitoral, com a fotografia de um dos candidatos e o claro apoio à reeleição. E, não bastasse isso, conclamando o voto para impedir que haja retrocesso nas mudanças. Há, portanto, configuração evidente para autorizar a aplicação da penalidade do art. 36, 3º, da Lei nº 9.504/97. 3. A regra do art. 24, VI, da Lei nº 9.504/97 dispõe que os sindicatos não podem contribuir direta ou indiretamente para a campanha de um candidato ou de um partido. É uma proteção à pureza do supremo valor social dos sindicatos. O fato de a regra jurídica vedar aos candidatos receberem não significa que não haja violação com relação ao sindicato que assim faça. Seria uma interpretação insólita acolher a inépcia pelo motivo apontado no agravo. 4. Não tem a repercussão desejada o fato de a publicação veicular pesquisa já do conhecimento público. O que conta para o caso é a circunstância de estar sendo divulgada notícia 3
nitidamente favorável a um dos candidatos, qual seja, a de que há manifestação de maioria do eleitorado em favor da reeleição. Ora, esse fato tem repercussão, porque induz votação favorável com nítido caráter de propaganda eleitoral indevida. (TSE, ARP n 952, Rel. Menezes Direito, j. 10.08.2006). Insta consignar que, além da vedação contida no seu art. 24, o art. 37 também da Lei n 9.504/97, prevê nos bens cujo uso dependa de cessão ou permissão do Poder Público, ou que a ele pertençam, e nos de uso comum, inclusive postes de iluminação pública e sinalização de tráfego, viadutos, passarelas, pontes, paradas de ônibus e outros equipamentos urbanos, é vedada a veiculação de propaganda de qualquer natureza, inclusive pichação, inscrição a tinta, fixação de placas, estandartes, faixas e assemelhados. Indelevelmente, enquadrando-os em bens de uso comum, o disposto no art. 37 da Lei nº 9.504/97 tem sido aplicado pela Justiça Eleitoral à sede dos sindicatos e entidades de classe, de modo a condenar os responsáveis às penas do 1, fixando pena de multa, veja-se: RECURSO ELEITORAL Nº 3262000; CLASSE 27ª NAVIRAÍ 2ª ZONA ELEITORAL. REPRESENTAÇÃO. PROPAGANDA ELEITORAL IRREGULAR. INTERNET. ART. 57-C DA LEI 9.504/97. PARCIAL PROCEDÊNCIA. 1. Nos termos do art. 57-C da Lei 9.504/97, é vedada a veiculação de propaganda eleitoral na internet, ainda que gratuitamente, em sítios de pessoas jurídicas, com ou sem fins lucrativos. 2. Na espécie, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) divulgou em seu sítio eletrônico textos que faziam menção direta às eleições presidenciais, induzindo os eleitores à ideia de que a candidata representada seria a mais apta ao exercício do cargo em disputa, além de fazer propaganda negativa contra o seu principal adversário nas eleições de 2010. 3. A aplicação da sanção prevista no 2º do art. 57-C da Lei 9.504/97 ao beneficiário da propaganda eleitoral irregular pressupõe o seu prévio conhecimento, o que não ocorreu na espécie. 4
4. Quanto à alegada utilização indevida do cadastro de endereços eletrônicos do sindicato (art. 57-E da Lei 9.504/97), esse fato não foi comprovado. 5. Nos termos do art. 57-B, IV, da Lei 9.504/97, a propaganda eleitoral na internet poderá ser realizada por meio de blogs de pessoa natural, tal como ocorreu na hipótese dos autos, não estando caracterizado ilícito algum. 6. Representação julgada parcialmente procedente para aplicar multa de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) à Central Única dos Trabalhadores - CUT e à Editora e Gráfica Atitude Ltda. (Representação nº 355133, Acórdão, Relator(a) Min. Fátima Nancy Andrighi, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 91, Data 16/05/2012, Página 281) A título de ilustração, nas Representações 952/DE e 953/DF, da relatoria do Eminente Ministro Menezes Direito, relativos às Eleições 2006, o TSE julgou situações similares, embora não relativas à propaganda por meio da internet ou na sede da entidade, em que a suposta publicidade ilícita era imputada à CUT. Na citada Representação 952/DE, alegou-se que a CUT fez distribuir material publicitário no qual reproduziu uma entrevista concedida pelo ator Paulo Betti à Revista Isto É, na qual ele se manifestou favoravelmente à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva nas Eleições 2006 e fez críticas negativas quanto ao seu adversário, Geraldo Alckmin. O TSE entendeu por violada a norma do art. 24, VI, da Lei nº 9.504/97 em razão da propaganda eleitoral antecipada positiva quanto a um dos candidatos e negativa quanto ao seu adversário. Naquele caso, o TSE consignou não se tratar de mero exercício da liberdade de pensamento, mas sim de propaganda eleitoral antecipada, visto que a publicidade continha manifestação favorável à reeleição do então Presidente Lula, notadamente pela nota que indicava a sua vitória no primeiro turno das eleições. Como alternativa à vedação legal, a entidade pode promover uma conferência, onde todos os concorrentes ao pleito devem ser convidados a participar, os quais devem ter garantido o mesmo tempo para falar sobre o tema do evento (carta de princípios), debatendo-se questões específicas daquela categoria, mas não pode organizar evento em prol de um político específico, não se pode afetar a igualdade de condições dos candidatos e garantir a paridade destes. Não se trata, pois, de propaganda direta em favor de uma pessoa, não há coisa direcionada a um candidato exclusivo. Vale dizer que, na alternativa alhures dita, os candidatos podem apresentar difusão de ideias, de projeto para aquela determinada categoria, sobre 5
aquele determinado tema, porém não podem praticar a propaganda eleitoral com pedido de voto explícito ou implícito. O convite aos candidatos para participar da conferência deve atender ao disposto no art. 46, da Lei nº 13.488/2017, o qual determina (...) é facultada a transmissão por emissora de rádio ou televisão de debates sobre as eleições majoritária ou proporcional, assegurada a participação de candidatos dos partidos com representação no Congresso Nacional de, no mínimo, cinco parlamentares, e facultada a dos demais. Urge dizer que ao final, poderá ser proposta ao candidato, a ratificação e o compromisso com a carta de princípios. Entendemos, ainda, que a legislação não pode impedir que diretores de uma entidade, enquanto pessoas físicas, promovam o apoio a algum candidato, desde que sem usar as dependências da entidade, seu cargo, seus serviços, o mailing list dos associados, ou qualquer recurso direto ou indireto da entidade. Uma simples apresentação como candidato da entidade pode levar a punições tanto da entidade, como do candidato. Os candidatos, partidos e entidades que descumprirem a vedação legal sujeitam-se às penas de multa, detenção, perda da quota do Fundo Partidário e até negação ou cassação do diploma eleitoral. Ainda sobre a possiblidade de divulgação com vídeos e cobertura jornalística e publicação nas redes sociais, nos termos da jurisprudência do TSE, o abuso de poder econômico ocorre quando determinada candidatura é impulsionada pelos meios econômicos de forma a comprometer a igualdade da disputa eleitoral e a própria legitimidade do pleito. Já o uso indevido dos meios de comunicação se dá no momento em que há um desequilíbrio de forças decorrente da exposição massiva de um candidato nos meios de comunicação em detrimento de outros" (REspe nº 4709-68/RN, rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10.5.2012). Destarte, a divulgação com vídeos, cobertura jornalística e publicação nas redes sociais, é permitida, desde que não apresente propaganda eleitoral ou indicação de determinado candidato pela entidade, garantindo apenas, o direito de informação. Cordialmente, Brasília, 14 de setembro de 2018. ROGÉRIO ROSA SANTANA Advogado OAB/DF 32.850 6