AFRICAN UNION UNION AFRICAINE UNIÃO AFRICANA Addis-Abeba (ETHIOPIE) P. O. Box 3243 Téléphone (251-11) 5517 700 Fax : 551 78 44 Website: www.africa-union.org CONFERÊNCIA DA UNIÃO ARFICANA Décima Quinta Sessão Ordinária 25 27 de Julho de 2010 Kampala, Uganda Original: Inglês CRIAÇÃO DE UM ESPAÇO AFRICANO DE JUSTIÇA CONSTITUCIONAL (Ponto proposto pela República Democrática de Argélia)
CRIAÇÃO DE UM ESPAÇO AFRICANO DE JUSTIÇA CONSTITUCIONAL Pág. 1 1. O final do Séc. XX terá sido, sem dúvida, marcado pela generalização da justiça constitucional no mundo. 2. Assim, ao invés dos países dos outros continentes, os países africanos dotaram-se progressivamente, cada um ao ritmo da sua história política particular, de um mecanismo jurisdicional de controlo da constitucionalidade das leis inspiradas, com graus variáveis, do modelo kelseniano ou do modelo americano de justiça constitucional. 3. A adopção deste mecanismo de controlo que, na sua finalidade, tende a reforçar o Estado de direito, aprofundar a democracia pluralista e garantir a protecção dos direitos humanos, permitiu à África fazer o acompanhamento desta evolução mundial. 4. Todavia, se bem que os Estados africanos não ficaram à margem do movimento de justiça constitucional que cria, a favor das perturbações que marcaram o mundo em finais dos anos 1980, instituições ou jurisdições encarregues de zelar pelo respeito da Constituição na ordem jurídica interna e, em certos casos, controlar a regularidade de grandes consultas políticas internas (eleições legislativas, presidenciais e referendos), a África não acompanhou o ritmo desta evolução que, ao invés de outras regiões do mundo, cria um espaço colectivo de concertação, troca de experiências e de cooperação em matéria de controlo constitucional, ao qual a Argélia fez oficialmente apelo em 1997. 5. Em jeito de recordação, vários espaços regionais e/ou linguísticos surgiram a partir de finais dos anos 1990: União dos Tribunais e Conselhos Constitucionais Árabes, criada por iniciativa da Argélia e do Egipto, em 1997; Associação dos Tribunais Constitucionais de Expressão Francesa (ACCPUF, sigla em francês); Conferência dos Órgãos de Controlo Constitucional dos Países da Jovem Democracia; Tribunais Constitucionais da Ásia; Tribunais da Commonwealth;
Conferência dos Tribunais Constitucionais Europeus; Conferência Ibero-americana de Justiça Constitucional; Comissão de Juízes da África Austral; Grupo de Tribunais Constitucionais de Língua Portuguesa. Pág. 2 6. Como corolário desta evolução natural, por iniciativa da Comissão Europeia para a Democracia pelo Direito, mais conhecida sob a designação «Comissão de Venise», e na sequência das reuniões de Seul, de Vilnuis e de Argel, em preparação da 1ª Conferência Mundial sobre a Justiça Constitucional, realizada na Cidade de Cabo, em Janeiro de 2009, prevê-se a criação, em Janeiro de 2011, no Rio de Janeiro, de um espaço mundial de Tribunais e Conselhos Constitucionais. 7. A declaração final da Conferência da Cidade de Cabo realçou «a importância primordial do respeito dos direitos humanos em todo o mundo» e propõe «o desenvolvimento e o reforço dos valores fundamentais consagrados pelas constituições», através da consolidação da troca de informações e de experiências entre os Tribunais e os Conselhos Constitucionais, numa base regional e mundial. 8. É importante sublinhar que os Tribunais e Conselhos Constitucionais de três países organizadores destas reuniões preparatórias (Correia do Sul, Lituânia e Argélia), aos quais se juntou o Tribunal Constitucional da África do Sul, foram convidados a associarem-se aos presidentes dos grupos regionais e linguísticos para constituir a Mesa que deve elaborar os estatutos desta Conferência. A referida Mesa, que realizou a sua reunião precedente em Venise, deverá reunir-se pela última vez antes de finais de Junho próximo. 9. Actualmente, sendo a promoção e o desenvolvimento da cultura constitucional uma exigência de um Estado de direito e de uma democracia que se constroem, é chegado o momento para a África organizar-se num espaço continental para confortar o seu empenho aos valores e princípios universais de Estado de direito, a democracia e os direitos humanos bem como acompanhar esta evolução mundial. 10. Esta atitude está em conformidade com a letra e o espírito dos textos fundamentais da União Africana, cuja elaboração foi acompanhada pela criação de espaços permanentes na acção colectiva dos Estados Membros de se exprimirem. Neste contexto, o Acto Constitutivo da União Africana consagra, no seu preâmbulo, a vontade dos Chefes de Estado e de Governo da União de promover e proteger os Direitos do Homem e dos Povos, consolidar as instituições e a cultura democráticas, promover a boa governação e o Estado de direito.
Pág. 3 11. Para consagrar juridicamente esta atitude colectiva, os Estados Membros adoptaram diversos instrumentos e decidiram criar progressivamente órgãos e mecanismos para a elaboração e a gestão de diversos aspectos ligados à promoção dos objectivos unitários que eles assumiram. 12. Se bem que a justiça constitucional em África já cumpriu a etapa da ordem interna e atingiu o nível de espaços regionais linguísticos, em contrapartida, ela continua à margem desta atitude colectiva a nível do continente africano e não beneficiou de nenhum esforço de promoção, ao passo que a maioria dos países africanos dispõem de instituições ao mesmo tempo credíveis e fiáveis neste domínio particular (Tribunais/Conselhos/Câmaras Constitucionais). 13. Todavia, as Constituições nacionais africanas partilham os princípios universais de democracia, protecção dos direitos humanos e do Estado de direito, sendo que os instrumentos jurídicos da União Africana permitem perfeitamente a implementação de uma iniciativa colectiva para unir os mecanismos africanos de justiça e de controlo constitucional. 14. Para citar apenas os mais recentes destes instrumentos, no caso vertente a Carta Africana da Democracia, Eleições e Governação, que reafirma particularmente «a nossa vontade colectiva de trabalhar arduamente para o aprofundamento e a consolidação da democracia e do Estado de direito», sublinha, por outro lado e oportunamente, no seu preâmbulo, que os Estados Membros são guiados «pela missão comum de reforçar e consolidar as instituições de boa governação, unidade e solidariedade ao nível continental». 15. Por conseguinte e na perspectiva do próximo Fórum Mundial, seria muito desejável que os Tribunais e Conselhos Constitucionais africanos, que tenham partilhado o exercício de controlo constitucional sob as suas diferentes modalidades, participem no referido Fórum, não em grupos dispersos, como é o caso actualmente, mas como uma organização continental homogénea. 16. É por esse motivo que a África, na sua diversidade cultural e linguística bem como nos seus sistemas jurídicos, deve dispor de um espaço comum de cooperação, concertação e troca de experiências no domínio da justiça constitucional antes da data prevista para a realização do Fórum Mundial de Rio de Janeiro, a fim de desempenhar plenamente o seu papel e ter um peso à altura da sua dimensão. A África, que deu prova das suas capacidades de negociação nos fora internacionais, quando se apresenta em forma de um grupo unido e com posições comuns, pode igualmente dar a sua contribuição no plano internacional, em matéria da justiça constitucional.
Pág. 4 17. Neste contexto, poderá ser organizada uma conferência constitutiva, precedida por uma reunião de peritos dos Tribunais e Conselhos Constitucionais africanos, numa das capitais africana, numa data a ser fixada.
Pág. 5 Nós, estamos determinados a acabar de uma vez por todas com o flagelo de conflitos e violência no nosso Continente, reconhecendo as nossas deficiências e erros, atribuindo os nossos recursos e envolvendo os nossos melhores quadros, e aproveitando todas as oportunidades para avançar com a Agenda sobre a Prevenção de Conflitos, Instauração da Paz, Manutenção da Paz e Reconstrução Pósconflito. Nós, na qualidade de líderes, não podemos simplesmente transferir o fardo dos conflitos para a nova geração de Africanos (Parágrafo 9 da Declaração de Tripoli, de 31 de Agosto de 2009)