26ª Vara - Juizado Especial Federal SENTENÇA

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Transcrição:

PROCESSO Nº 0023016-70.2018.4.01.3400 AUTOR: RÉU: UNIAO FEDERAL (FAZENDA NACIONAL) SENTENÇA TIPO: A I RELATÓRIO SENTENÇA Trata-se de ação em que a parte autora requer a inexistência de relação jurídico-tributária capaz de implicar a incidência de IRPF sobre os valores pagos pela parte autora a título de contribuições extraordinárias à FUNCEF, bem como a repetição do indébito tributário, a partir do primeiro pagamento de contribuição extraordinária à FUNCEF, devidamente atualizado. Citada, a União apresentou contestação, pugnando pela improcedência do pedido. É o relatório do essencial. Decido. II FUNDAMENTAÇÃO O caso dos autos consiste em se definir o tratamento tributário das contribuições adicionais destinadas ao equacionamento de déficits realizados pela FUNCEF - Fundação dos Economiários Federais, ou seja, se as referidas contribuições devem ser excluídas da base de cálculo do Imposto de Renda e, ainda, se serão deduzidas no ajuste anual, sem o limite de 12%. A competência atribuída ao legislador ordinário para instituir o Imposto de Renda abrange os fatos que importem na percepção de renda e proventos de qualquer natureza, nos termos do art. 153, inciso III, da Constituição Federal. Para a determinação desses conceitos há um aspecto de extremo relevo: tanto a renda quanto os proventos pressupõem, necessariamente a existência de acréscimo patrimonial, ou seja, não há renda e tampouco proventos de qualquer natureza sem acréscimo patrimonial (STF, Pleno, RE 117.887, rel. Min. Carlos Velloso, 2.1993). O Código Tributário Nacional, em seu art. 43, incisos I e II, dispôs que:

Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a renda e proventos de qualquer natureza tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica: I - de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos; II - de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos patrimoniais não compreendidos no inciso anterior. Da leitura dos dispositivos mencionados, pode-se concluir que não haverá renda e tampouco proventos se não houver acréscimo patrimonial (riqueza nova) e, consequentemente, será ilegítima qualquer pretensão de cobrança do IR se não houver acréscimo patrimonial num dado período. Dito isso, a lei nº 9.250/95, em seu artigo 8º combinada com a Lei nº 9.532/97, em seu artigo 11º, estabelecem que as contribuições para as entidades de previdência privada domiciliadas no país são despesas dedutíveis da base de cálculo do imposto de renda, até o limite de 12% (doze por cento) do total dos rendimentos computados na determinação de tal base de cálculo. Confira: Lei nº 9.250/95 Art. 8º A base de cálculo do imposto devido no anocalendário será a diferença entre as somas: I - de todos os rendimentos percebidos durante o ano-calendário, exceto os isentos, os nãotributáveis, os tributáveis exclusivamente na fonte e os sujeitos à tributação definitiva; II - das deduções relativas: (...) e) às contribuições para as entidades de previdência privada domiciliadas no País, cujo ônus tenha sido do contribuinte, destinadas a custear benefícios complementares assemelhados aos da Previdência Social; (...) Lei nº 9.532/97 Art. 11. As deduções relativas às contribuições para entidades de previdência privada, a que se refere a alínea e do inciso II do art. 8o da Lei no 9.250, de 26 de dezembro de 1995, e às contribuições para o Fundo de Aposentadoria Programada Individual - Fapi, a que se refere a Lei no 9.477, de 24 de julho de 1997, cujo ônus seja da própria pessoa física, ficam condicionadas ao recolhimento, também, de contribuições para o regime geral de previdência social ou, quando for o 75EB06F883E3BA0A8E66122FC6F5ADF4p. 2

caso, para regime próprio de previdência social dos servidores titulares de cargo efetivo da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, observada a contribuição mínima, e limitadas a 12% (doze por cento) do total dos rendimentos computados na determinação da base de cálculo do imposto devido na declaração de rendimentos. (Redação dada pela Lei nº 10.887, de 2004) Ressalte-se que as contribuições para os planos de entidades de previdência privada objetivam, como regra, a formação de uma reserva matemática para o pagamento dos benefícios. São os casos da "contribuição normal" e da "contribuição extraordinária". Dispõe a LC nº 109/2001, que trata do Regime de Previdência Complementar, verbis: "Art.19. As contribuições destinadas à constituição de reservas terão como finalidade prover o pagamento de benefícios de caráter previdenciário, observadas as especificidades previstas nesta Lei Complementar. Parágrafo único. As contribuições referidas no caput classificam-se em: I - normais, aquelas destinadas ao custeio dos benefícios previstos no respectivo plano; e II - extraordinárias, aquelas destinadas ao custeio de déficits, serviço passado e outras finalidades não incluídas na contribuição normal." No caso dos autos, discute-se exatamente a hipótese de contribuição extraordinária, cobrada em razão dos déficits apresentados pelo plano, que encontra previsão também no art. 21 da referida Lei Complementar 109/2001, confira: Art. 21. O resultado deficitário nos planos ou nas entidades fechadas será equacionado por patrocinadores, participantes e assistidos, na proporção existente entre as suas contribuições, sem prejuízo de ação regressiva contra dirigentes ou terceiros que deram causa a dano ou prejuízo à entidade de previdência complementar. 1o O equacionamento referido no caput poderá ser feito, dentre outras formas, por meio do aumento do valor das contribuições, instituição de contribuição adicional ou redução do valor dos benefícios a conceder, observadas as normas estabelecidas pelo órgão regulador e fiscalizador. 2o A redução dos valores dos benefícios não se aplica aos assistidos, sendo cabível, nesse caso, a instituição de contribuição adicional para cobertura do acréscimo ocorrido em razão da revisão do plano. 3o Na hipótese de retorno à entidade dos recursos equivalentes ao déficit previsto no caput deste artigo, em conseqüência de apuração de responsabilidade mediante ação judicial ou administrativa, os respectivos valores 75EB06F883E3BA0A8E66122FC6F5ADF4p. 3

deverão ser aplicados necessariamente na redução proporcional das contribuições devidas ao plano ou em melhoria dos benefícios. Trata-se, portanto, de quantia que não visa à formação de reserva matemática, mas à mera recomposição da parcela que foi perdida. Em verdade, configura, por via transversa, redução temporária do benefício percebido, já que a simples redução de valores é vedada pelo art. 21, 2º, da LC 109/2001. Reforça esse entendimento o fato de a contribuição extraordinária ser descontada na folha de pagamento do benefício, de modo que o assistido não possui disponibilidade econômica nem jurídica do numerário. Nesse sentido, Recurso Cível nº 5034293-40.2016.4.04.7100, TRF4 5ª Turma Recursal do RS, julgado em 30/03/2017. Assim, afigura-se evidente que a quantia paga à FUNCEF a título de contribuição extraordinária instituída em razão de déficit do plano não configura acréscimo patrimonial, de modo que os contribuintes possuem direito à dedução do valor correlato da base de cálculo do imposto de renda. III DISPOSITIVO Ante o exposto, julgo PROCEDENTE O PEDIDO para: (a) declarar a impossibilidade de inclusão na base de cálculo do imposto de renda das quantias pagas à FUNCEF a título de contribuição extraordinária instituída em razão de déficit do plano; (b) condenar a parte ré à restituição o imposto de renda pago sobre essas quantias, observados a prescrição quinquenal e os limites do pedido, atualizado pela SELIC, nos termos do manual de cálculos da Justiça Federal. (c) na liquidação, deverá ser levada em conta a dedução da base de cálculo do imposto de renda já realizada com base no art. 8º, II, alínea "e", da Lei 9.250/1995 c/c o art. 11 da Lei 9.532/1997. Sem custas ou honorários (art. 55 da Lei 9.099/95 c/c art. 1.º da Lei 10.259/01), neste grau de jurisdição. Publique-se. Registre-se. Intime-se. 75EB06F883E3BA0A8E66122FC6F5ADF4p. 4

Brasília-DF, 31 de maio de 2019. MÁRCIO BARBOSA MAIA Juiz Federal da 26ª Vara/SJDF 75EB06F883E3BA0A8E66122FC6F5ADF4p. 5