A importância dos Centos de Cultura nos pequenos municípios - Um estudo de caso da Casa da Cultura de Monte Azul Paulista SP. Rogério Carlos FÁBIO 1



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Transcrição:

A importância dos Centos de Cultura nos pequenos municípios - Um estudo de caso da Casa da Cultura de Monte Azul Paulista SP. Rogério Carlos FÁBIO 1 1.1 CULTURA A preocupação em conceituar o termo cultura é muito contemporânea. Nunca se falou tanto de cultura como nos dias de hoje. A palavra cultura adquire significados diferentes de acordo com a época ou o objetivo que a define. O conceito está ligado a diversos fatores; como para entender a evolução de uma determinada sociedade, para tratar a diferença de fatores biológicos, para explicar a diferença entre povos, para definir um conceito de arte, o comportamento social de pessoas, o grau de educação de um indivíduo ou mesmo a evolução da humanidade. Podemos observar que a palavra cultura é usada em diversas ocasiões, por esse motivo, é importante entender a evolução da palavra para compreendermos o conceito atual. Por essa razão, se quisermos compreender o sentido atual do conceito de cultura e seu uso nas ciências sociais, é indispensável que se reconstitua sua gênese social, sua genealogia. Isto é, tratase de examinar como foi formada a palavra, e em seguida, o conceito científico que dela depende, logo, localizar sua origem e sua evolução semântica. (...) 2. A palavra cultura vem do verbo latino colere, que quer dizer cultivar. Nos fins do século XIII a palavra cultura aparece para designar terra cultivada. Por estar Inicialmente ligada apenas ao cultivo da terra, ou seja, a cultura de uma determinada plantação, ao se referir à plantação de milho, feijão ou café, se referida ao seguimento agrícola utilizado naquela terra. Podemos perceber que a origem da palavra cultura teve inicialmente um significado ligado a atividades agrícolas. O uso deste termo ainda é utilizado na atualidade pelas ciências agrícolas. 1 Graduado em História, cursando a especialização em História, Cultura e Sociedade no Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto SP, sob orientação da profa. Dra. Nainôra Maria Barbosa de Freitas. 2 Cuche, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru: EDUSC, 2002. 255 p. 18

(...) Vinda do latim cultura que significa o cuidado dispensado ao campo ou ao gado, ela aparece nos fins do século XIII para designar uma parcela de terra cultivada. 3 FIGURA 1 Cultura de café Fonte: www.mwmoria-historia.com.br/galeriafotos No século XVI a palavra cultura era pouco reconhecida no meio acadêmico, e o seu conceito deixa de significar o estado de coisa cultivada e passa a estar relacionado à ação de cultivar a terra, isto é, o fato de trabalhar para desenvolvê-la. O conceito figurado de cultura aparece no Dicionário da Academia Francesa (1718) e recebe um complemento, como por exemplo, cultura das artes, cultura das letras ou cultura das ciências. Posterior a isso a palavra se livra desses complementos e passa a ser empregada sozinha, sendo designada para o conceito de formação ou educação do espírito. E no final do século mencionado, a palavra passa a ter um 3 CUCHE, Op. Cit., p. 19

significado de ação de instruir, a um sinônimo de instrução, ou seja, os saberes, utilizados pelos iluministas. O termo cultura adquire um significado de transmissão de valores, soma de conhecimento, a educação recebida e transmitida por gerações passadas. Cultura se inscreve então plenamente na ideologia do Iluminismo: a palavra é associada às idéias de progresso, de evolução, de educação, de razão que estão no centro do pensamento da época 4. O apogeu deste movimento foi atingido no século XVIII, e, este, passou a ser conhecido como o Século das Luzes. A palavra cultura passa a ser associada às idéias de progresso, de educação, evolução social, presentes no pensamento da época. Outra palavra passa a ocupar o vocábulo francês do século XVIII, a palavra civilização, muito próxima da palavra cultura por pertenceram ao mesmo campo semântico, passam a refletir as mesmas concepções fundamentais. Neste mesmo período ocorrem na Alemanha debates sobre o conceito de cultura e este acaba originando a palavra Kultur, este com o mesmo significado francês. Já o termo Civilização representa apenas como algo superficial. No final do século XVIII e no principio do seguinte, o termo germânico Kultur era utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade, enquanto que a palavra francesa Civilization referia-se principalmente as realizações materiais de um povo 5. No século XX surgem a sociologia e a etnologia como disciplinas científicas para estudar e dar explicação à diversidade humana. O conceito de cultura entra em discussão para entender as diversas sociedades, não só de uma forma normativa como ocorria na França e Alemanha do século mencionado. O Antropólogo britânico Sir Edward Burnett Tylor (1832-1917) foi o primeiro a utilizar o termo com o significado 4 CUCHE, Op. Cit., p. 21 5 LARAIA, Roque de Barros. Cultura Um conceito Antropológico. Rio de Janeiro. Zahar editor. 1997, p. 25

moderno que conhecemos hoje ao se referir à utilização e determinou que cultura é todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade. Tornando-se o termo cultura etnologicamente como a palavra chave para análises e teorias sociais. Para Tylor, a cultura é a expressão da totalidade da vida social do homem, ocupando uma dimensão coletiva onde todos os elementos que um indivíduo toma contato e incorpora a partir das relações sociais existentes em sua sociedade são as suas culturas. O antropólogo privilegia em sua pesquisa o termo cultura por compreender que a palavra permite entender a humanidade como um todo, enquanto que a palavra civilização no seu sentido etnológico nos remete apenas a constituição das cidades, ficando assim restrita apenas a poucas sociedades, não incluindo as sociedades denominadas primitivas. (...) Tylor procurou, além disto, demonstrar que cultura pode ser objeto de um estudo sistemático, pois trata-se de um fenômeno natural que possui causas e regularidades, permitindo um estudo objetivo e uma análise capazes de proporcionar a formulação de leis sobre o processo cultural e a evolução. 6 Depois que Tylor estudou as origens da cultura e a sua evolução sob uma ótica sistemática e universalista, enquanto o antropólogo Franz Boas, sensível à questão do racismo, desenvolve o particularismo histórico, onde cada evolução cultural deve ser estudada particularmente, ou seja, não hierarquizar a definição cultural de cada sociedade, pois casa uma segue seus próprios caminhos de evolução. Boas foi o primeiro a utilizar a pesquisa in situ, onde pode observar a diferenças culturais entre várias sociedade, para ele os grupos humanos devem ser definidos pelo fator cultural e não racial. Cada cultura é dotada de um estilo particular que se exprime através da língua, das crenças, dos costumes, também da arte, mas não apenas desta maneira. Este estilo, este espírito próprio a cada cultura influi sobre o comportamento dos indivíduos. Boas 6 LARAIA, Op. Cit., p. 30

pensava que a tarefa do etnólogo era também elucidar o vínculo que liga o indivíduo à sua cultura. 7 Um dos grandes pensadores do século XX, Claude Lévi-Strauss tornou-se conhecido por sua abordagem que considera cultura como sistemas estruturais e simbólicos, definindo assim sendo um conjunto de mecanismo de controle, planos, receitas, regras, instruções para gerir o comportamento de uma sociedade. O antropólogo estudou o comportamento de tribos indígenas e suas observações foram fundamentais para o desenvolvimento da antropologia. O método usado por ele para estudar a organização social dessas tribos chama-se Estruturalismo. A antropologia estrutural assume como tarefa encontrar o que é necessário para toda a vida social, isto é, os elementos universais culturais, ou, em outras palavras, os a priori de toda a sociedade humana. {...} 8. Jamais podemos pensar que uma sociedade reúne apenas um tipo de cultura ou padrão de comportamento social. Pelo contrário, uma das maiores características de nossa sociedade é justamente a sua diversificação cultural, a sua capacidade de reunir os mais diversos tipos de pessoas, com crenças, costumes, cores e gostos completamente diferentes, ou seja, marcadas por seu sistema. As sociedades se perpetuam ensinando aos membros da sociedade e a cada geração os padrões estruturais referentes à sociedade, servindo de manutenção e perpetuação da sociedade. Vale lembrar que mesmo na sociedade e culturas mais integradas duas pessoas não são exatamente iguais. Os padrões de comportamento que compõem a cultura se devem ajustar uns aos outros de tal forma que evitem e impeçam que os resultados de um padrão de comportamentos anulem uns aos outros. Cultura são sistema (de padrões de comportamentos socialmente transmitidos) que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos. Esse modo de vida das comunidades inclui tecnologias e modos de organização 7 CUCHE, Op. Cit., p.45 8 LARAIA, Op. Cit., p.

econômica, padrões de estabelecimento, de agrupamento social e organização política, crenças e práticas religiosas, e assim por diante. 9 Assim a cultura torna-se expressão do caráter de um povo e pertencer de uma mesma sociedade que o torna livre em sua manifestação dessa cultura. Quando um indivíduo entra em contato com outra cultura e absorve alguns valores é conhecido como aculturação. Esse contato cultural pode ocorrer através do comércio, viagens, imigração, exposição de valores e conceitos culturais na mídia. Atualmente o termo cultura pode ser usado em diversos casos, como por exemplo, para definir desde povos e nações antigas até o modo de viver nas sociedades modernas. Podemos associar a palavra a manifestações artísticas, cerimônias tradicionais, lendas, crenças, modo de viver, comida, idioma, educação ou tudo o que caracteriza a existência e a compreensão de uma sociedade. Podemos associar à cultura ao estudo e a formação escola. Podemos estudar e entender a história de uma sociedade através de seu aspecto cultural, pois a cultura uma das bases da compreensão e da transformação de uma sociedade. Cultura é uma construção histórica, seja como concepção, seja como dimensão do processo social. Ou seja, a cultura não é algo natural, não é uma decorrência de leis físicas ou biológicas. Ao contrário, a cultura é um produto coletivo da vida humana. Isso se aplica não apenas à percepção da cultura, mas também à sua relevância, à importância que passa a ter. Aplica-se ao conteúdo de cada cultura particular, produto da história de casa sociedade 10. 1.2 CENTROS DE CULTURA 9 LARAIA, Op. Cit., p. 59 10 SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 2005. p. 45

Temos no Brasil, um grande número de instituições que buscam a preservação e valorização da história. Lugares que celebram a memória vêm se transformando em locais de ações educativas voltadas à construção do conhecimento que acompanha uma necessidade atual da sociedade na valorização de centros de cultura. Esses espaços ocupam atualmente uma posição importante nas questões relacionadas à suas funções educacionais, sociais e turísticas dos municípios brasileiros. Para reforçar essa opinião Teixeira Coelho, define conforme citação abaixo a necessidade dos centros de culturas nos dias de hoje. {...} Todas as cidades e cidadezinhas brasileiras sonharam primeiro com uma biblioteca. Depois, com um teatro e, mais tarde com um cinema. Em seguida foi à vez dos museus ainda que servissem apenas para guardar a foto da vovó e o sapato de algum poderoso de duvidosa reputação. Agora, chegou definitivamente à vez dos centros de cultura. E mesmo quando estes ainda não existem, ou a seu lado, desenvolvem-se programas de culturalização da cidade que conseguem sobreviver às administrações sucessivas de partidos políticos diferentes e enraizar-se nas comunidades visadas. 11 Criados inicialmente para contribuir para a formação de público em apreciar os eventos culturais e sensibilizar a sociedade quanto à necessidade da preservação do patrimônio cultural, esses espaços têm sido usados em diversas atividades educativas, o que tem causado muitos equivocos quanto à execução de suas funções. Teixeira Coelho (2001), afirma que é importante distinguir os tipos de projetos e que esses locais devem estar abertos a discussão e criação. 11 COELHO, Francisco Teixeira. O que é ação cultural. São Paulo: Brasiliense, 2001.

A incapacidade de distinguir entre processo cultural e processo educativo será a principal responsável pelo aparecimanto de centros de cultura, em particular, ou de uma ação cultural, em geral, que são na verdade meros substitutivos ou complementos de sistemas educacionais formais depaiperados ou falidos. Optar pela educação é optar pelo mais fácil. E no lugar do espaço aberto a criação aparecem as palestrar, os debates e, acima de tudo os cursos (...). 12 As mudanças que os espaços públicos culturais têm sofrido seguem as mudanças que a sociedade atual tem atravessado, por esse motivo é necessário diagnosticar a importância que esses espaços culturais ocupam no mundo pós-tradicional. Identificar as ações socioeducativas dos espaços culturais e seus resultados é de extrema importância para traçar um diagnóstico da sua atuação nos pequenos municípios paulistas. Vivemos em um período em que vislumbramos a necessidade de buscar novos laços identitários ou de reforçar os já existentes, pois a globalização, momento este que vivemos, ao invés de homogeneizar a cultura e os hábitos, acaba por permitir e ser fundamental para o afloramento e o reforçamento de determinadas identidades, em especial, étnicas. 13 A Casa da Cultura de Monte Azul Paulista foi criada no ano de 1997 com o objetivo de realizar um trabalho de fomentação de uma política cultural democratizada aos artistas e ao público, dando características próprias a indivíduos de todas as etnias, tornando-os representantes da inclusão sócio-cultural, dignamente, um direito adquirido. O local desenvolve ações preservacionistas, eventos culturais, educacionais e turísticos 12 COELHO. Op. Cit, p. 29 13 BALLER, Gisele Inês. Museu: Espaço de Identidade. Disponível em: <http://www.revistamuseu.com.br/artigos>. Acesso em: 28 abr 2008.

para a comunidade em geral. Os projetos têm recursos próprios, na maioria das vezes, ou com parcerias com a iniciativa privada e com apoio dos governos Federal e Estadual. A atual Constituição Federal garante a todos o direito a cultural e, com a valorização do patrimônio e difusão dos bens culturais. Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da Cultura nacional e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. 14 Partindo do princípio constitucional, é necessário diagnosticar as ações administrativas e culturais dos espaços como a Casa da Cultura de Monte Azul Paulista que busca nos dias atuais democratizar o acesso aos bens culturais, e o uso que dele se faz. Mais do que um espaço de contemplação o local vem se transformando em uma instituição capaz de proporcionar cursos, palestras, exposições, contribuindo assim para o desenvolvimento de diversas atividades. Criada para realizar um trabalho de fomentação de uma política cultural democratizada aos artistas e ao público, dando características próprias a indivíduos de todas etnias, tornado-os representantes da inclusão sócio-cultural, dignamente um direito adquirido. Com ações diretas e eficazes, trabalha-se o indivíduo partindo do seu interesse artístico que quando em contato com as artes, mergulha em novos conceitos e novos escrúpulos. 15 A democratização desses espaços é essencial na luta pelo direito a cidades justas, democráticas e sustentáveis, é compreender a contribuição da cultura para os 14 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado, 1998 15 Casa da Cultura de Monte Azul Paulista. Disponível em:<>acesso http://www.culturamap.com.br>acesso em:15 abr.2010

novos desafios sociais. É importante o uso correto dessas instituições frente às novas mudanças, onde possam estimular o encontro do público com sua arquitetura preservada e assim despertar um maior interesse e contato dos artistas e frequentadores com a arte, ou seja, novas possibilidades de conhecimento. 2.JUSTIFICATIVA Este trabalho pretende analisar o modelo de gestão cultural, suas especificidades e funções na sociedade atual. Optou-se por realizar um estudo de caso da Casa da Cultura de Monte Azul Paulista SP, partindo da concepção de um espaço público que pretende promover a preservação da história local e contribuir com ações socioeducativas na construção do conhecimento. A Casa da Cultura de Monte Azul Paulista é mantida pela Secretaria de Cultura e Turismo de Monte Azul Paulista, que em trabalho conjunto com o Governo federal, estadual e iniciativa privada, tem como missão garantir que todos os cidadãos da cidade de Monte Azul Paulista-SP possam ter acesso a bens e equipamentos culturais, proporcionando uma política cultural voltada principalmente para a preservação da memória e dos patrimônios históricos, culturais e naturais do município. A análise da Casa de Cultura de Monte Azul Paulista tem como foco principal observar as importâncias culturais, educacionais e turísticas do espaço para o município de Monte Azul Paulista. Mais do que um espaço de lembrança ou preservação, esse local representa um importante instrumento para despertar o interesse do público pela história local, sendo um modelo de gestão comprometido socialmente e politicamente com a sociedade da qual faz parte. 3. OBJETIVOS 3.1 Objetivo Geral: Investigar e compreender a importância dos centros de cultura para os municípios brasileiros na sociedade atual, onde contribuem para a formação da identidade nacional. 3.2 Objetivo específico:

Este projeto de pesquisa tem como objetivo específico analisar a gestão administrativa da Casa da Cultura de Monte Azul Paulista SP, sua história, especificidades e ações voltadas à cultura, educação e ao turismo. Identificar sua importância no município de Monte Azul Paulista, perfil do público e as ações socioeducativas e culturais que são desenvolvidos no local. 4. METODOS As metodologias utilizadas nesse trabalho são: Revisão bibliográfica, estudo de caso e pesquisa quantitativa. Cada um dos instrumentos de pesquisa, aqui apontados, será explicado nos próximos itens: 4.1 Revisão Bibliográfica: O presente trabalho propõe inicialmente uma revisão bibliográfica e estudo teórico sobre os centros de cultura, uma vez que possibilitará a compreensão sobre o tema proposto à pesquisa, possibilitando a sistematização dos conhecimentos sobre os locais de preservação da memória e suas ações culturais e educativas desenvolvidas. 4.2 Estudo de Caso: Para essa etapa do trabalho será utilizado como estudo de caso a Casa da Cultura de Monte Azul Paulista. O setor cultural ganhou a participação popular em seus mais variados seguimentos através das Oficinas Culturais na Casa da Cultura. A Comunidade Monteazulense através de suas festas populares, festejos cívicos, mostra de artes, exposição e tantas outras ações culturais promovida pelo local. Com recursos próprios, na maioria das vezes, ou com algumas parcerias, a atual administração da Casa da Cultura vem desenvolvendo cursos e workshops para crianças, adolescentes e adultos, promovendo eventos culturais e educativos. Promove interferências artísticas em eventos já tradicionais, tornando uma simples manifestação popular em atrativo de impacto visual estético e educativo. 4.3 Pesquisa Quantitativa Esta etapa da pesquisa tem como objetivo verificar a importância da Casa da Cultura na visão da comunidade e de seus freqüentadores. A realização da pesquisa qualitativa

vai permitir que o entrevistado expresse sua opinião sobre as atividades e eventos realizados no espaço. Serão entrevistadas 150 pessoas em diversos locais. As entrevistas serão realizadas por meio de um formulário com as pessoas da cidade de Monte Azul Paulista, freqüentadores da casa da cultura, público em geral, de diversas idades e ambos os sexos. Os entrevistados não serão identificados e em anexo segue o modelo de formulário onde deverá ser preenchido pelos entrevistados. BIBLIOGRAFIA SUANO, Marlene. O que é Museu. São Paulo: Brasiliense 1981. CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: UNESP, 2001. NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História. História & Cultura. São Paulo, PUC-SP. n. 10, p. 07-28, 1993. BOSI, E. Memória e Sociedade: Lembranças de Velhos, vol. 1. Série 1ª - Estudos Brasileiros. São Paulo: Edusp, 1987 LE GOFF, Jacques. História e Memória. 4 ed. Campinas: ed. Unicamp. 1996. HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Ed. Centauro, 2004. COELHO, Francisco Teixeira. O que é ação cultural. São Paulo: Brasiliense, 2001. SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 2005. BARRETO, Margarita. Turismo e legado cultural: as possibilidades do planejamento. 4 ed. Campinas: Papiro, 2003 CERÁVOLO, Suely Moraes. Delineamentos para uma teoria da Museologia. Anais do museu paulista. USP, São Paulo: 2004. NABAIS, Antonio. Programação museológica e museográfica. Disponível em www.mestrado-museologia.net/textos_nabais.htm. PRIMO, Judite Santos. Pensar contemporaneamente a museologia. Cadernos de Sociomuseologia nº 16, 1999. HORTA, Maria de Lourdes. Educação Patrimonial. Disponível em: www.saltoparaofuturo.com.br

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado, 1998.