INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR PARA A GARANTIA DOS DIREITOS SEXUAIS E REPRODUTIVOS DE ADOLESCENTES



Documentos relacionados
Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos Secretaria Executiva de Desenvolvimento e Assistência Social Gerência de Planejamento,

EDUCAÇÃO E CIDADANIA: OFICINAS DE DIREITOS HUMANOS COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA ESCOLA

Plano Decenal dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes

Plano Integrado de Capacitação de Recursos Humanos para a Área da Assistência Social PAPÉIS COMPETÊNCIAS

Trabalho em Equipe e Educação Permanente para o SUS: A Experiência do CDG-SUS-MT. Fátima Ticianel CDG-SUS/UFMT/ISC-NDS

Servico de Acolhimento em Familia acolhedora ISABEL BITTENCOURT ASSISTENTE SOCIAL PODER JUDICIÁRIO SÃO BENTO DO SUL/SC

Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária

AÇÕES DE POTENCIALIZAÇÃO DE JOVENS EM CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA ATENDIDOS NO CENTRO DE REFERÊNCIA ESPECIALIZADO DA ASISTÊNCIA SOCIAL

PLANO ESTADUAL DE CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA

EDUCAÇÃO INFANTIL E LEGISLAÇÃO: UM CONVITE AO DIÁLOGO

RESOLUÇÃO CNAS Nº 11, DE 23 DE SETEMBRO DE 2015.

A SECRETARIA MUNICIPAL DE POLÍTICAS PARA MULHERES AS AÇÕES SÃO DESENVOLVIDAS POR QUATRO ÁREAS ESTRATÉGICAS:

Minuta do Capítulo 8 do PDI: Políticas de Atendimento aos Discentes

PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS

Proposta de Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos Proteção Social Básica do SUAS BLOCO I - DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Carta Unir para Cuidar Apresentação

Secretaria Nacional de Assistência Social

Rompendo os muros escolares: ética, cidadania e comunidade 1

Programa Escola do Olhar. ImageMagica

Proposta de Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos Proteção Social Básica do SUAS BLOCO I - DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Projeto de Decreto. (Criar uma denominação/nome própria para o programa)

Mostra de Projetos Projovem em Ação

EIXO 2 PROTEÇÃO E DEFESA DOS DIREITOS: PROPOSTAS APROVADAS OBTIVERAM ENTRE 80 e 100% DOS VOTOS

Projeto Pedagógico Institucional PPI FESPSP FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO PROJETO PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL PPI

O PETI e o Trabalho em Rede. Maria de Fátima Nassif Equipe Proteção Social Especial Coordenadoria de Ação Social Secretaria de Desenvolvimento Social

Diretrizes para Implementação dos Serviços de Responsabilização e Educação dos Agressores

¹Assistente Social da Associação Reviver do Portador do Vírus HIV, graduada pela Universidade Estadual de Ponta Grossa.

Serviço Social: inovação dos serviços em Bibliotecas Públicas

FORMAÇÃO E CAPACITAÇÃODE RECURSOS HUMANOS DA ANTT

Secretaria de Trabalho, Emprego e Promoção Social Piraí do Sul/PR: Órgão Gestor

Violência contra crianças e adolescentes: uma análise descritiva do fenômeno

POLÍTICA DE SUSTENTABILIDADE

VIII Jornada de Estágio de Serviço Social ASSOCIAÇÃO REVIVER DE ASSISTÊNCIA AO PORTADOR DO VÍRUS HIV

PORTARIA Nº 1.944, DE 27 DE AGOSTO DE 2009

DIREITOS HUMANOS, JUVENTUDE E SEGURANÇA HUMANA

Bacharelado em Serviço Social

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO VIÇOSA/ALAGOAS PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGCIO

Educação Integral em Sexualidade. Edison de Almeida Silvani Arruda Guarulhos, setembro 2012

SEDE NACIONAL DA CAMPANHA

EIXO DE TRABALHO 01 DIREITO A CIDADANIA, PARTICIPAÇÃO SOCIAL E POLÍTICA E A REPRESENTAÇÃO JUVENIL

VIII Jornada de Estágio de Serviço Social. A PRÁTICA DO SERVIÇO SOCIAL NA ASSOCIAÇÃO MINISTÉRIO MELHOR VIVER- AMMV

Câmara Municipal de Uberaba A Comunidade em Ação LEI Nº 7.904

TERMO DE REFERÊNCIA SE-001/2011

DIREITOS DOS IDOSOS: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

Diretrizes Consolidadas sobre Prevenção, Diagnóstico, Tratamento e Cuidados em HIV para as Populações-Chave

Secretaria Municipal de Assistência Social Centro de Referência Especializado de Assistência Social

PROJETO. A inserção das Famílias no CAMP

********** É uma instituição destinada ao atendimento de crianças de 0 a 3 anos e faz parte da Educação Infantil. Integra as funções de cuidar e

Rede de Atenção Psicossocial

INVESTIMENTO SOCIAL. Agosto de 2014

SR-3/PRODEC PROGRAMA DE ESTUDOS E DESENVOLVIMENTO DO CONSUMIDOR

É projeto porque reúne propostas de ação concreta a executar durante determinado período de tempo. É político por considerar a escola como um espaço

Roteiro de Diretrizes para Pré-Conferências Regionais de Políticas para as Mulheres. 1. Autonomia econômica, Trabalho e Desenvolvimento;

Plano de Ação de Educação em Direitos Humanos

O sistema de garantia dos direitos humanos das crianças e dos adolescentes: responsabilidades compartilhadas.

Carta Aberta aos candidatos e candidatas às prefeituras e Câmaras Municipais

Sistema Único de Assistência Social

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Prevenção PositHIVa. junho Ministério da Saúde

O POTENCIAL DE CONTRIBUIÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA ASSESSORIA AOS MOVIMENTOS SOCIAIS NA LUTA PELA SAÚDE

O Projeto Casa Brasil de inclusão digital e social

Estado da Arte: Diálogos entre a Educação Física e a Psicologia

Re s p o n s a b i l i z a ç ã o e

Redes Intersetoriais no Campo da Saúde Mental Infanto-Juvenil

EIXO IV QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO, PERMANÊNCIA, AVALIAÇÃO, CONDIÇÕES DE PARTICIPAÇÃO E APRENDIZAGEM

EDITAL UNIFEM. Podem ser apresentados projetos de organizações da sociedade civil que cumpram os seguintes requisitos mínimos:


RESOLUÇÃO Nº 027/2014 DE 25 DE ABRIL DE 2014

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO ELEMENTOS PARA O NOVO PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

Apoio às políticas públicas já existentes;

Tabela 1 Total da população 2010 Total de homens Total de mulheres Homens % Mulheres % Distrito Federal

VIGILÂNCIA SOCIAL E A GESTÃO DA INFORMAÇÃO: A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO, MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO

CURSO: ENFERMAGEM. Objetivos Específicos 1- Estudar a evolução histórica do cuidado e a inserção da Enfermagem quanto às

INSTITUTO INTERAMERICANO DE COOPERAÇÃO PARA A AGRICULTURA. TERMO DE REFERÊNCIA CONS - OPE Vaga

CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SANTA CATARINA

INSERÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA EM UMA UNIDADE DE SAÚDE EM PONTA GROSSA-PR

Mostra de Projetos Cozinha Escola Borda Viva

II SEMINÁRIO CATARINENSE PRÓ- CONVIVENCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA ABORDAGEM SÓCIO PEDAGÓGICA NA RUA

SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE SES/GO

especialidade Psic. Raquel Pusch

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE ATENDIMENTO AO DISCENTE

NÚCLEO TÉCNICO FEDERAL

Prêmio Itaú-Unicef Fundamentos da edição Ações Socioeducativas

PROGRAMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E MOBILIZAÇÃO SOCIAL EM SANEAMENTO - PEAMSS

BANCO DE AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA

Serviços de Extensão. O que é?

Experiência: VIGILÂNCIA À SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

PODER JUDICIÁRIO VARA CENTRAL DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER SP

Carta de Campinas 1) QUANTO AO PROBLEMA DO MANEJO DAS CRISES E REGULAÇÃO DA PORTA DE INTERNAÇÃO E URGÊNCIA E EMERGÊNCIA,

de Gays, HSHe Travestis, criado em março de 2008, pelo Governo Federal. Considerando que o plano traça diretrizes de combate às vulnerabilidades

PROGRAMA ULBRASOL. Palavras-chave: assistência social, extensão, trabalho comunitário.

PROJETO TANGRAM. Construindo Possibilidades

AGENDA NACIONAL DE TRABALHO DECENTE PARA OS TRABALHADORES E TRABALHADORAS DO SUS (ANTD-SUS)

ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE PROJETOS

PORTARIA NORMATIVA Nº 3, DE 25 DE MARÇO DE 2013

Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa, a mediação pedagógica na educação a distância no acompanhamento virtual dos tutores

Organização dos Estados Ibero-americanos Para a Educação, a Ciência e a Cultura MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO

PALAVRAS-CHAVE Rede de Proteção. Criança e adolescente. Direitos Humanos. Violência

CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL CENTRO DE REFERÊNCIA TÉCNICA EM PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS

Transcrição:

INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR PARA A GARANTIA DOS DIREITOS SEXUAIS E REPRODUTIVOS DE ADOLESCENTES Resumo Daiane Carvalho de Oliveira 1 Christiane Zeitoune 2 Eliana Silva 3 O presente trabalho objetiva relatar a intervenção profissional do assistente social em equipe multidisciplinar na elaboração e implementação de ações de garantia dos direitos sexuais e reprodutivos dos (as) adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa no Estado do Rio de Janeiro. Essa atuação profissional busca o reconhecimento dos (as) adolescentes enquanto sujeitos de direitos humanos, sendo indispensável para o exercício da cidadania o respeito a sua identidade de gênero e orientação sexual. Palavras chaves: direitos humanos; equipe multidisciplinar; socioeducação; direitos sexuais e direitos reprodutivos. O presente artigo é fruto da análise do trabalho desenvolvido por equipe multidisciplinar na garantia da saúde sexual e reprodutiva de adolescentes e dos seus direitos sexuais e reprodutivos no âmbito do sistema socioeducativo do Estado do Rio de Janeiro. Minhas reflexões, intervenções e experiências advindas do trabalho de assistente social com adolescentes em diferentes espaços institucionais, possibilitou a percepção da importância do reconhecimento da sexualidade e da diversidade na adolescência como indispensável para a garantia da integridade e dos direitos humanos desse público. Todavia a garantia desses direitos no sistema socioeducativo pressupõe a superação de obstáculos sustentados por uma cultura punitiva, heteronormativa e da negação do direito. Para iniciarmos a análise da intervenção multidisciplinar da equipe técnica da Coordenação de Saúde Integral e Reinserção Social do DEGASE CSIRS, em especial da atuação do assistente social, na implementação de ações de saúde que possibilita a construção de condições para a garantia dos direitos sexuais e reprodutivos dos (as) 1 Assistente social do Departamento Geral de Ações Socioeducativas do Estado do Rio de Janeiro DEGASE, Pós-graduada em Serviço Social e Saúde pela UERJ e especialista em Saúde do Adolescente pelo NESA/HUPE/UERJ oliveira.daiane@ibest.com.br 2 Psicóloga e Coordenadora de Saúde Integral e Reinserção Social DEGASE e doutora em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ - christianezeitoune@gmail.com 3 Médica psiquiatra do Departamento Geral de Ações Socioeducativas do Estado do Rio de Janeiro DEGASE - elianasilva2004@gmail.com

adolescentes, torna-se necessário apresentarmos dois pontos: em primeiro lugar, o trabalho desenvolvido pelo DEGASE e pela CSIRS; em segundo lugar, as oportunidades aproveitadas e as estratégias construídas coletivamente pela equipe multidisciplinar para garantir os direitos sexuais e reprodutivos dos (as) adolescentes no contexto da socioeducação. A doutrina de proteção integral à criança e ao adolescente preconizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) e inserida na ordem jurídica do Brasil, na Constituição da República de 1988 e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei n.º 8.069/1990, preconiza como dever da família, da sociedade e do Estado à garantia dos direitos universais e integral de crianças e adolescentes, considerando-os enquanto sujeitos em desenvolvimento e definindo a aplicação de medidas socioeducativas aos adolescentes em conflito com a lei. Segundo o ECA as medidas socioeducativas devem possuir caráter pedagógico, favorecer a convivência familiar e comunitária e levar em conta a capacidade do adolescente em cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração. Especialmente o artigo 100 do ECA, é elucidativo da finalidade destas prerrogativas: Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. O Departamento Geral de Ações Socioeducativas (DEGASE) é um órgão do poder executivo criado pelo decreto nº 18.493, de 26 de janeiro de 1993, vinculado a Secretaria de Estado de Educação, que tem como missão promover a socioeducação no Estado do Rio de Janeiro, favorecendo a formação de pessoas autônomas, cidadãos solidários e profissionais competentes, possibilitando a construção de projetos de vida e a convivência familiar e comunitária. Com o objetivo de melhoria na qualidade do atendimento prestado ao adolescente em conflito com a lei e, ao mesmo tempo, cumprir os preceitos legais estabelecidos pelo ECA e pelo Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo SINASE, Lei Federal nº 12.594, o DEGASE passou por uma reorganização do espaço físico das suas instalações, estabeleceu parcerias com a organização da sociedade civil, ampliou o seu quadro de recursos humanos e investiu na capacitação e aperfeiçoamento contínuo dos profissionais, inclusive nos temas relacionados à saúde integral do adolescente.

A Coordenação de Saúde Integral e Reinserção social do DEGASE CSIRS é responsável pela implementação e gerenciamento das ações de saúde nas unidades de socioeducação. Sua equipe técnica é multidisciplinar, sendo composta por profissionais de psicologia, serviço social, enfermagem e medicina, com uma atuação profissional direcionada a assegurar um atendimento integral e integrado aos adolescentes, com vista a sua reinserção social e garantia de sua saúde integral. Nesta direção a CSIRS estabeleceu como uma das prioridades de trabalho a implementação da Portaria do Ministério da Saúde MS, nº 1.082 de maio de 2014 que redefine as diretrizes da Política Nacional de Atenção Integral à saúde do Adolescente em Conflito com a Lei, em Regime de Internação e Internação Provisória (PNAISARI). A implantação da PNAISARI no âmbito do Novo DEGASE pauta-se no reconhecimento que a prática do ato infracional não anula a condição peculiar do (a) adolescente enquanto pessoas em desenvolvimento e portadora de direitos, em especial o direito a vida e a saúde, sendo imprescindível o desenvolvimento de ações de saúde que respeite os direitos humanos, à integridade física e mental dos (as) adolescentes, o respeito à identidade, o enfrentamento ao estigma e o preconceito, a garantia do acesso universal, da atenção humanizada e da integralidade do cuidado à saúde do (a) adolescente. Nesta perspectiva de garantia dos direitos humanos dos (as) adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas pelo âmbito das ações de saúde, torna-se emergencial e indispensável a realização de um debate acerca da saúde sexual e reprodutivas dos (as) adolescentes e a garantia de seus direitos sexuais e reprodutivos, reconhecendo assim, a sexualidade e a diversidade na adolescência, permeadas por questões de gênero, identidade de gênero e orientação sexual. A equipe multidisciplinar da CSIRS do DEGASE na implementação de ações de saúde no contexto da socioeducação, reconhece a prioridade no desenvolvimento de ações de promoção, prevenção e assistência à saúde sexual e reprodutiva dos (as) adolescentes para a integralidade do cuidado à saúde. Essas ações ocorrem a partir do enfoque da educação em saúde e do trabalho coletivo, na perspectiva de reconhecer os adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa como atores fundamentais na promoção e restabelecimento de sua saúde. Sendo priorizada a realização de ações participativas para os adolescentes, favorecendo a efetivação de um espaço de escuta e

fala desses sujeitos e real identificação de suas demandas e necessidades de saúde sexual e reprodutiva. Apesar das prerrogativas legais em relação à prioridade de ações de promoção e prevenção da saúde sexual e reprodutiva de adolescentes em conflito com a lei, conforme aponta a PNAISARI, Portaria Nº 1.082 do MS e o SINASE, Lei 12.594/12, o seu art.60, inciso IV, deixa claro que uma das diretrizes que compõem a atenção à saúde integral do adolescente no Sistema Socioeducativo é a disponibilização de ações de atenção à saúde sexual e reprodutiva e à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. Entretanto na prática a sexualidade adolescente continua desprotegida, um dos fatos que justifica essa afirmação é a impossibilidade de acesso a preservativo masculino e feminino nas unidades de socioeducação. Esse tema sofre preconceito e é considerado menos relevante no sistema socioeducativo, pois o exercício da sexualidade na privação de liberdade ainda é vista por grande parcela dos profissionais da socioeducação, assim como do judiciário e da sociedade em geral, a partir do moralismo e como um beneficio para os adolescentes, nesta lógica a perspectiva do direito é ignorado. Como forma de avançar no debate e na busca da superação desses limites, a partir do entendimento que os direitos sexuais e reprodutivos devem ser respeitados a fim de evitar situações de violação de direitos e vulnerabilidades à saúde dos (as) adolescentes, garantindo assim, a efetivação dos direitos humanos. O serviço social e a equipe multidisciplinar da CSIRS adotou como estratégia de intervenção o fortalecimento do debate acerca de temas fundamentais para a garantia desses direitos. Sendo trabalhada tanto nas ações com os (as) adolescentes, como nas capacitações profissionais, temáticas sobre a equidade de gênero, sexualidade na adolescência, diversidade sexual, identidade de gênero e nome social. O fortalecimento desse debate no sistema socioeducativo constitui-se como um movimento político de defesa dos direitos humanos e aponta para a compreensão da sexualidade humana como uma dimensão fundamental de todas as etapas da vida de homens e mulheres, sendo assim, a privação da liberdade não exclui essa dimensão da vida. Contudo ao compreendermos o exercício da sexualidade humana como manifestação histórica, cultural e social que se constrói e reconstrói conforme as relações sociais vigentes; fica evidente que a sua vivência será condicionada pelas

relações e estruturas sociais em que os sujeitos estão inseridos, e no contexto da privação de liberdade, em especial para adolescentes, a sua vivência vem sendo marcada por múltiplas formas de desigualdades, vulnerabilidades e violação de direitos. Sendo assim, a CSIRS além de avançar com o fortalecimento do debate e capacitação profissional em relação ao tema, compõe o GT - Grupo de Trabalho responsável pela construção do programa Saúde e Sexualidade do adolescente, requisito necessário para o exercício da visita íntima, que passou a ser direito do adolescente em privação de liberdade com promulgação do SINASE. No âmbito do DEGASE o termo estabelecido foi visita afetiva e seus critérios de implementação foram construídos, sendo garantido a todos os (as) adolescentes, independentes de identidade de gênero e orientação sexual o direito ao exercício da visita íntima, desde que atendam os requisitos básicos; são eles: 16 anos de idade completos, Autorização de um dos pais ou responsáveis de cada adolescente (suprimento de autorização pela via judicial), Participação no Programa de Saúde e Sexualidade pelo período determinado pela Comissão de Avaliação, Relacionamento íntimo com unicamente um parceiro de referência cadastrado por medida e Comprovação material do casamento ou da união estável, a união estável poderá ser comprovada através de fotos, testemunhas e certidão de nascimento de filhos. Para a efetivação deste direito no DEGASE é necessário à adequação do espaço físico nas unidades de internação masculina e feminina. Ainda como avanço na garantia dos direitos sexuais e reprodutivos dos adolescentes em conflito com a lei, a CSIRS vem dialogando com outras coordenações do DEGASE a necessidade é o direito de incluir o nome social dos (as) adolescentes nos instrumentos e fichas de acompanhamento da medida socioeducativa e disponibilizou profissionais de serviço social com especialização na área para prestar assessoria e consultoria as unidades socioeducativas que possuem adolescentes transsexuais, garantindo assim o respeito a sua identidade de gênero e orientação sexual. É evidente que essas ações contribuem para o fortalecimento do debate acerca desse tema indispensável à socioeducação e a garantia dos direitos humanos e marca um posicionamento político da equipe da CSIRS comprometido com a efetivação e alargamento de direitos. Contudo compreendemos a importância da institucionalização e efetivação dos direitos sexuais e reprodutivos dos adolescentes para além das ações de

saúde, sendo inserido e reconhecido na perspectiva dos direitos humanos no âmbito de todo o sistema socioeducativo. Considerações Finais A intervenção profissional da equipe multidisciplinar da CSIRS vem sendo reconhecida de forma positiva pelos profissionais do Departamento Geral de Ações Socioeducativas DEGASE, uma vez que essa equipe é requisitada a prestar assessoria e consultoria em relação essa temática, contribuindo assim na construção de práticas menos normativas e abertas ao reconhecimento da sexualidade na adolescência enquanto direito, valorizando o seu exercício de forma autônoma e com respeito à diversidade. A atuação do assistente social como membro desta equipe multidisciplinar vem assumindo lugar de destaque na materialização dessas ações, uma vez que esse profissional por meio de um compromisso ético e político atua na perspectiva do enfretamento a todas as formas de discriminação e preconceito. Além de agregar conhecimento teórico-metodológico e ético-político ao aprofundamento do debate, visto que o profissional por meio de experiências anteriores de trabalho pode perceber a importância da garantia dos direitos sexuais e reprodutivos para a vivência da sexualidade adolescente de forma prazerosa e protegida, ampliando o acesso a cidadania e a garantia de direitos. A garantia desses direitos no âmbito do sistema socioeducativo reconhece que o exercício da sexualidade de forma prazerosa, protegida e sem práticas preconceituosas favorece aos adolescentes repensem suas escolhas, valores, modos de vida, relações e construir um novo projeto de vida afastado da prática do ato infracional. Deste modo, o objetivo principal das medidas socioeducativas é contribuir para a formação de pessoas autônomas, cidadãos solidários e profissionais competentes, sendo necessário reconhecer a dimensão da sexualidade humana para efetivação deste processo de formação. É importante compreendermos que esses avanços e conquistas no plano legal, conceitual e político não representam a aceitação e a garantia imediata de direitos no cotidiano da vida dos adolescentes. Sendo indispensável o fortalecimento e ampliação das ações de proteção dos direitos sexuais e reprodutivos nas unidades de socioeducação. O fortalecimento dessas ações devem priorizar o diálogo livre, aberto,

transformador e democrático nas instituições, buscando promover a inserção social dos (as) adolescentes enquanto sujeitos de direitos. Referências Bibliográficas ABRAMO, H. W; FREITAS, M. V; SPOSITO, M. P (Org). Juventude em debate. São Paulo: Cortez, 2000. AYRES, J. R. C. M (Coord). Adolescentes e Jovens vivendo com HIV/Aids: cuidado e promoção da saúde no cotidiano da equipe multiprofissional. São Paulo: USP, 2004. BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens na Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde. Brasília, 2010. BRASIL. Fundação Oswaldo Cruz. Um olhar sobre o jovem no Brasil. Brasília, 2008b. BRASIL. Ministério da Saúde. Orientações para Organização de Serviços de Saúde. Brasília, 2005. BRASIL. Ministério da Saúde. Orientações Básicas para Atenção Integral à Saúde dos Adolescentes nas Escolas e Unidades de Saúde. Brasília, 2010. BRASIL. Ministério da Saúde. Cartilha Direitos Sexuais, Direitos Reprodutivos e Anticoncepcionais. Brasília, 2007. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria Nº 1.082 que redefine as diretrizes da Política Nacional de Atenção Integral à saúde do Adolescente em Conflito com a Lei, em Regime de Internação e Internação Provisória (PNAISARI). Brasília, 2014. BRASIL. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Marco teórico e referencial: saúde sexual e saúde reprodutiva de adolescentes e jovens. Brasília: Ministério da Saúde, 2006b. BRASIL. LEI N 8.069, DE 13 de JULHO DE 1990, Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providenciais. BRASIL. Lei nº 8080, 19 de setembro de 1990 e Lei nº 8142, 28 de dezembro 1990. Lei Orgânica da Saúde (alterada e atualizada).

BRANDÃO, Elaine Reis. Gravidez na adolescência: um balanço bibliográfico. In: HEILBORN, Maria Luiza et al. (Orgs.) O aprendizado da sexualidade: reprodução e trajetórias sociais de jovens brasileiros. Rio de Janeiro: Garamond e Fiocruz, 2006. CASTRO, Mary Garcia e ABRAMOVAY, Miriam. Cultura, identidades e cidadania: experiências com adolescentes em situação de risco. In: Jovens acontecendo nas políticas públicas. Brasília: CNPD, 1998. CORRÊA, Sonia e AVILA, Maria Betânia. Direitos sexuais e reprodutivos - Pauta global e percursos brasileiros. In: BERQUO, Elza (Org.). Sexo & vida: panorama da saúde reprodutiva no Brasil. Campinas: Editora UNICAMP, 2003. CORRÊA, Sonia e PETCHESKY, Rosalind. Direitos sexuais e reprodutivos: Uma Perspectiva Feminista. Revista Physis, Vol 6, Nº 1/2, Rio de Janeiro: IMS/UERJ, 1996: 147-175. FOUCAULT, M. História da sexualidade. Vol. 1. Rio de Janeiro: Graal; 1985. HEILBORN, M. L. Gênero, sexualidade e saúde. Saúde, sexualidade e Reprodução: Compartilhando responsabilidades, Rio de Janeiro: UERJ, 1995: 101:109. Entre as tramas da sexualidade brasileira. Estudos Feministas Universidade Federal de Santa Catarina, v.7, n.1-2. Florianópolis: UFSC, 1999. LEITE, Vanessa. Sexualidade Adolescente como direito? A Visão de formuladores de políticas públicas. IMS/UERJ, 2009. OLIVEIRA, Daiane Carvalho. CLINISEX: Suas possíveis contribuições na formação profissional dos alunos egressos. Trabalho de Conclusão de especialização. RJ: UERJ, 2013. Direitos sexuais e direitos reprodutivos na adolescência: desafios da prática. In GRANEIRO, Fernanda, OLIVEIRA, Saulo, GOMES, Verônica (org.) Eixos para a saúde de adolescentes e jovens. Rio de Janeiro: Flizo, 2014, PP. 133-141.