A MULHER ADULTA UNIVERSITARIA: perspectiva de uma nova profissão



Documentos relacionados
A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE PEDAGOGIA DA FESURV - UNIVERSIDADE DE RIO VERDE

O ESTUDO DE AÇÕES DE RESPONSABILIDADE SOCIAL EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR MUNICIPAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: ELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

OS CANAIS DE PARTICIPAÇÃO NA GESTÃO DEMOCRÁTICA DO ENSINO PÚBLICO PÓS LDB 9394/96: COLEGIADO ESCOLAR E PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

OS SENTIDOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NA CONTEMPORANEIDADE Amanda Sampaio França

O professor que ensina matemática no 5º ano do Ensino Fundamental e a organização do ensino

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS ÀS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DO RECIFE/PE

Fundação: Sócio-Fundador: Sócia-Diretora Administrativa: Atuação Principal: São Paulo:

O LÚDICO COMO INSTRUMENTO TRANSFORMADOR NO ENSINO DE CIÊNCIAS PARA OS ALUNOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA.

BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS NOS ANOS INICIAIS: UMA PERSPECTIVA INTERGERACIONAL

CASTILHO, Grazielle (Acadêmica); Curso de graduação da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Goiás (FEF/UFG).

Direito a inclusão digital Nelson Joaquim

MÍDIAS NA EDUCAÇÃO Introdução Mídias na educação

A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA À DISTÂNCIA SILVA, Diva Souza UNIVALE GT-19: Educação Matemática

AS CONTRIBUIÇÕES DAS VÍDEO AULAS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO.

Informações gerais Colégio Decisão

Profa. Ma. Adriana Rosa

O PROCESSO DE INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIAS NO MUNICÍPIO DE TRÊS LAGOAS, ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL: ANÁLISES E PERSPECTIVAS

O ESTÁGIO SUPERVISIONADO COMO ESPAÇO DE CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOCENTE DE LICENCIANDOS EM MATEMÁTICA

PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: COMPROMISSOS E DESAFIOS

AÇÕES FORMATIVAS EM ESPAÇO NÃO ESCOLAR: UM ESTUDO DE CASO NO PROJETO SORRIR NO BAIRRO DO PAAR

Daniel. -, 30% de professores estrangeiros e 30% termos de trabalho e desenvolvimento, quer. feita desta forma?

Instituto Educacional Santa Catarina. Faculdade Jangada. Atenas Cursos

CURSO: EDUCAR PARA TRANSFORMAR. Fundação Carmelitana Mário Palmério Faculdade de Ciências Humanas e Sociais

Formação e Gestão em Processos Educativos. Josiane da Silveira dos Santos 1 Ricardo Luiz de Bittencourt 2

INTEGRAÇÃO UNIVERSIDADE X ENSINO MÉDIO: INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR EM ADMINITRAÇÃO, INFORMÁTICA E EDUCAÇÃO.

O COORDENADOR PEDAGÓGICO COMO MEDIADOR DE NOVOS CONHECIMENTOS 1

Necessidade e construção de uma Base Nacional Comum

AS RELAÇÕES DO ESTUDANTE COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E SUAS IMPLICAÇÕES NO ENSINO REGULAR INCLUSIVO

9. Os ciclos de aprendizagem e a organização da prática pedagógica

O COORDENADOR PEDAGÓGICO E AS REUNIÕES PEDAGÓGICAS POSSIBILIDADES E CAMINHOS

Futuro Profissional um incentivo à inserção de jovens no mercado de trabalho

INCLUSÃO DE ALUNOS SURDOS: A GESTÃO DAS DIFERENÇAS LINGUÍSTICAS

PEDAGOGO E A PROFISSÃO DO MOMENTO

PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL (PPI) DISCUSSÃO PARA REESTRUTURAÇÃO DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL

PROFESSOR FORMADOR, MESTRE MODELO? ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de PUC-SP PASSOS, Laurizete Ferragut UNESP GT-20: Psicologia da Educação

A PRÁTICA INVESTIGATIVA NO CURSO DE PEDAGOGIA: AVANÇOS E DESAFIOS A FORMAÇÃO DO PEDAGOGO NO CONTEXTO ATUAL

MANUAL DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO ADMINISTRAÇÃO

Jéssica Victória Viana Alves, Rospyerre Ailton Lima Oliveira, Berenilde Valéria de Oliveira Sousa, Maria de Fatima de Matos Maia

Gráfico 1 Jovens matriculados no ProJovem Urbano - Edição Fatia 3;

Módulo 14 Treinamento e Desenvolvimento de Pessoas Treinamento é investimento

A FORMAÇÃO CONTINUADA E O USO DAS TIC NA SALA DE AULA: uma análise a luz da Teoria Kellyana

A aula de leitura através do olhar do futuro professor de língua portuguesa

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NUMA ESCOLA DO CAMPO

4 - SESSÃO RESENHA DE LIVRO. Alessandra Balbi Rita Puga. Livro: Terceira Idade & Atividade Física

TUTORIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Maria Teresa Marques Amaral. Introdução

Prefeitura Municipal de Santos

UNIDADE III Análise Teórico-Prática: Projeto-intervenção

Profª. Maria Ivone Grilo

LEITURA E ESCRITA NO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA PROPOSTA DE APRENDIZAGEM COM LUDICIDADE

FACULDADE DE CALDAS NOVAS UNICALDAS SANDRA REGINA SILVA MARTINS NÚCLEO DE ATENDIMENTO PSICOPEDAGÓGICO CALDAS NOVAS 2013

II Congresso Nacional de Formação de Professores XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores

2 METODOLOGIA DA PESQUISA

Dicas que ajudam pais na escolha da escola dos seus filhos

O mundo lá fora oficinas de sensibilização para línguas estrangeiras

ISSN PROJETO LUDICIDADE NA ESCOLA DA INFÂNCIA

POR QUE FAZER ENGENHARIA FÍSICA NO BRASIL? QUEM ESTÁ CURSANDO ENGENHARIA FÍSICA NA UFSCAR?

SEDUC SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO ESCOLA ESTADUAL DOMINGOS BRIANTE ANA GREICY GIL ALFEN A LUDICIDADE EM SALA DE AULA

PROJETO MEDIAR Matemática, uma Experiência Divertida com ARte

Pedagogia Estácio FAMAP

JOGOS ELETRÔNICOS CONTRIBUINDO NO ENSINO APRENDIZAGEM DE CONCEITOS MATEMÁTICOS NAS SÉRIES INICIAIS

Desafiando o preconceito: convivendo com as diferenças. Ana Flávia Crispim Lima Luan Frederico Paiva da Silva

EEFM Raimundo Marques de Almeida

Gênero: Temas Transversais e o Ensino de História

O uso de jogos no ensino da Matemática

OS SABERES PROFISSIONAIS PARA O USO DE RECURSOS TECNOLÓGICOS NA ESCOLA

TÍTULO: PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS PROFISSIONAIS FORMANDOS DA ÁREA DE NEGÓCIOS DA FACIAP

PRÁTICAS LÚDICAS NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESCRITA DO INFANTIL IV E V DA ESCOLA SIMÃO BARBOSA DE MERUOCA-CE

O PSICÓLOGO (A) E A INSTITUIÇÃO ESCOLAR ¹ RESUMO

A LUDICIDADE NO CONTEXTO ESCOLAR

PROGRAMA DE EXTENSÃO PROEX

O olhar do professor das séries iniciais sobre o trabalho com situações problemas em sala de aula

EDUCAÇÃO AMBIENTAL & SAÚDE: ABORDANDO O TEMA RECICLAGEM NO CONTEXTO ESCOLAR

5 Considerações finais

AIMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO CONTINUADA COLABORATIVA ENTRE PROFESSORES QUE ATUAM COM PESSOAS COM AUTISMO.

Educação. em territórios de alta. vulnerabilidade

APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA ATRAVÉS DO LUDICO

ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA: TEMA, PROBLEMATIZAÇÃO, OBJETIVOS, JUSTIFICATIVA E REFERENCIAL TEÓRICO

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DO TREINAMENTO NA MOTIVAÇÃO DE SERVIDORES PÚBLICOS FEDERAIS

5 Conclusão. FIGURA 3 Dimensões relativas aos aspectos que inibem ou facilitam a manifestação do intraempreendedorismo. Fonte: Elaborada pelo autor.

O TRABALHO DOCENTE NUM PROGRAMA DE ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: CONTRADIÇÕES E PERSPECTIVAS

Educação Básica PROPOSTAS. Universalização da Educação Básica de qualidade

TEXTO RETIRADO DO REGIMENTO INTERNO DA ESCOLA APAE DE PASSOS:

LUDICIDADE: INTRODUÇÃO, CONCEITO E HISTÓRIA

Denise Fernandes CARETTA Prefeitura Municipal de Taubaté Denise RAMOS Colégio COTET

O AMBIENTE MOTIVADOR E A UTILIZAÇÃO DE JOGOS COMO RECURSO PEDAGÓGICO PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA

O Curso de Graduação em Ciências da Religião nas Faculdades Integradas Claretianas em São Paulo

PEDAGOGIA EM AÇÃO: O USO DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS COMO ELEMENTO INDISPENSÁVEL PARA A TRANSFORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL

Projeto: PEQUENOS OLHARES, GRANDES CAMINHOS

FACULDADES INTEGRADAS SIMONSEN INTERVENÇÃO EDUCATIVA INSTITUCIONAL PROJETO PSICOPEDAGÓGICO

A escola para todos: uma reflexão necessária

Plano de Ação da Orientação Educacional. 01- Introdução

O PROCESSO DE INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: UM ESTUDO DE METODOLOGIAS FACILITADORAS PARA O PROCESSO DE ENSINO DE QUÍMICA

O Papel da Educação Patrimonial Carlos Henrique Rangel

TÍTULO: PERFIL DOS ALUNOS INGRESSANTES NO CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL COLABORADOR(ES): MARINÊS ELISA SALAMI, NEIVA ISOLETE DOS SANTOS THEISEN

O ESTÁGIO SUPERVISIONADO COMO BUSCA DE UMA POSTURA METODOLÓGICA REFLEXIVA E INVESTIGADORA E A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE PROFISSIONAL DO FUTURO DOCENTE

Centro Acadêmico Paulo Freire - CAPed Maceió - Alagoas - Brasil ISSN:

difusão de idéias A formação do professor como ponto

REPERCUSSÕES NO ENSINO DA ENFERMAGEM: A VISÃO DOS PROFISSIONAIS À LUZ DAS SUAS EXPERIÊNCIAS

Transcrição:

852 A MULHER ADULTA UNIVERSITARIA: perspectiva de uma nova profissão Mirian Paludetto 1 - Uni-FACEF Patrícia S.M.F. Espírito Santo 2 - Uni-FACEF Introdução Atualmente, em relação a um passado não muito distante, vivemos um considerável aumento de expectativa de vida do ser humano que, paralelamente às melhores condições físicas e materiais oferecidas, põe em relevo a necessidade de reflexões sobre o significado maior que este prolongamento de vida oferece para as pessoas e como vivê-lo. Neste contexto surge também um interesse referente à condição da mulher, que vivencia transformações profundas nas características de funções e papéis socialmente desempenhados: se joga como numa busca para viver um novo período de maneira mais profunda, mais plena, no preenchimento desse tempo a mais. Esse artigo, decorrente do trabalho de conclusão de curso intitulado - O aumento da longevidade e o significado de uma nova formação universitária para mulheres adultas - relata o trabalho feito sobre uma das alternativas da mulher adulta: ingressar na universidade após vivencias das mais diferentes percorridas até então. Revisão de literatura. O estudo, sob a ótica da Fenomenologia, constituiu-se de referenciais teóricos e pesquisas existentes a respeito de envelhecimento, longevidade, sentido de vida, conhecimento. Com respeito ao envelhecimento, longevidade e o sentido da vida foram levados em conta estudos e teorias sobre os ciclos da vida de Erickson, Levinson e Gold (revistos por BEE; MITCHELL,1986) com os períodos significativos que o ser humano passa ao longo de sua trajetória. Esses estudiosos, no entanto, embora pioneiros na consideração dos ciclos do desenvolvimento da vida adulta, apresentam poucas especificidades após os quarenta anos de vida das pessoas. 1 Mirian Paludetto Oliveira, psicóloga formada pelo Centro Universitário de Franca Uni-FACEF 2 Patrícia do Socorro Magalhães Franco do Espírito Santo, psicóloga clínica/docente do Uni-FACEF

853 Sabemos que o tempo de vida do ser humano é indeterminado e a realidade de hoje apresenta um homem com mais anos de vida, inserido das mais diferentes formas na nossa sociedade. Maffioletti (2005) postula um envelhecimento sem velhice, e que o saber envelhecer repousa em parâmetros diferentes: o social e o cultural. Novais (1995, apud VITOLA, 2004) salienta que o entender o envelhecimento exige uma capacidade de sentir e de se envolver no prazer com seus interesses pessoais e dos outros. A sociedade foi se transformando, a tecnologia surgindo e se aperfeiçoando e, paralelamente, as expectativas de vida acompanhando seus movimentos, oferecendo mais possibilidades a esse jovem velho. A mulher adulta ainda tem a seu favor uma longevidade maior do que a do homem. E a sociedade, por outro lado, inicia um "abrir portas", mesmo com dificuldade e diferenciação, para a entrada da mulher no domínio publico, sem deixar de querer a atuação no domínio privado. Canoas (1997) mostra muita força, rapidez e perspicácia da mulher como centro da família e das exigências de hoje pela sociedade e por ela mesma. O mundo mudou, a família contemporânea mudou. Cada elemento dessa constituição procura seus objetivos, seus interesses, seus caminhos. É Novaes (1995, apud VITOLA, 2004, p.180) quem diz que é preciso viver o aqui e agora projetado num futuro, quando um presente é bem vivido, há experiência de um futuro valioso. A mulher se insere nesse projeto... Projeto atual de vida contemporânea, vindo de um caminho trilhado de avanços e conquistas gradativas. O desenvolvimento tecnológico e cientifico vem trazendo cada vez mais complexidade ao mundo do trabalho, da relação e da competitividade, onde há uma exigência cada vez maior de conhecimento, encontrado no ensino sistematizado que é ministrado nas universidades. E a mulher adulta contemporânea, que para lá que se dirige, procura conhecimentos... mas conhecimento como busca de sentido ligado a uma nova profissão. No que diz respeito às concepções do sujeito sobre si mesmo, é preciso saber que o conhecimento é construído a partir da relação do sujeito com os objetos, das relações interindividuais e das relações mais amplas do sujeito com o mundo.todo individuo tem sua identidade própria, mas também é produto do desenvolvimento da vida na Terra. A sociedade atual esta se constituindo em uma sociedade da informação, em uma sociedade do conhecimento, uma sociedade da aprendizagem que requer uma nova leitura do mundo. É nesse contexto de mundo que a mulher adulta universitária se coloca e pode

854 vivenciar o aprender como processo contínuo onde o ser humano deve ser o sujeito ativo na construção do conhecimento (BELLUZZO, 2004, p.150). Balbinotti (2003) afirma que o adulto maduro que se propõe a novas escolhas profissionais e que necessita novamente exercitar o auto-conhecimento, a informação, o aprimoramento das habilidades deixadas muitas vezes adormecidas. É a oportunidade de novas escolhas... de novas possibilidades... Canoas (1997) diz que fazer cursos, voltar às universidades, deixou de ser extensão e vê um maior número de mulheres da meia idade nas universidades no futuro. E continua, afirmando que ser estudante na vida adulta é renascer para a juventude intelectual, para a independência, para a realização e confirma o estudo como qualidade de vida. Metodologia Durante a pesquisa, a questão principal do trabalho foi: qual é o significado pessoal desse estudo universitário para as mulheres adultas nele inseridas? Esta questão principal nos levou a uma atitude processual de investigação diante do desconhecido e dos limites que a natureza e a sociedade impõem. (DEMO, 2001, p.160). O trabalho caracterizou-se por uma pesquisa de natureza qualitativa, proeminentemente exploratória, com alguns aspectos descritivos. O desenvolvimento do método foi norteado pelas perspectivas da Fenomenologia, buscando compreender o sentido das atividades de estudo universitário para mulheres adultas que a elas se dedicam. Conforme Martins e Bicudo (2005, p.94), na perspectiva fenomenológica, todas as formas de objetividade implicam um relacionamento entre pesquisador e sujeito, portanto foi possível exercer exigências objetivas sobre os significados. O sujeito é tido como um atribuidor de significados e não um repetidor de idéias mecanicamente adquiridas. E ainda assinalam que, quanto ao método, a forma mais adequada para tratar-se com significados é procurar descobrir a realidade investigada tal como experienciada pelo sujeito, a qual é exposta nas suas descrições. Para este trabalho, as colaboradoras foram cinco mulheres adultas com idade a partir de quarenta anos, universitárias do Centro Universitário de Franca, SP (Uni- FACEF), alunas distribuídas entre o 1. e 9. semestres do curso de Graduação em Psicologia. As entrevistas foram semi-estruturadas, com inspiração fenomenológica, onde o alvo da investigação foi chegar aos significados atribuídos pelas colaboradoras à

855 situação pesquisada. Foram questões abertas, com flexibilidade para a abrangência de seu conteúdo, para a ordem de sua apresentação e para as respostas das entrevistadas. As questões foram delineadas procurando obter informações sobre o contexto de vida dessas mulheres (aspectos da história e do mundo familiar e profissional); sobre as percepções que elas têm dos conhecimentos e vivências proporcionados pelo curso que estão fazendo e sobre suas expectativas de atuação social a partir desses estudos. Foi possível entrever, nas falas das entrevistadas, o contexto social em que vivem, as reflexões que são elaboradas no dia a dia da universidade, o relacionamento com jovens, a inserção no ensino atual e aspectos da condição feminina atual. Resultados A análise das respostas obtidas nos levou a estabelecer os seguintes aspectos ou categorias de interpretação: O curso universitário tem efeitos transformadores nas pessoas. As entrevistadas deixaram bem claro em suas falas que o conhecimento estruturado e a participação concreta com jovens são fonte de reflexões interiores, de compreensão mutua e de aberturas para interpretações novas e de ações presentes. Também, que o conhecimento se processa de uma forma contínua e que a velhice não é um empecilho para se adquirir conhecimentos; o conhecimento, na idade madura, acontece!!! O envelhecimento é mais um ciclo e cada vez com maior duração, onde estão os conflitos, os anseios, os sonhos, as possibilidades e a capacidade de aprender também. O ritmo é outro apenas porque não há como desprezar tantos anos vividos anteriores a esta atual vivência, que é freqüentar uma universidade. Um momento de escolhas: a opção por si própria. As entrevistadas fizeram escolhas, durante toda a vida, em favor da família ou porque culturalmente não haviam aprendido a pensar em si, em seus anseios, seus sonhos. Seguem determinadas no curso, permitindo-se uma escolha na hora certa, para entrarem num mundo do trabalho com uma nova profissão. O ensino universitário: um resgatar de sonhos. O significado de estar na universidade para as entrevistadas é, sobretudo, fruto de sonhos. Sonhos realizados num resgatar de ilusões, num despertar de coisas adormecidas, que ficaram a espera. Vivê-las num contexto novo, escolhido por desejo,

856 com segurança e serenidade, é de uma satisfação imensurável. Seus valores pessoais, sua teoria de vida, da vida que levou até agora traz na bagagem, suas vivências, suas oportunidades, suas amizades, seus amores bem ou mal resolvidos, enfim o sentido que as fazem viver expressos até nos silêncios da entrevistas. O exercício profissional: uma realidade possível Todas as entrevistadas pretendem continuar especializando-se para o mercado de trabalho, frente a esta nova profissão, mesmo cientes da idade cronológica que têm, pois sabem das possibilidades de hoje, de se viver mais, com qualidade de vida e com novos planos. A busca incessante de significados de todo ser humano, a realização de sonhos, o sentido novo que se dá a vida é muito difícil de avaliar e, nas respostas das entrevistadas, cada uma têm seus sonhos próprios, seus valores e suas necessidades a preencher neste ciclo de vida vigente. As metas, no caso, a nova profissão, é um caminho viável e real, visto no entusiasmo de cada fala. Conclusão O aumento de expectativa de vida do ser humano traz a necessidade de reflexão sobre o tempo e o seu uso e seus significados. Surge também um interesse referente à condição da mulher, sobretudo em razão de sua trajetória histórica de transformações profundas nas características de suas funções e papéis sociais. O estudo na universidade surge como uma das alternativas para qualificar esse tempo com o qual se depara a mulher madura, com a percepção que ela tem de uma nova formação profissional, buscando detectar significados dessa vivência universitária. O trabalho dedicou-se a essa questão e seus dados mostraram: -o conhecimento implica movimentos internos que favorecem as atividades individuais, a realização de sonhos, a possibilidade de independência econômica e o prazer de aprender. -o estudo universitário oferece condição de se estar atualizado quanto ao mercado de trabalho, a realidade social e a imediata informação que possibilita atividades úteis à comunidade. -o ensino universitário na idade adulta, torna o conhecimento adquirido uma oportunidade para se re-conhecer, se re-avaliar, considerando a idade madura um ciclo ativo e de significados, pois, estar frequentando uma universidade pode permitir:

857 - re-colocar-se na família como um elemento, ao mesmo tempo, individual e coletivo, estabelecendo as prioridades do momento, equilibrando as outras funções que a mulher exerce na rotina familiar e procurando a compreensão e colaboração dos demais. - compreender e vivenciar uma rotina universitária, convivendo com jovens, aceitando as diferenças individuais como um estágio para atuação profissional. - sentir-se como modelo para outras pessoas que têm vontade de voltar à universidade - ajudar a esclarecer a respeito da vida da mulher adulta atual, no equilíbrio das jornadas que se propõe a fazer. - esclarecer-se sobre a continuidade de sonhos, desejos, objetivos e metas que na idade adulta se fazem presentes. - e, por fim, procurar lugar em ambiente mais jovem, para conceituar a velhice de maneira produtiva, capaz, ativa e sonhadora. O estudo teórico e os dados obtidos permitiram identificar motivos, apreender o significado do ensino universitário para mulheres adultas e compreender a percepção das transformações na vida delas. Cabe salientar que a generalização desses dados só será cabível se somados a muitos outros estudos, porém os resultados atingiram os objetivos propostos quanto ao âmbito das entrevistadas, ao local e à situação investigada. Referências BALBINOTTI, Helena B. F. Adulto maduro: o pulsar da vida. Porto Alegre: W.S. Editor, 2003. BEE, Helen L.; MICHELL, Sandra K.A. A pessoa em desenvolvimento. São Paulo: Harbra, 1986. BELLUZO, Regina C.B. A aprendizagem ao longo da vida: um desafio para a educação na sociedade do conhecimento. In RIVERO, Cléia.M.L.; GALLO, Silvio. (orgs) A formação de professores na sociedade do conhecimento. Bauru, SP: Edusc, 2004. CANOAS, Cilene S. O olhar feminino sobre 2010. São Paulo: Texto Novo, 1997. DEMO, Pedro. Pesquisa: principio cientifico e educativo. 2 ed. São Paulo: Cortez,1991. MAFFIOLETTI, Virginia L R. Velhice e família: reflexões clinicas. Revista Psicologia e Profissão, n.3, v.25, 2005. MARTINS, Joel; BICUDO, Maria A V. A pesquisa qualitativa em psicologia. 5 ed. São Paulo: Centauro, 2005. VITOLA, Janice O. C. Sentido da vida e realização pessoal de pessoas de terceira idade. in SAMIERA, Jorge C. (org). Psicologia comunitária: estudos atuais. 2 ed. Porto Alegre: Sulina, 2004.