SESSÃO: 255-S0 DATA: 27/08/15 FL: 1 DE 5 O SR. TONINHO VESPOLI (PSOL) - Boa tarde novamente a todos e a todas. Sempre estou tranquilo nesta Casa, mas aqui temos posição política. Eu fico admirado de ver alguns companheiros do PSDB virem aqui e falarem das maldades do Prefeito Haddad. Agora, também gosto de relembrar a história. Eu sou professor de matemática, mas a gente estuda história. Por exemplo, acabei de falar sobre a questão do subsídio para os funcionários públicos e temos de saber o que aconteceu. O fato é que quem mudou a Constituição não foi o PT, foi uma emenda constitucional do Fernando Henrique Cardoso que implantou o subsídio no Brasil. O problema é que o PT, a passos largos, está pegando o programa do PSDB e aplicando no Brasil. Então, se o PT está ruim, vocês foram a fonte, o DNA desses problemas todos que estão acontecendo aqui. Portanto, é bom a gente relembrar as coisas. Inclusive, se a gente for falar de maldade, é só lembrar o índice de desemprego que tinha aqui na época do Fernando Henrique. Não sei se há alguns jovens aqui, e talvez eles não saibam disso, mas você chegava para qualquer família e perguntava quantos desempregados havia naquela época em que o Sr. Fernando Henrique era Presidente, de cada quatro pessoas, duas estavam desempregadas. Então, se formos falar de maldade, há maldade para todos os lados. Mas vou entrar no tema de hoje: a questão do transporte individual, que é um debate que está acontecendo aqui na Cidade. Vou falar um pouco sobre a questão dos taxistas e dos aplicativos porque é uma pauta relevante para a discussão. A gente sabe hoje que existem poucos táxis para atender toda a demanda. Temos cerca de 35 mil táxis, mas, se esses aplicativos e a Uber estão operando do jeito que estão, é porque existe uma demanda reprimida e realmente as concessões dadas aos taxistas não estão sendo suficientes. A real situação dos taxistas, principalmente frotistas, é de extrema precariedade. Muitos são explorados no sistema de frotas ou pagam valores diários absurdos para uma espécie de aluguel de alvará. Então, há taxistas que saem e têm de pagar em torno de 170
SESSÃO: 255-S0 DATA: 27/08/15 FL: 2 DE 5 reais por dia, pagar o seu combustível, para depois conseguir lucro naquele dia. É uma enorme exploração destes taxistas. Essa atuação política de alvarás, que vigora desde 1988, há muito tempo vem se mostrando injusta e conflituosa. Primeiro, porque a concessão de serviços públicos deveria ocorrer por meio de licitação e não por sorteio como acontece hoje. Isso por si só, já é uma irregularidade sob meu ponto de vista. Porém, também sabemos que existem diversas denúncias do Departamento de Trânsito relacionadas à venda e locação de alvarás, o que é uma irregularidade muito grave. Na cidade de São Paulo, um alvará para táxi pode ser transferido de um condutor para outro desde que o titular exerça outra atividade. Temos conhecimento de que essa transferência não se dá de forma gratuita. No fim das contas, cada alvará acaba sendo vendido por 130, 140, até 200 mil reais, sob o pretexto de que se trata da venda do veículo. Mas qual carro custa 200 mil reais? Na verdade, esse valor engloba o carro e o alvará. Além desses problemas, hoje estamos diante de novas tecnologias os chamados aplicativos que atuam no ramo de transporte individual privado. Entretanto, esses aplicativos estão concorrendo de forma desleal com a atividade dos taxistas. Desleal porque, no exercício da atividade, não há cobrança de impostos, nem respeito aos direitos trabalhistas. Isso ocorre porque se trata de uma atividade nova, inexistindo, ainda, legislação municipal que crie regras para o seu funcionamento. A função desta Casa é a de debater, de forma democrática, as realidades que se colocam em nossa cidade. É nossa obrigação buscarmos soluções pela via do diálogo. Até aqui, na Câmara Municipal de São Paulo, às vezes, há conflito entre os Srs. Vereadores conflito que, sob meu ponto de vista, acaba estimulando a violência na sociedade civil. Portanto, temos de tratar muito bem essas questões, porque já há um tensionamento muito grande entre os motoristas que usam os aplicativos principalmente o Uber e os taxistas. O que fizermos aqui, nesta Casa, poderá potencializar, inclusive, a violência lá fora.
SESSÃO: 255-S0 DATA: 27/08/15 FL: 3 DE 5 Não podemos simplesmente fechar os olhos para a realidade e proibir que esse novo serviço seja oferecido, mas podemos e devemos criar regras para que ele ocorra dentro da legalidade, pagando os impostos e respeitando os direitos trabalhistas, o que, aliás, já foi feito em outras cidades do mundo. Ao estabelecermos esse debate, teremos uma oportunidade histórica de rever o modelo de transporte público individual, atualizando-o e tornando-o mais justo, transparente e eficiente para seus trabalhadores e para a população. Inclusive, a revisão das regras de serviço de táxi já vem ocorrendo, há alguns anos, em diversas cidades do mundo, justamente para acompanhar as novas realidades que se colocam. São Paulo não pode ficar parada no tempo, precisa acompanhar essa tendência a fim de suprir as necessidades de sua população. Hoje, temos apenas o aplicativo Uber oferecendo esse serviço de transporte individual privado. Porém, o mercado que é lucrativo tende a crescer e outras empresas aparecerão. Diante disso, é nosso papel criarmos, por exemplo, legislação específica para os trabalhadores desse setor, regulando horas extras máximas, pois todos sabemos que o tempo excessivo ao volante pode gerar acidentes graves. Também, precisamos regular formas de recolhimento previdenciário e demais direitos. Sem isso, esses trabalhadores ficarão exclusivamente à mercê das empresas de tecnologia. Por outro lado, as taxas e tributos cobrados poderão, por exemplo, subsidiar o transporte público coletivo de passageiros. Parece-me natural que um serviço privado de transporte individual, extremamente lucrativo, deva participar do subsídio do transporte público na cidade de São Paulo. Entendo que a proibição desse novo serviço não resolverá o problema. Pior: acirrará ainda mais os conflitos que temos visto, com o sequestro de motoristas, espancamento de motoristas e usuários do aplicativo e depredação de veículos. ao invés de mediá-lo. Infelizmente, temos visto Srs. Vereadores, desta Casa, estimularem esse conflito,
SESSÃO: 255-S0 DATA: 27/08/15 FL: 4 DE 5 Por meio de argumentos rasos e comportamentos agressivos, legitimam e potencializam as situações de violência que já estão ocorrendo. A violência, a agressividade e o dedo na cara não são o caminho certo para chegarmos a uma solução. Se quisermos resolver o conflito, precisamos discutir a regulamentação. E, mais do que isso, precisamos rever a legislação que regulamenta o serviço de táxi em nossa Cidade, que há muito tempo tem se demonstrado defasado e injusto para com seus trabalhadores. Concedo aparte ao nobre Vereador Adilson Amadeu. O Sr. Adilson Amadeu (PTB) Nobre Vereador Toninho Vespoli, parabéns por sua oratória e posições. Com respeito ao aplicativo Uber, ele veio na contramão no mundo, porque eles nem pediram licença para invadir a categoria dos taxistas. E não só no Brasil, mas também na Alemanha, em Portugal e em vários outros lugares do mundo, mas vamos falar de São Paulo. Os motoristas da Uber sequer têm alvará e Condutax. Nem curso fizeram para exercer a profissão. A Uber nunca quis e nunca veio a esta Casa de Leis para falar de regularização. Primeiro, e quero deixar registrado nas Notas Taquigráficas, eles são contraventores. Estão na contramão, não estão recolhendo impostos. Os Srs. Vereadores têm de defender as leis federais, municipais e estaduais e essa empresa, hoje, com mais de 2 mil carros, está tirando o ganha-pão da categoria dos taxistas. Se for para oferecer alguma coisa, tem de oferecer para aqueles que estão há anos aguardando um alvará, não a essa empresa da maneira como entrou. Eles vieram com um espírito de passar por cima das leis e da categoria. E agora estão falando em regularização? Sequer vieram, em algum momento. E acompanhei em Brasília, em Belo Horizonte, no Rio de Janeiro - e o nobre Vereador Salomão Pereira, expert nessa categoria, também acompanhou.
SESSÃO: 255-S0 DATA: 27/08/15 FL: 5 DE 5 Então precisamos analisar primeiro o que eles fizeram: passaram em cima da lei. Segundo, são 34.652 alvarás na cidade de São Paulo. E eles, hoje, simplesmente estão pondo carros à revelia na praça. Nobre Vereador Toninho Vespoli, temos de defender a lei e eles estão passando por cima dela. A exposição de V.Exa. está correta, da maneira como está se posicionando. E, na minha maneira de ver, a posição deles é incorreta porque eles estão passando em cima da lei. Muito obrigado. O SR. TONINHO VESPOLI (PSOL) Nobre Vereador Adilson Amadeu, concordo que nada pode trabalhar na ilegalidade. E, até por isso, votei favorável ao seu projeto em primeira discussão. Agora, temos de ver também que a sociedade está em transformação a todo o momento. Também não podemos falar: tudo fica como está e nada mais no mundo vai poder modificar, porque nada novo está na legalidade. Acho que as coisas aparecem, como apareceram agora, e cabe a esta Casa trabalhar a legalidade. Ou seja, propor uma regulamentação para que eles paguem impostos, inclusive, como falei aqui, para subsidiar o transporte público. Quem trabalha na Uber é tão trabalhador quanto o taxista. O problema é que essas empresas vêm aqui para ter grandes lucros e até operar em cima desses motoristas. Então nos cabe também propor mecanismos para proteger o trabalhador, para que tenha, por exemplo, direito previdenciário. A minha discussão parte por aí. De maneira nenhuma defendo a ilegalidade, mas também defendo que as coisas novas têm de ser debatidas nesta Casa. E, aí sim, também podemos torná-las legais e ter uma nova modalidade de serviço e que eles contribuam com os cofres públicos e tenham a sua responsabilidade diante da sociedade. Só isso. Muito obrigado.