Análise retrospectiva dos casos de intoxicação humana por alimentos no Brasil no período de 2008 a 2016

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Transcrição:

Análise retrospectiva dos casos de intoxicação humana por alimentos no Brasil no período de 2008 a 2016 Felipe Lemos Esteves do Amaral i Elias Figueiredo da Silva ii Francisco Arley Lima Lacerda iii Natália Bitu Pinto iv Registro DOI: http://dx.doi.org/10.22280/revintervol12ed1.424 Resumo A intoxicação alimentar é uma condição clínica que afeta diversas pessoas no Brasil e no mundo e é muitas vezes subnotificada. Trata-se de um estudo descritivo, exploratório, retrospectivo e quantitativo de dados epidemiológicos obtidos no SINITOX, expostos em tabelas que se distribuem em classes diversas de agrupamento como sexo e faixa etária para demonstrar a evolução das intoxicações humana por alimentos no período de 2008 a 2016 e traçar uma análise quali-quantitativa desses dados. As maiores taxas de intoxicação alimentar ocorreram entre as mulheres, os adultos entre 30 e 39 anos, os indivíduos de zona urbana, a ingestão de alimentos, a região Sudeste e curso com a cura dos pacientes. Palavras-chave: Intoxicação. Alimentos. Humanos. Abstract Retrospective analysis of human food poisoning cases in Brasil from 2008 to 2016 Food poisoning is a clinical condition that affects many people in Brazil and the world and is often underreported. This is a descriptive, exploratory, retrospective and quantitative study of the epidemiological data obtained in SINITOX, presented in tables that are distributed in different classes of grouping as sex and age group to demonstrate the evolution of human intoxications by food in the period of 2008 to 2016 and to draw up a qualitative and quantitative analysis of these data. The highest rates of food poisoning occurred among women, adults between 30 and 39 years of age, individuals from urban areas, food intake, the Southeast region and course with the cure of patients. Key words: Intoxication. Foods. Humans. Recebido em 26/12/2018 Aceito em 30/01/2019 1 INTRODUÇÃO 48 59

Com a globalização o mundo está ficando mais sujeito a ocorrências de doenças transmitidas por alimentos, principalmente pela resistência dos microrganismos, fazendo assim com que os surtos sejam considerados um enorme problema de saúde pública. Muitos dos casos de Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA) não são notificados já que seus sintomas são, muitas vezes, confundidos com gripes ou se apresentam com discretas diarreias e vômitos, prejudicando o estudo das DTAs (PAIVA et al., 2009). Nas diversas etapas pelas quais passam os alimentos em sua elaboração, bem como após este processo, no momento da armazenagem, preparo e consumo, esses produtos podem sofrer os mais diversos tipos de contaminação. Tais contaminações podem levar a intoxicações alimentares que atingem milhões de pessoas em todo o mundo anualmente, e podem ser consideradas uma das mais significativas causas de morbimortalidade em países desenvolvidos e em desenvolvimento (ALMEIDA et al., 2008). Como é uma doença de curso rápido e não muito grave, os indivíduos afetados geralmente não necessitam de atendimento médico especializado (RODRIGUES et al., 2004). Os agentes que geralmente causam as toxinfecções alimentares são Salmonella spp, Shigella, Escherichia coli enteropatogênica, Staphylococcus aureus, Clostridium ssp, Bacillus cereus, vírus, rotavírus, fungos, componentes tóxicos encontrados em certos vegetais e produtos químicos. As contaminações podem ocorrer de várias maneiras como: armazenamento incorreto dos alimentos, falta de higienização destes, alimentos malcozidos e contaminações pelos manipuladores (DA SILVA, 2017). Neste sentido, este estudo tem o objetivo de apresentar os dados obtidos pelas intoxicações humanas por alimentos registrados no Brasil pelo SINITOX no período de 2008 a 2016, e traçar uma análise qualiquantitativa de diversos fatores envolvidos nas notificações. 2 RESULTADO E MÉTODOS Este estudo é de caráter descritivo, exploratório e construído por meio de uma investigação retrospectiva e quantitativa de dados epidemiológicos obtidos no Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX) em novembro de 2018. A população foi representada por todos os casos de intoxicação por alimentos registrados pelos Centros de Informação e Assistência Toxicológica de cada estado brasileiro entre o período de 2008 a 2016. Para a análise estatística dos dados, foram realizados testes de frequência simples, e os dados obtidos de intoxicação por alimentos foram agrupados em porcentagem com o intuito de 49 59

facilitar a detecção de aspectos sutis ou de relevância importante para a interpretação dos resultados da pesquisa e para agrupar o perfil do grupo estudado em variáveis : sexo (masculino e feminino); idade (classificada em doze faixas menores de 1 ano, 01 a 04 anos, 05 a 09 anos, 10 a 14 anos, 15 a 19 anos, 20 a 29 anos, 30 a 39 anos, 40 a 49 anos, 50 a 59 anos, 60 a 69 anos, 70 a 79 anos e maiores de 80 anos ); local da ocorrência (zona rural, zona urbana); circunstância da intoxicação (acidente individual, acidente coletivo, acidente ambiental, ocupacional, uso terapêutico, prescrição médica inadequada, erro de administração, automedicação, abstinência, abuso, ingestão de alimentos, tentativa de suicídio, tentativa de aborto, violência/homicídio e uso indevido); evolução clínica (cura, cura não confirmada, óbito, sequela, óbito por outra causa). Os resultados foram apresentados em forma de tabelas e gráficos, com a utilização dos programas Microsoft Office, e comparados com literatura apropriada. No período estudado foram encontrados 10441 casos de intoxicações humana por alimento. Esse número de representa 1,17 % do total das intoxicações humana no mesmo período por todas as causas registradas. O maior número de notificações ocorreu no ano de 2009 com 2496 casos notificados (23,9%). Contrariamente, o ano com menor número foi 2016, com 479 casos (4,58%), seguido por 2015 (551 casos) e 2014 (731 casos) cujos índices são, aproximadamente, quatro vezes menores que no ano de maior número (Gráfico 1). Os dados do ano de 2011 relativos à intoxicação humana por alimentos não se encontram registrados no SINITOX, mesmo existindo números disponíveis relativos a intoxicação humana no mesmo ano. Logo na construção de dados, tabelas e discussões não será levado em conta os valores numéricos deste ano. 50 59

3000 2500 Gráfico 1-Números das Intoxicações Humana por Alimentos no Brasil no período de 2008 a 2016. 2496 2272 2275 2000 1500 1000 876 731 551 479 500 0 761 x 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 Casos Fonte: Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX). Em relação às regiões brasileiras, os dados analisados no período de 2008 a 2016 demonstram que a região Sudeste é a que apresentou o maior número de casos notificados (5470), ao passo que a região Norte foi a que demonstrou menor número (160) (Tabela 1). Tabela 1 - Distribuição de casos notificados de intoxicação por Alimentos no período de 2008 a 2016 por região brasileira. Ano/ Região Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste 2008 16 309 150 34 252 2009 26 520 1602 28 320 2010 27 456 1458 28 303 2011 x x x x x 2012 77 408 1505 65 220 2013 10 494 42 42 288 2014-620 63 40 08 2015 04 175 346 22 04 2016 x 174 304 x 01 TOTAL 160 3156 5470 259 1396 Fonte: Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX). - Dado numérico igual a zero. 51 59

A distribuição de casos por sexo indicou que, excetuando-se os anos de 2008 e 2014, houve preponderância do sexo feminino sobre o masculino, com uma média aproximada de 642 casos para homens e 656 casos para mulheres (Tabela 2). Tabela 2 - Distribuição de casos notificados de intoxicação por Alimentos no período de 2008 a 2016 segundo o sexo. Sexo Ano Masculino Feminino Ignorada 2008 389 351 21 2009 1247 1248 01 2010 1132 1135 05 2011 x x x 2012 1063 1195 17 2013 416 452 08 2014 457 272 02 2015 204 345 02 2016 227 251 01 TOTAL 5135 5249 57 Fonte:Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX) No tocante à idade, a intoxicação humana alimentar ocorreu com maior frequência em indivíduos da faixa etária entre 30 e 39 anos, somando 2668 casos (23,23%). Entretanto, crianças com até 09 anos de idade perfazem um total de 2857 casos (24,88%) e adultos jovens de 20 a 29 anos representam 2184 (19%) notificações no período destacado, revelando uma possível exposição perigosa a esse grupo de risco (Tabela 3). Tabela 3 - Distribuição de casos notificados de intoxicação Humana por Alimentos no período de 2008 a 2016 por faixa etária. Faixa Etária/ Ano <1 01-04 05-09 10-14 15-19 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 80 e + Ignorada 2008 20 103 134 62 42 181 90 55 29 10 08 0 27 52 59

2009 69 373 344 261 177 471 334 204 126 48 25 16 48 2010 59 359 303 220 176 434 261 212 107 55 31 25 30 2011 x x x x x x x x x x x x x 2012 28 323 303 261 195 424 305 183 137 59 27 03 27 2013 16 60 61 57 89 274 143 82 55 19 07 02 11 2014 06 84 44 42 60 202 142 84 32 18 04 01 12 2015 08 40 29 40 79 95 105 72 50 22 08 01 02 2016 11 44 36 34 58 103 80 51 38 08 05 01 10 TOTAL 217 1386 1254 977 876 2184 2668 943 574 239 115 49 167 Fonte: Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX) A zona de ocorrência onde constatou-se o maior número de intoxicação humana por alimento no período estudado foi a urbana com um total de 8644 casos (82,78%). Já a zona rural teve 679 casos (6,5%) de intoxicação. Tabela 4 - Distribuição de casos notificados de intoxicação por Alimentos no período de 2008 a 2016 segundo a zona de ocorrência. Zona Ano Rural Urbana Ignorada 2008 74 679 08 2009 154 2157 185 2010 243 1876 153 2011 X x X 2012 165 1909 201 2013 19 851 06 2014 18 700 13 2015 02 250 299 2016 04 222 253 TOTAL 679 8644 1118 Fonte: Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX) A distribuição das intoxicações por alimento segundo evolução clínica teve como o representante de maior número os casos de cura que foram 9232 (88,4%). Já as notificações registradas dessas intoxicações que resultaram em menor número de casos foram óbitos e 53 59

sequelas com um total de 09 registros (0,086%), fato que demonstra um melhor prognóstico em relação a esses acometimentos alimentares (Tabela 5). Tabela 5 - Distribuição de casos notificados de Intoxicação por Alimentos no período de 2008 a 2016 segundo a evolução clínica. Ano/Desfecho Cura Cura não confirmada Sequela Óbito Óbito por outra causa Outra Ignorado 2008 586 39 - - - 02 134 2009 2277 73 01 01-03 141 2010 2098 37-01 - 01 135 2011 x x x x x x x 2012 2156 10 02 - - - 107 2013 827 13 - - - 27 09 2014 627 15-02 - 18 69 2015 515 08 01 01-19 07 2016 146 - - - - 269 64 TOTAL 9232 195 04 05-339 666 Fonte: Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX). - Dado numérico igual a zero. Existem registradas várias circunstâncias de intoxicação por alimentos em humanos no período estudado, sendo que a representante da grande maioria de casos foi a ingestão de alimentos com um total de 8493 (81,1%), ao passo que a circunstância de menor notificação foi acidente ambiental 01 caso (0,0095%) e erro de administração 01 caso (0,0095%) (Tabela 6). Tabela 6 - Distribuição de casos notificados de Intoxicação por Alimentos no período de 2008 a 2016 segundo a circunstância. Circunstância / Ano 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 TOTAL Acidente Individual 141 192 108 x 73 64 66 68 91 803 Acidente Coletivo 81 144 35 x 76 03 242-03 584 Acidente Ambiental - - - x - - - - 01 01 Ocupacional 03-04 x 06 01 03-01 18 Uso Terapêutico 01 01 05 x 07 - - 05 02 21 Presc. Médica Inadequada - - - x - - - - - x Erro de Administração - - 01 x - - - - - 01 Automedicação - 02 01 x 01 - - 01-05 54 59

Abstinência - - - x - - - - - x Abuso 52 40 29 x 14 10 02 05 07 159 Ingestão de Alimentos 410 2074 2007 x 2050 770 393 443 346 8493 Tentativa Suicídio 31 44 37 x 08 01 06 01 14 142 Tentativa Aborto - - - x 01 - - 01-02 Violência/ Homicídio 05-03 x 02 01 01 03-15 Uso Indevido 02 03 02 x 04-01 02 04 18 Ignorada 13 15 20 x 07 12 06 09 04 86 Outra 22 11 20 x 26 14 12 13 06 124 Fonte: Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX). - Dado numérico igual a zero. 3 DISCUSSÃO DE RESULTADOS De acordo com a região, sabe-se que os Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIATs) encontram-se mais concentrados em regiões de maior reforço tecnológico como o sudeste brasileiro que representou 52,38 % dos casos, local em que também representa maior porcentagem da população brasileira. Dentro desta problemática, que representa um grave problema de Saúde Pública, verificam-se diferenças acentuadas nos padrões de intoxicações entre os centros de informação toxicológica de vários países e, nestes, há também diferenças regionais (TOSCANO, 2017). Em relação ao sexo, não houve diferença significativa entre homens (49,18%) e mulheres (50,27%) quanto as notificações desse tipo de intoxicação nesses nove anos. Esse fato pode estar relacionado aos hábitos alimentares relativamente semelhantes entre indivíduos de uma mesma sociedade. Sabe-se que o sexo feminino e o jovem com o estado nutricional inadequado (sobrepeso/obesidade) costumam ser mais acometidos por estes comportamentos alimentares inadequados, revelando essa sutil diferença de casos (FORTES; AMARAL; FERREIRA, 2013). A faixa etária que representou o maior índice de casos de intoxicação por alimentos foram os adultos entre 30 e 39 anos de idade e, em segundo lugar, os de 20 a 29 anos perfazendo um total de 46,5 % dos casos, visto que essa população tem maior exposição à preparados de consumo coletivo, já que em centros urbanos há uma maior concentração populacional consumidora e prestadora de serviços alimentícios, e ser um grupo de indivíduos que tem a possibilidade de prepararem os próprios alimentos, aumentando o risco de autointoxicação em casos de pessoas leigas (BRASIL, 2010). 55 59

Relativo ainda a casos de intoxicação de acordo com a idade, crianças com até 09 anos de idade representou um grupo de risco a essa questão com um percentual de 24,88% dos casos no período estudado. Concordando com isso, há relatos na literatura de que pais de alunos com menor poder financeiro e com menor grau de instrução tendem a cometer atitudes incorretas quanto aos procedimentos com os alimentos, justamente pela falta de informação e raramente fazem notificações aos órgãos competentes sobre possíveis surtos de toxinfecções (MAURÍCIO; MATIOLI, 2004). A zona que representou o maior número de notificações foi a urbana (82,8%), fato que pode ser justificado pelo o aumento da aglomeração de pessoas nos centros urbanizados e as alterações no estilo de vida da população que inserem um contexto de mudança nos padrões alimentares. Nesse sentido, a falta de tempo no preparo dos alimentos também é um fator que desencadeia o aumento das refeições realizadas fora de casa, assim como as visitas aos restaurantes, que estão se multiplicando rapidamente (MAGNONI et al., 20016). No que concerne à evolução clínica, a cura revelou um percentual elevado (81,1%) ficando as outras variáveis responsáveis por um prognóstico mais comprometedor da saúde humana. Os sintomas das Doenças Veiculadas por Alimento (DVA) e o quadro clínico diferenciam-se dependendo do patógeno envolvido, estado físico e nutricional do paciente, podendo ser mais grave ou prolongado (CUNHA et al., 2017), variando as condições e evoluções clínicas de alguns pacientes. A principal circunstância em que ocorrem os casos de intoxicação humana por alimentos foi a ingestão destes (81,1% no período deste estudo), já que dependemos diariamente desse tipo de consumo e estamos constantemente predispostos a esse acometimento. As condições higiênicas dos locais de produção e manipulação dos alimentos interferem na qualidade microbiológica dos mesmos por serem considerados pontos de contaminação, e os manipuladores são frequentemente disseminadores de agentes patogênicos, demonstrando a importância de uma adequada fiscalização desses produtos (DE CAMARGO PASSOS et al., 2010). Diante do que foi discutido, observamos que a população que apresenta o maior número de casos foram as mulheres, os adultos entre 20 e 39 anos, os indivíduos de zona urbana, a intoxicação por ingestão de alimentos, a região Sudeste, e a maioria cursou com a cura dos pacientes. Além disso, o presente trabalho não trouxe a análise dos dados de óbitos disponíveis no site devido ao não registro em alguns anos, não tendo uma continuidade de dados, o que impossibilita a análise linear com posteriores conclusões, mesmo observando que, tanto nas 56 59

tabelas trazidas quanto no referencial teórico, ficou claro que a cura exerce uma papel epidemiológico importante no desfecho dos casos de intoxicação alimentar. 4 CONCLUSÃO As notificações veiculadas epidemiologicamente neste estudo vão de encontro a várias análises quantitativas de diversas pesquisas divulgadas nas comunidades científicas a respeito da intoxicação humana por alimentos. A subnotificação relacionada a esses dados é, inclusive, salientada no próprio site do SINITOX, problemática que dificulta uma abordagem quantitativamente realista dos casos de intoxicação por alimento. Além disso, a carência de maior número de centros de notificação aliado à diversidade em suas distribuições pelo Brasil dificulta o desenvolvimento de projetos de prevenção e controle de casos de intoxicações, prejudicando o atendimento do paciente intoxicado. A aparente diminuição dos casos de intoxicação por alimentos registrada no período escolhido por este trabalho confirma essa péssima realidade das subnotificações, já que o SINITOX relata a redução da participação dos Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIATs), devendo os dados serem analisados com cautela pois não há esse decrescimento de casos no país. Apesar de a intoxicação por alimentos influenciar na saúde e no bem-estar da população de forma significativa, é observado que, no que tange a prevenção, muito é negligenciado, principalmente a questão da higiene pessoal. Entretanto, é satisfatório que muitos dos casos de intoxicação por alimentos sejam resolvidos, ou seja, curados em sua totalidade, devido aos avanços em pesquisar os tipos de patógenos, as situações em que podemos encontra-los e como combate-los. É notório que há campanhas e ações de conscientização e instrução da população, seja através da mídia ou até escrito nos rótulos das embalagens dos alimentos. Porém, essas ações devem ser intensificadas ou até adaptadas ao público leigo ou ao público idoso (no que diz respeito ao tamanho das letras escritas nos rótulos). Daí a necessidade de mobilizar toda a cadeia de processamento de alimentos para conscientizar da necessidade da higiene utilizada na manutenção e mobilização de produtos alimentares, bem como a população consumidora, destacando a importância das atividades educativas, para que possam levar a informações dirigidas as comunidades, testemunhando a importância estratégica potencial de uma rede ampliada de centros para estimular a prevenção das intoxicações e reduzir 57 59

os riscos tóxicos a saúde no Brasil e estimular a criação e manutenção de centros de coleta de dados sobre intoxicação alimentares. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Cristiane Falcão de et al. Perfil epidemiológico das intoxicações alimentares notificadas no Centro de Atendimento Toxicológico de Campina Grande, Paraíba. Revista Brasileira de Epidemiologia, Campina Grande, v. 1, n. 11, p.139-146, jan. 2008. AZEVEDO, Jorge Luiz Saúde. A importância dos Centros de Informação e Assistência Toxicológica e sua contribuição na minimização dos agravos à saúde e ao meio ambiente no Brasil. 2006. CUNHA, Fernanda de Paula Longo da et al. Shigella sp: UM PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA. Higiene Alimentar, São Paulo, v. 31, n. 264/265, p.52-57, jan. 2017. DE CAMARGO PASSOS, Estevão et al. Provável surto de toxinfecção alimentar em funcionários de uma empresa no litoral da região sudeste do Brasil. Revista do Instituto Adolfo Lutz, v. 69, n. 1, p. 136-140, 2010. FORTES, Leonardo de Sousa; AMARAL, Ana Carolina Soares; FERREIRA, Maria Elisa Caputo. Comportamento alimentar inadequado em adolescentes de Juiz de Fora. Temas em Psicologia, v. 21, n. 2, p. 403-410, 2013. MAGNONI, Daniel et al. Segurança alimentar e informação nutricional podem reduzir a intoxicação alimentar na alimentação fora do lar. Rev Bras Nutr Clin, v. 31, n. 2, p. 91-6, 2016. Manual integrado de vigilância, prevenção e controle de doenças transmitidas por manual integrado de vigilância, prevenção e controle de doenças transmitidas por alimentos. Brasília- DF: Editora MS, 2010. MAURÍCIO, Angélica Aparecida; MATIOLI, Graciette. Diagnóstico das etapas de compra, armazenamento e preparação de alimentos perecíveis por pais de escolares de uma cidade do noroeste do paraná. Ciência, Cuidado e Saúde, Maringá, v. 3, n. 3, p.253-259, set. 2004 PAIVA, P.E; FAI C.E.A; et al. Bacillus Cereus e Suas Toxinas Em Alimentos. Departamento de Nutrição, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, v. 22. P. 170-171, mar/abril 2009. RODRIGUES, Kelly Lameiro et al. Intoxicação estafilocócica em restaurante institucional. Ciência Rural, Santa Maria, v. 34, n. 1, p.297-299, fev. 2004. SILVA, Vanessa Bento da. Análise microbiológica de alimentos envolvidos em surtos de doenças transmitidas por alimentos ocorridos na macro-região de sorocaba de 2011 a 2015. 2017. 40 f. TCC (Graduação) - Curso de Biomedicina, Instituto Adolfo Lutz, Sorocaba, 2017. 58 59

TOSCANO, Marina Moura et al. Intoxicações exógenas agudas registradas em Centro de Assistência Toxicológica. Saúde e Pesquisa, v. 9, n. 3, p. 425-432, 2017. i Discente do 7º. Período do curso de medicina da Universidade Federal de Campina Grande do campus Cajazeiras- PB. E-mail para contato: felipelemos.1@hotmail.com ii Discente do 7º. Período do curso de medicina da Universidade Federal de Campina Grande do campus Cajazeiras-PB. iii Discente do 7º. Período do curso de medicina da Universidade Federal de Campina Grande do campus Cajazeiras-PB. iv Docente do curso de medicina da Universidade Federal de Campina Grande do campus Cajazeiras-PB. 59 59