Educação para alunos com altas habilidades/superdotação: encaminhando potenciais para um programa de enriquecimento

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Transcrição:

46 Educação para alunos com altas habilidades/superdotação: encaminhando potenciais para um programa de enriquecimento Soraia Napoleão Freitas 1 Resumo: Visualizando a educação como possibilidade de desenvolvimento das capacidades humanas, não se pode deixar de pensar no sujeito com Altas habilidades/superdotação(ah/sd), bem como o atendimento específico a este público. Desta forma, um programa de enriquecimento escolar atua no intuito de complementar as lacunas presentes no ambiente escolar, ampliar, aprofundar e enriquecer o conteúdo curricular, bem como estimular o conhecimento de várias áreas do conhecimento. Este artigo tem como objetivo debater sobre possibilidades de atendimento educacional para alunos com altas habilidades/superdotação, apresentando alguns trabalhos realizados durante o ano de 2011 no projeto de extensão Programa de Incentivo ao Talento PIT. O projeto atende alunos com altas habilidades/superdotação de Santa Maria/RS, lançando um olhar também para as suas necessidades. A partir do trabalho realizado pelo projeto no ano de 2011, apresentamos neste texto algumas atividades relevantes e discutimos sobre aspectos importantes advindos das práticas desenvolvidas. Palavras chave: Programa de Enriquecimento. Altas habilidade/superdotação. Programa de Incentivo ao Talento. Abstract: Viewing education as a possibility for development of human capacities, we can not stop thinking about the subject with High Abilities / Giftedness (AH / SD), as well as meet the specific needs of this audience. Thus, a school enrichment program serves to complement the gaps present in the school environment, broaden, deepen and enrich the curriculum content as well as encourage knowledge of various areas of knowledge. This article aims to discuss possibilities of educational services for students with high ability / gifted, with some work during the year 2011 the extension project "Programa de Incentivo ao Talento - PIT." The project serves students with high ability / giftedness in Santa Maria / RS, casting a look also to their needs. From the work done by the project in 2011, this paper presents some relevant activities and discuss important issues arising out of practices developed. Keywords: Enrichment program. High Abilities/Giftedness. Programa de Incentivo ao Talento. Introdução A educação é um dos caminhos que direciona a inclusão dos sujeitos na sociedade, além de ser a porta de acesso para o desenvolvimento das capacidades individuais, o que favorece a autonomia e permite o exercício da cidadania. Ao pensar na educação de sujeitos com altas habilidades/superdotação, é preciso observar que este grupo necessita de orientação e atendimento educacional especializado a fim de obter sucesso na sua vida escolar e, bem como nas suas relações sociais. De acordo com a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), alunos com altas habilidades/superdotação 1 Professora Doutora do Departamento de Educação Especial e do Programa de Pós-graduação da Universidade Federal de Santa Maria. Líder do Grupo de Pesquisa Educação Especial: Interação e Inclusão Social.

47 apresentam potencial elevado em uma ou mais áreas, podendo ser isoladas ou combinadas, sendo estas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes. Além disso, demonstram elevada criatividade, grande envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de interesse. Em decorrência das peculiaridades quanto ao seu aprendizado e por localizarem-se nos extremos da distribuição em características relevantes ao processo educativo, necessitam provisões e medidas especiais, visando seu desenvolvimento integral (GUENTHER, 2000). A esse respeito, encontra-se respaldo na Lei de Diretrizes e Bases da Educação LDB 9394/96 que descreve sobre o ensino dos alunos com necessidades educacionais especiais, sendo que em seu artigo 8º item IX, esclarece a necessidade de promover [...] atividades que favoreçam, ao aluno que apresente altas habilidades/superdotação, o aprofundamento e enriquecimento de aspectos curriculares, mediante desafios suplementares [...] (BRASIL, 1996, p.73). Estas atividades podem acontecer nas classes comuns, em sala de recursos ou em outros espaços definidos pelos sistemas de ensino. Desse modo, este artigo tem como objetivo debater sobre possibilidades de atendimento educacional especializado para alunos com altas habilidades/superdotação, apresentando alguns trabalhos realizados durante o ano de 2011 no projeto de extensão Programa de Incentivo ao Talento PIT. Caracteriza-se como um estudo qualitativo, que procura realizar um debate em torno de uma experiência vivenciada na temática proposta, explanando sobre um exemplo de um programa de enriquecimento. A proposta de enriquecimento curricular para alunos com altas habilidades/superdotação Os alunos com altas habilidades/superdotação estão incluídos nas escolas regulares e por isso, conforme garantido nos documentos legais, é fundamental um trabalho pedagógico diferenciado para suas especificidades. No entanto, devido às

48 carências atuais dos sistemas de ensino regular, fazem-se necessárias alternativas diferenciadas para o atendimento desta pessoa (ABSD, 2000, p.18). Desse modo, é fundamental pensar no atendimento educacional aos alunos com altas habilidades/superdotação, que pode se dar de diversas maneiras e de acordo com a sua realidade educacional. Dentre as alternativas possíveis, estão, as propostas de enriquecimento escolar, os quais podem ser ofertados de diferentes formas: Muitas são as formas que um programa de enriquecimento pode tomar. Para alguns, ele implica completar em menos tempo o conteúdo proposto, permitindo, assim, a inclusão de novas unidades de estudo. Para outros, ele implica uma investigação mais ampla a respeito dos tópicos que estão sendo ensinados, utilizando o aluno um maior número de fones de informação para dominar e conhecer uma determinada matéria. Para outros, o enriquecimento consiste em solicitar ao aluno o desenvolvimento de projetos originais em determinadas áreas de conhecimento. Ele pode ser levado a efeito tanto na própria sala de aula como através de atividades extracurriculares (ALENCAR, FLEITH, 2001, p. 133) Com isso, a partir das necessidades de cada sujeito e das possibilidades das instituições, o enriquecimento pode ser promovido de maneiras diversas, tanto intra ou extracurricular (FREITAS e PÉREZ, 2012). O enriquecimento intracurricular pode ser desenvolvido de formas diversas, de acordo com a área de destaque do aluno e das suas condições de aprendizagem, com flexibilizações dos conteúdos curriculares, adaptações nos objetivos e metodologia, etc. para aprofundar os conteúdos. Conforme mencionam Freitas e Pérez a respeito do enriquecimento intracurricular, São estratégias propostas e orientadas pelo docente de sala de aula regular ou das diferentes disciplinas, durante o período de aula ou fora dele (tarefas adicionais, projetos individuais, monitorias, tutorias e mentorias), que podem ter como base o conteúdo que ele está trabalhando num determinado momento e cuja proposta pode ser elaborada conjuntamente com o professor especializado ou mesmo com um professor itinerante, quando for necessário. (FREITAS, PÉREZ, 2012, p. 79) Com isso, o enriquecimento intracurricular exige do professor um conhecimento do aluno e de seus interesses, para organizar este planejamento educacional, considerando a idade, a maturidade, os estudos anteriores e as experiências de vida dos alunos. Freitas e Pérez esclarecem que:

49 Isso envolve o trabalho do professor, que deve conhecer seu aluno e possibilitar enriquecimento curricular em consonância com a equipe escolar para que sejam consideradas as individualidades, peculiaridades e as habilidades específicas destes alunos no contexto escolar. Para isso, além da exigência da formação do professor, é necessário seu empenho e a organização de recursos diferenciados, oferecendo a estes alunos um maior aprofundamento curricular. (FREITAS, PÉREZ, 2012, p. 12). Com isso, a realização do enriquecimento, nas suas diferentes abordagens, traz a possibilidade de contribuir com uma inclusão de maior qualidade para estes alunos com altas habilidades/superdotação, necessitando a formação dos profissionais da educação para este atendimento. Pesquisadores como Renzulli (1994), e outros propõem Modelos de Enriquecimento escolar que pode contribuir para o desenvolvimento destes alunos. Além disso, quando de trata do atendimento educacional especializado para os alunos com altas habilidades/superdotação, este deve disponibilizar programas de enriquecimento curricular a estes alunos, com metodologias, ajudas e recursos diferenciados ao longo do processo de escolarização, articulado com a proposta pedagógica do ensino comum. O enriquecimento extracurricular pode acontecer na escola do aluno ou em outro ambiente educacional, podendo ser realizado em salas de recursos, centros de atendimento ou outros programas específicos. O Modelo Triádico de Enriquecimento sugerido por Renzulli (1994) é um exemplo, no qual propõe que o atendimento aos alunos com altas habilidades/superdotação deveria englobar atividades dos tipos I, II e III. Resumidamente, o Tipo I, representa atividades de exploração geral a respeito de uma variedade de assuntos, etc.; o Tipo II constitui-se por atividades que ofereçam métodos e técnicas diferenciadas em relação a determinado assunto; o Tipo III, seriam as atividades investigativas de problemas reais, individuais ou coletivas, em que o aluno assume o papel de investigador. Freitas e Pérez (2012), complementando o modelo de Renzulli (1994), sugerem também atividades do tipo IV, as quais constituem o fazer mais, atividades que surgem do amadurecimento das pesquisas e dos produtos desenvolvidos.

50 Neste sentido é importante que se possa refletir a respeito destas diferentes maneiras pelas quais o enriquecimento pode se constituir, de acordo com as necessidades educacionais dos alunos com altas habilidades/superdotação. Com o intuito de complementar as lacunas presentes no ambiente escolar, proporcionando amparo educacional aos alunos com altas habilidades/superdotação inseridos na rede de ensino do município de Santa Maria/RS, surgiu em 2003 um programa de enriquecimento escolar. Este é um Projeto de Extensão denominado Programa de Incentivo ao Talento PIT, vinculado à Universidade Federal de Santa Maria, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Educação Especial: Interação e Inclusão Social, orientado pela professora Soraia Napoleão Freitas. Atua atendendo alunos com características de Altas habilidades/superdotação do município, os quais são previamente identificados por um projeto de pesquisa vinculado ao mesmo grupo. A extensão universitária mostra-se como uma via de mão dupla, pois além de favorecer o crescimento acadêmico e profissional dos participantes, está contribuindo com as necessidades educacionais da população envolvida. Uma vez que o programa é um dos poucos programas na região no Rio Grande do Sul que atende alunos com altas habilidades/superdotação, compreende-se o importante papel do mesmo como um diferencial na vida dos alunos atendidos. Nesse sentido, as ações desenvolvidas pelo programa buscam alcançar seu principal objetivo que consiste em ampliar, aprofundar e enriquecer o conteúdo curricular, bem como estimular o conhecimento de várias áreas do conhecimento. Assim, procura-se, na medida do possível, suprir as necessidades dos sujeitos atendidos, propondo o desenvolvimento e o estimulo de seus potenciais através de um ambiente educacional diferenciado, onde são oferecidas experiências educacionais diversificadas que vêem ao encontro de suas áreas de interesse. Além disso, existe no projeto a preocupação com família dos alunos e, portanto, oportuniza-se a relação entre os pais e entre os pais e equipe executora do projeto,

51 na qual há a troca de experiências e informações sobre a temática, bem como o reconhecimento das peculiaridades destes indivíduos. A seguir são apresentadas as principais ações desenvolvidas pelo Programa no ano de 2011, tecendo discussões a respeito de alguns aspectos relevantes, já que, muitas vezes, são determinantes na vida dos envolvidos com a temática das Altas habilidades/superdotação, especialmente os sujeitos com estas características. Programa de Incentivo ao Talento: apresentando uma proposta de enriquecimento extraescolar As ações desenvolvidas pelo projeto de extensão Programa de Incentivo ao Talento PIT aconteceram semanalmente, aos sábados 2, no período da manhã em uma escola da cidade que disponibiliza o espaço físico. Durante o ano de 2011 o programa de enriquecimento atendeu alunos de diferentes instituições educacionais do município, estas na faixa etária entre seis e quinze anos. Cada encontro tinha o tempo de duração de 1 hora e 30 minutos. Cabe destacar que para o desenvolvimento desta ação o grupo de integrantes do projeto mantêm encontros semanais para discussão, reflexões e estudos, além de encontros paralelos para planejamentos e contato dos apoiadores. As ações desenvolvidas com os alunos em 2011 foram organizadas sob uma divisão de quatro grupos de interesse, considerando-se as especificidades do alunado. A partir disso, evidencia-se a importância do trabalho em grupo, onde os educandos podem desenvolver-se em cooperação através das trocas de experiências em áreas afins. Outro benefício da participação em grupos é a heterogeneidade dos participantes, no qual a diferença de idade entre estes se constitui como um aspecto enriquecedor, tendo em vista que o desenvolvimento intelectual, bem como os interesses nem sempre correspondem a idade cronológica e, assim, trocas valiosas podem acontecer no relacionamento entre alunos com idades diferentes e mesmos interesses. 2 Exceto feriados e datas em que havia outras programações na escola.

52 Silverman (2002 apud FLEITH, 2007) contribui com esta premissa ao entender que estas pessoas possuem um desenvolvimento assincrônico entre habilidades intelectuais, psicomotoras, características afetivas e aspectos do desenvolvimento cronológico. Este desenvolvimento não linear pode ainda gerar sentimentos de descompasso do indivíduo em relação a si mesmo e à sociedade. Guenther (2008), por sua vez, menciona ainda como vantagens das atividades em grupo a auto-estimulação através da convivência, interação e trocas com outros alunos com as mesmas características; facilidade de organização por compartilhar interesses e envolvimento com as tarefas; e proporcionar o contato com pessoas admiráveis, estudiosos das varias áreas, sobretudo das áreas de interesse dos alunos. Esta configuração de atendimento aproxima-se aos Grupos de Enriquecimento proposto pelo pesquisador Renzulli (1997, apud ALENCAR & FLEITH, 2001) que consistem de grupos de alunos de diversas séries que compartilham interesses semelhantes e têm encontros regulares para desenvolver projetos baseados nos interesses. Além da metodologia em Grupo de Interesse, foram empregados alguns preceitos de Renzulli (2004), como o Modelo Triádico de Enriquecimento. Este modelo sugere a implementação de atividades de enriquecimento de três tipos, denominadas: atividades do Tipo I, atividades do Tipo II e atividades do Tipo III, as quais já foram citadas anteriormente. Foram oferecidas experiências para que os três momentos estivessem presentes em todos os grupos de interesse, o que motivou os participantes e acarretou em bons resultados. Durante o ano de 2011, então, fez-se um trabalho com quatro grupos, sendo o Grupo de Pais e/ou responsáveis e três Grupos de Interesses em áreas distintas: o G-Tec, cujo foco foi a tecnologia e a robótica; o Cinema-Ação no qual se trabalhou o cinema a partir de histórias infantis e; o Arteiros que buscou desenvolver as diversas linhas das artes. Estes grupos foram planejados e desenvolvidos de acordo com os interesses dos alunos a partir de percepções tidas em oportunidades anteriores e a sondagem feita no início das atividades do referido ano.

53 Cada grupo realizou suas atividades em uma sala de aula da escola e nesses espaços tiveram acesso a materiais, ferramentas e o encorajamento para que, através destes, alcançassem níveis mais elevados de conhecimento. Para tanto, o apoio de profissionais, acadêmicos, Programa de Educação Tutorial PETs- e até mesmo outros grupos de projetos da Universidade foi decisivo, pois nos auxiliaram no aprofundamento da área de conhecimento trabalhada em cada grupo de interesse. Concomitante com os três grupos de enriquecimento aconteceu o Grupo de Pais e/ou responsáveis do projeto. Este grupo nasceu para apoiar pais e familiares na educação das crianças com altas habilidades/superdotação, proporcionando espaço para discussão acerca da temática e trocas de experiências. Embora intitulado Grupo de Pais, este grupo é aberto também à comunidade, ao corpo docente dos alunos participantes e demais interessados que queiram entender, discutir, informarse e trocar conhecimentos sobre as Altas habilidades/superdotação. Uma forte razão para a existência deste grupo é o fato de que pais de crianças com altas habilidades/superdotação sentem necessidade de comunicação e trocas de experiências a fim de melhor atendê-las (SABATELLA, 2007). Nesse sentido, o grupo de discussão oferecido se faz significativo na vida dos participantes que constroem estratégias para auxiliar no desenvolvimento sadio de seus filhos. A mesma autora corrobora ainda que: O encontro dos pais em um programa organizado para o alcance de maiores informações sobre altas habilidades/superdotação e, sobretudo, para proporcionar oportunidades de compartilhar abertamente com outras famílias, tem mostrado sua eficiência e ampliado o conhecimento a respeito da relação familiar. (SABATELLA, 2007, p. 148). Além dos grupos descritos acima, o projeto desenvolve durante o ano Atividades Especiais, sendo que estas acontecem semestralmente a fim de proporcionar trocas de experiências, curiosidades, atividades lúdicas. São nesses eventos que a equipe do projeto tem a oportunidade de reunir todos os grupos em um só, com a finalidade de promover as relações interpessoais, a troca de conhecimentos/habilidades com os colegas de outros grupos, bem como sondar e confirmar novos interesses que os alunos venham apresentando.

54 As Atividades Especiais do projeto podem ser relacionadas com o que Guenther (2008, p. 23) denomina de Encontros Gerais que são atividades diferentes dos Grupos de Interesse por serem uma situação completa em si mesma. É neste momento que o aluno se depara com a novidade, com a exploração, quando ele é exposto a vivencias diferentes. Além do mais, conforme Guenther (2008) é o momento em que um número maior de alunos com altas habilidades/superdotação reúne-se para um período de interação e estimulação ampla, intensa e variada, o que pode ser aprofundado posteriormente. Alguns resultados a serem debatidos Tendo em vista o trabalho desenvolvido nos Grupos de Interesse, a seguir destacam-se os principais momentos e as discussões provindas destes no referido programa. O Grupo de Interesse G-Tec teve por objetivo promover o contato dos alunos/participantes com conhecimentos da área de tecnologia que envolvessem o trabalho com robótica. Para tanto, contou-se com o apoio de acadêmicos do Programa de Educação Tutorial PET do Curso de Engenharia Elétrica da mesma Universidade. Iniciando os trabalhos com o G-TEC, foram fornecidas informações a respeito de algumas das engenharias ofertadas pela Universidade, sendo elas Engenharia Elétrica, Engenharia Civil, Engenharia Química e Engenharia Mecânica. No referido trabalho, além do conhecimento a respeito das engenharias citadas, foi intenção demonstrar que para a elaboração de um grande projeto, em muitos momentos estes diversos âmbitos estabelecem uma relação na busca de alternativas de melhorar a vida das pessoas sem gerar agressões ao meio ambiente. Na sequência, os alunos foram instigados a entender aspectos relevantes sobre a robótica e, a partir disso, desenvolveram a construção de robôs, sendo que estes tinham como função auxiliar o ser humano.

55 Outra proposta desenvolvida por este grupo de enriquecimento foi a denominada Engenharia do Impossível. Neste trabalho os alunos receberam tarefas diferenciadas para realizar em grupo, sendo o grupo G-TEC dividido em dois grupos menores. Um dos grupos deveria criar um carro que fizesse compras sozinho e o outro criar um planeta sintético. A partir disso, decidiu-se que em cada grupo haveria um relator, um desenhista, um historiador, e as demais funções seriam definidas de acordo com as necessidades que se apresentassem. Logo, houveram significativos resultados, onde os alunos se empenharam e cooperaram para resolver os problemas apresentados. O trabalho em grupo, onde cada um desempenha um determinado papel e o produto final depende do empenho de todos desestabiliza muitos alunos, pois há por parte deles próprios, muita cobrança em relação a resultados satisfatórios. Muitas vezes as crianças não aceitam os resultados do próprio trabalho por serem muito comprometidas com as suas produções. Por essa mesma razão, esses momentos são importantes ao passo que os alunos podem exercitar sua flexibilidade e entender que a eficiência não depende apenas da vontade e que ninguém consegue somente bons resultados em tudo que faz. Além disso, essas oportunidades mostram que a autoexigência das crianças com altas habilidades/superdotação, muitas vezes parte do ambiente familiar, escolar ou do próprio círculo de amigos que ao saberem de seu potencial passam a exercer cobranças impróprias. Assim sendo, tem-se a possibilidade de, sabendo a origem do problema, mediar o desenvolvimento da aceitação e compreensão dos próprios limites, evitando desajustes emocionais nos sujeitos com Altas habilidades/superdotação. O Grupo de Interesse Cinema Ação surgiu a partir de um grupo desenvolvido no ano anterior - 2010, intitulado Em defesa do Lobo mau que trabalhou construindo finais diferentes para histórias infantis. Desse modo, o grupo Cinema Ação objetivou pesquisar sobre cinema buscando associar os conhecimentos trabalhados através de histórias infantis com a temática do cinema. Partindo da recriação de uma história envolvendo o personagem Lobo Mau, foi montado no decorrer de 2011 dois roteiros de filme, sendo um deles intitulado O Outro Lado da Chapeuzinho

56 Vermelho..., e outro O Fim da Terra. Para tanto, os alunos participantes montaram, além dos roteiros, o perfil psicológico dos personagens, os figurinos, planejamentos de ambiente e realizaram ensaios. No entanto, boa parte dos alunos participantes deste grupo precisou se afastar do programa em virtude de situações adversas, dentre estas, mudança de cidade. Devido ao número reduzido de alunos e o curto espaço de tempo restante para a conclusão dos filmes, o filme O Outro Lado da Chapeuzinho Vermelho... não foi concluído, já o filme O Fim da Terra foi finalizado. Os alunos que permaneceram no grupo elaboraram a história, os cenários e os personagens de fantoches. Porém, no dia marcado para as gravações não estavam presentes, por isso as professoras do grupo, professoras de outros Grupos de Interesse que se disponibilizaram a ajudar e um voluntário realizaram a gravação e edição do filme que foi exibido ao grande grupo na programação de encerramento do ano. Outro Grupo de Interesse desenvolvido neste ano, o Arteiros, teve como objetivo perceber a arte de forma diferenciada, buscando a sensibilização acerca das concepções da arte e viabilizando a desconstrução de estereótipos. Desse modo, proporcionou um espaço que contribuiu para o enriquecimento de habilidades, bem como para a descoberta de novas habilidades no entorno do fazer artístico, além de serem oferecidas possibilidades de vivenciar varias formas artísticas. O início dos trabalhos no Grupo de Interesse Arteiros deu-se com explanação geral sobre os diferentes fazeres artístico, buscando reconhecer a arte como área do conhecimento e visualizá-la de forma menos estereotipada. Nesse instante foi possível perceber as restrições sobre o conceito de artes trazidas pelos alunos, sendo que alguns comentavam que arte era algo bonito, desenho. Nesta fala notase a idéia reducionista da arte, onde ela está atrelada ao belo e aquilo que geralmente é explorado nas instituições de ensino. Porém, embora trouxesse essa concepção o mesmo participante se destacava em relação às percepções visuais, observando rapidamente detalhes em relação ao espaço-visual. A partir disso, entende-se que o espaço oferecido a esta pessoa no programa de enriquecimento, por diferir das oportunidades ofertadas pela escola, provavelmente

57 terá um papel decisivo no desenvolvimento de suas habilidades, bem como poderá influenciar em seu futuro profissional. A esse respeito diz Renzulli (2004) que existem dois tipos de altas habilidades/superdotação: a escolar ou acadêmica e a produtivo-criativa, sendo a primeira caracterizada pelo bom rendimento escolar, notas altas, aprendizagem rápida, destaque nas áreas mais valorizadas pela escola (português e matemática), nível de compreensão elevado. Já a produtivo-criativa envolve aspectos da atividade humana nas quais são incentivados o desenvolvimento de idéias, produtos, expressões artísticas e áreas do conhecimento que são propositalmente concebidas para ter um impacto sobre uma ou mais platéias-alvo (RENZULLI, 2004, p. 83). Tecidas discussões sobre a concepção de artes e após exploração de diversos materiais, passou-se por técnicas de desenho e então se adentrou ao conhecimento sobre arte gráfica, sendo que para este trabalho contamos com o apoio de um profissional da área. Devido ao interesse da maioria dos participantes do grupo e ao fato que um dos alunos já ter certo conhecimento prévio deste fazer artístico, optouse por iniciar o aprofundado na área da arte gráfica. Durante o decorrer do ano diversas atividades foram desenvolvidas conforme o direcionamento sugerido pelo interesse dos alunos. Assim trabalhou-se com ilusão de ótica, através da construção de um dragão de origami que conforme o movimento das pessoas ao seu redor parecia mover a cabeça. Foi realizada uma tela em conjunto, para a qual o grupo precisou se organizar para criar o projeto e executá-lo, sendo que foi instigado a não usar somente tintas, mas qualquer tipo de material que considerassem como interessante. Nessa oportunidade pode-se perceber, mais uma vez, a dificuldade de trabalhar em grupo e as vantagens desse tipo de exercício. Porém, nesse caso, a problemática não adivinha da auto-cobrança, mas da falta de alguém que exercesse a função de líder no grupo.

58 Foi realizado, também, um passeio ao Chimarrão com Nanquin, uma das programações do evento 8 Cartucho - Encontro dos Cartunistas Gaúchos que estava acontecendo na cidade. Na oportunidade os alunos puderam vivenciar uma forma diferente de arte, a qual não estavam habituados e conversar com pessoas especializadas na área. A partir da experiência, alguns alunos mostraram-se instigados a também produzirem seus cartuns. A última área a ser abordada com o grupo Arteiros foi à arte Urbana Grafite, momento bastante esperado pelos alunos. Para este trabalho tivemos o apoio de um grafiteiro bastante reconhecido na cidade, sendo possível abordar questões polêmicas a respeito do Grafite, como a diferença entre este e a pichação. Além do mais, os alunos tiveram a oportunidades de vivenciar esta arte, construindo stencil e deixando suas artes nas paredes da escola. Ainda têm-se, além dos grupos de interesse, o Grupo de Pais e/ou responsáveis, que como já citado anteriormente, é aberto também aos demais interessados na temática. O principal objetivo deste grupo consiste nas trocas de experiências e discussões, através das quais as famílias se sentem mais seguras em suas decisões e confiantes de que possuem um papel importante na educação dos filhos. Nesse grupo a equipe do projeto consegue acessar os anseios e opiniões dos familiares em relação às características e ao atendimento de seus filhos, podendo pensar estratégias de apoio do programa também no ambiente escolar e familiar. A partir das atividades desenvolvidas nesse grupo foi possível perceber que a troca de experiência pode servir de apoio por tranquilizar as famílias ao perceberem que comportamentos que causam estranheza em seus filhos são comuns nas outras crianças (SABATELLA, 2007, p. 148). Além do mais, conforme Sabatella (2007), estes momentos se constituem como uma rica fonte de informações aos integrantes podendo auxiliar através das descrições das estratégias que tiveram sucesso. O Grupo de Pais e/ou responsáveis vem se mostrado cada vez mais fundamental para amparar os familiares que necessitam de espaço para dividir suas aflições, medos e conquistas, além de oportunizar maiores conhecimentos sobre a temática

59 das altas habilidades/superdotação e, assim, entender melhor suas crianças e suas necessidades. Quanto às atividades especiais, aconteceram duas no ano de 2011. Uma no primeiro semestre envolvendo uma dinâmica de jogos eletrônicos e outros, e no segundo semestre que consistiu no trabalho com a atividade circense. Estes momentos foram bastante significativos para a interação entre os participantes de cada grupo de interesse entre si, com seus familiares e com a equipe executora do projeto. Além disso, os alunos puderam vivenciar experiências bastante diferentes das escolares e das oferecidas pelo próprio programa de enriquecimento. Desse modo, este é um exemplo de um programa de enriquecimento extracurricular para alunos com altas habilidades/superdotação que vem mostrando conquistas positivas no desenvolvimento destes sujeitos, o que se percebe no envolvimento e motivação para a participação. Assim como este, outros programas podem ser constituir, a partir de uma opção teórica, para contribuir para estes alunos. Considerações finais Os programas de enriquecimento proporcionam aos alunos espaço e oportunidades educacionais diferenciadas do que é oportunizado no ambiente escolar, sendo que se evidencia a preocupação para que estes potenciais não se mantenham adormecidos por não terem sido valorizados e explorados adequadamente. Da mesma forma que traz benefícios aos alunos, também a seus familiares. O Programa de enriquecimento tem se autoavaliado e busca constantes qualificações no sentido de oferecer um atendimento de qualidade a seus participantes. A partir dos reflexos notavelmente proporcionados pelo Programa na vida dos alunos atendidos por este projeto, entende-se que proporcionar um atendimento que estimule o desenvolvimento das habilidades dos alunos contribui para que estes tenham suas necessidades educacionais específicas assistidas e possam tornar-se mais confiantes e autônomos em suas decisões, inclusive a respeito do seu futuro profissional.

60 Além disso, acredita-se que, com o enriquecimento intra ou extracurricular, que pode ser promovida de diversas maneiras, através da assistência as necessidades dos alunos com características de altas habilidades/superdotação, a sociedade ganha profissionais mais criativos, sujeitos mais críticos e mais capazes de lhe proporcionar produtos singulares. Assim, está-se colaborando para que estes sujeitos possam contribuir significativamente para o meio em que vivem. Referências ALENCAR, E. M. L. S.; FLEITH, D. S. Superdotados: determinantes, educação e ajustamento. São Paulo: EPU, 2001. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA PARA SUPERDOTADOS ABSD. Altas habilidades/superdotação e talentos: manual de orientação para pais e professores. Porto Alegre: ABSD/RS, 2000. BRASIL. Ministério da educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação LDB 9394. 1996. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Especial. Política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva. MEC/SEESP, Brasília, 2008. FLEITH. D. S. (Org.). A construção de práticas educacionais para alunos com altas habilidades/superdotação: orientação a professores. Vol. 1. Brasília, DF. MEC, 2007. FREITAS, S. N.; PÉREZ, A. G. P. B. Altas habilidades/superdotação: atendimento especializado. 2. Ed. revista e ampliada. Marília: ABPEE, 2012. GUENTHER, Z. C. Capacidade e talentos: um conceito de inclusão. Petrópolis: Vozes, 2000.

61 GUENTHER, Z. C. CEDET 15 anos: CEDET organização e metodologia volume 3. Lavras, MG: Coleção Debutantes, ASPAT, 2008. RENZULLI, J. O que é esta coisa chamada superdotação, e como a desenvolvemos? Uma retrospectiva de vinte e cinco anos. Educação. Tradução de Susana Graciela Pérez Barrera Pérez. Porto Alegre RS, ano XXVII, n. 1, p. 75-121, jan/abr, 2004. SABATELLA, M. L. Atendimentos às famílias de alunos com altas habilidades. In: FLEITH, D. S. ALENCAR, E. M. L. S. Desenvolvimento de talentos e altas habilidades: orientação a pais e professores. Porto alegre: Artmed. 2007. p. 143-150.