Apesar da decisão judicial que anulou audiência pública, Governo prossegue com negociações para a venda de áreas de pesquisa Diretor da unidade de Itapeva (SP) começa a exigir a transferência de funcionários e a venda dos porcos utilizados em estudos de melhoramento e nutrição. Audiência convocada pelo coordenador da APTA foi realizada em um pequeno auditório do Instituto Biológico de Campinas e não teve ampla divulgação. (Foto: Luciana Barros) Em janeiro deste ano, o Judiciário declarou nula a portaria da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), de 11 de agosto de 2017, que convocou a comunidade científica para audiência decisória de alienação de Institutos de Pesquisas, vinculados a Secretária de Agricultura e Abastecimento. Por meio de outra ação, também ajuizada pela Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC), o Judiciário suspendeu a licitação na modalidade concorrência pública GSA 01/2017, do tipo maior oferta, publicada no Diário Oficial do Estado em 17 de novembro do ano passado. A concorrência tinha por finalidade a venda dos imóveis referentes a sete institutos de pesquisa, vinculados a Secretária de Agricultura e Abastecimento: em Araçatuba, Pindamonhangaba, Itapetininga, Itapeva, Tatuí, Nova Odessa e Campinas.
Apesar da decisão, o diretor do departamento de descentralização do desenvolvimento da unidade de Itapeva (SP), Sílvio Tavares, anunciou durante uma reunião com os funcionários, em 25 de janeiro, que a unidade deve ser esvaziada em razão da venda da unidade. O diretor determinou que os sete funcionários que hoje atuam em Itapeva procurem outras unidades para transferência. Além disso, já foi pedida a venda, em leilão, dos 36 porcos utilizados nas pesquisas, desrespeitando a decisão judicial. Um dos funcionários da unidade, que não quis se identificar, explicou que a situação da equipe é delicada, uma vez que todos estão instalados em Itapeva há muitos anos e estão há poucos anos de se aposentar. Nós vamos precisar nos mudar, com nossas famílias, para cumprir poucos anos de trabalho que nos restam e com atividades completamente diferente das que fazíamos aqui. Estamos muito preocupados, alertou. Atualmente a UPD de Itapeva possui projetos registrados de atividade de pesquisa e validação de tecnologia para transferir para os pequenos suinocultores, como inseminação artificial; manejo sustentável; nutrição e melhoramento de suínos; comportamento animal; bem- estar animal; desempenho; tratamento de dejetos; experimentos com alimentos alternativos e utilização de soja grão tostada no preparo de rações. A propriedade da Unidade, recebida como doação em 1941, foi originalmente criada para o desenvolvimento da suinocultura no Estado de São Paulo, e representa hoje, um Centro de Referência no estudo, desenvolvimento e difusão de tecnologias nessa área, mantendo rebanho de alto valor genético que é utilizado para as mais diversas atividades. A UPD de Itapeva também mantém, atualmente, parceria com os produtores, sindicatos e associações, o que a caracteriza como uma área de atividade predominante da agricultura familiar. A Unidade mantem preservada sua área de proteção ambiental (22,23 hectares), composta pelo rio, corpos d água, vegetação nativa remanescente e reflorestamento.
Porca criada na UPD de Itapeva amamenta leitões que foram fecundados por inseminação artificial. (Foto: arquivo pessoal) Projeto de Lei começou a ser discutido em 2016 No início da discussão do PL 328, era interesse do Estado se desfazer de 13 áreas destinadas à Pesquisa Científica. Depois de muitos argumentos por parte dos pesquisadores, manifestações e pedidos de associações de produtores rurais a vereadores, prefeitos e deputados, quatro áreas foram retiradas do texto inicial, porém das nove áreas que ainda constam na lista de alienação da Lei 16.338, quatro ainda eram consideradas fundamentais para a continuidade de importantes linhas de pesquisa, como as de Pindamonhangaba, Itapeva, Itapetininga e Nova Odessa, que constam entre os imóveis citados na audiência anulada. Sobre as demais áreas que constam como alienáveis O Instituto de Zootecnia, em Nova Odessa, está localizado na terceira região mais poluída do país, conforme Organização Mundial da Saúde de 2011. A cidade de Nova Odessa tem apenas 2% de remanescentes da floresta original, sendo que todo este percentual está em áreas internas do Instituto de Zootecnia, que o governo pretende alienar. Trata- se de uma das últimas áreas sem urbanização desta região, importantíssima em relação aos serviços ecossistêmicos para a sociedade. O IZ, inclusive, foi recentemente contemplado com R$ 3 milhões do Fundo Estadual de Interesses Difusos da Secretaria de Cidadania e Justiça para execução do projeto Bioma IZ: uma proposta ambiental, que visa a delimitação, recuperação e manutenção de extensas áreas de vegetações nativas, algumas remanescentes da
Mata Atlântica e reflorestadas, além da implantação de sistemas integrados de produção animal para pesquisas científicas. O projeto ainda não foi executado. Atualmente, as compensações ambientais efetuadas em matas ciliares, segundo a diretora do IZ, Renata Helena Branco Arnandes, têm recebido maior atenção dentro da pesquisa. Isso se dá devido à importância ecológica da manutenção da biodiversidade e de corredores biológicos, além da importância da manutenção da qualidade hidrológica dos mananciais, o que salienta a ideia de que o IZ capta água de manancial reflorestado, afirma Renata. Localizado em Jundiaí, o Centro de Engenharia e Automação (CEA) teve toda a sua estrutura projetada pelo Departamento de Engenharia e Mecânica da Agricultura (DEMA) para dotar o Estado de São Paulo de um moderno local de treinamento de técnicos em mecanização, bem como para a realização de trabalhos de experimentação e pesquisas relacionados com a mecânica agrícola, à altura dos mais adiantados Centros congêneres existentes em outras partes do mundo. O CEA é responsável por diversas linhas de pesquisa em desenvolvimento, como as de protótipos, desenvolvimento de métodos de ensaio, participação na elaboração de normas técnicas (ABNT, ISO) com a utilização de máquinas, equipamentos e componentes agrícolas; Engenharia de biossistemas, com a interação entre a máquina, a planta e o ambiente; Tecnologia de aplicação de insumos agrícolas: avaliação e desenvolvimento da qualidade na aplicação de agrotóxicos, corretivos, fertilizantes e adjuvantes; avaliação das condições de segurança em máquinas agrícolas; Tecnologia pós- colheita; desenvolvimento de tecnologias da informação; e gestão agroambiental. A Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Itapetininga, cuja principal linha de pesquisa é a ovinocultura, desenvolve trabalhos científicos na região há 58 anos, beneficiando a sociedade com o desenvolvimento de tecnologias para agricultura familiar. A área a ser alienada hoje sedia uma pesquisa de cana- de- açúcar em um projeto de arrendamento, que arrecada em torno de R$100.000,00 anuais. Esses recursos têm sido aplicados nos últimos anos para o desenvolvimento dos projetos de pesquisas com compras de equipamentos e insumos para experimentos, bem como para a alimentação do rebanho experimental e sua manutenção, manutenção da própria unidade com cercas elétricas, galpões, confecção de silagem para alimentação, compra de equipamentos, reforma no prédio, na hospedaria e nos galpões experimentais. Por fim, o Polo Regional do Vale do Paraiba, de Pindamonhangaba, possui diversos importantes projetos ligados à pecuária, além de novos cultivares de arroz irrigado para o Vale do Paraíba, com elevado potencial produtivo, grãos de boa culinária e de maior valor agregado, bem como a diversificação da produção dos solos de várzea no período do verão, atendendo os consumidor com novos tipos de arroz. Entre os projetos em andamento, o programa reprodutivo utilizando inseminação artificial em tempo fixo seguido de ressincronização em fêmeas bovinas leiteiras se destaca. Além dele, também são de fundamental importância a o programa de implantação de um sistema demonstrativo de produção de gado de corte no Vale do Paraíba, o melhoramento genético do arroz e o manejo cultural do arroz. Em 70 anos de atividade, foram selecionadas e recomendadas mais de 20 cultivares de arroz, o que caracteriza verdadeiramente uma escala evolutiva nos aspectos da performance
produtiva e qualidades de grãos, que se modificaram em conformidade com as exigências e perspectivas do mercado.