TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL Apelação Cível. Seguros. DPVAT. Ação de cobrança proposta em comarca que não coincide com o domicilio da parte autora, nem com o local do acidente de trânsito. Demandante domiciliada em outro Estado da federação. Nítida escolha de Juízo. Violação do princípio do juiz natural. Nulidade processual. Ausência de pressuposto de constituição válida e regular do processo. Extinção do feito sem resolução de mérito. Apelo desprovido. Apelação Cível - Sexta Câmara Cível Nº 70035122407 - Comarca de Porto Alegre ALMERINDA DANTAS DE ALENCAR MONTEIRO APELANTE 1 / 10
BRADESCO SEGUROS S/A APELADO ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos. Acordam os Desembargadores integrantes da Sexta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, negar provimento ao apelo. Custas na forma da lei. Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores Des. Luís Augusto Coelho Braga (Presidente e Revisor) e Des. Artur Arnildo Ludwig. 2 / 10
Porto Alegre, 15 de abril de 2010. DES. NEY WIEDEMANN NETO, Relator. RELATÓRIO Des. Ney Wiedemann Neto (RELATOR) Adoto o relatório da sentença, fls. 74/76, que passo a transcrever: 3 / 10
ALMERINDA DANTAS DE ALENCAR MONTEIRO ajuizou ação ordinária contra BRADESCO SEGUROS S/A. Relata que Maxely Dantas Monteiro, filho da autora, faleceu em decorrência de acidente de trânsito. Na condição de beneficiária do seguro DPVAT, busca a indenização prevista em lei 40 vezes o valor do salário mínimo vigente, objeto da pretensão. Declinada da competência, sobreveio agravo de instrumento, ao qual foi dado provimento. O feito foi submetido ao rito sumário (decisão de fl. 30). Em audiência, restou inexitosa a proposta conciliatória. Na solenidade, a requerida ofertou resposta escrita. Alegou, preliminarmente, a necessidade de inclusão da Seguradora Líder S/A, a ilegitimidade ativa. No mérito, referiu a falta de documento imprescindível ao deslinde do feito, não havendo comprovação da alegada invalidez e a impossibilidade de vinculação dos sinistros ao valor do teto. Salientou que a correção monetária e os juros devem incidir a contar da propositura da demanda e da citação, respectivamente. Postulou o acolhimento da preliminar. Requereu a improcedência da ação. Também na audiência, não houve réplica e foi encerrada a instrução, sendo dispensados os debates orais. Relatei. Decido. 4 / 10
A sentença apresentou o seguinte dispositivo: Pelo exposto, julgo extinta a ação, a teor do artigo 267, IV, do CPC. Sucumbente, arcará com as despesas processuais e honorários do advogado da ré, ora fixados em R$ 1.500,00. Suspensa a exigibilidade em razão da AJG. A parte autora apelou, fls. 78/82, sustentando que o ajuizamento da ação em Porto Alegre se deu pelo fato de ser o domicílio de residência do seu procurador. Alegou a inexistência de prejuízo à demandada e de ofensa ao princípio do juiz natural. Por fim, postulou o provimento do recurso, para julgar procedente o pedido. Apresentadas contra-razões, fls. 90/95. 5 / 10
Foram cumpridas as disposições do art. 551 do Código de Processo Civil. É o relatório. VOTOS Des. Ney Wiedemann Neto (RELATOR) Estou em negar provimento ao apelo. Antes de tudo, sinalo ser pacífico nesta Corte o entendimento no sentido de que é do autor a opção pelo ajuizamento da ação no foro do seu domicílio ou no lugar do acidente, podendo, renunciar a esta prerrogativa e ajuizar a ação no domicílio do réu, de acordo com a regra do art. 94 do Código de Processo Civil. 6 / 10
Todavia, tenho que a regra geral acima delineada é inaplicável ao caso vertente, visto que a parte autora reside em outro Estado da federação, onde também ocorreu o acidente noticiado, de sorte que a propositura da demanda na Comarca de origem revela nítida escolha de Juízo, em desobediência ao princípio do juiz natural, previsto no art. 5º, XXXVII e LIII, da CF/88. Com efeito, é cediço que o pagamento da indenização atinente ao seguro DPVAT pode ser exigido de qualquer seguradora que integre o denominado consórcio obrigatório, constituindo faculdade do beneficiário a escolha da companhia contra a qual deseja demandar. Nessas condições, poderia a parte autora ter proposto a presente demanda em Comarca pertencente ao Estado em que reside, onde inúmeras seguradoras integrantes do consórcio obrigatório possuem sede, carecendo de razoabilidade o aforamento levado a efeito na Comarca de origem, local absolutamente distante das provas concernentes ao fato, o que pode dificultar sobremaneira a instrução do feito. Outrossim, a parte autora não arrola qualquer motivação a fim de justificar sua conduta, restando evidente que sua intenção consubstancia mera opção por jurisdição cujos precedentes lhe parecem mais favoráveis, em nítida afronta aos ideais de igualdade e de eqüidade, bem como à dignidade da Justiça. 7 / 10
Por essa razão é que, malgrado seja classificada como relativa a competência territorial, comungo do entendimento desta Câmara no sentido de que a escolha imotivada de Juízo, em notório propósito de utilização de artifício indevido, enseja a nulidade do feito. Diante disso, impõe-se a extinção do feito sem resolução de mérito, por ausência de pressuposto de constituição válida e regular do processo. Nesse sentido: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO DPVAT. Ação proposta em comarca que não coincide com o domicilio do autor. Evidente escolha do juízo. Violação ao princípio constitucional do juiz natural. Ato atentatório à dignidade da justiça. Processo extinto sem resolução do mérito por ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo. Precedente desta Câmara. PROCESSO EXTINTO, SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO. PREJUDICADO O EXAME DO APELO. (Apelação Cível Nº 70034235556, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Antônio Corrêa Palmeiro da Fontoura, Julgado em 05/02/2010) APELAÇÃO CÍVEL. SEGUROS. DPVAT. AÇÃO DE COBRANÇA. AÇÃO PROPOSTA EM COMARCA QUE NÃO COINCIDE COM O DOMICILIO DO AUTOR, TAMPOUCO DO LOCAL DO ACIDENTE. EVIDENCIADA A ESCOLHA DO JUÍZO. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DO JUIZ NATURAL. ATO ATENTATÓRIO À DIGNIDADE DA JUSTIÇA. PROCESSO EXTINTO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO. AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTOS DE CONSTITUIÇÃO E DE DESENVOLVIMENTO VÁLIDO E REGULAR DO PROCESSO. VIOLAÇAO A PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL QUE ACARRETA A NULIDADE ABSOLUTA DO FEITO. A competência relativa, de regra, segundo a jurisprudência amplamente majoritária, e Súmula nº 33 do STJ não pode ser declinada de ofício pelo magistrado, somente pode ser 8 / 10
argüida pela parte ré, por meio de exceção. Inteligência dos arts. 100, IV, a, 94, caput, e 112 do Código de Processo Civil. Todavia, verificada a intenção do autor de burlar o foro competente em ato atentatório à Justiça e evidente escolha do juízo, intenciona fazer tramitar, nesta Comarca de Porto Alegre - extremo sul do país -, demanda cujo objeto é a indenização obrigatória decorrente de acidente de trânsito ocorrido no Estado de São Paulo, sendo domicílio do autor a Comarca de São Paulo - SP é de ser julgado extinto o feito, consoante disposto no art. 267, IV, do CPC. DE OFÍCIO, PROCESSO EXTINTO, SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO. RECURSO PREJUDICADO. (Apelação Cível Nº 70028352425, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Artur Arnildo Ludwig, Julgado em 10/12/2009) Ante o exposto, estou em negar provimento ao apelo. Para fins de prequestionamento, observo que a solução da lide não passa necessariamente pela restante legislação invocada e não declinada, seja especificamente, seja pelo exame do respectivo conteúdo. Equivale a dizer que se entende estar dando a adequada interpretação à legislação invocada pelas partes. Não se faz necessária a menção explícita de dispositivos, consoante entendimento consagrado no Eg. Superior Tribunal de Justiça, nem o Tribunal é órgão de consulta, que deva elaborar parecer sobre a implicação de cada dispositivo legal que a parte pretende mencionar na solução da lide. Oportuno salientar que a apresentação de questões para fins de prequestionamento não induz à resposta de todos os artigos referidos pela parte, mormente porque foram analisadas todas as questões que entendeu o julgador pertinentes para solucionar a controvérsia. 9 / 10
VOTO DESPROVIMENTO DO APELO. Des. Luís Augusto Coelho Braga (PRESIDENTE E REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a). Des. Artur Arnildo Ludwig - De acordo com o(a) Relator(a). DES. LUÍS AUGUSTO COELHO BRAGA - Presidente - Apelação Cível nº 70035122407, Comarca de Porto Alegre: "NEGARAM PROVIMENTO AO APELO. UNÂNIME." Julgadora de 1º Grau: ROSANE WANNER DA SILVA BORDASCH 10 / 10