Exmo. Senhor Presidente do Conselho Diretivo do IHRU, Sr. Arq.º Vítor Reis Exmo. Senhor Presidente da Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário, Sr. Eng.º Reis Campos Exmo. Senhor Presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal Sr. Luís Lima Senhores Convidados Senhores Oradores Caros Colegas e Amigos Minhas Senhoras e meus Senhores É com o maior prazer que, em nome da Associação Portuguesa dos Comerciantes de Materiais de Construção, vos dou as boas vindas a este seminário que, no âmbito de mais uma edição da CONCRETA, decidimos organizar sob tema A Cidade como Mercado. A escolha deste tema num momento em que as atenções estão sobretudo (e finalmente!) voltadas para a reabilitação urbana, justifica-se por uma questão relevante de perspetiva que, em nossa opinião, e por razões de caracter estratégico para os agentes do setor e, também, para os poderes públicos, importa desenvolver. - 1 -
Na verdade, este nosso esforço no domínio da reabilitação dos edifícios tem que ser encarado no quadro de um objetivo maior que é o da verdadeira regeneração das nossas cidades. Mais do que uma necessidade restrita à reabilitação física dos edifícios, a regeneração urbana é uma exigência e uma oportunidade que deve ser integrada nas novas dinâmicas de transformação do conceito de cidade ao nível global. Assumir esta problemática na sua perspetiva mais vasta de um mercado das cidades é assumir que a mesma poderá vir a ter um impacto bem mais alargado na modulação das respostas das atividades dos diferentes profissionais do imobiliário, da construção, do projeto e dos materiais de construção. E é essencial que assim seja! O futuro da nossa atividade e das nossas empresas exige um alargamento substancial do mercado face ao que ele hoje representa. É verdade que este último ano tem sido marcado por alguma recuperação no setor dos materiais de construção, que foi essencialmente alavancada pelas pequenas obras de renovação e reabilitação em edifícios de habitação. - 2 -
Temos que reconhecer que por trás deste comportamento está obviamente a dinâmica do mercado imobiliário, para a qual muito contribuiu o sucesso do programa dos vistos gold e dos benefícios fiscais atribuídos aos residentes não habituais que, importa sublinhar, despoletaram, por intermédio do magnífico trabalho de promoção feito pelos nossos colegas da APEMIP, e durante a fase mais negra da crise, o interesse dos investidores estrangeiros nos nossos imóveis e ajudaram a resolver inúmeros bloqueios, sobretudo ao nível da banca. As perspetivas para o próximo ano afiguravam-se, até às eleições legislativas de 4 de outubro passado, moderadamente positivas, registando-se, adicionalmente, alguns sinais de retoma da construção nova, de certa forma impulsionada pela maior disponibilidade de crédito para aquisição de casa própria, o qual tem vindo acrescer desde o mês de maio. No mesmo sentido, a expetativa de entrada em vigor, a partir dos primeiros meses de 2016, dos instrumentos financeiros do Portugal 2020 para a regeneração urbana e para a eficiência energética em edifícios, no valor de cerca de 630 milhões de euros, constitui um fator positivo de dinamização do mercado, que se junta a um potencial crescimento do investimento nos setores da indústria, agricultura e hotelaria, igualmente alicerçado nos fundos comunitários. - 3 -
O crescimento do mercado da construção no segmento de edifícios, apesar das insuficiências estatísticas na área da renovação e da reabilitação, estava avaliado em cerca de 2%, admitindo-se que, no caso específico dos materiais e equipamentos, esse crescimento poderia superar os 5% em 2016. Também, do lado das exportações, com poucas exceções das quais se destaca Angola, tem continuado a verificar-se uma aceitação crescente dos nossos produtos, quer nos mercados maduros da Europa, quer noutras latitudes, nomeadamente em alguns países ricos como o Canadá, admitindo-se a continuidade do crescimento das vendas no exterior a uma taxa acima da média do conjunto das exportações nacionais. Mas tudo isto pode estar agora em causa, face à situação politica criada e às ameaças que pairam sobre a estabilidade do funcionamento da administração pública, a irreversibilidade das reformas no mercado de trabalho e na fiscalidade e até mesmo sobre a estabilidade financeira e a solvabilidade do sistema bancário. Não obstante, é razoável esperar que uma política orçamental expansionista, especialmente orientada para o aumento do rendimento das famílias com mais elevada propensão ao consumo, venha a favorecer os gastos com a habitação, beneficiando o nosso setor, ainda que num prazo maior uma eventual restrição do crédito possa provocar o efeito contrário. - 4 -
Do ponto de vista empresarial teremos assim que, em maior ou menor escala, consoante o evoluir da situação, estar mais atentos aos fatores de ordem financeira e organizacional, sem prejuízo de prosseguir, de forma sistemática, o processo de adaptação interna das empresas e do setor em geral à mudança de paradigma, conforme identificado no Plano Estratégico para a Fileira da Construção 2014-2020 que apresentámos o ano passado, com os contributos da reflexão realizada no último Congresso, em junho deste ano, em Viana do Castelo. Mas isto é tudo conjuntural. E reconduz-nos exatamente à questão do mercado imobiliário e ao mercado das cidades. Lembramos o que afirmámos há dois anos, aqui mesmo no Seminário durante a Concreta 2013: Aquilo que nos parece óbvio é que a reabilitação urbana só acontecerá se for arrastada por uma dinâmica de regeneração e modernização das cidades, que seja atrativa para o investimento privado, não obstante, sobretudo no caso dos centros históricos, ser imprescindível um enquadramento fiscal e instrumentos financeiros ajustados a esta realidade. - 5 -
Uma política de reabilitação tem que ser incluída numa outra mais geral de regeneração urbana sustentável e, sobretudo, de promoção de habitação. Devemos evitar, a não ser na medida do estritamente necessário, modelos assistencialistas. As operações de reabilitação devem ser traduzidos numa valorização dos imóveis no mercado e propiciar ganhos percetíveis para utilizadores e investidores. Para além do redesenho do sistema de impostos sobre o imobiliário, é importante criar instrumentos financeiros de suporte a esta atividade, complementando-os com incentivos fiscais e apoios comunitários à eficiência energética. E, na altura, referimos também, a propósito das questões do paradigma da sustentabilidade, a importância que para nós representa a dimensão cidade como mercado. Relembro: Construir cidades inteligentes e sustentáveis requer produtos com idênticas caraterísticas. Abordar este mercado com sucesso pressupõe um grande esforço de inovação ao nível do produto, do processo de fabrico, da integração em soluções e, também, de marketing, que o nosso pequeno mercado talvez não justificasse. Existem, por isso, importantes interações entre o investimento nas cidades sustentáveis e inteligentes do futuro e a internacionalização das nossas empresas. - 6 -
É que sendo a sustentabilidade, cada vez mais e ao nível global, mas sobretudo nos mercados mais desenvolvidos e ricos, um critério essencial, o sucesso da internacionalização das nossas empresas, produtos e serviços está intimamente ligado ao que conseguirmos demonstrar nesta área. Hoje, superada a crise financeira, temos que nos focar no futuro e nas oportunidades. As reformas efetuadas ao nível do regime do arrendamento urbano e da tributação das rendas, a atitude proactiva da banca para se libertar do excesso de stock de imóveis que as falências de empresas e de muitas famílias lhe colocou nas mãos e, finalmente, a retoma do crescimento económico, o aumento da poupança, a redução do nível de endividamento das famílias e a estabilização do respetivo rendimento, aliada a uma política europeia de baixas taxas de juro, tem vindo a permitir o retorno do investimento privado e do crédito, quer na aquisição para arrendamento, quer na reabilitação dos edifícios, a que se seguirá, não temos dúvidas, o crescimento da construção nova. Estamos no dealbar de um novo ciclo, que nos dá a oportunidade de intervir para ter cidades duplamente competitivas, no sentido em que podem ajudar a atrair investidores e novos residentes e alterar o paradigma da nossa própria capacidade de gerar valor. - 7 -
Uma nova política de cidades, incluindo uma nova visão da reabilitação e, sobretudo, da regeneração urbana, é a base essencial para fortalecer as competências das empresas e dos profissionais desta fileira e demonstrar soluções inovadoras e com valor acrescentado com que podem, também, concorrer lá fora. Mas não só. A fileira das atividades imobiliárias e da construção é uma das mais importantes em Portugal, como, aliás, o é em qualquer economia desenvolvida e as suas exportações, só em materiais e equipamentos, para não falar em serviços, representa mais de 12% do total das exportações nacionais. Este papel tem sido, aliás, bem salientado pela nossa Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário e pelo seu Presidente, o nosso amigo Engº. Reis Campos, que nos dá a honra de estar hoje aqui connosco. Desde a sua constituição, em 2009, a CPCI tem contribuído ativamente para a definição das prioridades para o país e para o setor, bem como, para a concretização de uma estratégia que permita a Portugal um desenvolvimento sustentado capaz de nos fazer vencer os desafios da globalização. - 8 -
São disso exemplos o documento de ESTRATÉGIA PARA A DINAMIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO E DO IMOBILIÁRIO, apresentada logo em 2010 e o COMPROMISSO PARA A COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL DO SETOR DA CONSTRUÇÃO E DO IMOBILIÁRIO, celebrado com o governo em 2013, constituído por um conjunto de ações de apoio à reconversão e de relançamento do setor da construção e do imobiliário centrado em 7 domínios prioritários, entre os quais se encontravam, nomeadamente, a melhoria das qualificações e do emprego, a dinamização da reabilitação urbana e do mercado de arrendamento, a sustentabilidade ambiental e a inovação e a internacionalização das empresas. Temos consciência absoluta da importância do nosso setor para ajudar a vencer o enorme desafio da competitividade e do crescimento económico, assim as competências das nossas empresas e profissionais possam ser mobilizadas para projetos com dimensão, estratégicos e de futuro. E, dito isto, não me irei alongar mais, passando a palavra aos oradores e convidados que nos deram a honra de hoje aqui estar connosco e a quem agradeço o interesse, o empenhamento e o seu contributo na reflexão sobre estes temas. A todos, Muito Obrigado. - 9 -