Relatório da visita do MPM à Brigada Brasileira de Força de Paz no Haiti



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Transcrição:

Relatório da visita do MPM à Brigada Brasileira de Força de Paz no Haiti Adriana Lorandi e Giovanni Rattacaso MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO MINISTÉRIO PÚBLICO MILITAR VISITA À BRIGADA BRASILEIRA DE FORÇA DE PAZ NO HAITI (MISSÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ESTABILIZAÇÃO NO HAITI - MINUSTAH) RELATÓRIO Abril de 2005

1 - ORIGEM A convite do Comando do Exército, os Membros do Ministério Público Militar, Doutora Adriana Lorandi, Vice-Procuradora-Geral da Justiça Militar, e Doutor Giovanni Rattacaso, Procurador da Justiça Militar, signatários do presente instrumento, integraram comitiva, com múltiplos objetivos, em viagem à capital do Haiti, Porto Príncipe, onde se desenvolvem atividades da Força de Paz da ONU, denominada MINUSTAH, no período de 18 a 22 de abril de 2005. 2 CRONOLOGIA 18/04, 09h Decolagem do Rio de Janeiro/RJ, em aeronave EMB 145 da Força Aérea Brasileira, com destino a Boa Vista/RO, com escalas em Brasília/DF e Manaus/AM. 18/04, 15h (hora local) Chegada a Boa Vista/RO, deslocamento para o Hotel de Trânsito do Exército, jantar e noite livres. 19/04, 05h Decolagem para Porto Príncipe. 19/04, 08h (hora local) Chegada a Porto Príncipe, com recepção pelo General-de-Divisão Augusto Heleno Ribeiro Pereira, Force Comander da MINUSTAH, General-de-Brigada João Carlos Vilela Mogero, Comandante da Brigada Haiti, e demais comandantes militares brasileiros da área. 19/04, 9h30 Palestras dos Generais Heleno e Vilela, respectivamente. 19/04, 13h Almoço e deslocamento para acomodação no Hotel. 19/04, 15h30 Visita à Embaixada do Brasil no Haiti, com recepção pelo Embaixador Luiz Felipe Macedo Soares. 19/04, 20h Solenidade comemorativa ao Dia do Exército, no Comando da Brigada Haiti (Base Alfa), com a outorga da Medalha da ONU aos integrantes do atual contingente, contando com a presença das mais altas autoridades haitianas, dos comandantes militares das outras nações integrantes e de várias representações diplomáticas.

20/04, 08h Visita ao Batalhão de Infantaria Força de Paz BI F Paz (Base Bravo), recepcionados pelo Comandante, Tenente-Coronel Luciano Puchalsky, café-da-manhã, palestra e visita às instalações. 20/04, 11h Visita ao Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais (Base Raquel de Queiroz ), recepcionados pelo Comandante, Capitão-de-Mar-e-Guerra Oswaldo Queiroz de Castro, palestra, visitação e almoço. 20/04, 14h Visitas ao posto avançado, localizado no Porto da capital haitiana; ao bairro Cité Soleil; ao Palácio Nacional e ao Forte Nacional, onde a BI F Paz também possui postos avançados. 20/04, 18h Retorno à Base Alfa para jantar e visita a uma exposição de artesanato local. 20/04, 21h Patrulha noturna ao violento bairro Bel Air, em blindado Urutu, em comboio de 07 viaturas. 21/04, 08h Café-da-manhã na Base Bravo (BI F Paz), palestra da Base Administrativa, visita às instalações e almoço. 21/04, 13h Decolagem com destino a Boa Vista/RO, com escala técnica em Caracas, na Venezuela. 22/04, 08h (hora local) Decolagem para o Rio de Janeiro/RJ, com escalas em Manaus/AM e Brasília/DF. 3 HISTÓRICO DA MINUSTAH Criada pela Resolução n 1.542, de 30 de abril de 2004, do Conselho de Segurança da ONU, a MINUSTAH foi inspirada pela violência generalizada que se instalou no Haiti após uma rebelião armada ter forçado a saída do então Presidente Jean Bertrand Aristide, tendo assumido um governo provisório e criado um conselho eleitoral para preparar novas eleições gerais, previstas para outubro e dezembro p. f. À MINUSTAH cabem três missões precípuas: assegurar as condições de segurança para o prosseguimento do processo político e constitucional; assistir o governo provisório do Haiti

na reforma da Polícia Nacional, única força armada legalizada no país; e apoiar programas de desarmamento, desmobilização e reintegração de grupos irregulares. 4 O HAITI Ocupando metade da Ilha Hispaniola, no caribe, o Haiti, ou Terra das Montanhas, declarou-se independente em 1804, e é tida como a primeira república negra do mundo. Sua população estimase em cerca de 8,5 milhões de habitantes, dos quais cerca de 2 milhões estão na capital Porto Príncipe. O idioma oficial é o francês, porém dissemina-se cada vez mais o creole, dialeto nativo. Em sua história o Haiti contou com 33 golpes militares e várias ditaduras. Hoje, em razão da crise instalada, a subnutrição é uma das principais causas de morte e as condições sanitárias são críticas. No bairro de Cité Soleil, há um mercado que foi denominado pela tropa brasileira de "cozinha do inferno", pois ali é comum o uso de água do esgoto, a céu aberto, para o preparo de alimentos, que são vendidos no local. Grande parte da população não tem acesso a água potável, tampouco a sistema de transporte público organizado, ou serviço de coleta de lixo. Os haitianos vivem basicamente do comércio informal, uma vez que o desemprego atinge 80% da população economicamente ativa. Não obstante ser mais conhecido pela miséria, o Haiti possui também uma minoria que vive em condições privilegiadas, no bairro de Pétion-Ville, e que consome basicamente produtos importados. 5 O CONTINGENTE DA MINUSTAH Encontram-se em solo haitiano quase 6.000 militares integrantes da MINUSTAH, sendo o maior contingente oriundo do Brasil, todos sob o comando do General Heleno. Os efetivos são assim compostos: 1.200 do Brasil; 750 do Nepal; 750 do Sri Lanka; 750 da Jordânia; 572 do Uruguai; 533 da Argentina; 533 do Chile; 205 do Peru; 200 da Espanha; 163 do Marrocos; 135 das Filipinas; 70 da Guatemala; e 66 do Equador. Até o presente momento, três soldados da missão foram mortos em operações no Haiti. O Brasil não teve baixa, porém seis militares foram feridos em ação. 6 A MISSÃO Os dados a seguir foram extraídos das palestras ministradas à comitiva:

O contingente brasileiro está distribuído nos seguintes locais: Base Alfa (Brigada Haiti); Base Bravo (Batalhão de Infantaria Força de Paz); Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais; Palácio Nacional (Palácio do Governo, guarnecido pela tropa brasileira); Primature (Palácio do primeiroministro, idem); Cais do Porto (posto avançado); Magistrature (Academia da Polícia Nacional do Haiti, onde hoje estão alojados cerca de 400 ex-militares do extinto Exército haitiano, que depuseram armas); Forte Nacional (ponto estratégico, no alto da favela Bel Air, reduto do expresidente Aristide); e Comitê Eleitoral. Além das principais missões supra-referidas, os militares brasileiros promovem: 1. a segurança das áreas sob sua responsabilidade, com ininterruptas missões de patrulhamento, seja de dia ou à noite; 2. escolta de comboios civis; 3. ajuda humanitária, com distribuição de cestas básicas de alimentos, roupas, material escolar e esportivo 4. assistência à saúde, com distribuição de panfletos educativos, de preservativos e de medicamentos; 5. assistência odontológica (765 atendimentos); 6. assistência religiosa; 7. corte de cabelo comunitário; 8. apresentações artísticas e culturais, com exibições regulares no Cine Bombagay; 9. remoção de obstáculos. Foram 64 missões, com a retirada de 210 caminhões de lixo e 44 carcaças que impediam as tropas de acessar determinadas áreas da cidade; 10. fechamento de 14 fossos; 11. cadastramento da população; 12. apreenção de material proibido: armamento, munição, rádios, drogas etc; e 13. dedetização de áreas infectadas; 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS As tropas brasileiras estão há quase um ano no Haiti. A relação com o povo é amistosa, mercê das ações sociais adrede referidas, contando, ainda, com o gosto imoderado dos haitianos pelo futebol e pela seleção brasileira que, em 2004, esteve em Porto Príncipe, onde participou de um jogo amistoso contra a seleção haitiana. Não obstante uma injusta e sistemática avaliação crítica negativa, promovida por organismos norte-

americanos, oficiais e não-governamentais, que dizem ser a Força de Paz conivente com a Polícia Nacional Haitiana, acusada de praticar execuções sumárias e prisões arbitrárias, em relatórios absolutamente hipotéticos e inconsistentes, a comitiva pôde perceber, extreme de dúvida, que a MINUSTAH tem alcançado, plenamente, seus objetivos e até superado as espectativas da ONU e do povo local, propiciando um ambiente favorável à futura normalização das instituições haitianas. A tarefa não é e não será fácil, pois pelo menos vinte candidatos devem concorrer à presidência do Haiti, muitos dos quais pertencentes a grupos armados, apontando para um demorado e complicado processo de consolidação da democracia no Haiti. Certamente, a miséria e a violência são os principais problemas do país, decorrentes da debilitada economia e da grave crise institucional. Entretanto, a contribuir, decisivamente, com tal quadro, verificamos a falta de solidariedade da comunidade internacional, que é uma realidade facilmente constatável a partir da promessa feita em agosto de 2004, até hoje não cumprida, da liberação de cerca de US$ 1,08 bilhão, para a reconstrução do país. O risco de instabilidade após a eleição do novo governo do Haiti existe e é bastante provável, face à inexistência, até agora, de um pacto de governabilidade. Este fato poderá retardar o fim da MINUSTAH, com a permanência de nossas tropas no país caribenho por mais alguns meses. Por fim, cumpre-nos ressaltar que, tendo em vista a extraterritorialidade da Lei Penal Castrense, que significa a longa manus da tutela do Estado brasileiro sobre eventuais crimes militares ocorridos fora do território nacional, e que os integrantes da Procuradoria da Justiça Militar em Brasília/DF são os denominados promotores naturais para essas hipóteses, a participação dos signatários na presente visita foi de inestimável valia para o aperfeiçoamento de nossas funções institucionais, cumprindo-nos apresentar nossos sinceros agradecimentos ao Comando do Exército e, em particular, ao ilustre Tenente-Coronel Edilton Oliveira Nunes, oficial de ligação ao Ministério Público e ao Judiciário, que contribuiu, valiosamente, para a plena consecução dos fins almejados. Brasília/DF, abril de 2005 Adriana Lorandi Vice-Procuradora-Geral da Justiça Militar

Giovanni Rattacaso Procurador da Justiça Militar