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VISTOS lauda 1

Transcrição:

Apelação Cível n. 0305131-80.2016.8.24.0064, de São José Relator: Desembargadora Cláudia Lambert de Faria APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C DANOS MORAIS. INSCRIÇÃO DO NOME DA AUTORA NOS ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO EM DECORRÊNCIA DE INADIMPLEMENTO DE FATURAS DE SERVIÇOS DE ENERGIA ELÉTRICA NÃO CONTRATADOS. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. RECURSO DA PARTE RÉ ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE DANO MORAL E SIM MERO ABORRECIMENTO. INSUBSISTÊNCIA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA CONFIGURADA, CONSOANTE ART. 14 DO CDC. INEXISTÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA RELAÇÃO JURÍDICA ENVOLVENDO AS PARTES. ÔNUS DA PROVA QUE INCUMBIA À RÉ, NOTADAMENTE DIANTE DA IMPOSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO DE PROVA NEGATIVA PELA AUTORA. CULPA EXCLUSIVA DE TERCEIRO OU DO CONSUMIDOR NÃO DEMONSTRADA. INSCRIÇÃO INDEVIDA. DANO MORAL PRESUMIDO (IN RE IPSA). DISPENSA DA PRODUÇÃO DE PROVAS. VIABILIDADE DE FIXAÇÃO DA VERBA COMPENSATÓRIA. MINORAÇÃO DO QUANTUM COMPENSATÓRIO. POSSIBILIDADE. OBSERVÂNCIA DOS CRITÉRIOS DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE, DE ACORDO COM OS PARÂMETROS DEFINIDOS PELA CÂMARA. TERMO A QUO DOS JUROS DE MORA. DATA DO EVENTO DANOSO QUE CORRESPONDE A DA INSCRIÇÃO INDEVIDA E NÃO A DO VENCIMENTO DA FATURA. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS RECURSAIS. MANUTENÇÃO DA SUCUMBÊNCIA EM GRAU RECURSAL, NA FORMA ESTABELECIDA NA SENTENÇA. SÚMULA 326 DO STJ. IMPOSSIBILIDADE DE FIXAÇÃO. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n. 0305131-80.2016.8.24.0064, da comarca de São José 3ª Vara Cível em que é Apelante Espírito Santo Centrais Elétricas S/A ESCELSA e Apelada Susete Cardoso de Sousa Cardoso. A Quinta Câmara de Direito Civil decidiu, por votação unânime, conhecer do recurso e dar-lhe parcial provimento. Custas legais. O julgamento, realizado nesta data, foi presidido pelo Excelentíssimo Senhor Desembargador Ricardo Fontes, com voto, e dele participou o Excelentíssimo Senhor Desembargador Jairo Fernandes Gonçalves. Florianópolis, 22 de maio de 2018. Desembargadora Cláudia Lambert de Faria Relatora 2

RELATÓRIO Susete Cardoso de Souza Cardoso, assistida por sua genitora, Silvana Cardoso de Sousa, ajuizou ação declaratória de inexistência de débito c/c indenização por danos morais e pedido de tutela provisória de urgência de natureza antecipada em face de Espírito Santo Centrais Elétricas S/A ESCELSA, narrando, em síntese, que teve seu nome inscrito nos órgãos restritivos ao crédito por dívida que desconhece, pois jamais contratou os serviços da ré. Por esse motivo, postulou, em sede de tutela antecipada, que a demandada procedesse à baixa da negativação de seu nome e, no mérito, a declaração de inexistência do débito e a condenação da requerida ao pagamento de indenização pelos danos morais sofridos, no importe de R$ 15.000,00. prova, com base do CDC. Às fls. 30/34, foi deferida a tutela antecipada e invertido o ônus da Citada, a ré apresentou contestação às fls. 39/52, aduzindo que, em seus cadastros, o CPF da autora estava vinculado ao nome de Diogenes de Souza Campos, o qual contratou seus serviços e não quitou as faturas, razão pela qual incluiu o CPF nos órgãos restritivos ao crédito. Alegou que a unidade consumidora teve o primeiro consumo ainda na vigência da Resolução n. 456/2000, de acordo com a qual era permitida a solicitação de instalação nova através de contato telefônico. Assim, diante da ação de falsário, restaria caracterizado fato exclusivo de terceiro, não havendo que se falar em indenização por danos morais. Houve réplica (fls. 69/78). Na sequência, foi prolatada a sentença de fls. 79/87, que julgou procedentes os pedidos iniciais, nos seguintes termos: ANTE O EXPOSTO, na forma do artigo 487, I do Código de Processo Civil, JULGO PROCEDENTES os pedidos formulados por Susete Cardoso de Sousa Cardoso em face de Escelsa- Espírito Santo Centrais Elétricas S.a. 3

para: a) DECLARAR inexistente o débito inscrito no Serasa por ordem da ré (págs. 22/23). b) CONDENAR a ré a pagar à autora a quantia de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), a título de danos morais. O quantum deverá ser corrigido monetariamente a partir da data desta sentença, e acrescido de juros de mora de 1% a.m. desde o evento danoso: 17/05/2011 (pág. 23). c) CONFIRMAR de maneira definitiva a exclusão do nome da autora dos cadastros do órgão de proteção de crédito, conforme antecipação de tutela oncedida nos autos (págs. 30/34). d) CONDENAR a ré ao pagamento das despesas processuais e honorários advocatícios em favor do patrono da autora, fixados em 15% (quinze por cento) sobre o valor da condenação, nos termos do artigo 85, 2º, do Código de Processo Civil. Irresignada, a ré interpôs recurso de apelação cível (fls. 90/100), sustentando que não praticou qualquer conduta ilícita passível de gerar indenização por danos morais à autora, já que seu CPF estava vinculado ao titular de unidade consumidora. Alegou, novamente, a realização do negócio jurídico pela autora ou, na hipótese de admissão de fraude, a ocorrência de fato exclusivo de terceiro e culpa da vítima e pugnou pela reforma da sentença, a fim de que os pedidos sejam julgados improcedentes, requerendo, por fim, alternativamente, a minoração do quantum indenizatório. Contrarrazões às fls. 124/133. Os autos vieram conclusos para julgamento. 4

VOTO Inicialmente, diante da entrada em vigor, a partir de 18-03-2016, do novo Código de Processo Civil (Lei n. 13.105, de 16-03-2015), faz-se necessário definir se a nova lei será aplicável ao presente recurso. Com relação aos requisitos de admissibilidade recursal, consoante Enunciado administrativo n. 3 do Superior Tribunal de Justiça (aprovado em sessão do Pleno do dia 16-03-16), aquela Corte decidiu que "Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do novo CPC". No caso em apreço, a sentença foi prolatada já na vigência do novo CPC, portanto, devem ser observados os requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, os quais se encontram presentes na espécie. Por seu turno, a análise do pleito recursal também deve obedecer aos dispositivos do novo código. De início, convém registrar que, por ser inquestionável a relação de consumo que envolve as partes, incidem as regras previstas no Código de Defesa do Consumidor, destacando-se, para o caso concreto, o art. 14 do referido diploma legal: Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. [...] 3 O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: [...] II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. Portanto, a responsabilidade da recorrente pelos serviços prestados é objetiva, necessitando, para a sua configuração, apenas a prova do dano e do nexo de causalidade entre os serviços prestados e o prejuízo suportado pela 5

consumidora. No entanto, demonstrada a culpa exclusiva da consumidora ou de terceiro, não haverá qualquer responsabilização da prestadora. Na espécie, infere-se que a autora, ora recorrida, teve seu nome inscrito nos órgãos de proteção ao crédito em decorrência de dez supostas dívidas, com vencimentos em 17/05/2011, 20/06/2011, 21/07/2011, 16/08/2011, 22/09/2011, 19/10/2011, 17/11/2011, 30/12/2011, 17/01/2012 e 14/02/2012 (fls. 22/23). A apelada asseverou que nunca contratou com a demandada, sendo que, nas datas indicadas, era menor incapaz e nem sequer possuía CPF (o qual foi cadastrado apenas em 23/05/2014). A apelante, por sua vez, alega que, caso não tenha a autora contratado os serviços geradores do débito em discussão, tratar-se-ia de hipótese de fraude, caso em que restaria configurada culpa exclusiva de terceiro e da própria consumidora, ante a falta de zelo aos seus dados e documentos pessoais. Entretanto, a recorrente não logrou êxito em comprovar a existência de negócio jurídico entre as partes, em relação aos débitos que originaram a inscrição, que pudesse legitimar a cobrança do débito, ônus que lhe incumbia, diante da aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor e, consequentemente, da inversão do ônus da prova. Ressalta-se que, como ela própria reconheceu na contestação, o CPF da autora estava vinculado ao nome de Diogenes de Souza Campos, pessoa esta totalmente estranha à lide. Assim, ainda que evidenciada fraude por ato de terceiro, não se pode cogitar a responsabilização da consumidora por tal fato, cabendo à apelante tomar as medidas necessárias à prestação adequada e segura de seus serviços. Portanto, ao incluir o nome da recorrida no serviço de proteção ao 6

crédito por débito inexistente, a demandada agiu de forma ilícita, devendo responder pelos danos morais. Neste sentido, é jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO. RESPONSABILIDADE CIVIL. NEGATIVAÇÃO EM CADASTROS DE INADIMPLENTES. QUANTUM INDENIZATÓRIO. RAZOABILIDADE. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA. IMPROVIMENTO. 1.- "Nos casos de protesto indevido de título ou inscrição irregular em cadastros de inadimplentes, o dano moral se configura in re ipsa, isto é, prescinde de prova, ainda que a prejudicada seja pessoa jurídica." (Resp 1059663/MS, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, DJe 17/12/2008). (AgRg no AREsp 501.533/DF, rel. Ministro Sidnei Beneti, j. em 27.05.2014). Quinta Câmara Civil: Seguindo a mesma orientação, cita-se o seguinte acórdão da APELAÇÕES CÍVEIS. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. INSCRIÇÃO EM CADASTRO DE INADIMPLENTES. PROCEDÊNCIA NA ORIGEM. INSURGÊNCIA DA RÉ. ALEGAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE DANO. ANOTAÇÃO INDEVIDA. DANO MORAL PRESUMIDO. MANUTENÇÃO DA CONDENAÇÃO. DANOS MORAIS. VERBA INDENIZATÓRIA. PLEITOS DE MINORAÇÃO E DE MAJORAÇÃO, PELA RÉ E PELO AUTOR, RESPECTIVAMENTE. NECESSIDADE DE ADEQUAÇÃO AOS PARÂMETROS ADOTADOS PELA CÂMARA. QUANTUM MAJORADO. PROPÓSITO RECONFORTANTE E PEDAGÓGICO ATINGIDOS. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. PLEITO DE MAJORAÇÃO PELO DEMANDANTE. DESCABIMENTO. AÇÃO CORRIQUEIRA E DE BAIXA COMPLEXIDADE. REQUISITOS LEGAIS PREENCHIDOS. SENTENÇA MANTIDA NO PONTO. RECURSOS CONHECIDOS, DESPROVIDO O DA RÉ E PROVIDO EM PARTE O DO AUTOR. (TJSC, Apelação Cível n. 0301224-64.2015.8.24.0054, de Rio do Sul, rel. Des. Jairo Fernandes Gonçalves, j. 16-05-2017). Do interior do julgado, cita-se a seguinte passagem: Como é cediço, nos casos envolvendo inscrição indevida no rol de inadimplentes, o Superior Tribunal de Justiça já pacificou o entendimento de que o dano provém da simples anotação restritiva, pois ela própria possui o condão de lesar a honra, trazendo ao prejudicado angústias que merecem ser reparadas. É desnecessária, portanto, qualquer demonstração de que em decorrência da inscrição tenha o ofendido sofrido outros reflexos, como a negativa de crédito perante lojas ou instituições financeiras, por exemplo. 7

Ora, a mesma interpretação pode-se aplicar ao caso em análise, restando configurado o ilícito perpetrado pela apelante, consistente na aludida inscrição indevida. Quanto ao tema, é pacífico na jurisprudência, como demonstrado, que, em se tratando de inscrição indevida nos cadastros de inadimplentes e não havendo apontamentos anteriores regulares, o dano moral é presumido (in re ipsa), prescindindo, portanto, da produção de outros provas. Isso porque são indiscutíveis e notórias as consequências negativas, no âmbito do mercado de consumo, oriundas da restrição injustificada do nome do consumidor, violando os seus direitos da personalidade, notadamente a sua imagem, honra e vida privada. Desse modo, não merece prosperar o argumento, constante nas razões recursais, de que não restou comprovado o dano moral, mas sim mero aborrecimento. Relativamente ao valor da indenização, sabe-se que o julgador deve fixá-lo de acordo com o seu arbítrio motivado, respeitando os critérios da proporcionalidade e razoabilidade, de modo a não causar o enriquecimento ilícito da parte beneficiada e nem levar a bancarrota o ofensor. Neste sentido, cita-se: Na linha dos precedentes desta Corte, "A indenização por danos morais deve ser fixada com ponderação, levando-se em conta o abalo experimentado, o ato que o gerou [...]; não podendo ser exorbitante, a ponto de gerar enriquecimento, nem irrisória, dando azo à reincidência" (AC n. 2006.013619-0, rel. Des. Fernando Carioni, j. em 3.8.2006). Na verdade, o quantum deve exercer uma função reparatória e pedagógica, observando-se a necessidade de desestimular a reiteração da conduta ilegal praticada, assim como a repercussão do evento danoso para a vítima. Diante da ausência de parâmetros objetivos para a fixação do dano moral, deve o magistrado estabelecê-lo sempre levando em consideração as 8

peculiaridades do caso concreto. Já decidiu esta Câmara: CIVIL - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - INSCRIÇÃO INDEVIDA EM CADASTRO RESTRITIVO DE CRÉDITO - DANO MORAL CONFIGURADO - DEVER DE INDENIZAR - VERBA DE NATUREZA COMPENSATÓRIA 1 Comprovado o nexo de causalidade e excluídos os casos de culpa exclusiva de terceiro ou do próprio consumidor, a inscrição indevida do nome deste nos cadastros de proteção ao crédito sujeita o fornecedor a responder pelos danos morais e materiais suportados por aquele. 2 Na fixação do valor dos danos morais deve o julgador, na falta de critérios objetivos, estabelecer o quantum indenizatório com prudência, de modo que sejam atendidas as peculiaridades e a repercussão econômica da reparação, devendo esta guardar proporcionalidade com o grau de culpa e o gravame sofrido. (TJSC, Apelação Cível n. 1010337-65.2013.8.24.0023, da Capital, rel. Des. Luiz Cézar Medeiros, Quinta Câmara de Direito Civil, j. 17-10-2017). Extrai-se do interior do acórdão: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n. 1010337-65.2013.8.24.0023, da Comarca da Capital 1ª Vara Cível em que é Apelante Celesc Distribuição S/A e Apelado A. R. M. Com efeito, nítida é a falha da fornecedora de energia elétrica ré, que acusou indevidamente o consumidor da inadimplência de valores que comprovadamente não eram devidos, bem como procedeu à inscrição irregular do seu nome no cadastro público restritivo de crédito. Nesse contexto, diante do quadro fático delineado nos autos, consideradas as peculiaridades do caso, os parâmetros usualmente praticados por este Órgão Fracionário para situações similares e o valor atualizado da condenação após a incidência dos consectários legais, o montante da verba indenizatória deve ser mantido em R$ 10.000,00 (dez mil reais). Ainda: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. INSCRIÇÃO INDEVIDA EM ÓRGÃO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. APONTAMENTO DE DÍVIDA INEXISTENTE. PROCEDÊNCIA NA ORIGEM. INSURGÊNCIA DA EMPRESA RÉ. ILÍCITO CONFIGURADO. DEVER DE INDENIZAR EVIDENCIADO. ABALO MORAL PRESUMIDO. PRETENSÃO DE MINORAÇÃO DA VERBA COMPENSATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. VALOR FIXADO DENTRO DOS PARÂMETROS DA CÂMARA EM CASOS SEMELHANTES. QUANTUM MANTIDO. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJSC, Apelação Cível n. 0300732-04.2014.8.24.0282, de Jaguaruna, rel. Des. Jairo Fernandes Gonçalves, Quinta Câmara de Direito Civil, j. 12-09-2017). 9

Por oportuno, cita-se a seguinte passagem deste aresto: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n. 0300732-04.2014.8.24.0282, da comarca de Jaguaruna (Vara Única), em que é apelante Celesc Distribuição S/A, e é apelada M. T. L. R. E, tendo a sentença recorrida fixado a indenização em R$ 11.000,00, quantia esta que, mesmo com as incidências legais, está dentro dos parâmetros estipulados por esta Casa, outra alternativa não resta senão a manutenção do quantum indenizatório, em observância justamente às funções compensatória, repressora e pedagógica da medida. Assim, analisando-se o caso concreto e ponderadas as particularidades do caso em exame, forte nos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, verifica-se que o valor fixado na sentença (R$ 15.000,00) a título de danos morais está em desacordo com o quantum normalmente fixado por esta câmara, motivo pelo qual deve ser reduzido para R$ 10.000,00, com a incidência dos juros de mora de 1% ao mês, desde o evento danoso, e correção monetária a contar do presente arbitramento. Considerando que o juiz a quo estipulou como data do evento danoso o dia do vencimento do primeiro débito (17/05/2011 fl. 23), mister fazer pequena correção, ex officio, para que os juros de mora incidam tão somente a partir da data em que a autora foi inscrita indevidamente, isto é, dia 16/08/2012, (fl. 45). Destaca-se que, após publicação deste acórdão, deve ser observada a Taxa Selic, para os juros e correção monetária, consoante entendimento do Superior Tribunal de Justiça (AgRg no AREsp 196.158/CE e Súmula 362). Por fim, no que se refere à sucumbência, considerando que a presente decisão apenas reduziu a quantia fixada a título de danos morais, aplicase, no caso, a súmula 326, do STJ: "Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica em sucumbência recíproca". 10

Desta forma, mantendo-se a sucumbência estabelecida em primeiro grau, pois provido parcialmente o apelo da demandada apenas para minorar o montante indenizatório dos danos morais, em observância ao disposto no art. 85, 11, do CPC, não há que se falar em fixação de honorários recursais a favor do procurador da apelante. Em decorrência, voto no sentido de conhecer do recurso da ré e darlhe parcial provimento, para reduzir o quantum indenizatório dos danos morais para R$ 10.000,00, com a aplicação dos consectários na forma disposta no corpo do acórdão. 11