A China será pobre se não for limpa



Documentos relacionados
05/12/2006. Discurso do Presidente da República

30/09/2008. Entrevista do Presidente da República

O sucesso de hoje não garante o sucesso de amanhã

5 Dicas Testadas para Você Produzir Mais na Era da Internet

Entrevista coletiva concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, após encontro com a Senadora Ingrid Betancourt

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

JOSÉ DE SOUZA CASTRO 1

Transcriça o da Entrevista

Quando vemos o mundo de forma diferente, nosso mundo fica diferente.

Entrevista exclusiva concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao SBT

EDUCAÇÃO FINANCEIRA PARA CRIANÇAS E JOVENS PROJETO É TEMPO...

Mensagem de Prem Rawat

Capítulo II O QUE REALMENTE QUEREMOS

Redação do Site Inovação Tecnológica - 28/08/2009. Humanos aprimorados versus humanos comuns

22/05/2006. Discurso do Presidente da República

SEMANA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL REGENERAÇÃO URBANA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NA INTERNACIONALIZAÇÃO

18/11/2005. Discurso do Presidente da República

Sessão 2: Gestão da Asma Sintomática. Melhorar o controlo da asma na comunidade.]

KIT CÉLULA PARA CRIANÇAS:

"Brasil é um tipo de país menos centrado nos EUA"


Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

ESTUDO STERN: Aspectos Económicos das Alterações Climáticas

30/07/2009. Entrevista do Presidente da República

Manifeste Seus Sonhos

Deus: Origem e Destino Atos 17:19-25

COMO MINIMIZAR AS DÍVIDAS DE UM IMÓVEL ARREMATADO

Educação Ambiental: uma modesta opinião Luiz Eduardo Corrêa Lima

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

Indicamos inicialmente os números de cada item do questionário e, em seguida, apresentamos os dados com os comentários dos alunos.

O homem transforma o ambiente

Transcrição de Entrevista n º 24

MEU PLANO DE AÇÃO EM MASSA 7 PASSOS PARA UM INCRÍVEL 2015!

O meio ambiente. Santina Izabel

30/04/2009. Entrevista do Presidente da República

3 Dicas Infalíveis Para Ganhar Dinheiro Online. Por Tiago Bastos, Criador da Máquina de Vendas Online

Artigo Opinião AEP /Novembro 2010 Por: Agostinho Costa

ALEGRIA ALEGRIA:... TATY:...

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

MÓDULO 5 O SENSO COMUM

ENTREVISTA "Não se ganha com. a caça ao dividendo"

Transcrição de Entrevista nº 4

CONFERÊNCIA ENERGIA NUCLEAR O debate necessário. Lisboa, 22 de Fevereiro de Senhor Director Geral Responsável pela Energia Nuclear da UE

Direitos Humanos em Angola: Ativista é detido na entrada do Parlamento

é de queda do juro real. Paulatinamente, vamos passar a algo parecido com o que outros países gastam.

Sinopse I. Idosos Institucionalizados

DISCURSO SOBRE DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE DEPUTADO MARCELO SERAFIM (PSB-AM) No dia Mundial do Meio Ambiente o Planeta Terra se volta para a questão

BEM-VINDA!!

centro atlântico Portugal/2003

Lógicas de Supervisão Pedagógica em Contexto de Avaliação de Desempenho Docente ENTREVISTA - Professor Avaliado - E 2

Miscelânea de Tempos Verbais

Para gostar de pensar

A Maquina de Vendas Online É Fraude, Reclame AQUI

FILOSOFIA SEM FILÓSOFOS: ANÁLISE DE CONCEITOS COMO MÉTODO E CONTEÚDO PARA O ENSINO MÉDIO 1. Introdução. Daniel+Durante+Pereira+Alves+

Lógicas de Supervisão Pedagógica em Contexto de Avaliação de Desempenho Docente. ENTREVISTA - Professor Avaliado - E 5

Todos os sonhos do mundo

INQ Já alguma vez se sentiu discriminado por ser filho de pais portugueses?

Marcelo Ferrari. 1 f i c i n a. 1ª edição - 1 de agosto de w w w. 1 f i c i n a. c o m. b r

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas Universidade Nova de Lisboa

Discurso de Luiz Inácio Lula da Silva Seminário do Prêmio Global de Alimentação Des Moines, Estados Unidos 14 de outubro de 2011

LONDRES Sessão de planejamento do GAC para a reunião em Los Angeles

Programa de Português Nível A2 Ensino Português no Estrangeiro. Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, IP

INDICE Introdução 03 Você é muito bonzinho 04 Vamos ser apenas amigos dicas para zona de amizade Pg: 05 Evite pedir permissão

Tendo isso em conta, o Bruno nunca esqueceu que essa era a vontade do meu pai e por isso também queria a nossa participação neste projecto.

INTERVENÇÃO DE SUA EXCELÊNCIA O MINISTRO DAS OBRAS PÚBLICAS, TRANSPORTES E COMUNICAÇÕES. Eng. Mário Lino. Cerimónia de Abertura do WTPF-09

MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS

MENSAGEM DE NATAL PM

Dicas para investir em Imóveis

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

O novo regime jurídico de habilitação para a docência: Uma crítica

PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE A PATERNIDADE GERALMENTE FEITAS POR MÃES

LONDRES Reunião do GAC: Processos Políticos da ICANN

Cristina Fernandes. Manual. de Protocolo. Empresarial

Lucas Liberato Coaching Coach de Inteligência Emocional lucasliberato.com.br

ASSOCIAÇÃO PALAS ATHENA CENTRO DE ESTUDOS FILOSÓFICOS. Sustentabilidade e Consumo Uma equação responsável

COMO ENSINEI MATEMÁTICA

DISCURSO DE SUA EXCELÊNCIA, O PRIMEIRO MINISTRO

Estudo x trabalho: aprenda a vencer a rotina de atividades rumo ao sucesso

Procriação Medicamente Assistida: Presente e Futuro Questões emergentes nos contextos científico, ético, social e legal

A origem dos filósofos e suas filosofias

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

Seminário Energia e Cidadania 23 de Abril de 2009 Auditório CIUL

1.000 Receitas e Dicas Para Facilitar a Sua Vida

Cidadania. O que é Cidadania? Boa cidadania se aprende. Cidadania significa responsabilidade

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA GRAVIDEZ: A EXPERIÊNCIA DA MATERNIDADE EM INSTITUIÇÃO DADOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS. Idade na admissão.

CONFERÊNCIA INTERNACIONAL CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA: UM DESAFIO PARA A IGUALDADE E AUTONOMIA

ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA

Governo das Sociedades E RESPONSABILIDADE SOCIAL

PROBLEMATIZAÇÃO DA E. M. MARIA ARAÚJO DE FREITAS - GOIÂNIA TEMA GERADOR

Entrevista Noemi Rodrigues (Associação dos Pescadores de Guaíba) e Mário Norberto, pescador. Por que de ter uma associação específica de pescadores?

UNIDADE 1: PRECISA DE SABEDORIA? A BÍBLIA É A AUTORIDADE FINAL

Desafio para a família

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

Gestão diária da pobreza ou inclusão social sustentável?

Pedro Mizutani acredita que setor sucroenergético deve sentir uma recuperação mais acelerada da crise

Modelos de Gestão Novas Demandas e Ambientes para o Gestor Contemporâneo

Entrevista coletiva concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no hotel Skt. Petri

Produzido para você por: Clube Monetizar

Consumidor e produtor devem estar

Transcrição:

Page 1 of 5 A China será pobre se não for limpa ABRIL 28, 2013 (http://pontofinalmacau.files.wordpress.com/ 2013/04/jos_eduardo_martins_psd.jpg) A China pode l e vai liderar, mas não se pode isentar de responsabilidades na construção do futuro, alerta José Eduardo Martins. Advogado, social democrata que integrou o governo de Durão Barroso, é um dos mais reputados especialistas portugueses em sustentabilidade. Sábado estará no debate sobre ambiente organizado pela Fundação Rui Cunha, carregando consigo a mensagem da mudança de paradigma global. A questão, garante, é mesmo de sobrevivência da espécie humana, no sentido de uma vida com qualidade e dignidade. Como o mundo agora depende do que a China fizer, traz também o recado mais sedutor: A China, para ser limpa, não precisa de ser pobre; pelo contrário, será pobre se não foi limpa. Paulo Rego O debate sobre economia sustentável é tão vasto, que desfiava o primeiro a sintetizar as prioridades que hoje enfrentamos. Do ponto de vista político e regulatório, quais são os passos mais urgentes a dar? José Eduardo Martins Temos, antes de mais, de ter consciência do que está acontecer no mundo. Em dois séculos, o ritmo de crescimento populacional passou de mil milhões, em 120 anos, para mais de mil milhões a cada em 12 anos. Como a terra continua a ter o mesmo tamanho, a atmosfera o e consum,o, vamos ter problemas aindaentes diversos que contaminam tudo. Se nos fim do planeta, qe sobreviverbrevivencia éé a mesma alterada por nós e os recursos naturais são os mesmos, é evidente que temos de comungar a convicção de que petróleo e o milho, descobertas fantásticas, não resolvem todos os problemas da humanidade. Pelo contrário, agravam nas; logo, estamos perante uma questão de sobrevivência, no sentido de uma vida com qualidade e dignidade. Quais são os passos concretos a dar? J.E.M Não podemos olhar para as previsões do ritmo populacional e do consumo de energia, a crescerem desta forma gigantesca, sem procurar regras para assegurar a sobrevivência da espécie. É muito comum dizer se que o planeta está em risco. Mas isso é

Page 2 of 5 um disparate egoísta, porque o planeta vai sobreviver. O que está verdadeiramente em risco é a espécie humana. Quando pensamos no fim do planeta pensamos no fim do Homem. Se não tivermos cuidado com o ar, a água e o solo, nós é que podemos acabar, por falta de recursos. É então inevitável mudarmos os ritmos de produção e de consumo? J.E.M. Isso discute se há mais de 40 anos. Mas há uma grande distância entre o papel e a prática. Os fertilizantes são óptimos, mas dão cabo do solo; o petróleo é o motor da modernidade, mas cria poluentes diversos que contaminam tudo. Se não formos capazes de controlar a poluição e de mudar os ritmos de produção e de consumo, vamos ter problemas graves. E não é no longo prazo, é ainda na vida desta geração que é a minha e a sua. Há cientistas que entendem que já ultrapassámos o ponto de não retorno, por exemplo no caso das alterações climáticas mas não só. Será mesmo já demasiado tarde? J.E.M. Há uma corrente científica que diz que em vários casos já ultrapassámos o limite do controlo da sustentabilidade. Costumo dizer que sou um humilde advogado, mas quero acreditar que, embora saiba que na maior parte das vezes a política ambiental surge de forma mais reactiva do que proactiva, os efeitos da poluição são hoje tão visíveis que não podem deixar de suscitar a intervenção dos actores políticos. E o carácter de urgência é percebido? J.E.M. Há de facto uma emergência, sob vários pontos de vista. Não só no campo da saúde, mas também do modelo económico. Quando uma potência mundial como a China se afirma neste século XXI, é fundamental que lidere afirmando se pelo exemplo. Num país como este, com esta dimensão, com unidade política e com a necessidade de exportar com qualidade que é obviamente o próximo grande desafio deste império vai ser urgente criar standards ambientais sustentáveis. Por onde é que se começa? J.E.M. Há uma primeira fase de maior controlo de planeamento e de monitorização da situação, que é a de saber verdadeiramente o que está a acontecer com a água, o ar e o solo é essencial primeiro fazer o diagnóstico. O que acontece depois é a aplicação dos remédios. Ninguém pode verdadeiramente apontar o dedo nesta matéria. Isto não é uma guerra moral; é um desafio comum, e haverá uma fase em que paulatinamente se vão estabelecendo instrumentos de comando e de controlo. Pode dar exemplos desses instrumentos? J.E.M. Veja se o que aconteceu nos Estados Unidos, no Canadá ou na União Europeia. A reacção foi lenta, mas com o tempo fixaram se limites legais à produção poluente. Numa terceira fase, também importante e que pode acontecer em simultâneo com a segunda assistimos ao uso dos instrumentos de mercado, como acontece com a emissão dos gases estufa, no sentido de promover um sistema eficiente de troca de licenças, que com mais flexibilidade contenha os níveis da poluição global. É adepto das quotas de poluição?

Page 3 of 5 J.E.M. Nem sempre com o resultado que se deseja, mas esse sistema tem revelado fazer algum sentido, sobretudo no caso das emissões poluentes com efeito mais vasto e global. Não me serve de nada esse mecanismo se uma fábrica comprar direitos de emissão a outra que fica a 200 quilómetros de distância, se o poluente em causa tiver um efeito localizado. Mas já faz sentido se for um poluente com consequências atmosféricas; porque, no fundo, o efeito global é o mesmo. Países como a Inglaterra ou a França levaram mais de um século a recuperar dos estragos ambientais provocados pela revolução industrial. Como é que os países emergentes podem hoje ser pressionados a acelerar o processo? J.E.M. O protocolo de Montreal e o controlo das chuvas ácidas são bons exemplos de como lidar com isso. A nossa vantagem é a de termos aprendido com o processo a Ocidente. Apesar de tudo, hoje em dia a produção de informação e a difusão do conhecimento científico são incomparavelmente maiores; e há um conjunto de instrumentos de Direito Internacional Público que surgiram após um século durante o qual houve duas guerras mundiais, o que obrigou as pessoas a pensarem um bocadinho melhor na vida. A partir dos anos de 1960, nasceu um conjunto de princípios importantes e de bom senso. Nem sempre aplicados J.E.M. Como dizia Descartes, o problema é que a inteligência e o bom senso são as qualidades mais bem distribuídas do mundo. Toda a gente acha que as tem em quantidade suficiente, mas às vezes a tentação de enriquecer depressa faz perder o bom senso. Um argumento recorrente na China, como noutras economias emergentes, é o de que a Europa e os Estados Unidos ainda não assumiram a responsabilidade do caos em que nos encontramos. Lula da Silva, por exemplo, dizia que enquanto houvesse um brasileiro por alimentar continuaria a cortar árvores na Amazónia. J.E.M Em Direito Internacional Público, chama se a isso o princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas. Faz sentido atirar a responsabilidade para quem poluiu primeiro? J.E.M. Faz sentido do ponto de vista da China; não tenho a certeza que faça sentido do ponto de vista global. O importante é perceber que, em bom rigor, é errada a ideia de que produzir limpo é produzir mais caro. Se medirmos os impactos sobre a saúde humana, bem como a exaustão dos recursos, chegamos à conclusão de que produzir limpo é que é barato. Enquanto subsistir e é inevitável continuar a existir um problema na distribuição de riqueza, continuará a pressão para os comportamentos predadores. A China afirmou muito esse princípio no debate sobre as alteração climáticas que começou na Conferência do Rio. O que é espantoso, 20 anos depois, é vermos como o mundo mudou. O que é que mudou mais nas últimas duas décadas? J.E.M. Basta ver o que era o consumo de energia nessa altura que entretanto quase dobrou. E essa é a circunstância mais determinante. Mas há também uma tese comum a muitos economistas, segundo a qual o grau de influência acompanha a circulação do

Page 4 of 5 capital. Nessa medida, da mesma maneira que a partir da Segunda Grande Guerra o eixo de influência passou da Europa para os Estados Unidos, há pmpa, não precisa de ser pobre;do caos em que nos encontramos.o?est dsete Pode se fazer isso e continuar a crescer? agora um shift para o hemisfério sul, onde se concentra o poder da decisão mundial, mas também o consumo de energia. E isso não pode isentar de responsabilidades ninguém que queira liderar. A China pode e vai liderar, mas não se pode isentar de responsabilidades na construção do futuro. Será que essa consciência existe na China? J.E.M. Começa a existir. A China é um gigante feito para produzir e exportar; e quanto menor for a sustentabilidade da sua produção, menor será o seu mercado. Acredito num futuro com consumidores cada vez mais exigentes; e acredito, como sempre acreditei, que essa cultura de exigência faz parte da cidadania. A poluição nas cidades do cancro mais de 30, oficialmente assumidas pelo Governo chinês faz hoje primeiras páginas na imprensa estatal, que critica abertamente um modelo de crescimento económico altamente poluente. Isso suspreende o? J.E.M. A revolução industrial que vivemos não é a mesma de há 100 anos. Os poluentes são agora mais persistentes, mais sofisticados e poderosos. Como as partículas finas PM 2,5, que nascem da fusão entre as emissões de gases fabris e dos escapes automóveis J.E.M. E são também uma espécie de cápsula para outros componentes químicas. Não conheço esse debate interno, mas estou contente com o que me relata. A China é um grande gigante económico; mas se quiser mesmo liderar, terá de passar por uma mudança. É perfeitamente possível continuar a produzir riqueza de uma forma mais limpa e equilibrada. A China, para ser limpa, não precisa de ser pobre; pelo contrário, será pobre se não foi limpa. Em plena crise mundial, não será este o pior momento para sustentar a migração para a economia verde? Xi Jinping apresentou um plano a dez anos, o Conselho de Estado pede que o faça em sete Mas adivinha se muita resistência no Partido Comunista e nos gestores da economia do carbono J.E.M. Estamos, de facto, numa fase crucial. Em primeiro lugar, a crise é essencialmente financeira e está concentrada no Ocidente. Afecta o Oriente, porque no Ocidente há menos capacidade de consumo. O único lado bom da quase estagnação é o da redução da emissão de resíduos poluentes e das externalidades da produção. Num tempo em que uns estão mais fracos, e outros mais fortes, a História demonstra que há sempre a tentação de uns quererem ganhar vantagem na corrida. Mas também já sabemos o suficiente para perceber que essas vantagens são de curta duração. É verdade que quem trabalha no ambiente acha sempre que as coisas deviam todas ter acontecido ontem. Mas dez anos não me parece nenhum exagero para todo o trabalho que é preciso fazer. É como um estalar de dedos, se pensarmos no planeamento, na monitorização, na reconversão tecnológica. Qual é o principal factor de sucesso numa migração como a que está em causa na China?

Page 5 of 5 J.E.M. Nada disso acontecerá sem um pulso forte do poder político e regulatório. Não acredito que, nesta matéria, do nada surja a auto regulação das empresas. Vê com bons olhos o novo discurso em Pequim? J.E.M. São óptimas notícias! Há 11 anos atrás, tive a honra de chefiar a delegação portuguesa na Conferência Mundial do Desenvolvimento Sustentável, em Joanesburgo Rio mais 10. Nessa altura, o que me está a descrever era impensável. Por isso, tudo o que me relata são sinais de optimismo. Diria que copo está mais cheio do que vazio. Tudo isso são sinais de que a China, para seu próprio bem, estará a trilhar o caminho. E quem verdadeiramente acredita que as 7 mil milhões de pessoas que habitam o planeta têm todas o direito à mesma vida saudável, sabe que estão hoje isso depende do que a China fizer. Quero aliás aproveitar para deixar o meu enorme agradecimento à Fundação Rui Cunha, que com este convite permite que eu, que dedico a minha vida a estas questões, possa vir conhecer esta realidade um bocadinho mais de perto. Proliferam hoje os romances que projectam tensões radicais no futuro, incluindo o terrorismo ambiental. Parece lhe uma premonição? Ou o poder político fará antes disso a migração para a sustentabilidade? J.E.M. Do meu ponto de vista, esse cenário mais radical e a instabilidade política nunca favorecem as boas intenções. Não sou contra o direito de as pessoas se indignarem, revoltarem se e exprimirem se. Mas o radicalismo de alguns faz perder o apoio da maioria silenciosa, que é fundamental para ganharmos esta batalha. No radicalismo ambiental, há muitas vezes uma falta de bom senso que impede que os pequenos passos possam ir mudando o mundo. Qual é a melhor arma dos ambientalistas? J.E.M. Quanto mais disseminada for a informação, quanto maior for a consciência do problema, mais estas coisas são percebidas por todos como sendo importantes. No espaço de uma década, habituámo nos a este debate, que já faz parte do nosso quotidiano. Dou o meu exemplo pessoal: Quando tinha 20 anos e fui à Bélgica, pus uma lata de metal num contentor de plásticos. Toda a gente olhou para mim como se eu fosse um bárbaro, mas em Portugal ninguém nessa altura separava o lixo. Hoje tenho 43, e qualquer um dos meus três filhos sabe exactamente onde pôr o plástico, o metal, o vidro e a matéria orgânica. Hoje é dia 25 de Abril [ontem] e Portugal comemora a revolução que nos trouxe a democracia. Mas há hoje outra revolução em curso, que é a da consciência ambiental. About these ads(http://en.wordpress.com/about these ads/) No comments yet from Uncategorized Blog em WordPress.com. Tema: Vigilance por The Theme Foundry.