A ANÁLISE DOS ITINERÁRIOS DESENVOLVIMENTO

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Transcrição:

MAARA EMBRAPA CPATSA URCA-NE Ministério da Agricultura, do Abastecimento e Reforma Agrária Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico semi- Árido Coordenador ia Regional de capacitação e de Apoio 9 ao Desenvolvimento Rural-Nordeste )'.t o ) I o, > A ANÁLISE DOS ITINERÁRIOS DE DESENVOLVIMENTO URCA-Nordeste Documento de Trabalho No. 7 Junho de 1994 1 "',., )

APRESENTAÇÃO ( A URCA-Nordeste (Coordenadoria Regional de Capacitação e Apoio ao Desenvolvimento Rural do Nordeste), foi criada com o objetivo de produzir informações para o apoio ao planejamento do desenvolvimento rural da região, e no intuito de contribuir para a modernização dos organismos de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER). A elaboração de métodos e instrumentos adaptados para a intervenção no meio rural representa um componente essencial dessa missão. A análise dos itinerários de desenvolvimento apresentado a seguir constitui uma primeira contíbuição para a valorização de experiências de desenvolvimento local. Trata-se de um estudo da evolução dos processos de mudança das comunidades rurais, tanto a nível técnico, produtivo, como econômico e social. Os primeiros resultados ilustrados através de um estudo de caso apontam para a produção de informações operacionais e indicadores utilizáveis para o planejamento local e regional.

sumário APRESENTAÇÃO 1. CONCEITO 2. OBJETIVOS 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA-CONCEITUAL 3.1. A adoção de um enfoque sistêmico 3.2. A adoção de uma visão histórica do desenvolvimento 3.3. Valorização de algumas experiências de desenvolvimento rural 4. METODOLOGIA 5. CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIA

1. CONCEITO o itinerário de desenvolvimento foi definido como a evolução e a reorganização dos recursos produtivos (naturais, humanos, capital e informações), no tempo e no espaço, por um grupo de atores sociais, num território delimitado, com o objetivo de manutenção, reprodução ou melhoria de suas condições de vida, determinadas, em parte, pela influência de fatores e atores do ambiente externo. Através desse enfoque, a URCA-NE, acredita na valorização de algumas experiências de desenvolvimento local para subsidiar tomadas de decisão em situações comparáveis, ou em escalas diferentes. 2. OBJETIVOS Os estudos de "itinerários de desenvolvimento" têm por objetivos: a) Elaborar métodos de análise do processo de desenvolvimento local capazes de identificar os fatores e os atores (produtores, técnicos de desenvolvimento, financiadores, autoridades, etc) responsáveis pelas evoluções de uma situação agrária e as consequências econômicas e sociais destas; b) Construir representações gráficas processo de desenvolvimento local; e modelos do c) Produzir informações capazes de subsidiar o planejamento do desenvolvimento em vários níveis de atuação (local, municipal, regional). Outro desaf io é saber em que a participação das instituições pode ajudar a resolver alguns problemas, sejam de ordem técnica, organizacional, financeira ou de manej o dos recursos produtivos. 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-CONCEITUAL Para análise dos itinerários de desenvolvimento, é necessário uma fundamentação teórico-conceitual que subsidia este estudo. A caracterização e análise das dinâmicas agrárias constituem peças fundamentais para formação dessa abordagem. A preocupação da equipe da URCA-NE foi, desde o início, elaborar instrumentos adaptados as características da região Nordeste. Em primeiro lugar, destaca-se o tamanho desse imenso território, em segundo lugar, a sua diversidade agroecológica (SILVA. BARRETO et al., 1994) e a complexidade dos sistemas de produção (TONNEAU, 1994). 1

Portanto, antes de propor uma metodologia para estudo de itinerários de desenvolvimento, é interessante apresentar os enfoques recentes que contribuiram à formalização desta abordagem (ver também URCA, 1994). 3.1. A adoção de um enfoque sistêmico o enfoque sistêmico constitui uma abordagem metodológica rigorosa e detalhada, que permite analisar a realidade através de sua organização em sistemas. Uma propriedade rural, como uma comunidade ou uma região, podem ser representadas como sistemas, construções mentais que permi tem dar conta e organizar a complexidade que caracteriza-os. o enfoque sistêmico permite ter uma visão global para poder interagir eficientemente com a realidade, apoiando-se sobre os mecanismos de tomada de decisões individuais e coletivas. Ele permi te levar em conta a dinâmica e as inter-relações que contribuem para a complexidade do processo de desenvolvimento, através da análise da organização e do funcionamento dos sistemas agrícolas. Os sistemas agrícolas podem ser definidos como sistemas complexos, manejados e interelacionados entre si: -) O manejo ou a pilotagem, sociedades, assume papel tomadas de decisão; atribuida ao "homem" ou as central através das suas -) A inter-relação salienta o fato que os sistemas organizam-se numa escala específica, são abertos a elementos de outros sistemas organizados em sistemas de maior abragência geográfica e social, dos quais.eles não são independentes. Podem ser definidos vários tipos de sistemas: sistema técnico de produção, sistema de produção, sistema agrário (LIMA et alo, 1993). O uso do enfoque sistêmico, supõe recorrer a métodos e instrumentos de análise específicos, cuja elaboração foi a base de atuação de inúmeras equipes de pesquisa agropecuária, a nível mundial ao longo dos últimos 20 anos. 3.2. A adoção de uma visão histórica do desenvolvimento Mas, a necessidade de recorrer a uma visão histórica para entender e caracterizar as dinâmicas passadas e presentes e as perspectivas de evolução das sociedades rurais. As sociedades rurais têm uma história que antecede qualquer intervenção externa e caracteriza o processo de desenvolvimento. Esta história não é linear, mas constituida de tensões e de rupturas que marcam a evolução da sociedade e dos grupos sociais que compõem-na. Entender uma realidade remete-nos a uma compreensão dos fatores e atores do passado que contribuiram para 2

determiná-ia. A situação presente é considerada como uma construção social, entre outras, do processo produtivo que se deu ao longo da história. De maneira idêntica, podemos afirmar que o desenvolvimento futuro corresponde a evolução social que os atores do momento definem em função dos seus objetivos respectivos, do contexto, e do poder de tomada de decisão que eles têm. 3.3. valorização de algumas experiências de desenvolvimento rural A região Nordeste é caracterizada por uma grande diversidade. Além disto, embora apresente grandes problemas estruturais que dificultam o seu desenvolvimento, dispõe entretanto, de inúmeras experlencias e processos de desenvolvimento local, os quais se constituem em campos férteis para estudo e análise, tendo como objetivo o conhecimento do comportamento e a dinâmica dos produtores e atores destes processos frente as mudanças do contexto regional. Estudos detalhados destas experiências, permitem evidenciar estes comportamentos, as estratégias estabelecidas pelos produtores-atores, as causas e consequências técnicas, econômicas e sociais dessas evoluções. Isto implica que se acredita na valorização de processos de desenvolvimento local, enfatizando: à análise das perspectivas destas experiências. Face a forte instabilidade do contexto Nordestino - climática, demográfica, social e institucional - as atuações, estratégias e, particularmente, as instabilidades institucionais, constituem fatores que podem influir ou não no processo de desenvolvimento. Pretende-se privilegiar o nível local porque é a escala adaptada para melhor perceber a diversidade e a complexidade das dinâmicas em razão: -) do contato direto com as populações que ela permite; -) da carência de organizações de produtores no Nordeste; -) da diversidade da Região Nordeste. Esta opção remete a necessidade, devido a imensidão da Região e a complexidade das evoluções, de "reduzir", de maneira racional, o campo de pesquisa a um objeto pertinente em relação ao obj eti vo de pesquisa e que os nossos recursos permitem investigar. Com base nas informações disponíveis, é preciso escolher algumas situações que apresentam um interesse particular para o estudo proposto. Portanto, os estudos de processos de desenvolvimento locais, devem ser: -) entendidos com relação ao contexto no qual eles estão inseridos; 3

-) sistematizados e representados de forma a se constituirem em modelos. A análise da situação real, da sua complexidade e da sua diversidade, passa a ser eficiente em termos de apoio ao planejamento, quando ela vai além de uma apresentação monográfica e dá subsidios à elaboração de um modelo considerado por LANDAIS (1992), como uma construção teórica desta realidade apoiando-se sobre as observações realizadas, as hipóteses elaboradas e validadas, e fornecendo um quadro de análise e de representação de novas situações; -) capazes de serem utilizados para adaptação, difusão e reprodução enquanto processo de desenvolvimento, em função de contextos micro-regionais diferenciados e especificos, uma vez integrados ao sistema de Informação sobre o desenvolvimento regional; -) capazes de serem utilizados para o planej amento da zona de estudo; -) capazes de contribuir para a análise das condições de mudança de escala (de local para regional, por exemplo). 4. METODOLOGIA Baseados nos conceitos e enfoques acima metodologia para a realização do estudo de Desenvolvimento envolve as seguintes etapas: definidos, Itinerário a de a) Definição (delimitação) do espaço social e geográfico para a realização do estudo a partir de uma revisão bibliográfica e levantamento de documentos e mapas existentes sobre as áreas objeto de estudo; b) Identificação da história do grupo social (comunidades selecionadas) e dos marcos ou momentos exatos que correspondem as mudanças, caracterizando-as numa cronologia de eventos e identificando as causas que provocaram as mudanças mais significativas. Toda esta etapa deve ser realizada, através de um diagnóstico rápido do sistema agrário local, numa perspectiva histórica; c) Estudo das combinações e reorganizações dos recursos produtivos, nos momentos de mudanças, induzidas pelas causas identificadas (marcos determinantes). Esta etapa pode ser realizada através da análise das estratégias e práticas utilizadas pelos produtores, na combinação e reorganização dos recursos produtivos. Será também realizada a análise das tendências de evolução em função de diversos cenários; 4

d) Análise comparativa das situações estudadas e elaboração de modelos explicativos das transformações ou mudanças observadas. Nesta etapa, são identificados quais os marcos determinantes e os processos estudados em cada localidade, que são comuns a todos e podem subsidiar a elaboração de modelos dos mecanismos de desenvolvimento local; e) Identificação das perspectivas de desenvolvimento e das condições de reprodutibilidade e de mudanças, em escala crescente do processo de desenvolvimento local. Nesta etapa deve ser realizada a análise da articulação entre as micro e macro escalas; f) Elaboração e representação da construção local do espaço rural integrando várias escalas geográficas sociais e capazes de subsidiar efetivamente o planejamento do desenvolvimento rural; g) Valorização dos resultados: a elaboração de representações ou modelos de Itinerário de Desenvolvimento, pode ser efetivada a partir de estudos de caso ou de um quadro metodológico adequado para tornar compreensivel os processos estudados e def inir as condições de reprodução destes; a metodologia proposta não tem nenhuma vocação normativa, mas pretende subsidiar a elaboração de um quadro teórico para análise e indução de mudanças de situações agrárias. 5. CONCLUSÃO As pesquisas de processos de desenvolvimento podem contribuir na produção e na valorização de informações, tais como: -) métodos que facilitem os diagnósticos; -) representações para ampliar o conjunto das soluções que podem ser concebidas; -) referências pertinentes para identificar soluções apropriadas e para o planejamento do desenvolvimento e das instituições. A URCA-NE poderá, assim, contribuir com à elaboração, adaptação, validação e valorização de métodos de intervenção e avaliação no meio rural, além da produção de informações capazes de alimentar o Núcleo de Observação sobre o desenvolvimento regional e subsidiar diretamente o planejamento. 5

BIBLIOGRAFIA LANDAIS, E. Principes de modélisation des systemes d'élevage. Approches graphiques. In: Cahiers de Ia Recherhe- Développement. 32: 82-95. CIRAD/SAR. Montpellier. France. MULLER, A.G.; LIMA, A.P. de; BASSO, D.; WÜNSCH, J. programa de pesquisa em sistemas de produção e desenvolvimento agrário: experiência de DNIJUI. UNIJUI. Departamento de Estudos Agrários, DEAG, IJUI, 1993, 24p. SILVA, F.B.R. e; RICHE, G.R.; TONNEAU, J.P.; SOUSA NETO, N.C. de; BRITO, L.T. de L.; CORREIA, R.C.; CAVALCANTI, A.C.; SILVA, F.H.B. da; SILVA, A.B. da; ARAÚJO FILHO, J.C. de. Zoneamento agroecológico do Nordeste: diagnóstico do quadro natural e agrossocioeconômico. Petrolina, PE: EMBRAPA-CPATSA/Recife: EMBRAPA-CNPS-Coordenadoria Regional do Nordeste, 1994. 2v. 1 mapa. (EMBRAPA-CPATSA. Documentos, 80). TONNEAU, J.P. Modernisation des espaces ruraux et paysannerie: le cas du Nordeste du Brésil. These, Université Paris X. Paris. France. 1994 URCA-NE. contribuição ao desenvolvimento regional: um desafio para a URCA-Nordeste. Petrolina, PE: URCA-NE/EMBRAPA-CPATSA, 1994. 32p. 6