A DELEGAÇÃO DE COMPETÊNCIAS PARA AS ADMINISTRAÇÕES PORTUÁRIAS NA PORTARIA N. 574/2018 DO MTPA

Documentos relacionados
Fernando Fonseca. Diretor Geral Substituto

SETOR PORTUÁRIO NOVO MARCO REGULATÓRIO

DECRETO nº 9.048/2017 IMPACTOS PARA O SETOR PORTUÁRIO

A PRORROGAÇÃO DOS CONTRATOS DE ARRENDAMENTO PORTUÁRIO

O PROGRAMA DE PARCERIAS DE INVESTIMENTOS (PPI) E SUAS IMPLICAÇÕES NO SETOR PORTUÁRIO

Novo decreto amplia o prazo para investimento de operador portuário

MODIFICAÇÕES NA REGULAMENTAÇÃO DO SETOR PORTUÁRIO O DECRETO Nº 9.048

7º Encontro Nacional das Águas

Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

Radar Stocche Forbes Maio 2017

Regulação e Antitruste no Setor Portuário frente às inovações da Lei n /13 Victor Oliveira Fernandes

NORMA GERAL PARA GESTÃO DE NOVOS NEGÓCIOS DA CDP

TRANS 2018 Congresso e Feira Internacional de Transportes e Logística Sustentável da Amazônia

As Leis /2007, /2005 e /2008 e a Universalização

ANTAQ DÁ INÍCIO A AUDIÊNCIA PÚBLICA PARA REVISÃO DA RESOLUÇÃO Nº 2.389

REVISÃO FCC Direito Administrativo Elisa Faria REVISÃO FCC

A LEI E A PARTICIPAÇÃO DE EMPRESAS ESTATAIS NO CAPITAL DE EMPRESAS PRIVADAS QUE NÃO INTEGRAM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

O NOVO DECRETO 9.507/2018 E A TERCEIRIZAÇÃO DE SERVIÇOS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

O Papel do TCU na segurança jurídica dos contratos de concessão

1º CONGRESSO BRASILEIRO DE DIREITO PÚBLICO DA INFRAESTUTURA O REGIME JURÍDICO DO SETOR PORTUÁRIO BRASILEIRO O QUE AS LICITAÇÕES E CONTRATOS ATUAIS

Terceiro Setor e o Direito Administrativo

CONTRATAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SANEAMENTO BÁSICO

Plano Mestre do Porto de Santos I Seminário sobre Planejamento Portuário na Baixada Santista. Santos-SP, 28 de março de 2017

Infraestrutura portuária para o Turismo. Brazil World Cup Transportation Congress Tiago Pereira Lima Diretor da ANTAQ São Paulo, 26 de julho de 2011

PROGRAMA DE PARCERIAS DE INVESTIMENTOS (PPI)

REGULAÇÃO DO SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL A visão do segmento privado

Projeto de Lei nº, de 2014 (Do Sr. Mendonça Filho)

Terminais Públicos e OGMOs Impactos da Lei nº /13

Audiência Pública Lei 8.666/93

MARCO REGULATÓRIO DO SETOR PORTUÁRIO: EVOLUÇÃO E PERSPECTIVAS. Diego Paula Gerente Jurídico

A MEDIDA PROVISÓRIA Nº 727/2016 O PROGRAMA DE PARCERIAS DE INVESTIMENTOS (PPI): O PLANEJAMENTO E A AVALIAÇÃO DE IMPACTO REGULATÓRIO

AFASTAMENTO DE DOCENTES PARA QUALIFICAÇÃO ACADÊMICA

DESAFIOS PARA O DESENVOLVIMENTO INFRAESTRUTURA TRANSPORTE Brasília, 26 de janeiro de 2018

Arthur Yamamoto Superintendente da ANTAQ

RELAÇÃO DE ANEXOS AO EDITAL

A INDÚSTRIA NAVAL E PORTOS REALIDADES E PERSPECTIVAS A ampliação do Porto do Rio de Janeiro

Assim, fica revogada a Portaria nº 550, de 12/03/2010 que, até então, Estabelecia as instruções para prorrogação do contrato de Trabalho temporário.

Projeto de Regulamento de Procedimentos Regulatórios - síntese das principais propostas. Consulta pública n.º 3/2016

PROCEDIMENTO PARA CELEBRAÇÃO DE CONVÊNIO

PORTARIA ANP Nº 202, DE DOU REPUBLICADA DOU


DECRETO Nº , DE 10 DE DEZEMBRO DE 2009

A Importância do Arco Norte na Competitividade da Exportação Agropecuária ADALBERTO TOKARSKI Diretor

INSTRUÇÃO DE TRABALHO. IT Livre Acesso aos Terminais

Mário Povia Diretor da ANTAQ

PARCERIAS NA OFERTA DE SERVIÇOS PÚBLICOS. Roteiro de aula Curso: Parcerias na Administração Pública DES0417 Noturno 2014

Portos Públicos, histórico da modelagem das licitações: O caso GLP. Fórum Permanente de GLP 9 Encontro Março de 2018 Rio de Janeiro - RJ

RESOLUÇÃO de setembro de 2008

Articulação no direito ambiental da infraestrutura: diagnóstico e propostas de soluções Rafael Wallbach Schwind

NORMA GERAL PARA O CREDENCIAMENTO DE EMPRESA PARA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE COLETA DE RESÍDUO GERAL

DIREITO ADMINISTRATIVO LEI 8.666/93. Prof. Luís Gustavo. Fanpage: Luís Gustavo Bezerra de Menezes

Controle Administrativo no Comércio Exterior

(National Oceanic and Atmospheric Administration) Ben Schmidt, Northeastern University

PORTARIA 001/2015 PORTARIA:

PROGRAMA DE PARCERIAS DE INVESTIMENTOS (PPI), PRORROGAÇÃO E RELICITAÇÃO

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS SECRETARIA DOS CONSELHOS SUPERIORES CONSELHO COORDENADOR DO ENSINO, DA PESQUISA E DA EXTENSÃO

CONSELHO DIRETOR ATO DO PRESIDENTE RESOLUÇÃO INEA Nº 142 DE 06 DE SETEMBRO DE 2016.

RESOLUÇÃO Nº 108/2015 CONEPE

DOU 11/11/16, SEÇÃO 1, PÁG. 85. Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil AGÊNCIA NACIONAL DE TRANSPORTES A Q U AV I Á R I O S

CONCESSÃO DA EXPLORAÇÃO DO CAFÉ/ESPLANADA DO JARDIM DO BACALHAU CADERNO DE ENCARGOS CONDIÇÕES GERAIS. Artigo 1º. Disposições gerais

Resolução 009/ Conselho Superior/28/07/2011. Órgão Emissor: Conselho Superior do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense

Os contratos formalizados com base no Decreto nº 2.271/1997 podem ser mantidos e prorrogados? Qual a tratativa prevista no Decreto nº 9.507/2018?

RESOLUÇÃO. Campinas, 13 de outubro de José Antonio Cruz Duarte, OFM Vice-Reitor no exercício da Presidência

Regulamento do Curso de Vivência Profissional - Estágio

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

Estado do Rio Grande do Sul Município de Caxias do Sul

DECRETO N 1.717, DE 24 DE NOVEMBRO DE DECRETA:

GOVERNANÇA E PLANEJAMENTO DE PROJETOS. Prof. Rogério de Faria Princhak

Painel Telebrasil Novo modelo: Migração para autorizações e Novas regras para o espectro

São Paulo, 17 de junho de Circ.CoPGr/26/2015 BDGMF/mrs. Senhores Presidentes de CPGs e Coordenadores de Programa.

A ANEEL e o Marco Regulatório do Brasil. Ivan Camargo Assessor da Diretoria

Capítulo 1 - Elementos do Direito Administrativo

Edição nº 215, seção I, página 29, de 9 de novembro de 2016

A CASA DO SIMULADO DESAFIO QUESTÕES MINISSIMULADO 12/360

ORDEM DE SERVIÇO. ASSUNTO: Regulamenta o Programa de Bolsa de Iniciação à Docência 1 FINALIDADE

MODELO DE ANÁLISE MULTICRITÉRIO DE APOIO À AUTORIZAÇÃO DE NOVOS TERMINAIS PORTUÁRIOS PRIVADOS NO BRASIL

III CIDESPORT CONGRESSO INTERNACIONAL DE DESEMPENHO PORTUÁRIO. Florianópolis novembro 2016

CONTEÚDO CAPÍTULO I - DAS DISPOSIÇÕES INICIAIS CAPÍTULO II - DOS REQUERIMENTOS Se ção I - Dos Requerimentos para Análise Eletrônica

DIRETRIZES DE CONTROLE EXTERNO Projeto Qualidade e Agilidade dos TCs QATC2

INSTRUÇÃO NORMATIVA TCU Nº 27, DE 2 DE DEZEMBRO DE

Investigador Polícia Civil do Espírito Santo Direito Administrativo Questões 38, 40 e 43

SECRETARIA DE PORTOS

Aos clientes VISÃO CONSULTORIA Tarumã,SP, 09 de Janeiro de MEMO nº 01/2017.

EDITAL CUCA 01/ SELEÇÃO DE INTERESSADOS PARA MATRÍCULA NAS OFICINAS ARTÍSTICAS DO CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CULTURA E ARTE (CUCA)

Art. 2º O art. 37 do Decreto nº , de 2018, passa a vigorar com a seguinte redação:

INTRUMENTO NORMATIVO PARA GESTÃO DE REUNIÕES DE ÓRGÃOS DE GOVERNANÇA

51º Encontro Tele.Síntese. PLC 79/2016: Criação de Valor

DIREITO PORTUÁRIO. Profissionais

REGULAMENTO DO NÚCLEO DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E EMPREENDEDORISMO EM SAÚDE NITE SAÚDE CAPÍTULO I DAS FINALIDADES

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR EM SAÚDE - CAMPUS ANÍSIO TEIXEIRA COLEGIADO DE NUTRIÇÃO INSTRUÇÃO NORMATIVA 02/2013

DIREITO ADMINISTRATIVO

Elementos de Controle na Licitação e Execução de Contratos

Estrutura das Agências Reguladoras

REGULAMENTO DE ESTÁGIO DO CURSO DE LICENCIATURA EM FÍSICA INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ CÂMPUS FOZ DO IGUAÇU CAPÍTULO I DA NATUREZA DOS ESTÁGIOS

Novas Concessões e Expansão da Malha Rodoviária: Desafios Regulatórios

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS

2. Arbitragem na atividade portuária visão do terminal;

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO CONSELHO DELIBERATIVO

JOSÉ SERRA, Governador do Estado de São Paulo, no uso de suas atribuições legais,

Transcrição:

A DELEGAÇÃO DE COMPETÊNCIAS PARA AS ADMINISTRAÇÕES PORTUÁRIAS NA PORTARIA N. 574/2018 DO MTPA Rafael Wallbach Schwind Doutor e Mestre em Direito do Estado pela USP Visiting scholar na Universidade de Nottingham Sócio da Justen, Pereira, Oliveira & Talamini. SUMÁRIO: 1. A edição da Portaria n. 574 do Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil - 2. O contexto em que se insere a delegação de competências às autoridades portuárias - 3. Os poderes passíveis de delegação às autoridades portuárias - 4. A compatibilidade da delegação de competências com a lei de portos - 5. O procedimento de delegação de competências e seus requisitos - 6. A avaliação quanto à conveniência e oportunidade da delegação - 7. O prazo dos convênios de delegação e sua prorrogação - 8. A fiscalização do exercício das competências delegadas - 9. Encerramento. 1. A edição da Portaria n. 574 do Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil Nos últimos dias do Governo Temer, foi editada norma infralegal de grande importância para o setor portuário. Trata-se da Portaria n. 574, de 26 de dezembro de 2018, do Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil MTPA (cujas competências, a partir da edição da Medida Provisória n. 870, já no Governo Bolsonaro, foram atribuídas ao Ministério da Infraestrutura). A Portaria n. 574 disciplina a descentralização de competências relacionadas à exploração indireta de instalações portuárias nos portos organizados às respectivas autoridades portuárias. Basicamente, estabelece a possibilidade de delegação de certas competências relacionadas à exploração de instalações portuárias para as respectivas administrações portuárias, delegadas ou não. Rapidamente, a Portaria já chamou a atenção pela importância do tema que disciplina. Exemplo disso é que há notícias de que a CODESA Companhia Docas do Espírito Santo já teria formalizado ao MTPA um pedido de delegação de competências, justamente com o propósito de agilizar certos procedimentos 1. 1 http://www.codesa.gov.br/site/?p=noticias&noticia=3255, acesso em 21.1.2019. 1

2. O contexto em que se insere a delegação de competências às autoridades portuárias Para se compreender a relevância da Portaria, é necessário dar um passo atrás. Em 2013, a edição da nova Lei dos Portos (Lei 12.815) consagrou a centralização de competências perante a União. Diversas competências que eram antes exercidas pelas autoridades portuárias locais foram concentradas na União, principalmente perante a então Secretaria Especial de Portos (União poder concedente), mas também em menor medida junto à Agência Nacional de Transportes Aquaviários ANTAQ. Mesmo nos portos que foram temporariamente delegados a Estados e Municípios, acabou prevalecendo o entendimento de que o poder concedente é representado pela Secretaria de Portos (integrante do MTPA), embora houvesse fundamentos jurídicos relevantes para se reconhecer a delegação também da posição de poder concedente. Essa concentração de competências que já era observada em menor medida na Lei n. 10.233 de 2001, que criou a ANTAQ tem o claro propósito de promover uma maior coordenação nas políticas públicas do setor portuário. No entanto, a despeito da legitimidade desse objetivo, o fato é que a centralização absoluta provoca ineficiências e torna mais morosos certos procedimentos e decisões. Assim, considerando os potenciais benefícios em termos de melhoria da eficiência e celeridade da descentralização de competências, a Portaria n. 574 do Ministério promove, de certa forma, um ajuste na concentração de competências perante a União. Sem ofender a lei de portos, o que é um pressuposto da própria validade da norma infralegal, a Portaria disciplinou a descentralização de competências às respectivas autoridades portuárias locais. 3. Os poderes passíveis de delegação às autoridades portuárias De acordo com a Portaria n. 574, são passíveis de delegação às administrações portuárias locais três conjuntos de competências: (i) elaboração de edital e realização de procedimentos licitatórios para o arrendamento de instalações portuárias; (ii) celebração e gestão de contratos de arrendamento de instalações portuárias; e (iii) fiscalização da execução de contratos de arrendamento de instalações portuárias. Algumas dessas competências são bastante claras. De todo modo, a Portaria teve o cuidado de esclarecer no que consiste a competência de gestão dos contratos de arrendamento de instalações portuárias. De acordo com a Portaria, a delegação da gestão desses contratos abrangerá, dentre outros atos, (i) a aprovação de investimentos não previstos no contrato, inclusive em regime de urgência, (ii) a transferência da titularidade do arrendamento, (iii) a recomposição do equilíbrio econômico-financeiro do contrato, (iv) a expansão da área arrendada para área contígua dentro da 2

poligonal do porto organizado, (v) a substituição da área arrendada, no todo ou em parte, (vi) a prorrogação (ordinária ou antecipada) de vigência do contrato, e (vii) a revisão do cronograma de investimentos previstos em contrato. 4. A compatibilidade da delegação de competências com a lei de portos Numa primeira análise, poderia parecer que a delegação daqueles três grupos de competências inequivocamente relevantes seria contrária à lei de portos, que, como dito, concentrou competências perante a União, de certo modo esvaziando diversas atribuições que antes cabiam às autoridades portuárias locais. Contudo, não nos parece haver ilegalidade na Portaria ao prever a delegação de competências. Isso porque, em diversos dispositivos, a norma estabelece que o exercício de certas competências dependerá da anuência da ANTAQ, ou da análise e aprovação pela agência reguladora. Houve o cuidado, portanto, em não se extrapolar os limites legais e a lógica de coordenação que orienta a lei de portos. Assim, por exemplo, a delegação da competência de fiscalização da execução de contratos de arrendamento dependerá da anuência da ANTAQ, sem prejuízo das competências a ela atribuídas pela Lei 10.233 (conforme art. 2º, 1º, da Portaria). Já a delegação da competência para elaboração do edital e realização de licitações de arrendamentos portuários dependerá da análise e aprovação, pela ANTAQ, de diversos elementos técnicos antes mesmo do procedimento de consulta pública (Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental EVTEA, manifestação da administração do porto quanto à adequação do EVTEA, minutas do edital e do contrato etc.), conforme art. 2º, 2º, da Portaria. O fato é que, mesmo com a delegação de competências, a administração do porto estará obrigada a cumprir as diretrizes e os instrumentos de planejamento setorial elaborados pelo Ministério, as diretrizes do Ministério quanto à elaboração de editais e minutas de contrato (inclusive eventuais modelos aprovados pelo poder concedente), a seguir as orientações de caráter jurídico emanadas no Ministério, dentre outros dados pertinentes. 5. O procedimento de delegação de competências e seus requisitos Em termos procedimentais, para que haja a descentralização de competências, a administração portuária deverá pleitear a delegação, indicando quais são as competências pretendidas. Portanto, a Portaria não promoveu uma descentralização automática e geral. O requerimento deve ser acompanhado de uma declaração de cumprimento das obrigações previstas na Portaria, de um cronograma envolvendo as principais ações a serem empreendidas para os três anos seguintes, e de uma série de informações e documentos adicionais que demostrem o cumprimento dos demais requisitos estabelecidos. 3

Dentre tais requisitos, chama a atenção que a administração portuária deve estar constituída sob a forma de empresa estatal que atenda a Lei n. 13.303 (Lei das Estatais) e seu decreto regulamentador, inclusive no tocante aos critérios para a nomeação de diretores e conselheiros. Além disso, o porto organizado deverá estar com os respectivos Planos Mestres e de Zoneamento atualizados, devem estar devidamente alfandegados (quando couber), e com certificação ISPS-Code e licença de operação válidas. A administração do porto também deverá ter aderido ao Plano de Contas Regulatório da ANTAQ e, no caso de porto delegado, deverá estar adimplente com as obrigações estabelecidas no convênio de delegação. Há ainda diversas outras obrigações a serem observadas, inclusive de pontuação mínima no Índice de Gestão das Autoridades Portuárias IGAP, criado pela Portaria. O rol é extenso. 6. A avaliação quanto à conveniência e oportunidade da delegação Cumpridos todos os requisitos, ainda assim a efetiva celebração do convênio específico dependerá da avaliação quanto à conveniência e oportunidade pela autoridade competente (art. 2º, 4º, da Portaria). Ou seja, o atendimento aos requisitos da Portaria ministerial não confere nenhuma espécie de direito adquirido à delegação de competências. Haverá uma avaliação discricionária. 7. O prazo dos convênios de delegação e sua prorrogação O convênio, quando firmado, terá prazo de três anos, renovável por iguais períodos (art. 11), a pedido da administração portuária. O pedido de prorrogação deve ser apresentado com antecedência de seis meses em relação ao término do prazo do convênio (art. 12). A continuidade do convênio estará sujeita à avaliação de comissão técnica específica, que deverá analisar o desempenho da administração portuária na delegação vigente e o atendimento dos parâmetros estabelecidos. Há também a possibilidade de o convênio ser denunciado unilateralmente a qualquer tempo pelas partes, mediante comunicação prévia por escrito, com antecedência mínima de noventa dias. 8. A fiscalização do exercício das competências delegadas Como não podia deixar de ser, deve haver uma fiscalização a respeito do exercício das competências delegadas. A Portaria estabelece inclusive a concessão de prazo de seis meses para que a administração portuária regularize a situação, sob pena de extinção imediata do convênio. 4

9. Encerramento Em síntese, a Portaria n. 574 do MTPA estabelece normas bastante relevantes, que tendem a proporcionar uma maior agilidade na formatação e na gestão de contratos de arrendamento de instalações portuárias. Se for bem empregada, a descentralização de competências às administrações portuárias pode contribuir de modo decisivo para destravar investimentos no setor e para agilizar procedimentos. Informação bibliográfica do texto: SCHWIND, Rafael Wallbach. A delegação de competências para as administrações portuárias na Portaria n. 574/2018 do MTPA. Informativo Justen, Pereira, Oliveira e Talamini, Curitiba, nº 143, janeiro 2019, disponível em http://www.justen.com.br/informativo, acesso em [data]. 5