Aula 10 O MUNDO DOS JESUÍTAS - PARTE 1. Antônio Lindvaldo Sousa



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Transcrição:

Aula 10 O MUNDO DOS JESUÍTAS - PARTE 1 META Demonstrar como se deu o processo de evangelização dos indígenas brasileiros, e como ocorreu a fundação da Companhia de Jesus. OBJETIVOS Ao final desta aula, o aluno deverá: entender a profissão de fé dos jesuítas que atuaram no Brasil. PRÉ-REQUISITOS Ter assimilado o conteúdo das aulas 01 a 09. Antônio Lindvaldo Sousa

Temas de História de Sergipe I INTRODUÇÃO Caro aluno ou querida aluna: comecemos esta aula repetindo uma frase de Almeida citada anteriormente:...teria sido enviado então, o Pe. Gaspar Lourenço, visando-se com essa medida prevenir outras conseqüências mais graves [...] dada a respeitosa estima e grande força moral que esse missionário desfrutava junto aos índios. (ALMEIDA, 1954, p. 162) Observemos que o primeiro missionário das terras de Sergipe é destacado como grande força moral junto aos índios. Como você já sabe, a liderança de Lourenço tornava-se necessária à colonização das terras entre os rios Real e São Francisco. Sua função era apaziguar os índios. Vamos pensar um pouco sobre quem era Lourenço e sua função nesse processo de colonização dos índios. Você já sabe que Lourenço é um jesuíta. Objetivava tornar os nossos primeiros habitantes cristãos. Ao ser chamado para a missão de apaziguar os índios, nosso primeiro missionário jesuíta empenhava-se em cumprir mais uma meta da causa que defendia entre os índios. Lembremos outra frase sobre Lourenço escrita na aula anterior. Afirmamos que ele chegava com voz alta às aldeias, pregando e declarando aos índios a causa de sua vinda. Você deveria estar perguntando: que causa seria esta? O que ele pregava? Quais eram as ações rotineiras de Gaspar numa aldeia? Na fase das décadas de 60 e 70 do século XVI, Lourenço atuava como missionário na Bahia e em Sergipe. Conforme referimos na aula anterior, nessas décadas os portugueses acirraram a procura de índios para serem escravizados nos sertões da Bahia e, concomitantemente, os nossos primeiros habitantes empreenderam inúmeras resistências, fugas e acordos com os portugueses. Lembra-se do que falamos sobre a localidade entre o Rio Real e o Rio São Francisco como território considerado ainda de povos selvagens e como lócus de refúgio da escravidão? 96

O mundo dos jesuítas - Parte I Aula 10 Vamos, agora, estudar as ações rotineiras dos padres jesuítas na Bahia. A OCUPAÇÃO DO ESPAÇO. Muitas aldeias da Bahia, nas décadas de 60 e 70 do século XVI, passavam a ser modificadas paulatinamente conforme o modo de ser cristão imprimido pelos jesuítas. Às margens do Rio Real, nas imediações de Itapecuru, na missão de Santo Antonio, por exemplo, os jesuítas marcaram o território reformulando as aldeias. Antes da chegada dos jesuítas, muitas delas eram distantes umas das outras. Os missionários consideravam oportuno uni-las num só espaço para pregar e declarar aos índios a causa por que eles estavam ali. Elas, de igual forma, mudavam para outras terras. O nomadismo indígena deixava para trás os sinais de evangelização impressos pelos jesuítas. Segundo Frei Vicente do Salvador, a permanência dos índios na aldeia variava de três a quatro anos, de acordo com a duração de suas casas. Lourenço procurou ajuntar as diversas aldeias indígenas em uma só povoação, quando chegou a São João, na Bahia, em 1561. Encontrou nessa localidade treze ou quatorze aldeias e as uniu num só povoado. O missionário procurava tornar uno o diverso universo cultural dos nossos índios. Em outras aldeias, fixou residência, coordenou a construção da capela, da escola e reformou um novo perfil das casas do povoado. Os jesuítas enxergavam a figura do diabo, de igual forma, nos costumes arraigados dos índios: nudez, poligamia, cauinagens, nomadismo, guerras e feitiçaria. Segundo Glória Kok a realização de cauinagens punha em perigo a doutrina cristã e, algumas vezes, a própria vida dos jesuítas. Em todas as festas e cerimônias tribais, os índios dedicavam-se ao consumo desenfreado de bebidas fermentadas, extraídas de diferentes plantas, sendo a mais comum a mandioca doce, o milho e o caju cuja preparação era confiada exclusivamente às mulheres (KOK, 2001, p. 84). A CAUSA POR QUE VEIO: EM NOME DO SENHOR E CONTRA O DEMÔNIO. Retornemos à seguinte frase citada na introdução: Lourenço chegava com voz alta, pregando e declarando aos índios a causa de sua vinda. Você deve estar bastante curioso em saber que causa seria esta. Os missionários, como o nome está dizendo, faziam missão. Segundo Paul Suess, a missão significava cruzadas em terras longínquas, conquista dos territórios ocupados por inimigos da fé, libertação das almas presas nas garras do demônio (SUESS, 1992. p. 15). 97

Temas de História de Sergipe I A expulsão do paraíso (datalhe), 1509-1510, afresco, Michelangelo. A conquista espiritual dos povos pagãos exigia dos jesuítas um estado de vigília permanente contra os inimigos de Cristo que povoavam o novo mundo. Os missionários acreditavam que as almas dos indígenas estivessem subjugadas pelo demônio, através dos seus intermediários, os xamãs, ou pajés, ou caraíbas. Insistiam, ao longo da evangelização, na afirmação da falsidade das obras dos feiticeiros (falsos profetas) e na verdade das obras dos padres (verdadeiros profetas). O demônio aparece como o principal inimigo da implantação do Cristianismo na terra. Para reforçar a compreensão do papel do diabo no imaginário cristão, sugerimos que leia o texto ao lado de Carlos Roberto F. Nogueira: Capa de um dos volumes da História da Companhia de Jesus no Brasil, de Serafim Leite. Entre o homem e Satã existe uma guerra perpétua desde a Criação, e os doutores da religião concordavam em que o Inimigo se assanhava, sem descanso, em atormentar e prejudicar a sua infeliz vítima: o homem. Nessa linha de raciocínio, a lista dos poderes demoníacos não pode deixar de ser cada vez maior e inquietante. (...) O Mal domina as consciências. O homem moderno sentese inseguro, insegurança baseada na crença de um Satã todo-poderoso, identificado a todas as desgraças e azares que ocorriam no mundo. Crença que serve de suporte a toda uma longa série de violências que ensangüentam a Europa moderna, transformadas em lutas contra o Diabo, seus agentes e seus estratagemas. 98

O mundo dos jesuítas - Parte I Aula 10 Assim, a época das disputas religiosas conferiu ao Diabo uma grandiosidade trágica: o Demônio é o grande rebelde. Em outras palavras, as Reformas conferiram ao Inimigo o direito de existir em toda a sua potência, em toda a sua nobreza (NOGUEIRA, 1986, p. 97-98). Segundo Almeida, numa missão, Lourenço e os demais missionários estavam falando em nome de Jesus e da Igreja Católica. E para louvar ao Senhor como se gosam (sic) com a vida que se lhes propõe e com a doutrina que se lhes ensina (ALMEIDA, 1954, p. 175). Segundo Serafim Leite, as principais metas dos jesuítas, de acordo com a fórmula do instituto da Companhia de Jesus, eram procurar o proveito das almas, na vida e doutrina cristã, propagar a fé, pela pública pregação e ministério da palavra de Deus, pelos exercícios espirituais e obras de caridade, e, nomeadamente, ensinar aos meninos rudes as verdades do cristianismo e consolar espiritualmente os fiéis no tribunal da confissão (SERAFIM LEITE, 1954, p. 6). A FUNDAÇÃO DA COMPANHIA DE JESUS Inácio de Loyola funda a Companhia de Jesus em 1540 e alcança reconhecimento com a bula do papa PauloIII, Regimini Militantis Ecclesiae, em setembro do mesmo ano. Você sabe como surgiu a Companhia? Ver glossário no final da Aula OS PRIMEIROS COMPANHEIROS DA COMPANHIA DE JESUS No outono de 1525, chegam à Universidade de Paris dois jovens de 22 anos, vindos para preparar a maîtrise em artes; o primeiro é um saboiano de origem camponesa, Pedro Fabro; e o segundo, o filho caçula de uma nobre família de Navarra, Francisco de Jassu y Xavier. Eles dividem um quarto no Colégio de Navarra. Em 1529, enquanto Pedro Fabro se prepara para o sacerdócio, um estranho companheiro vem juntar-se a eles: um fidalgo basco de 40 anos, de pequena estatura e coxo: Inácio de Loyola. Foi ferido em 1521, no ataque a Pamplona, e converteu-se durante a convalescença. Retoma os estudos e pratica a oração. Seus dois colegas lhe repetem gratuitamente as aulas e se tornam seus amigos. Um português, Simão Rodriguez, liga-se ao trio; depois, dois catalães, Diogo Lainez e Afonso Salmerón, aos quais logo se reuniu um terceiro, Nicolau Bobadilla, que veio para se aperfeiçoar em grego e hebraico. Esses sete amigos têm a preocupação de reformar suas vidas e viver a pobreza evangélica. Em 1534, sucessivamente, eles fazem os exercícios, segundo os 99

Temas de História de Sergipe I conselhos de Inácio; trata-se de um método de oração e meditação dos mistérios da fé, distribuído por vários dias ou várias semanas, pelo qual o retirante se põe em ordem e escolhe seu estado de vida. Em 15 de agosto de 1534, bem cedo, os companheiros dirigem-se em peregrinação à capela de Montmartre e assistem à missa celebrada por Pedro Fabro, ordenado recentemente. Depois, cada um deles pronuncia o voto de ir em peregrinação a Jerusalém. Não pensam, de modo algum, na ocasião, em fundar uma ordem religiosa e continuam a vida de estudo, penitência e reforma interior. Em 1537, encontramse em Veneza, mas, infelizmente, nenhum barco levanta âncora para ir à Terra Santa. Então, escolhem ir a Roma e se oferecerem ao papa, que poderia lhes confiar qualquer missão que desejasse. Os que não estão ainda ordenados recebem o sacerdócio. Em 23 de novembro de 1538, o papa Paulo III recebe esses padres que querem trabalhar na reforma da Igreja e aceita seu oferecimento. Os companheiros devem dispersar-se? Que vínculos irão uni-los? Obedecerão a um superior? Dois anos se passam até que o pequeno grupo encontre um estatuto: em 27 de setembro de 1540, Paulo III assina a bula que funda canonicamente a Companhia de Jesus. Os companheiros acrescentaram ao voto de pobreza evangélica e perpétua castidade a obediência a um deles: o padre Inácio. As constituições da ordem serão estabelecidas em 1552. (DELUMEAU, 2000, p. 251). Em Os Jesuítas: missões, mitos e histórias, Jonathan Wrigt defende a idéia de que Loyola e seus primeiros companheiros visavam a uma renovação espiritual, uma purificação das almas, queriam corrigir a ignorância da doutrina, um expurgo dos pecados e da superstição (WRIGHT, 2006, p. 32).. Por ocasião da morte de Loyola, em 1556, a Companhia já contava com mil membros e administrava uma centena de fundações, sobretudo, colégios. Nos anos de 1550 e 1650, os jesuítas constituíam o elemento mais dinâmico da Igreja romana. Foram chamados o exército do papa e a cavalaria ligeira da Igreja. 100

O mundo dos jesuítas - Parte I Aula 10 CONCLUSÃO Os jesuítas vieram para o Brasil com o intuito de catequizar os índios, isto é, convertê-los à fé da igreja católica. Nesse processo de conversão, os índios perderam muito das suas características culturais, absorvendo a cultura dos conquistadores, já que os padres traziam consigo um mundo de pertencimento que não era o mundo dos indígenas. Em conseqüência, houve o enfraquecimento das nações silvícolas, o que fez parte da estratégia européia de ocupação geográfica do território. RESUMO Inicialmente, você apreendeu parte do discurso do padre Lourenço, que pregava a salvação das almas dos índios, mas, o que ocorria era o enfraquecimento das diversas aldeias com a aglutinação delas em uma só. Depois, verificamos como ocorreu a fundação da Companhia de Jesus, através da conversão de Inácio de Loyola e do seu espantoso crescimento em poucas décadas, saindo do pequeno grupo de sete padres para mais de 1.000, chegando a ser, nos anos 1560 a 1660, o grupamento mais dinâmico da igreja católica, denominado o exército do papa. ATIVIDADES Continue a montagem do seu blog, com mais fotos e textos. REFERÊNCIAS KOK, Glória. Os vivos e os mortos na América portuguesa: da antropologia à guisa do batismo. Campinas/SP; Editora da Unicamp, 2001. NOGUEIRA, Carlos Roberto F. O diabo no imaginário cristão. São Paulo: Ática, 1986. SERAFIM LEITE. História da Companhia de Jesus no Brasil, Tomo I, Lisboa - Rio de Janeiro: Livraria Portugália, 1954. SUESS, Paul Suess (Org.) A conquista espiritual da América espanhola. Petrópolis: Vozes, 1992. VICENTE DO SALVADOR, Frei. História do Brasil (1500-1627). 7 Ed. Belo Horizonte São Paulo: Itatiaia e Edusp, 1982, p. 80. WRIGHT, Jonathan. Os jesuítas: missões, mitos e histórias. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2006, p.32. 101

Temas de História de Sergipe I GLÓSSARIO Bula: Documento expedido pelo papa; carta pontifícia. Papa Paulo III: Religioso italiano (1468-1549). Foi eleito papa em 1534. Aprovou a criaçãoda Companhia de Jesus (1540) e convocou o Concílio de Trento (1545). Inácio de Loyola: Religioso espanhol (1491-1556) Fundador da Companhia de Jesus (1540), é considerado o paladino da Contra Refoma. 102