Aluno(a): Professor(a): Turma: n o : Data: Leia o texto a seguir com atenção. História de Trancoso Joel Rufi no dos Santos Era uma vez um fazendeiro podre de rico, que viajava solitário. Ah, quem me dera encontrar por aí um companheiro de estrada... Não é que encontrou? Num rancho em que parou para beber água, o fazendeiro achou um padre querendo seguir viagem, mas morria de medo. Pode-se saber de que vossa senhoria tem medo? perguntou o fazendeiro. De curupira. Me avisaram que a estrada tá assim deles. Não se avexe falou o fazendeiro. Comigo não tem curupira nem mané-curupira. Venha comigo. Andaram que andaram. Quando já ia escurecendo, ouviram a mata bulir. O padre se benzeu, o fazendeiro preparou a espingarda. Se for encantado vai virar peneira avisou. Calma gritou uma voz de taquara rachada. É gente que aqui vai. Se é cristão se aproxime gritou o padre medrosão. Era um roceiro montado num burro velho. Posso entrar nesse cortejo? perguntou com respeito. O fazendeiro e o padre torceram o nariz. Mas lá seguiram viagem. Anda que anda, só os dois proseando. O roceiro tinha lá papo para aquela conversa de doutor? [...] Os três viajantes pararam numa venda. Comeram jabá, com feijão e mandioca, depois de um copo de jurubeba. Antes de dormir, não é que o dono da venda pegou um queijo de cabra e deu de presente pra eles? Tão pequetitinho que nem dava para dividir. O padre, que era muito sabido, deu uma ideia: Vamos dormir. Quem tiver o sonho mais bonito fica com o queijo. Dormiram que Deus deu. No canto do primeiro galo pularam da cama, selaram os cavalos enquanto o roceiro ajeitava seu burro velho. Engoliram um café com vento... E pé na estrada. A fome apertou, o padre foi contando seu sonho: Sonhei com uma grande escada de ouro, cravejada de marfim. Começava juntinho do meu travesseiro... Furava as nuvens lá em riba... Ia subindo, subindo... E sabem onde terminava? Não respondeu o fazendeiro. No céu. Ninguém pode sonhar coisa mais bonita. Conforme o combinado o queijo é meu. Pois eu disse o fazendeiro, picando o rolo de fumo sonhei com um lugar iluminadão. Só que não tinha lâmpadas. 1
Como não tinha lâmpadas? perguntou o padre. A luz nascia das coisas explicou o fazendeiro. Vocês já viram um cacho de banana servindo de lustre? Pois nesse lugar tinha. Já viram areia de prata de puro diamante? Pois era assim nesse lugar que sonhei. E pode-se saber que lugar era esse? perguntou o padre, sem jeitão. O céu. Você sonhou com a escada pro céu. Eu sonhei que já estava lá. Conforme o combinado o queijo é meu. O fazendeiro foi abrindo o surrão para pegar o queijo. Jacaré achou? Nem ele. Ué! Onde se meteu o danado? Agora que vocês contaram o sonho falou o roceiro, tenho uma coisa pra contar. O padre e o fazendeiro olharam o roceiro de banda. Cês não ouviram um barulho de noite? Pois era eu que me levantei pra comer o queijo. Como vocês estavam no céu, achei que não precisavam mais do queijo. Sabem quem era esse roceiro? Trancoso. Joel Rufino dos Santos. O saci e o curupira e outras histórias do folclore. São Paulo: Ática, 2002. p. 45-52. Avexar: forma popular do verbo vexar: causar tormento, molestar, humilhar, afrontar. Curupira: ser fantástico que, segundo a crendice popular, é um índio com os pés para trás que habita as matas, protegendo seus habitantes. Em riba: em cima. Jabá: charque, carne salgada. Trancoso: personalidade da literatura portuguesa que juntou, em coleção famosa, narrativas lusitanas e ibéricas que circulavam oralmente na Idade Média. Segundo Joel Rufino dos Santos, Trancoso significa igualmente um herói popular que se vinga dos ricos e poderosos através da astúcia. Parte 1: Compreensão e interpretação do texto 1 O texto que você leu é um conto popular. Essas histórias passam de uma geração para outra oralmente e assim não é possível situá-las num tempo determinado. Copie do texto duas expressões que apontam para a ideia de tempo indeterminado: 2 Explique o que o fazendeiro quis dizer para o padre com a frase: [...] Comigo não tem curupira nem mané-curupira. 2
3 Releia o trecho: O fazendeiro e o padre torceram o nariz. Mas lá seguiram viagem. Anda que anda, só os dois proseando. O roceiro tinha lá papo para aquela conversa de doutor? Nesse trecho, que tipo de comportamento do padre e do fazendeiro em relação ao roceiro é revelado? 4 As histórias do padre e do fazendeiro tinham a intenção de enganar apenas o roceiro? 5 Nesse conto, o narrador parece conversar com o leitor. Copie abaixo uma expressão ou frase que comprove essa atitude do narrador. 6 Releia a informação sobre Trancoso no boxe de vocabulário próximo ao texto. O que se pode aplicar dessa informação ao conto lido? Explique sua opinião. 7 Você concorda com a atitude do roceiro? Justifi que sua opinião. 3
Parte 2: Conhecimentos sobre gramática 1 Uma característica típica da linguagem oral é a redução de palavras e expressões. Copie do texto duas palavras que estejam reduzidas, indicando um uso próprio da língua oral. 2 Retire do texto algumas palavras ou expressões que caracterizem uso mais informal e popular da língua. 3 As histórias contadas oralmente em geral têm como característica a indicação de lugares indeterminados, indefi nidos, isto é, espaços que não têm uma localização precisa. a) Copie do texto expressões que exemplifi quem essa característica. b) Que tipo de palavra contribui para reforçar a ideia de indeterminação? 4 Releia a frase: Assinale a alternativa que melhor analisa o termo destacado: ( ) é um artigo indefi nido, dá ideia de indeterminação; ( ) é um numeral, pois dá ideia de quantidade precisa. 5 Copie do texto duas frases nominais. 4
: unidades 1 e 2 Gênero: conto popular Respostas e comentários para o professor Parte 1: Compreensão e interpretação do texto 1 Era uma vez.../ Andaram que andaram. Quando já ia escurecendo.../ No canto do primeiro galo... 2 Ele quis dizer que nada o amedrontava. 3 Os dois pareciam ignorar o roceiro, talvez por considerá-lo mais ignorante ou mais bobo do que eles. 4 Não. Eles pretendiam enganar um ao outro também para fi car com o queijo. 5 Sabem quem era esse roceiro? 6 Professor, o importante é que o aluno consiga expressar sua posição e apresentar argumentos coerentes que a sustentem. 7 Professor, o importante é que o aluno consiga expressar sua posição e apresentar argumentos coerentes que a sustentem. Parte 2: Conhecimentos sobre gramática 1 Pra, cês, pro. 2 Pé na estrada, voz de taquara rachada, medrosão, pequetitinho. 3 a. Num rancho, numa venda. 3 b. Os artigos indefi nidos: um, uma. 4 É um numeral... 5 No céu/ Nem ele. Professor, mesmo que os verbos de algumas frases estejam subentendidos, na expressão fi nal são vistas como frases nominais.