Lo ajeno, más que lo próprio parece bueno?" Um estudo das atitudes dos professores de espanhol como LE no Rio de Janeiro



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Transcrição:

Linguagem & Ensino, Vol. 1, No. 1, 1998 (105-114) Lo ajeno, más que lo próprio parece bueno?" Um estudo das atitudes dos professores de espanhol como LE no Rio de Janeiro Maria del Carmen F. González DAHER Vera Lúcia de A. SANT ANNA Universidade do Estado do Rio de Janeiro -UERJ ABSCTRACT: This paper analyzes the issue of cultural reproduction as socially constructed by foreign language teachers. A survey of attitudes involving university teachers of Spanish was conducted by the authors using a questionnaire based on LOPES (1982) and having as subjects Brazilian teachers from three public universities in the state of Rio de Janeiro. The survey showed that the teachers had difficulty in offering the students an impartial and open view of the speakers of the foreign language. It was also found that the cultural manifestations of Spain were regarded as hierarquically superior to those of Latin America. RESUMO: O trabalho analisa a questão da reprodução cultural socialmente construída por professores de língua estrangeira. Para o levantamento das atitudes dos professores de espanhol frente à língua que ensinam, as autoras utilizaram um questionário baseado em LOPES (1982), com professores brasileiros, de 3º grau, em três universidades públicas do Rio de Janeiro. A análise dos dados mostrou uma dificuldade de passar aos alunos uma visão realmente isenta e aberta ao outro. Constatou-se, ainda, que as manifestações da cultura espanhola aparecem num nível hierárquico superior às da América Hispânica. KEY WORDS: teaching Spanish, teacher attitude, learner attitude, foreign languages, foreign language culture PALAVRAS-CHAVE: ensino de espanhol, atitude de professores, atitude

ATITUDE DOS PROFESSORES de alunos, línguas estrangeiras, cultura da língua estrangeira. 106 INTRODUÇÃO Os professores, em virtude da própria natureza do seu trabalho, convivem com a questão da reprodução cultural socialmente construída. Sendo muitas vezes porta-vozes conscientes ou não de conceitos, preconceitos e discriminações. Tal fato acentua-se, particularmente, quando se trata de professores de língua estrangeira, pois se costuma destinar a este profissional o papel de representante oficial de outras culturas. Como pesquisadoras da área de espanhol como LE, vimos observando uma escassez de investigações cujo foco seja a relação ensino/cultura. No caso específico do espanhol, deparamo-nos por um lado com o desprestígio social das manifestações culturais expressas nessa língua, resultante do distanciamento/desconhecimento dos seus contextos de produção, e por outro o vertiginoso crescimento da demanda pelo seu ensino. O momento presente, portanto, marca uma situação de mudança: (a) antes: não interessava conhecer essa cultura, porque o espanhol sempre foi visto como língua de pouco prestígio social, cabendo-lhe posicionar-se num plano de valores atrás do inglês e do francês; (b) agora: por vários motivos, que não cabe aqui analisar, passa a constituirse em objeto de interesse. Haja vista sua inclusão nos concursos de vestibular, na grade curricular do 2º grau e em muitos cursos e a demanda por profissionais que conheçam o idioma. Em virtude da ausência de suportes extra-classe e de políticas de divulgação dessas culturas, reduz-se, na maioria das vezes, o conhecimento da língua alvo à amostra do professor. A nosso ver a questão mais séria, aqui, é a da imposição da visão cultural do professor. Que crenças tem ele sobre sua própria cultura? Que crenças possui sobre as culturas hispânicas? Como se comporta frente à sua língua e à ensinada? Que crenças tem sobre o próprio ensino? Queira-se ou não, atam-se a estas questões a formação da identidade do aprendiz. Neste trabalho, portanto, o enfoque está voltado para um levantamento das atitudes dos professores de espanhol frente à língua que ensinam, como forma, neste momento, de trazer à tona manifestação de crenças - implícitas e explícitas - valores, preconceitos e ideologias. Optamos por utilizar o mesmo questionário da pesquisa de LOPES

DAHER & SANT ANNA (1982), feitas algumas adequações para atender e abranger às realidade do ensino do espanhol. Os informantes foram professores brasileiros, de 3º grau, formadores de docentes, que ensinam a Língua Espanhola nas universidades públicas do Rio de Janeiro (UFRJ, UFF e UERJ) onde existem Cursos de Licenciatura em Português-Espanhol. Ao final do questionário foi oferecido um espaço onde os professores puderam acrescentar o que consideravam relevante, com o objetivo de obter dados espontâneos. Foi, também, gravada uma entrevista, não-estruturada, onde se incentivou o entrevistado a comentar a relação entre ensino/cultura e sua importância na aprendizagem da língua estrangeira, na qual enfocamos mais diretamente a análise de modalidades e das metáforas como marcas discursivas. Todavia, abordaremos aqui apenas o primeiro instrumento. Para a análise das respostas do questionário foram considerados conceitos da Psicologia Social, no que diz respeito à relação entre cultura e o sistema de atitudes, sendo a primeira aqui entendida como o conjunto de padrões modais característicos do comportamento, crenças, normas, premissas e valores subjacentes que regulam determinado grupo social. E sistema de atitudes, como o resultado da organização das diferentes cognições que o homem desenvolve ao longo da sua vida e nas relações interpessoais (SVANES,1988). ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO O universo de profissionais que atuam na graduação Português- Espanhol está composto, na época da realização deste trabalho, por vinte e cinco professores. Cinco deles foram excluídos de nossa pesquisa por serem nativos de língua espanhola. Subtraíram-se, ainda, os que trabalham somente com o ensino de Literaturas (três). Nosso universo ficou constituído por dezessete professores. Foram distribuídos nove questionários, ou seja, metade mais um do total considerado, sendo que apenas um não foi devolvido. Contamos, portanto, com oito informantes, o que equivale a quase 50% dos profissionais que atuam formando docentes de língua espanhola. Acreditamos que a amostra representa, assim, uma observação relevante no que diz respeito às atitudes dos professores dessa área. 1 1 1 A distribuição caracteriza-se por alguns detalhes tais como: na UERJ não há divisão 107

ATITUDE DOS PROFESSORES Os questionários não foram assinados a fim de preservar o sigilo dos informantes sendo reconhecidos, apenas, através da numeração de 1 a 8 para efeito de tabulação, análise e citações. 2 A tabulação das respostas encontra-se em anexo. Tabela 1 Atuação dos professores na graduação INSTITUIÇÃO TRABALHAM COM LÍNG. ESPAN. LITERATURA AMBAS TOTAL UERJ 4 2 1 7 UFF - 2 6 8 UFRJ - - 10 10 Observando-se as respostas às questões de n.º 1, 2 e 3, constatamos que todos os docentes manifestaram preocupação com a cultura que é ensinada de maneira assistemática. No entanto, se nos detivermos nas respostas dadas à questão de n.º 3, verificamos que: (a) elas contradizem às da n.º 1. Nesta os professores informaram preocupar-se com a cultura, sendo que somente para 75% deles, seu ensino constitui-se como absolutamente essencial; (b) comparada, ainda, com as respostas da n.º 2-a, não abarca a totalidade dos que dizem ensinar ambas culturas, demonstrando uma preocupação maior com a cultura espanhola. Um dos docentes justifica, ao final do questionário, que Enfatizo ambas as culturas, embora tenha mais material da Espanha e mais conhecimento teórico e vivencial também. No entanto, não apareceu nenhuma citação a qualquer das culturas hispano-americanas em especial. entre Língua e Literaturas sendo, portanto, o quadro representativo das preferências habituais do grupo; na UFRJ, as Literaturas Hispano-Americanas pertencem a outro Setor; estas duas primeiras Instituições contam com dois professores comuns a ambas; e, na UFF, dois docentes fizeram concursos para atuar, exclusivamente, com o ensino de Literatura. Em cada Instituição, um de seus profissionais encarrega-se pela Prática de Ensino, disciplina pertencente à Faculdade de Educação, e, apenas na UFF ele não atua na Faculdade de Letras. 2 Toda vez que for introduzido na presente investigação algum trecho retirado do questionário, o mesmo aparecerá diferenciado pelo uso de itálico. Para facilitar as referência, abreviaremos a palavra informante por I seguida do número de codificação que lhe corresponde. 108

DAHER & SANT ANNA A visão do professor sobre a reação de seus alunos frente às culturas de língua espanhola também merece comentários. Se somarmos os percentuais do 2º, 3º e 4º itens, somaremos 62,5% atribuídos a valores negativos. Índices muito próximos aos 87,5% dos positivos. Nos comentários aparecem as seguintes observações: Que engraçado! teria conotação de Que diferente!, uma referência a que quando lhes perguntamos tête-à tête a resposta é Que interessante (5ª), mas tão logo deixam a sala de aula acham ridículo. Na 5ª pergunta, o comando solicita uma única resposta, no entanto, muitos informantes estabeleceram uma gradação. Optamos, então, por respeitar esse desejo, ainda que a pergunta ficasse prejudicada, porque 100% apontaram ilustrar suas aulas com exemplos relativos à Espanha, seguindo-se 75% para países da América Latina e 62,5% para o Brasil. Com relação a outras questões, 75% informaram utilizar um espanhol mais próximo ao da Espanha, sem nenhuma referência às variantes existentes nesta. No que diz respeito à América, um dos professores referiu-se à Argentina e outro ao Uruguai. Nas observações explicativas, aparece citada por 37,5% dos informantes a existência de uma língua padrão, que para a maioria nasce a partir da mistura das contribuições de diversos países, ou seja, seria uma língua híbrida. Todavia um informante crê que essa língua padrão por ele utilizada é a língua culta, como ele mesmo expõe, aquela que não implica variantes. Pois acredita que é o melhor meio para uma verdadeira retroalimentação. É uma opção consciente que partiu de muito estudo, muita prática e observação (I. 2). Ou seja, para comprovar sua justificativa, vale-se de um argumento construído com base numa crença apresentada como verdade. Saltemos para as questões 8 e 9. Verificamos aqui uma interessante reação ante o posicionamento de valores positivos. Nossos informantes recorrem a estratégias que evitam uma exposição mais comprometedora. Itens sem muitos juízos de valor negativos, como qualificar alguém de formal/informal, recebem 50% das respostas. Já no que diz respeito a considerar alguém como sério e trabalhador, as respostas voltam-se para os itens irrelevante e sem resposta. No entanto, na opção (d) brincalhão, poucos deixam de responder e 87,5% acreditam ser ela uma característica dos brasileiros. Apesar de muitos terem-se negado a responder a perguntas que 109

110 ATITUDE DOS PROFESSORES classificam povos, observamos índices que apontam crenças - estereótipos: os espanhóis são formais, tradicionais, disciplinados, rebeldes, realistas e mal-educados; os latino-americanos, talvez pelo grande desconhecimento a seu respeito, formais/informais e menos tradicionais que os espanhóis; e, os brasileiros, brincalhões, informais, indisciplinados e rebeldes. Passaremos a considerar as questões finais, de n.º 13 e 14. Em relação à pergunta 13, houve as seguintes observações: o espanhol seria mais preciso que o português, do ponto de vista fonético/fonológico, e menos preciso do ponto de vista morfosintático e o ortográfico. (I 1) essa pergunta implica uma série de considerações... Com relação a quê? Por quem? Em que situação? (I 5) No entanto, através dos índices, deparamo-nos com a crença de que o espanhol é uma língua mais fácil e precisa e que, conseqüentemente, o português é mais difícil. Logo, percebemos que valores em relação às línguas vêm interferindo na forma de apresentação aos alunos. As respostas à questão 14 expõem a valorização da cultura, porém não de forma categórica, pois a existência 12,5% de não respostas expõe a marca de preconceito: pelo menos dois informantes crêem em limitações inerentes à cultura de um povo. Lo ajeno más que lo propio parece bueno? Voltamos à perguntatítulo. Nosso levantamento aponta para algumas conclusões parciais. Apesar de serem os informantes professores de 3º grau, logo, imaginados como profissionais abertos ao diálogo, capazes de reconhecer e respeitar diferenças, verificamos marcas de juízo de valor no que se refere a manifestações culturais. A presença de crenças sobre qualidades boas/ruins, características relevantes/irrelevantes, denotam uma dificuldade de, na prática de sala de aula, passar aos alunos uma visão realmente isenta e aberta ao outro. Constata-se, ainda, que as manifestações da cultura espanhola aparecem num nível hierárquico superior às da América Hispânica. Isto indica que os formadores de formadores apresentam um quadro de atitudes culturais que privilegiam uma determinada opção, que se reproduzirá em sua prática. Com relação à cultura brasileira, quando se tratou de defender o

DAHER & SANT ANNA nacional, comprovamos que não houve uma adesão de 100%. Desta forma, não temos como responder com SIM ou NÃO à pergunta título. Acreditamos que os altos índices de irrelevância e não respostas são muito significativos, como estratégia de disfarce das próprias atitudes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FOURQUIN, J.C. Escola e Cultura. Porto Alegre, Artes Médicas, 1993. GARDNER, R. C. & LAMBERT, W.E. Attitudes and Motivation in second language learning. Rowley, Mass.: Newbury House, 1972. LOPES, L.P.M. Yes nós temos bananas ou Paraíba não é Chicago não Um estudo sobre a alienação e o ensino do inglês como língua estrangeira no Brasil. In: Educação e Sociedade, nº 4, Campinas, UNICAMP, 1982. SVANES, B. Attitudes and cultural distance in second language acquisition In: Applied Linguistics, 9/4, p. 357-371, 1988. 111

ATITUDE DOS PROFESSORES ANEXO ( Lo ajeno más que lo propio parece bueno? Um estudo das atitudes dos professores de espanhol como LE no Rio de Janeiro) 1) Você se preocupa com o ensino da(s) cultura(s) da LE em suas aulas? ( 100% ) sim ( - ) não ( - ) incidentalmente 2) Se você disse SIM acima, responda também às perguntas abaixo: a) Que cultura você enfatiza mais? ( 37,5% ) a espanhola ( - ) a hispano-americana (62,5% ) ambas b) Você ensina cultura de maneira: ( 25% ) sistemática ( 75% ) assistemática 3) Você acha que o ensino da cultura é: ( 75% )absolutamente essencial ( - )depende do objetivo do curso (25%) não responderam a questão 4) Se você tivesse que classificar a reação de seus alunos frente a situações típicas da(s) culturas de língua espanhola, qual das afirmações seria mais freqüentes: ( - ) Que ignorância! ( 12,5%) Que besteira! ( 25% ) Que ridículo! ( 25% ) Que engraçado! ( 87,5% ) Que interessante! ( 12,5% ) Que semelhança com a nossa cultura! 5) Normalmente, para ilustrar suas aulas você faz mais referência a: ( 62,5% ) Brasil ( 100% ) Espanha ( 75% ) Países da América Latina 6) O tipo de espanhol que você ensina é mais próximo do: a) ( 75% ) espanhol da Espanha b) (12,5%) espanhol da América (12,5% ) S.R. 7) Você tem a perfeição do espanhol nativo como objetivo primordial em suas aulas? ( 12,5% ) sim ( 87,5% ) não 8) Faça um X no parêntese que melhor expressa sua avaliação dos falantes nativos de espanhol da Espanha - E - e da América Latina - AL. Um X no parêntese do meio indica que tal avaliação é irrelevante: AL- Formal ( 50%) Formal ( 25%) Irrelevante ( - ) Informal ( -) Informal( 25%) S.R.( 50% ) S.R. ( 50%) Al- Sério ( 12,5% ) Sério ( - ) Irrelevante( 50% ) Superficial ( -) Superficial ( -) S.R.(37,5%) S.R. (50%) Trabalhador (12,5%) Irrelevante( 50% ) Preguiçoso ( -) S.R.(37,5%) 112

DAHER & SANT ANNA Al- Trabalhador (12,5%) Preguiçoso (-) S.R.(37,5%) AL- Educado ( - ) Educado ( - ) Irrelevante(37,5%) Mal-educado(25%) Mal-educado( - ) S.R.(37,5%) S.R.(62,5%) AL- Al- Disciplinado ( 25%) Disciplinado ( - ) Tradicional (37,5%) Tradicional ( 25%) Irrelevante ( 37,5%) Indisciplinado ( - ) Indisciplinado(12,5% ) Irrelevante (12,5%) Moderno ( - ) Moderno ( 12,5%) S.R.(37,5%) S.R.(50%) S.R. (50%) S.R.(50%) Al- Rebelde ( 37,5%) Rebelde ( 37,5%) Irrelevante (25%) Pacífico ( - ) Pacífico ( - ) S.R.(37,5%) S.R.(37,5%) 9) Faça um X ao lado do adjetivo que melhor caracteriza o povo brasileiro(pb) e os povos de língua espanhola da península(pe) e da América Latina(PAL). Se tal descrição é irrelevante, faça um X no quadrado correspondente: PB PE PAL Irrelevante S.R. a) Honesto ( - ) ( - ) ( - ) (50%) (50%) b) Desonesto ( - ) ( - ) ( - ) (50%) (50%) c) Sério ( 12,5%) ( 12,5% ) ( - ) (12,5%) (62,5%) d) Brincalhão (87,5%) ( - ) ( 25% ) ( - ) (12,5%) e) Educado ( - ) ( 12,5% ) ( - ) (37,5%) (62,5%) f) Mal-educado ( 12.5%) ( 25%) ( - ) (37,5) (50%) g) Trabalhador ( 12,5% ) ( 12,5% ) ( 12,5 ) (12,5%) (75%) h) Preguiçoso ( - ) ( - ) ( - ) (37,5) (62,5%) i) Romântico ( 25% ) ( - ) ( - ) (12,5%) (62,5%) j) Realista ( - ) ( 12,5% ) ( - ) (12,5%) (75%) l) Formal ( - ) ( 50%) ( 25% ) ( - ) (37,5%) m) Informal ( 62,5% ) ( - ) ( 12,5%) ( - ) (37,5%) n) Disciplinado ( - ) ( 37,5% ) ( 12,5% ) (12,5%) (50%) o) Indisciplinado ( 87,5 ) ( - ) ( 25% ) ( - ) (12,5%) p) Tradicional ( - ) ( 62,5 ) ( 37,5 ) ( - ) (25%) q) Rebelde ( 25% ) ( 37,5% ) ( 12,5% ) ( - ) (37,5%) 10) Você se sente mais à vontade falando: espanhol ( 12,5% ) português ( 75% ) S.R. ( 12,5%) 11) No seu tempo disponível para ler, você dá preferência à literatura em língua espanhol? sim ( 75% ) não ( - ) às vezes ( 25% ) 12) A maior parte da informação que você recebeu sobre a vida (traços culturais) de países 113

ATITUDE DOS PROFESSORES de língua espanhola foi adquirida através de : a) vivência em países de língua espanhola ( 75% ) b) livros didáticos ( 50% ) c) livros, revistas e filmes ( 85,5% ) d) contato com falantes nativos de espanhol no Brasil ( 75% ) e) outros: - reciclagens constantes na Espanha - através de outros professores 13) Faça um X ao lado do adjetivo que melhor descreve a língua espanhola e a portuguesa. Se o adjetivo é irrelevante, faça um X no traço do meio: Portuguesa Irrelevante Espanhola S.R. a) Mais precisa ( - ) ( 25% ) ( 50% ) ( 25% ) b) Mais difícil ( 62,5% ) ( 12,5% ) ( - ) ( 25% ) 14) Você diria que há limitações inerentes aos brasileiros, ou seja, elementos culturais específicos do Brasil, tais como falta de auto-controle, de organização no trabalho, de seriedade e indolência, que os impedem de alcançar o desenvolvimento? a) sim ( - ) não ( 87,5% ) S.R. ( 12,5% ) E aos latino-americanos? b) sim ( - ) não ( 87,5% ) S.R. ( 12,5% ) E aos espanhóis? c) sim ( - ) não ( 87,5% ) S.R. ( 12,5% ) 114