E LÁ VEM O BEBÊ : UMA PROPOSTA DE PRÉ-NATAL PSICOSSOCIAL NA SAÚDE PÚBLICA

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Transcrição:

963 E LÁ VEM O BEBÊ : UMA PROPOSTA DE PRÉ-NATAL PSICOSSOCIAL NA SAÚDE PÚBLICA Área temática: Saúde Coordenador da Ação: Luciana Suárez Grzybowski 1 Autores: Carolina Prietto Ferrazza 2, Camila Selau Pereira 3 RESUMO: A gestação é um período que requer atenção especial, pois promove alterações e repercussões na saúde física e psicológica da mulher e da família. Neste momento ocorre, também, a preparação para a parentalidade, a redefinição da conjugalidade e da nova configuração familiar. Na rede pública de atenção básica, a gravidez é, geralmente, amparada em questões biomédicas, sendo escassas as intervenções que abordem as mudanças psicossociais das usuárias. Nesse sentido, o presente projeto propõe a realização de uma intervenção psicossocial com gestantes e familiares no contexto do pré-natal no SUS, propondo trocas de experiências e uma discussão ampliada sobre aspectos emocionais, familiares, sociais e culturais do ciclo gravídico-puerperal. A intervenção está organizada em oito oficinas de uma hora e meia cada, de frequência semanal, com gestantes e familiares de Unidades de Saúde do distrito docente assistencial da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Contando com temáticas pré-estabelecidas, as oficinas têm base em relatos de casos, discussões e dinâmicas de grupo, buscando refletir sobre questões de saúde vinculadas a esse período de vida. Como resultado, estima-se uma melhor vivência desse período por meio da troca de experiências, bem como contribuir com a qualificação do pré-natal e da atenção à saúde da mulher, visando a consolidação de uma metodologia biopsicossocial de ação com gestantes no SUS. De forma direta, a intervenção pretende ser promotora de saúde; de forma indireta, servir de parâmetro a outros profissionais da saúde. Ao final do projeto, uma cartilha para multiplicação 1 Doutora em Psicologia, Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e-mail: lucianasg@ufcspa.edu.br 2 Graduanda em Psicologia pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). 3 Psicóloga graduada pela Universidade do Vale dos Sinos (UNISINOS). Especialista em Saúde Mental pela IFRS. Voluntária de pesquisa do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).

964 da intervenção também será produzida. Palavras-chave: Gestação, Intervenção, Pré-Natal, Promoção de Saúde 1 INTRODUÇÃO A gestação é um período na vida da mulher que requer atenção especial, visto que envolve alterações físicas, hormonais, psíquicas e sociais, as quais influenciam diretamente na saúde mental da mãe, do bebê e do sistema familiar. Essa experiência social é compreendida como um momento de transição, ocorrendo uma preparação psicológica para a maternidade (PICCININI et al., 2008) e redefinindo a identidade da mulher, bem como sua forma de se relacionar com outras pessoas por meio dos papéis sociais (PACHECO et al., 2005). Ainda que o casal perceba a gravidez como experiência positiva, o aumento da responsabilidade, os conflitos entre o casal, a perda de liberdade, entre outros, são fatores que devem ser conhecidos, antecipados e discutidos, a fim de que a realidade seja mais próxima possível do que é esperado (DESSEN; BRAZ, 2000; PICCININI et al., 2004). No que tange especificamente ao pré-natal, muitas vezes ele representa a única oportunidade de algumas mulheres receberem assistência médica nesse momento de vida. O pré-natal constitui, portanto, um importante serviço de prevenção e promoção de saúde. Entretanto, observa-se algumas limitações no atendimento do pré-natal quanto a abordagem de aspectos biopsicossociais, restringindo-se, na maioria das vezes, a aspectos biomédicos (alimentação, peso, pressão arterial). Além disso, raras vezes há espaço e incentivo para a participação de companheiros ou outros familiares, sendo importante fonte de suporte afetivo. Dessa forma, pensar numa ação que ultrapasse o olhar biomédico, ampliando-o para o biopsicossocial, que supra de forma mais integral o atendimento à saúde da mulher gestante, é o que dá sentido à construção desta proposta. Além disso, ações de saúde voltadas ao período gravídico-puerperal e primeira infância constituem uma estratégia efetiva na promoção e prevenção da saúde comunitária,

965 com impacto significativo na melhoria da qualidade de vida da população. Assim, este projeto tem por objetivo geral planejar, implementar e avaliar uma intervenção psicossocial que proporcione um espaço de trocas de experiências e de construção de conhecimentos entre gestantes e familiares, em diferentes momentos do ciclo gravídico-puerperal, com foco na promoção e prevenção de saúde individual e familiar. Além disso, visa ampliar o foco de atenção à saúde da mulher gestante, superando a lógica biomédica e englobando aspectos emocionais, sociais, relacionais e familiares na compreensão deste momento, identificando os principais aspectos pessoais e sociais envolvidos na gestação, buscando potencializar as ações positivas e buscar alternativas para as problemáticas trazidas pelas gestantes. O grupo pretende ser um espaço para compartilhar dúvidas e inseguranças no enfrentamento da gravidez e puerpério pela gestante e pela família, possibilitando, também, a ampliação da visão dos estudantes e dos usuários sobre esse momento e suas repercussões no contexto familiar e social. A proposta está sendo executada nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Estratégias de Saúde da Família (ESF) pertencentes ao território da Gerência Distrital de Saúde Norte/Baltazar, de Porto Alegre/RS (GDNEB) que corresponde ao Distrito Docente Assistencial da UFCSPA, conforme mapeamento do território e levantamento de necessidades já realizado. Os grupos são compostos por seis a oito gestantes e seus familiares, sendo informados sobre a atividade e convidados a participar, através de contato telefônico, contato pessoal nas consultas de pré-natal, entrega de bilhetes impressos e exposição de cartazes nas Unidades. 2 DESENVOLVIMENTO A intervenção psicossocial é composta por oficinas temáticas de discussão com gestantes e seus familiares, totalizando oito encontros, com periodicidade semanal, em cada US ou ESF do território, em formato itinerante, com duração de 1h e 30 minutos cada. Cada encontro possui um tema a ser trabalhado, como vinculação mãe-bebê e mitos da maternidade, relações conjugais, rede de apoio, etc. O trabalho realizado é baseado numa perspectiva interacionista, através

966 de metodologias ativas participativas, partindo das experiências das participantes e construindo um diálogo exponencialmente crescente em aprofundamento teóricovivencial. Durante cada encontro, há três momentos distintos: a) apresentação do material e estimulação ao assunto a ser abordado no grupo, como vídeos, textos, discussões de caso; b) introdução e discussão do tema através do material utilizado, articulando as opiniões trazidas pelo grupo; c) momento de relaxamento e avaliação do encontro. Para o acompanhamento e a avaliação da eficácia e dos benefícios da intervenção são utilizados alguns instrumentos que verificam a relação mãe-bebê, as condições emocionais da grávida, a qualidade de vida geral e a rede de suporte social, buscando verificar se a intervenção qualificou esses processos. São elas: Escala de Apego Materno Fetal (MFAS), Inventário de Depressão de Beck (BDI), Inventário de Ansiedade de Beck (BAI), Instrumento Abreviado de Avaliação de Qualidade de Vida da Organização Mundial da Saúde (WHOQOL Bref) e Questionário de Suporte Social (SSQ). Também é utilizado um questionário sociodemográfico com as gestantes participantes. A aplicação dos instrumentos acontece no primeiro e no último encontro, caracterizando uma avaliação pré e pós intervenção. 3 ANÁLISE E DISCUSSÃO Em seu segundo ano de execução, neste já foram realizadas intervenções em duas Unidades de Saúde da GDNEB. O objetivo de dar continuidade à implementação da intervenção foi parcialmente atingido, pois pretende-se ampliar a participação das gestantes, bem como das US beneficiadas com a proposta. Observa-se a necessidade de ofertas de oficinas, prioritariamente, no turno da tarde e no meio da semana, a fim de favorecer a adesão das gestantes considerando sua rotina. Em relação à ampliação do foco de atenção à saúde da mulher gestante, superando a lógica clínico-obstétrica e englobando aspectos emocionais e

967 relacionais no momento do pré-natal, considera-se que, nos encontros realizados, houve a construção de um espaço de diálogo e troca de experiências entre as gestantes, que puderam expressar seus sentimentos, dúvidas, preocupações e dificuldades. Nesse sentido, os coordenadores, juntamente com o grupo, buscavam incentivar a busca por alternativas na resolução das problemáticas encontradas pelas mulheres, ajudando a identificar a rede de apoio que elas possuíam. De forma geral, as gestantes que participaram dos encontros conseguiram se expressar e encontrar um espaço de diálogo e construção conjunta, havendo uma boa interação entre as gestantes e as coordenadoras do grupo. Espera-se, ainda, continuar a implementação da intervenção em pelo menos três unidades no próximo semestre, obter aprovação satisfatória na avaliação da execução das oficinas, manter a frequência das usuárias nas oficinas de pelo menos 80% dos 8 encontros e continuar a ampliação de novas perspectivas de conhecimento pelas gestantes sobre temas centrais na intervenção: rede de apoio, maternidade, conjugalidade, relações familiares e direitos da gestante. Dessa forma, espera-se propiciar uma melhor vivência da gravidez e do puerpério, contribuindo com a qualificação do pré-natal e da atenção à saúde da mulher, visando à consolidação de uma metodologia biopsicossocial de ação com gestantes no SUS, uma vez que o suporte social recebido e percebido durante a gravidez é associado à qualidade do ajustamento da mulher às mudanças biológicas e à adaptação pós-parto (PACHECO et. al., 2005). 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A abordagem psicossocial e o olhar global na perspectiva da saúde materno-infantil é essencial na construção de uma promoção de saúde mais eficaz. Desenvolver e pensar intervenções nesse sentido se mostra tão importante quanto fornecer meios para que ele possa ser replicado e melhorado. Para isso, toda a proposta inclui avaliações no seu desenvolvimento. Pretende-se, ao final da ação, da avaliação e da melhoria dos pontos identificados, produzir uma cartilha para multiplicação da intervenção em diferentes cenários de prática, ampliando o acesso

968 a este tipo de proposta e norteando outras ações. Acreditamos que, ações de prevenção e promoção de saúde física e mental na esfera do pré, peri e pós-natal, são um investimento de alto impacto social com desdobramentos positivos a longo prazo em vários aspectos biopsicossociais não só da família, mas também da comunidade onde a mesma se insere. REFERÊNCIAS DESSEN, M. A.; BRAZ, M. P. Rede social de apoio durante transições familiares decorrentes do nascimento dos fillhos. Psicologia: Teoria e pesquisa, v.16, n.3, p. 221-231, 2000. PACHECO, A.; FIGUEIREDO, B.; COSTA, R.; PAIS, A. Antecipação da Experiência de Parto: Mudanças Desenvolvimentais Durante a Gravidez. Revista Portuguesa de Psicossomática, v.7, n.1, p. 7-41, 2005. PICCININI, C. A.; SILVA, M. R.; GONÇALVES, T. R.; LOPES, R. S.; TUDGE, J. O Envolvimento paterno durante a gestação. Psicologia, Reflexão e Crítica, v.17, n.3, p. 303-314, 2004. PICCININI, C.A.; GOMES, A.G.; DE NARDI, T.; LOPES, R.C.S. Gestação e constituição da maternidade. Psicologia em Estudo, v.13, n.1, p. 61-70, 2008. TREVISAN, M. R.; ARAÚJO, D. R. S. L. N. M.; ÉSBER, K. Perfil da assistência prénatal entre usuárias do Sistema Único de Saúde em Caxias do Sul. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, v.24, n.5, p. 88-104, 2002. OAKLEY, A. Social support and motherhood: the natural history of a research project. Blackwell Publishers, Oxford : Basil Blackwell, 1992.