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Aula 1 DIREITO PENAL APLICAÇÃO DA LEI PENAL: 1) ART. 1 : PRINCÍPIO DA LEGALIDADE: ARTIGO 5º,XXXIX C.F. Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. Origem do princípio: Carta Magna 1215-Rei João Sem Terra Objetivo do Principio: Segurança Jurídica. 2
1.1) Aspectos: a) reserva legal: exigência de lei em sentido formal, logo analogia e costumes não podem crias ou agravar punições.. Analogia in malam partem não é permitida, mas a in bonam partem é permitida.. Costumes: podem ser utilizados como fonte de interpretação e como fonte de normas permissivas (Ex: art. 233, CP e os trotes acadêmicos que inclui como exercício regular de direito, e que exclui a ilicitude) Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. 3
Obs1: Legislar sobre Direito Penal é de Competência Privativa da União( leis Federais, ordinárias e complementares) : Art 22 C.F Compete Privativamente a União Legislar sobre: I- direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronautico, especial e do trabalho. Obs 2: A União pode delegar estado membro, por meio de lei complementar, a editar leis estaduais sobre assuntos específicos Medidas provisórias ou tratados ou convenções internacionais (ratificado) podem tipificar condutas? R: NÃO. Medida provisória não pode tipificar conforme art. 62, CF: 1o É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: I- relativa a:...b) direito penal, processual penal e processual civil; 4
Lei 10826/03 (Estatuto do Desarmamento): posse irregular (Art. 12). No art. 32 há a figura da entrega espontânea que é uma causa especial de extinção da punibilidade, e esse artigo foi feito por uma medida provisória, ou seja, cabe medida provisória de conteúdo benéfico. Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa: Pena, de 1 (um) a 3 detenção(três) anos, e multa. Art. 32. Os possuidores e proprietários de arma de fogo poderão entregá-la, espontaneamente, mediante recibo, e, presumindo-se de boa-fé, serão indenizados, na forma do regulamento, ficando extinta a punibilidade de eventual posse irregular da referida arma. (Redação dada pela Lei no 11.706, de 2008) 5
b) Anterioridade: não há crime (infração penal = crime e contravenção) sem lei anterior que o defina, nem pena (sanção penal = pena e medida de segurança) sem previa cominação legal. A CF não pode ter seu alcance limitado por normas infraconstitucionais, ou seja, onde se lê crime, entenda infração penal e onde se lê pena, entende-se sanção penal Duração da medida de segurança: o CP não estipula prazo, mas a CF define que não haverá pena perpetua e neste caso, inclui também a medida de segurança, e a súmula 527 define o prazo da medida de segurança como sendo a pena máxima do crime. Súmula 527: O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado. c) taxatividade: Exigência de lei penal com conteúdo determinado. Tipos penais vagos é diferente de crime vago que o sujeito passivo é um ente sem personalidade. Tipo vago também é diferente de tipo aberto que utiliza expressão de amplo alcance, mas seu conteúdo é determinado (Ex: tipos penais dos crimes culposos) e o tipo aberto é valido. O que não é valido é o tipo penal vago. 6
2) ART. 2º: PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE BENÉFICA DA LEI PENAL: Art. 5o, XL, CF XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; Conflito de leis penais no tempo: só se configura quando uma lei penal entra em vigor. Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; 7
Súmula 611, STF: (lex mitior). SÚMULA 611 Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação de lei mais benigna. A lei penal gravosa se aplica ao crime permanente ou continuado, se entrar em vigor durante a permanência ou continuidade delitiva? R: Sim, aplica. Súmula 711, STF SÚMULA 711 A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. Professor: Anderson Camargo 8
3) ART. 3º, CP: LEI PENAL EXCEPCIONAL E LEI TEMPORARIA: Art. 3o - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. 3.1) Característica: São leis penais criadas para reger fatos ocorridos durante determinado período de tempo ou alguma situação excepcional. Ex: Código Penal Militar no que se refere aos crimes militares em tempo de guerra. Ex de lei temporária: lei geral da copa. Mas é preciso que o crime tenha sido praticado em até 31/12/2014. São leis penais ultrativas (ultratividade): Aplicação da lei fora do período de vigência, ou seja, aplicada depois de ter sido revogada. Esse caso acontece quando a nova lei não é benéfica, e por isso aplica-se a lei revogada que era mais benéfica. 9
4) ART. 4o E 6o, CP: Art. 4o - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.(redação dada pela Lei no 7.209, de 1984) Art. 6o - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. ART. 4o ART. 6o Tempo do crime Lugar do crime - Teoria da atividade: o momento do crime é o da conduta (ação ou omissão) ainda que outro seja o dia do resultado. - OBS: não se aplica ao termo inicial da prescrição, pois há regra própria (art. 111, CP). Ou seja, só começa a correr o prazo com o resultado (consumação). - Não serve para fixação de competência territorial. (Art. 70, CPP: adotou a teoria do resultado)- Aplicação da lei penal brasileira - Crimes à distancia: parte do crime aconteceu no Brasil e resultado no exterior ou vise e ver. - Teoria mista ou da ubiquidade: para a lei penal brasileira o lugar do crime será tanto o lugar da conduta ou do resultado. Ou seja, quando ocorrer crimes à distância a vítima pode ir à delegacia do Brasil. Os crimes à distancia só será crime federal se tiver tratado ou convenção internacional, ratificado pelo Brasil se não tiver será estadual. MACETE: LUTA: lugar = ubiquidade / tempo = atividade. Art. 111, CP: A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: 10
5) ART. 5º TERRITORIALIDADE: Fatos ocorridos dentro do território nacional. Princípio da territorialidade mitigada ou temperada, pois há ressalvas. As exceções dizem respeito à imunidade: a) diplomática: caráter absoluto, pois se aplica a todo e qualquer fato. É passível de renuncia (quem pode renuncia é o Estado em que o representante pertence). Abrange agentes diplomáticos, familiares (salvo quando forem brasileiros) e séquito (funcionários da missão diplomática). Ex: embaixador, Núncios (representante do Vaticano), chefe de Estado e Governo e representantes de organismos internacionais (ONU/OEA). Lembrar que a embaixada de um país é território brasileiro, ou seja, os crimes praticados no interior da embaixada são de aplicabilidade penal brasileira, só se o embaixador que cometer o crime, como ele tem imunidade não será aplicada a lei brasileira e sim a de seu país. b) consular: caráter relativo, pois só se aplica a fatos relacionados à função. 11
6) ART. 7o: EXTRATERRITORIALIDADE: Art. 7o - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: (Redação dada pela Lei no 7.209, de 1984) I - os crimes: (Redação dada pela Lei no 7.209, de 11.7.1984) a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; II - os crimes: (Redação dada pela Lei no 7.209, de 11.7.1984) a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. 1o - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. 2o - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; (Incluído pela Lei no 7.209, de 1984) c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. 3o - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça. Pena cumprida no estrangeiro 12
Principio do non bis in idem : nos casos de extraterritorialidade, pode haver dois processos, um brasileiro e outro processo em outro país. Nos casos de condicionada (art. 7o, 2o) não pode haver a dupla punição se o sujeito já cumpriu pena no exterior, independente da pena que cumpriu. No caso de incondicionada (art. 8o), determina que pode haver a dupla punição, com uma ressalva: a pena cumprida no exterior por mesmo fato, será descontada na pena brasileira (detração) (quando forem penas da mesma natureza) ou será atenuada a pena brasileira (quando a pena for de natureza diferente). Art. 8o - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. (Redação dada pela Lei no 7.209, de 11.7.1984) 13
7) ART. 9o: EFICACIA DA SENTENÇA PENAL ESTRANGEIRA: Art. 9o - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil para: I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; II - sujeitá-lo a medida de segurança. Parágrafo único - A homologação depende: a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada; b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça. O processo de conhecimento ocorreu no exterior e a execução ocorre no Brasil. Para que isso ocorra é necessária à homologação pelo STJ. Os efeitos oriundos de uma sentença estrangeira podem ser executados no Brasil: a) efeitos civis da condenação. b) medida de segurança. OBS: só cabe a homologação se a lei a autoriza os mesmo efeitos para o caso concreto. Ou seja, só cabe a execução se o Brasil aceita aquele tipo de medida de segurança. Reincidência: novo crime após o transito em julgado por crime anterior, praticado no Brasil ou no estrangeiro. Não há necessidade de homologação da sentença estrangeira para efeitos de reincidência. O que precisa é de uma certidão estrangeira devidamente traduzida. 14
8) DISPOSIÇÕES FINAIS: Art. 10, CP: contagem de prazo: prazo penal inclui o termo inicial ( dies a quo ) e exclui o termo final ( dies ad quem ). Os meses e anos devem ser contados de acordo com o calendário comum. Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum. Art. 11, CP: trata das frações não computáveis na pena. Na pena de prisão despreza as frações de dia. Nas multas despreza os centavos. Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro. Art. 12, CP: princípio da especialidade. Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso. 15