P RODUTOS E XPLOSIVOS



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Transcrição:

M ANUAL DO O PERADOR DE P RODUTOS E XPLOSIVOS Um guia de apoio para a formação Associação Portuguesa de Estudos e Engenharia de Explosivos Associação Nacional da Indústria Extractiva e Transformadora

TÍTULO COORDENADORES Manual do operador de produtos explosivos José Carlos Góis e António Vieira AUTORES José Carlos Góis António Carlos Galiza Celeste Gomes António Vieira Pedro Bernardo Helder I. Chaminé DESIGN E REVISÃO Rui Santos Silva e Patrícia Moreira (LABCARGA ISEP) Todos os direitos reservados: EDIÇÃO Associação Portuguesa de Estudos e Engenharia de Explosivos, AP3E Avenida da Universidade de Coimbra 3150-277 Condeixa-a-Nova Tel: (+351) 239941234; Fax: (+351) 239941234 E-mail: secretariado@ap3e.pt Associação Nacional da Indústria Extractiva e Transformadora, ANIET Rua Júlio Dinis, 931, 1.º Esquerdo 4050-327 Porto Tel: (+351) 226096699; Fax: (+351) 226065206 E-mail: geral@aniet.pt ISBN DEPÓSITO LEGAL IMPRESSÃO E ACABAMENTO FOTOGRAFIA DA CAPA XXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXX António Ribeiro Julho de 2011 300 exemplares Os textos e opiniões do presente volume são da responsabilidade exclusiva dos seus autores e coordenadores do volume e não necessariamente coincidentes com os da AP3E e ANIET Não é permitida a reprodução total ou parcial deste livro por qualquer processo electrónico, fotográfico, por fotocópia, ou qualquer outra forma copiada, sem autorização prévia, por escrito dos Editores AP3E-ANIET EDIÇÃO PATROCÍNIOS APOIOS ii

NOTA BIOGRÁFICA DOS AUTORES José Carlos Góis é engenheiro mecânico e doutor em engenharia mecânica. É professor auxiliar no Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Desenvolve investigação na área dos materiais energéticos no LEDAP Laboratório de Energética e Detónica, na Associação de Apoio e na ADAI - Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial. É presidente da Direcção da AP3E. Integra o Conselho da EFEE European Federation of Explosives Engineers, tendo sido presidente entre 2008-2010. Tem inúmeras publicações em revistas nacionais e internacionais. É co-autor dos capítulos 1, 2, 5, 6, 10, 11 e 12, bem como participou na revisão geral e coordenação do Manual. António Vieira é engenheiro geotécnico, com experiência profissional, em várias empresas de referência do sector extractivo, na área mineira, no desmonte de rochas com explosivos em obras de engenharia civil e em pedreiras para a produção de agregados. É investigador de doutoramento no Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. É vice-presidente da Direcção da AP3E. Foi docente convidado de Desmonte de Maciços Rochosos e Escavações Subterrâneas no Instituto Superior de Engenharia do Porto do Politécnico do Porto. É co-autor dos capítulos 1, 2, 4, 7, 8, 10, 11, 12 e colaborou no capítulo 3, bem como participou na revisão geral e coordenação do Manual. António Carlos Galiza é engenheiro de minas, com vasta experiência em projectos de engenharia nas áreas da mineração, da geoengenharia de maciços rochosos e da gestão de recursos geológicos. Exerceu actividade profissional em várias empresas de referência do sector extractivo. É Membro Sénior da Ordem dos Engenheiros. É investigador de doutoramento em engenharia de maciços rochosos no Centro GeoBioTec da Universidade de Aveiro. É professor adjunto no Instituto Superior de Engenharia do Porto do Politécnico do Porto onde é o responsável pela área de Desmonte de Maciços Rochosos e de Escavações Subterrâneas. É co-autor dos capítulos 4, 7 e 8 e colaborou nos capítulos 1, 2, 11 e 12. Pedro Bernardo é engenheiro de minas, mestre em mineralurgia e planeamento mineiro e doutor em engenharia de minas. É Membro Sénior e Especialista em Geotecnia pela Ordem dos Engenheiros. Desde 2006, é Director Técnico dos Departamentos de Desmonte e Comercial da Sociedade de Explosivos Civis (SEC, SA), actualmente designada por ORICA PORTUGAL. É professor auxiliar no Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa. É Investigador no grupo CEGEO Centro de Geotecnia do Centro CERENA IST. Foi vogal do Colégio Nacional de Engenharia Geológica e de Minas da Ordem dos Engenheiros (2004-2010) e membro da Direcção da Sociedade Portuguesa de Geotecnia (2004-2008). Perito, designado pelo Conselho Nacional do Colégio de Engenharia Geológica e de Minas da Ordem dos Engenheiros, em situações envolvendo substâncias explosivas para uso civil, relacionadas com os trabalhos de engenharia inerentes à escavação de maciços rochosos (ao nível de dimensionamento e de impactes ambientais). Tem inúmeras publicações em revistas técnicas e científicas. É autor do capítulo 9 e colaborou nos capítulos 1, 2, 11 e 12, bem como participou na revisão geral do Manual. Celeste Gomes é geóloga e doutora em geologia. É professora auxiliar no Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Investigadora do Centro de Geofísica da Universidade de Coimbra. Desenvolve investigação em caracterização de parâmetros físicos (com destaque para os magnéticos) de materiais, incluindo rochas, solos e poeiras e, bem assim, em educação em ciências e formação de professores. Tem várias publicações científicas em revistas nacionais e internacionais. É co-autora do capítulo 3 e colaborou nos capítulos 1 e 2. Helder I. Chaminé é geólogo, doutor em geologia (geotectónica regional e cartografia) e agregado em geociências (mecânica das rochas.). É professor coordenador com agregação no Instituto Superior de Engenharia do Porto do Politécnico do Porto, onde lecciona geologia aplicada e geomecânica de meios fracturados e coordena a área das geociências aplicadas à engenharia. Exerceu actividade de consultadoria em várias empresas de geoengenharia, de prospecção de georrecursos e do sector extractivo. É Director do Centro de Prestação de Serviços Especializados e I&D, Laboratório de Cartografia e Geologia Aplicada, LABCARGA ISEP. É investigador no grupo de Georrecursos, Geotecnia e Geomateriais do Centro GeoBioTec da Universidade de Aveiro. Desenvolve investigação nas áreas da cartografia geo-aplicada, da geologia estrutural e geomecânica de maciços rochosos, da hidrogeologia de meios fracturados e geoconservação do património geomineiro. Tem inúmeras publicações científicas e técnicas nacionais e internacionais, bem como é editor associado de várias revistas internacionais. É co-autor do capítulo 3 e colaborou nos capítulos 1, 2 e 12, bem como participou na revisão geral do Manual. iii

PREFÁCIO A utilização de explosivos civis e todas as actividades a ela associadas constituem hoje um importante vector sócio-económico no nosso país, com fortes implicações em sectores-chave, designadamente na indústria, na construção civil, no sector mineiro e de extracção de inertes. Contudo, tais actividade requerem um cuidado acrescido, principalmente no que se refere ao seu manuseamento e emprego, quanto aos procedimentos a observar, como resulta da experiência acumulada e dos conhecimentos técnico-científicos adquiridos, pelo que, só um rigoroso cumprimento das regras definidas, permite reduzir os riscos, em prol da segurança de todos os que exercem as referidas actividades e dos que lhe estão próximos. O presente Manual constitui, pelo seu conteúdo e pela reconhecida competência e autoridade na matéria dos seus autores, um contributo imprescindível para a informação e formação dos que exercem actividades relacionadas com substâncias explosivas, fornecendo os conhecimentos necessários e adequados para a segurança de todos aqueles que os manuseiam e empregam. Parabéns, por isso, aos seus autores, por este seu valioso e imprescindível contributo para a segurança e credibilidade da actividade, o que muito beneficia todos os que a exercem, bem como aqueles que têm responsabilidades no seu licenciamento e fiscalização. O meu obrigado! O Director do Departamento de Armas e Explosivos da PSP Francisco António Carrilho Bagina, Superintendente v

AGRADECIMENTOS Um agradecimento a todos aqueles que, directa ou indirectamente, colaboraram para a concretização deste Manual, nomeadamente aos seus autores, pela generosa disponibilidade em transmitir de forma voluntária, dedicada e competente os conhecimentos científicos, técnicos e experiência profissional. Às empresas MaxamPor SA, Moura Silva & Filhos SA, ORICA Portugal, Atlas Copco SA, pelo inequívoco apoio nas várias fases de execução do Manual, bem como pela cedência de imagens e outros elementos de informação técnica. A todas as outras empresas do sector e técnicos que partilharam informações de índole vária ou disponibilizaram elementos fotográficos de equipamentos que permitiram o enriquecimento do Manual. Ao Departamento de Engenharia Geotécnica do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) do Politécnico do Porto, ao Departamento de Mecânica e Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCTUC) da Universidade de Coimbra, ao Laboratório de Cartografia e Geologia Aplicada (Labcarga ISEP) e ao Laboratório de Energética e Detónica (LEDAP UC), pelo intenso envolvimento e colaboração técnico-científica de docentes e investigadores na redacção do Manual. Ao Departamento de Armas e Explosivos da Polícia de Segurança Pública, pelo estímulo e sugestões dadas para o conteúdo do Manual. Gratos à colaboração, em momentos vários, na elaboração do Manual de vários colegas, em particular, a Engª Francelina Pinto (ANIET), o Prof. António Saraiva (DCT FCTUC), o Engº Antonio Vega (DEG ISEP), o Engº Rui Santos Silva e a Engª Patrícia Moreira (Labcarga ISEP). Os Coordenadores do Manual José Carlos Góis António Vieira vi

SIMBOLOS DE ORIENTAÇÃO AO ESTUDO RECOMENDAÇÃO INFORMAÇÃO DEFINIÇÃO ALERTA LEGISLAÇÃO vii

ÍNDICE Nota biográfica dos autores iii Prefácio v Agradecimentos vi Simbolos de orientação ao estudo vii 1. Âmbito e Objectivo do Manual 3 2. Deveres e Responsabilidades do Operador 7 3. Geologia Aplicada aos Maciços Rochosos 11 3.1. Importância da geologia no desmonte de rocha com explosivos 11 3.2. Minerais e rochas 11 3.2.1. Minerais 12 3.2.2. Rochas 14 3.3. Maciços rochosos 21 3.3.1. Propriedades da rocha que afectam a perfuração 22 a. Descontinuidades 23 b. Dureza e resistência do material-rocha 25 c. Elasticidade 26 d. Plasticidade 26 e. Abrasividade 26 f. Textura 27 3.3.2. Propriedades da rocha que afectam os resultados do rebentamento com explosivos 27 a. Densidade 27 b. Resistência à compressão 27 c. Porosidade 28 d. Fricção interna 29 e. Condutividade eléctrica 290 ix

f. Composição mineralógica 29 g. Litologia 29 h. Fracturação 30 3.4. A diversidade litológica e geológica de Portugal 32 4. Perfuração 35 4.1. Introdução 35 4.2. Mecanismos de fracturação da rocha 37 4.3. Técnicas de perfuração 37 4.3.1. Perfuração rotopercutiva com martelo à cabeça 38 4.4. Parâmetros da perfuração rotopercutiva 39 4.4.1. Percussão 39 4.4.2. Rotação 39 4.4.3. Força de avanço 40 4.4.4. Limpeza do furo 40 4.5. Perfuração rotativa 41 4.6. Acessórios de perfuração 42 4.6.1. Encabadouros 42 4.6.2. Hastes 42 4.6.3. Uniões 44 4.6.4. Bit 44 4.7. Qualidade da perfuração 47 4.8. Consequências dos erros de perfuração 48 5. Explosivos 51 5.1. Definição de explosivo 51 5.2. Características dos explosivos de uso civil 52 5.2.1. Massa volúmica 53 5.2.2. Velocidade de detonação 53 5.2.3. Calor de explosão 54 5.2.4. Pressão de detonação 54 5.2.5. Estabilidade química 55 5.2.6. Sensibilidade 55 5.2.7. Toxicidade dos fumos 56 5.2.8. Resistência à água 57 x

5.2.9. Resistência a temperaturas baixas e elevadas 57 5.2.10. Impedância do explosivo 57 5.3. Tipos de explosivos de uso civil 58 5.3.1. Dinamites 59 5.3.2. ANFO 60 5.3.3. Hidrogéis 60 5.3.4. Emulsões explosivas 61 5.3.5. ANFO pesado 62 5.3.6. Pólvora negra 62 5.3.7 Reforçador 63 6. Sistemas de Iniciação 67 6.1. Detonadores 67 6.1.1. Detonador pirotécnico 67 6.1.2. Rastilho 68 6.1.3. Detonadores eléctricos 69 6.1.4. Detonadores não-eléctricos 74 6.1.5. Detonadores electrónicos 76 6.2. Cordão detonante 78 6.3. Relés de micro-retardo 80 6.4. Tipos de ligações e equipamentos para verificação e disparo de pegas eléctricas 80 6.4.1.Circuitos eléctricos das linhas de disparo 80 a. Ligação em série 81 b. Ligação em paralelo 82 c. Ligação mista 83 6.4.2. Ohmímetros 83 6.4.3.Explosores para detonadores eléctricos e eletrónicos 85 6.5. Técnicas para a iniciação de uma pega 86 6.5.1. Preparação da escorva 86 6.5.2. Iniciação pelo fundo do furo 87 6.5.3. Iniciação pelo topo do furo 87 6.5.4. Iniciação múltipla 87 6.5.5. Iniciação lateral 87 6.6. Medidas de precaução relacionadas com a iniciação da pega 88 xi

6.7. Incidentes de tiro 88 7. Desmonte com Explosivos 93 7.1. Introdução 93 a. Variáveis incontroláveis 93 b. Variáveis controláveis 93 7.2. Mecanismos da fragmentação da rocha por acção do rebentamento de explosivos 93 7.3. Desmonte em bancada 96 7.3.1. Diâmetro de perfuração 96 7.3.2. Altura da bancada 96 7.3.3. Inclinação da perfuração 96 7.3.4. Concentração de carga 97 7.3.5. Diagrama de fogo 97 7.3.6. Distância à frente 98 7.3.7. Subfuração (U) 98 7.3.8. Comprimento do furo (H) 98 7.3.9. Distância prática à frente (V) 99 7.3.10. Espaçamento entre furos (E) 99 7.3.11. Perfuração específica (b) 99 7.3.12. Carga de fundo (Qb) 100 7.3.13. Tamponamento (h 0 ) 100 7.3.14. Carga de coluna (Qc) 100 7.3.15. Carga total (Qt) 101 7.3.16. Carga específica (q) 101 7.4. Fragmentação secundária 101 7.5. Desmonte de rocha com explosivos deflagrantes 102 7.6. Desmonte de rocha para abertura de valas 102 7.7. Desmonte de rocha em ambiente subaquático 104 7.8. Rebentamento no contorno da escavação 106 7.8.1. Aspectos práticos a ter em consideração no desmonte de contorno 108 7.8.2. Explosivos utilizados no desmonte de contorno 108 7.9. Desmonte subterrâneo 109 7.9.1. Aspectos a considerar na temporização dos furos para escavação em túnel 111 8. Carregamento das pegas 115 xii

8.1. Carregamento manual 115 8.2. Carregamento mecanizado 117 9. Impactes Ambientais Inerentes ao Uso de Explosivos na Escavação de Maciços Rochosos 121 9.1. Introdução 121 9.2. Estabilidade do maciço remanescente 121 9.2.1. Enquadramento e ocorrências 121 9.2.2. Controlo e monitorização 122 9.2.3. Medidas de minimização 122 9.3. Projecção de blocos 123 9.3.1. Enquadramento e ocorrências 123 9.3.2. Controlo e monitorização 124 9.3.3. Medidas de minimização 126 9.4. Poeiras 127 9.4.1. Enquadramento e ocorrências 127 9.4.2. Controlo e monitorização 129 9.4.3. Medidas de minimização 129 9.5. Onde aérea 130 9.5.1. Enquadramento e ocorrências 130 9.5.2. Controlo e monitorização 132 9.5.3. Medidas de minimização 132 9.6. Vibrações 133 9.6.1. Enquadramento e ocorrências 133 9.6.2. Controlo e monitorização 134 9.6.3. Medidas de minimização 136 10. Segurança na Utilização de Explosivos 141 10.1. Introdução 141 10.2. Segurança na execução de pegas com mecha lenta e pólvora 142 10.3. Segurança no manuseamento de detonadores eléctricos e electrónicos 142 10.4. Segurança no manuseamento de detonadores não eléctricos 143 10.5. Segurança na utilização de cordão detonante 144 10.6. Segurança antes do disparo 144 10.7. Tempo de espera depois do disparo 145 10.8. Inspecção do local dos trabalhos 145 xiii

10.9. Incidentes de tiro 146 10.10. Segurança durante o carregamento dos explosivos 146 10.11. Segurança na destruição dos explosivos 147 10.12. Medidas de segurança na fragmentação secundária 148 11. Legislação Aplicável à Utilização de Explosivos 151 12. Terminologia sobre Explosivos para Uso Civil: Breve Síntese 161 13. Bibliografia 167 xiv

I ÂMBITO E OBJECTIVO DO MANUAL

1. ÂMBITO E OBJECTIVO DO MANUAL A necessidade de formar profissionais competentes na utilização de explosivos, para operações de desmonte de rocha em pedreiras, túneis, escavações subterrâneas e demais obras civis, motivou o estabelecimento de um protocolo entre a PSP (Polícia de Segurança Pública) e as associações AP3E (Associação Portuguesa de Estudos e Engenharia de Explosivos) e ANIET (Associação Nacional da Indústria Extractiva e Transformadora), visando a criação de um modelo de formação profissional adaptado à realidade actual de Portugal num quadro internacional. O Manual do Operador de Produtos Explosivos contou com a colaboração de especialistas com competências científicas e profissionais em engenharia geotécnica, engenharia de minas, engenharia mecânica e geologia, com ampla experiência no sector extractivo e académico. Envolveu-se activamente na concepção e redacção, sob a coordenação da AP3E e da ANIET, docentes do Instituto Superior de Engenharia do Politécnico do Porto, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e do Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa. Por outro lado, a mobilidade de pessoas no espaço Schengen leva a que os profissionais possam operar em toda a Europa, sentindo-se, por isso, a necessidade de adoptar os conteúdos definidos pela Federação Europeia de Engenheiros de Explosivos (EFEE) e os modelos de formação mais comuns nos países Europeus. Com este Manual procura-se, de forma simples, relacionar as condicionantes geológicas e geotécnicas dos maciços com a perfuração e a utilização de produtos explosivos, nas mais diversas áreas de aplicação, de modo a que os utilizadores possam encontrar soluções que lhes permitam resolver os problemas decorrentes do uso de explosivos, como seja a segurança e o impacto ambiental. O Manual constitui a base de conhecimentos necessária a todos os que pretendam desenvolver actividade no domínio da Engenharia de Explosivos, em particular dos operadores de produtos explosivos. Todavia, o presente Manual não substitui a prática bem fundamentada com o manuseamento em segurança de substâncias explosivas e o aprofundamento teórico das matérias constantes no Manual do Operador de Produtos Explosivos. Além disso, não pretende ser um livro exaustivo com a complexidade e diversidade das matérias tratadas, mas tão somente um guia de apoio básico para consolidar e actualizar os conhecimentos dos operadores de substâncias explosivas. O Manual do Operador de Produtos Explosivos poderá ser ainda uma mais valia para estudantes do ensino superior universitário e politécnico, técnicos de pirotecnia e profissionais de engenharia de minas, de engenharia geotécnica, de engenharia geológica, de engenharia mecânica, de engenharia de explosivos, de engenharia militar e engenharias afins, bem como para profissionais de geociências aplicadas ligados ao sector extractivo. 3

II DEVERES E RESPONSABILIDADES DO OPERADOR

2. DEVERES E RESPONSABILIDADES DO OPERADOR DE PRODUTOS EXPLOSIVOS O uso de explosivos na indústria extractiva e demais obras públicas constitui um risco potencial para os seus utilizadores, pessoas, outros seres vivos e infraestruturas que se encontrem na proximidade dos trabalhos. A prevenção de acidentes depende em larga medida de dois factores: conhecimento e a experiência dos utilizadores de explosivos; cumprimento das regras de segurança que conduzam à utilização das melhores técnicas disponíveis. Os operadores de produtos explosivos devem saber o que é necessário para preparar e conduzir uma operação de rebentamento em total segurança, com especial importância no que respeita à identificação dos potenciais riscos, ao conhecimento do fenómeno do rebentamento, das características dos diferentes explosivos e acessórios de tiro e das condições de transporte, armazenagem e aplicação. Duas regras básicas devem ser consideradas pelos operadores de produtos explosivos: o operador de produtos explosivos é o principal responsável pela segurança; a segurança do rebentamento depende de todas as pessoas envolvidas na operação. O operador de produtos explosivos deve possuir sólida formação e experiência que não só desenvolva as técnicas de forma competente, mas também as atitudes de segurança adequadas. Todas as pessoas envolvidas na utilização de explosivos devem saber o que é seguro e o que não é seguro executar, bem como qual a razão teórico-prática dos procedimentos básicos. A segurança na utilização de explosivos apenas pode ser desenvolvida com treino técnico e repetição sistemática dos procedimentos considerados adequados. Um operador de produtos explosivos deve ainda conhecer a legislação aplicável, bem como as instruções fornecidas pelo fabricante no que respeita ao transporte, armazenagem e manuseamento em segurança. De um modo geral, o operador de produtos explosivos deve entender como sua responsabilidade: conduzir os trabalhos em segurança; vigiar as regras para utilização de explosivos pelos seus colaboradores; inspeccionar os locais de aplicação de explosivos, detectar as áreas de risco e modificar o plano de fogo se necessário; preparar o local para a utilização de explosivos; verificar as condições atmosféricas; proceder ao carregamento dos furos de acordo com o plano previsto; verificar as condições de segurança antes do disparo e proceder à sinalização; assegurar as medidas necessárias à protecção ambiental; 7

III GEOLOGIA APLICADA AOS MACIÇOS ROCHOSOS

3. GEOLOGIA APLICADA AOS MACIÇOS ROCHOSOS 3.1. Importância da geologia no desmonte de rocha com explosivos A geologia pode ser entendida como a ciência que se ocupa do estudo do planeta Terra, em termos da compreensão e caracterização da sua composição, estrutura e transformações dinâmicas sofridas pelas materiais rochosos ao longo dos tempos geológicos. A maioria dos recursos naturais que a Humanidade utiliza e disfruta são gerados e/ou concentrados através de determinados processos geológicos. Muitos desses recursos geológicos não são, de facto, renováveis à escala humana. A geologia é um domínio científico fundamental para a compreensão dos fenómenos envolvidos na fragmentação de rochas com recurso à utilização de explosivos. O conhecimento dos parâmetros geológicos e geotécnicos que caracterizam os maciços rochosos, e que modelizam o seu comportamento é a base para a compreensão dos mecanismos de rotura das rochas, de propagação e de dissipação da energia associada à detonação. A análise das propriedades do maciço rochoso é de importância fulcral para o sucesso das operações de desmonte de rocha com explosivos. As variações na composição mineralógica, ao nível textural, e na estrutura geológica de qualquer maciço, com maior ou menor incidência, afectam não só as operações de perfuração, condicionando o método de perfuração e o tipo de equipamento a utilizar, mas também o diagrama de fogo e o tipo de explosivo. O operador de fogo, para além de outros conhecimentos técnicos, deve saber avaliar as potenciais situações de risco criadas pelo rebentamento de explosivos relacionadas com as características do maciço rochoso, como sejam as superfícies de descontinuidade (e.g., diaclases, fracturas, falhas e fissuras; superfícies de estratificação/laminação, de xistosidade/clivagem, de contacto litológicos, ) e outras estruturas geológicas (dobras, filões), bem como a presença de cavidades, de materiais argilosos e de zonas de rocha alteradas, brandas ou esmagadas. 3.2. Minerais e rochas A crusta terrestre é constituída por uma grande variedade de minerais e rochas formadas em diferentes ambientes geodinâmicos de que resultam diferentes propriedades. As rochas são formadas por um único mineral ou por agrupamento de minerais. Nem todos os minerais que fazem parte duma rocha têm o mesmo valor para o seu estudo. Existem alguns, que pela frequência e abundância com que aparecem, são considerados essenciais para caracterizar uma determinada espécie petrográfica. Nas rochas, os minerais encontram-se cristalizados, umas vezes mostrando a forma cristalina que os caracteriza, outras, mostrando contornos irregulares, atribuídos aos obstáculos no seu crescimento normal; em alguns casos, apresentando estados amorfos, sem estrutura cristalina. 11

3.2.1. Minerais Os minerais são substâncias naturais que se encontram na crusta terrestre e que são resultantes de processos geológicos. A sua composição química é variável, dentro de limites bem definidos. O oxigénio (46%), o silício (28%), o alumínio (8%), o ferro (6%), entre outros, são os elementos químicos mais comuns na constituição de minerais, que se unem para formar compostos químicos como silicatos (feldspatos, quartzo, micas, berilo, piroxena, anfíbola, grupo das argilas, talco), sulfuretos (pirite, calcopirite, arsenopirite, blenda, galena), carbonatos (calcite, dolomite, siderite, aragonite), óxidos (magnetite, limonite, hematite), etc. Os minerais têm um conjunto de propriedades físico-químicas e geométricas que ajudam à sua identificação e interferem em maior ou menor grau nas operações de perfuração dos maciços rochosos. Entre as propriedades mais importantes dos minerais, podem-se destacar, entre outras, as seguintes: dureza, densidade, estrutura cristalina, clivagem e fractura. Dureza A dureza traduz a facilidade com que um mineral é riscado por outro ou por um objecto cuja capacidade de riscar seja conhecida. A dureza relativa é uma das propriedades que permite identificar, de forma expedita, os minerais. Por exemplo, o diamante, que é o mineral com maior dureza, risca todos os outros minerais, e é apenas riscado por outro diamante, enquanto o quartzo, cuja dureza é inferior à do diamante, é riscado por ele, mas não o contrário. Todavia, o quartzo risca, por exemplo, o mineral calcite ou o vidro comum. O facto dos minerais apresentarem diferentes graus de dureza, faz com que as propriedades das rochas sejam influenciadas pela composição mineralógica. Geralmente os carbonatos são relativamente brandos, enquanto os silicatos tendem a apresentar uma dureza mais elevada. Para avaliar a dureza relativa dos minerais, o mineralogista alemão Friedrich Mohs (1773 1839) apresentou, em 1822, uma escala baseada na capacidade de um mineral riscar os minerais com menor dureza, composta por 10 elementos e com dureza compreendida entre 1 e 10 (Tabela 3.1). Num extremo da escala encontra-se o talco, o mineral com menor dureza. No outro extremo encontra-se o diamante, mineral de dureza 10. Esta escala designa-se por escala de Mohs (ou escala de dureza de Mohs) e é, ainda hoje, tradicionalmente utilizada para avaliar a dureza dos minerais. Uma forma expedita de avaliar a dureza de alguns minerais é através da sensibilidade ao risco produzido por alguns objectos de uso comum. Por exemplo, uma moeda de cobre risca todos os minerais com dureza igual ou inferior a 3, um canivete risca todos os minerais com dureza igual ou inferior a 5, um vidro risca todos os minerais com dureza igual ou inferior a 6. Contudo, é necessário também usar tabelas onde estejam indicados os valores absolutos de dureza dos diferentes minerais. 12

Tabela 3.1 Escala de dureza de Mohs. Número na Objecto comum Mineral Escala de Mohs equivalente Talco 1 Unha Gesso 2 Unha (com > dificuldade) Calcite 3 Moeda de cobre Fluorite 4 Canivete Apatite 5 Canivete (com > dificuldade) Ortoclase (feldspato) 6 Pedaço de vidro Quartzo 7 Porcelana Topázio 8 Corindo 9 Diamante 10 Densidade A densidade é uma grandeza adimensional que exprime a relação entre a massa volúmica da matéria em causa e a massa volúmica da água à pressão atmosférica e à temperatura de 4⁰C (considerada a temperatura a que a água atinge a sua massa volúmica máxima. No sistema internacional de unidades (SI) o valor é de 1000 kg/m 3 ). Um mineral com densidade 3, significa que pesa o triplo que igual volume de água. No caso dos minerais, a densidade depende de dois factores: dos compostos químicos que compõem o mineral e do arranjo que as suas partículas possuem entre si. Um bom exemplo é o carbono (grafite), com densidade 2,2 e o carbono (diamante), de composição química igual, mas com densidade 3,5. A densidade não deve ser confundida com massa volúmica ou peso específico, que se define pela relação entre a massa e o volume e se exprime em kg/m 3 no sistema internacional de unidades (SI). Estrutura cristalina A estrutura cristalina de um sólido é a designação dada ao conjunto de propriedades que resultam da forma como estão espacialmente ordenados os átomos ou moléculas que o constituem. A quase totalidade dos minerais apresenta estrutura cristalina. São o resultado macroscópico da existência de uma estrutura ordenada ao nível atómico, replicada no espaço ao longo de distâncias significativas face à dimensão atómica ou molecular. Clivagem A clivagem exprime a tendência que os minerais têm para fragmentarem segundo superfícies planas e paralelas. A esta superfície plana chama-se plano de clivagem. A clivagem ocorre nos minerais segundo planos específicos de fraqueza. Esses planos ou direcções estão associadas à estrutura e forma do mineral. 13

Fractura A fractura descreve a forma como um mineral tende a fragmentar, a qual não tem direcções ou planos definidos, distinguindo-se por isso, facilmente, dos planos de clivagem. A fractura ocorre em todos minerais, sendo que aqueles que possuem múltiplos planos de clivagem apresentam maiores irregularidades nas superfícies de fractura. 3.2.2. Rochas As propriedades das rochas são, essencialmente, o resultado da composição mineralógica, da textura, da estrutura, do grau de alteração e do teor em água. As rochas são agregados de um ou mais minerais, ou constituem corpos de material mineral indiferenciado, ou, ainda, de material orgânico sólido. Algumas rochas, como a areia, são desagregadas ou incoerentes, ao contrário das rochas denominadas coerentes, como o granito. A composição, tamanho, forma, distribuição e ligação dos grãos minerais que constituem as rochas são alguns dos factores que influenciam as propriedades das rochas, como a dureza, a abrasividade, a resistência à compressão e a densidade. O ciclo geológico: uma visão dinâmica da génese das rochas Somente a partir de meados do Século XX foi encarado com especial interesse o estudo do comportamento geomecânico do material rochoso (s.l.). Os trabalhos científicos até então centravam-se no estudo das rochas superficiais brandas, não consolidadas e nos materiais desagregados vulgarmente designados por solos (Figura 3.1.). As rochas podem classificar-se, quando à génese, em três grandes grupos ou famílias (Figura 3.2.): as ígneas (ou magmáticas), as sedimentares e as metamórficas. Estas rochas são formadas num ciclo geodinâmico (interno e externo) e contínuo ao longo dos tempos geológicos donde resultam para fins de engenharia, os maciços rochosos (rochas duras ou coerentes) e terrosos (rochas brandas ou incoerentes). Figura 3.1 Gama de materiais geológicos (s.l.), desde os solos até às rochas duras, em estudos geotécnicos e de geologia de engenharia (adaptado de Johnston & Novello, 1993). 14

Figura 4.2 Equipamento para perfuração subterrânea (Cortesia: Atlas Copco). A estratégia a utilizar na perfuração das rochas, seja à superfície ou em subterrâneo, depende da sua natureza e estrutura. Os métodos desenvolvidos para definir a perfurabilidade têm como objectivo prever a produtividade e o desgaste dos acessórios. A perfurabilidade depende das características do material-rocha e da rocha intacta, referidas em capítulo anterior e entre as quais se realçam: a composição mineral, o tamanho dos grãos, a dureza, a abrasividade e o grau de fracturação. O índice de perfurabilidade (Figura 4.3) traduz a facilidade com que um acessório de perfuração penetra na rocha. O índice de desgaste de um bit dá indicação da velocidade a que aquele se desgasta em função do tipo de rocha. Na maior parte dos casos, o índice de perfurabilidade e o índice de desgaste são inversamente proporcionais. Figura 4.3 Índice de perfurabilidade das principais litologias. Todas estas rochas existem em Portugal. Contudo, a presença de minerais duros pode aumentar o desgaste do bit mesmo em rochas com boa perfurabilidade. É o caso de certos sulfuretos, que sendo duros, possuem boa perfurabilidade, ou rochas com a presença de quartzo que aumentam fortemente o desgaste. 36

4.2. Mecanismo da fracturação da rocha A pressão exercida por uma força de grande intensidade sobre a rocha instala um estado de tensão em redor desse ponto de contacto. Se a força for suficientemente elevada e o material usado no corte for suficientemente duro, haverá uma fragmentação do material à volta do ponto de contacto e formação de fracturas maiores ou menores dependendo da energia aplicada e da resistência oferecida pela rocha. Os sucessivos golpes em diferentes pontos da rocha por acção da rotação das ferramentas produzirão um número cada vez maior de fracturas (Figura 4.4). A intersecção das diferentes fracturas fará libertar os fragmentos da rocha que serão removidos do furo com o auxílio do fluido de limpeza (geralmente o ar comprimido ou a água). Figura 4.4 Mecanismo da fracturação da rocha: visão esquemática. 4.3. Técnicas de perfuração São duas as técnicas habituais para realizar a perfuração (Figura 4.5): Rotopercutiva (com martelo à cabeça, martelo de fundo de furo ou COPROD); Rotativa (por corte e por esmagamento). Figura 4.5 Técnicas de perfuração (Cortesia: Atlas Copco). 37

Na perfuração rotopercutiva a energia produzida por um pistão no interior do martelo é transmitida à rocha de modo a provocar a sua fragmentação, usando a rotação para que esses impactos se transmitam em várias posições. Na perfuração rotativa não existe percussão, sendo a rocha destruída por corte ou esmagamento pelo efeito combinado da rotação e da pressão exercida. 4.3.1. Perfuração rotopercutiva com martelo à cabeça No martelo à cabeça, a percussão e a rotação são desenvolvidas no martelo que se encontra no exterior do furo. A energia é transmitida ao fundo do furo através de varas ou tubos e outras ferramentas de perfuração. Os martelos podem ser de accionamento pneumático ou hidráulico. Os martelos pneumáticos, cada vez em menor uso por razões de produtividade, podem perfurar até ao diâmetro máximo de 115 mm, enquanto nos martelos de accionamento hidráulico o diâmetro de perfuração pode chegar aos 125 mm. A perda na transmissão da energia por acoplamento é bastante significativa neste tipo de perfuração podendo representar 4 a 6% em cada união, atingindo mesmo os 10% na primeira união. As perdas de energia podem ser muito superiores quando o acoplamento entre os acessórios não é perfeito. No entanto, a versatilidade dos equipamentos faz com que seja um dos métodos mais utilizados na perfuração de rocha seja em trabalhos mineiros ou de construção. O desenvolvimento da técnica de perfuração conhecida pelo nome de COPROD veio melhorar o rendimento da operação ao combinar a elevada velocidade de penetração da perfuração com martelo à cabeça, com a qualidade da perfuração do martelo de fundo de furo. O método consiste na conjugação dos dois princípios de perfuração com a transmissão da energia independente da rotação. Tal é conseguido com um conjunto de tubos exteriores, responsáveis pela transmissão da rotação, no interior dos quais se encontram as varas de transmissão de energia. A não existência de roscas na união das varas (esta é feita topo a topo no interior de um casquilho de bronze) possibilita uma transmissão de energia praticamente sem perdas. Por seu lado os tubos, embora roscados, como não sofrem tensões da energia de impacto, têm uma vida útil extremamente larga. O diâmetro de perfuração varia entre 89 mm e 150 mm. No martelo de fundo de furo, a rotação é produzida no exterior enquanto a percussão só executa trabalho no fundo do furo. Tradicionalmente accionado a ar comprimido, pode também ter accionamento hidráulico. O diâmetro de perfuração pode variar entre 76 mm e 200 mm. Em comparação com outros sistemas, a perfuração com martelo de fundo de furo tem as seguintes vantagens: o grau de penetração mantém-se praticamente constante à medida que a profundidade aumenta; maior duração dos tubos do que as varas e uniões; pequeno desvio dos furos, sendo ideal para furos longos; menos necessidade de torque que em outros métodos de perfuração; o consumo de ar comprimido é menor que no martelo pneumático à cabeça do martelo; o ruído no local de trabalho é menor, porque o martelo se encontra dentro do furo. 38

5. EXPLOSIVOS 5.1. Definição de explosivo Os produtos explosivos são compostos químicos ou misturas, que quando activados por uma fonte de energia térmica (calor), mecânica (choque ou fricção) se podem decompor bruscamente libertando um grande volume de gases, a alta pressão e temperatura. Essa energia se for convertida em trabalho provoca a rotura e fragmentação de rocha. Em função da velocidade de decomposição os produtos explosivos podem desenvolver três tipos de reacção. Combustão reacção química lenta, entre o combustível e o oxigénio do ar. Esta reacção desenvolve-se a uma velocidade da ordem de cm/s e é assinalada pela libertação de calor, luz e gases. Deflagração - reacção química, em que a parte combustível e a parte comburente do produto explosivo reagem de forma mais rápida do que na combustão (da ordem das centenas de m/s), libertando grande quantidade de calor e luz e originando um considerável aumento da pressão. Este tipo de reacção é característico das composições pirotécnicas. Detonação - reacção química, de alta velocidade (da ordem das unidades de km/s), caracterizada pela propagação, a velocidade supersónica, de uma onda de choque (onda de pressão) no material fresco, gerando de um modo quase instantâneo altas pressões e gases a alta temperatura. A tabela 5.1 compara os três tipos de reacção em termos de velocidade e pressão de detonação e efeitos produzidos. Tabela 5.1. Características dos três tipos de reacção de produtos explosivos. Combustão Deflagração Detonação Duração da reacção Bastante longa Alguns ms Alguns µs Velocidade de decomposição m/s Centenas m/s Alguns km/s Pressão gerada Desprezável Entre 3 e 5 kbar Centenas de kbar Efeitos produzidos Calor, luz e Grande força de Onda de gases impulsão choque Embora seja possível estabelecer diferentes tipos de classificação para caracterizar os produtos explosivos, se tomarmos como referência a potência podemos agrupá-los em altos explosivos e baixos explosivos. De acordo com a sensibilidade à iniciação podemos classificá-los em explosivos primários, secundários ou terceários. 51

Os explosivos primários são todos aqueles que sob efeito de um pequeno estímulo (detonador pirotécnico) entram rapidamente em regime de detonação. Os explosivos secundários não detonam facilmente, precisam de ser iniciados por estímulos bastante mais fortes. A sua decomposição química está associada a uma maior e mais rápida libertação de energia comparativamente aos explosivos primários. Os explosivos terciários são difíceis de iniciar. Só uma energia muito elevada pode produzir a sua iniciação. A figura 5.1 descreve o tipo de classificação mais frequentemente adoptada para distinguir os diferentes tipos de produtos explosivos. Figura 5.1 Classificação dos produtos explosivos. Entre os explosivos podemos ainda distinguir entre os de uso militar e os de uso civil, sendo comum, estes últimos serem designados por explosivos industriais. 5.2. Características dos explosivos industriais Para a selecção do explosivo é necessário conhecer o local de aplicação e tipo de trabalho a executar, assim com a legislação em vigor. Para o tipo e localização da obra face à vizinhança importa considerar: relevo do terreno; existência de árvores ou outros obstáculos naturais ou artificiais; trabalho em superfície; trabalho subterrâneo. 52

Sobre o tipo de material a desmontar e as condições do furo dever-se-ão analisar as seguintes situações: rochas duras; rochas brandas; rochas bastante fissuradas/fracturadas; materiais combustíveis; presença de água; comprimento e diâmetro dos furos; temperatura ambiente; limites de segurança fixados pela legislação ou pelo caderno de encargos da obra. Conhecidas as características da rocha e a natureza do trabalho a executar, os principais parâmetros a ter em conta para a selecção do tipo de explosivo são: densidade; velocidade de detonação; potência relativa; pressão de detonação; estabilidade química; sensibilidade; toxicidade dos fumos; resistência à água; resistência a temperaturas baixas e elevadas; impedância do explosivo. 5.2.1. Massa volúmica A massa volúmica exprime a relação entre a quantidade de massa por unidade de volume, e é vulgarmente expressa em kg/m³. Se for entendida como densidade, é um valor adimensional, tendo por referência a densidade absoluta da água, à temperatura e pressão normais (pressão atmosférica normal e temperatura de 4⁰C). A densidade de um explosivo depende em grande parte da granulometria dos seus componentes. A densidade afecta a sensibilidade à detonação, a velocidade de detonação e o diâmetro crítico. Quanto maior a densidade de carga, maior a capacidade de fragmentação do explosivo. 5.2.2. Velocidade de detonação É a velocidade a que se propaga a reacção química ao longo do comprimento de uma carga explosiva e mede-se em metros por segundo (m/s). Qualquer explosivo possui uma velocidade de detonação ideal, função da densidade e composição do explosivo. Dependendo do tipo de explosivo e da natureza do confinamento, a velocidade de detonação (designação adoptada D) aumenta com o diâmetro da carga, até que se atinge a velocidade ideal. A figura 5.2 mostra a influência da natureza do confinamento no valor da velocidade de detonação, mostrando ser superior quando o confinamento é aço. À medida que o diâmetro do explosivo aumenta, diminui a influência da natureza do confinamento na velocidade de detonação. No caso de explosivos líquidos, a velocidade de detonação depende da temperatura do meio ambiente. Com a diminuição do diâmetro da carga explosivo a velocidade de detonação diminui, chegando-se um diâmetro abaixo do qual o explosivo já não detona. Este valor, designado por diâmetro crítico, depende da natureza do confinamento. 53

Sempre que se utilizam diversos rastilhos na mesma pega, é necessário que o operador possa contar todas as explosões sem risco de se enganar. Para tal é necessário que os rastilhos sejam de comprimentos diferentes (5 ou 10 cm de diferença) e que o operador inicie a queima pelo comprimento maior. Tamponar os furos com areia ou argila. Durante o rebentamento estar atento ou número de tiros e caso se suspeite de alguma falha, não permitir o acesso à frente durante pelo menos meia hora. Uma falha de pólvora no rastilho provoca uma paragem da combustão, porém esta poderá continuar a propagar-se no corpo isolante, mas de modo muito mais lento, pelo que a explosão poderá ocorrer mais tarde. Colocar o cartucho-escorva sempre no topo da carga. O escorvamento apenas deve ser realizado imediatamente antes da pega de fogo. Cortar o rastilho apenas antes de se colocar o detonador e assegurar que a ponta se encontra seca. Nunca ter explosivos na mão quando se acendem rastilhos. Nunca se deve tentar incendiar um rastilho que se apagou. Um rastilho pode ser difícil de acender, sobretudo com vento ou chuva. Assim, se a pega tem vários rastilhos, o operador deverá usar dispositivos de acendimento. Figura 6.3 Modo de colocação do rastilho no detonador. Tipos de falhas na utilização do rastilho Esquecimento em pegar fogo ao rastilho. Rotura do rastilho ao longo do furo, provocada no processo de carga e tamponamento. Rastilho em mau estado, seja por falta de interrupção da alma de pólvora durante o processo de fabrico, seja por humidade. Rastilho cortado obliquamente ao seu eixo, estabelecendo contacto deficiente com o explosivo do detonador. Rastilho não introduzido até ao fundo do detonador. Perda da pólvora na extremidade de contacto do rastilho com o detonador. Detonador deteriorado. Interposição de material estranho entre a extremidade do rastilho e o explosivo do detonador. 6.1.3. Detonadores eléctricos Um detonador eléctrico (Figura 6.4) é constituído por um tubo de metal, normalmente de alumínio, fechado num dos extremos, dentro do qual estão fundamentalmente três partes distintas: parte eléctrica; parte retardadora; parte explosiva. A parte eléctrica é constituída pelos fios condutores de ligação à fonte de corrente e pelo inflamador, cujo filamento fica incandescente por passagem de corrente eléctrica. A parte eléctrica está colocada na zona superior do tubo. Os fios condutores são de diferentes cores, conforme o tipo de detonador. 69

A parte retardadora está situada na parte central do detonador e apenas existe nos detonadores retardados. Entra em combustão imediatamente após a excitação do filamento incandescente. O tempo que medeia entre a combustão do filamento incandescente e o rebentamento do detonador (tempo de combustão da parte retardadora) designa-se por tempo de retardo do detonador. Nos detonadores instantâneos não existe parte retardadora. Todos os detonadores eléctricos temporizados possuem uma certa dispersão do tempo de retardo, sendo maior nos detonadores com maiores tempos de atraso e variando geralmente entre 5 e 10%. Este facto tem vantagens práticas ao nível das vibrações já que possibilita diferentes tempos de detonação mesmo para detonadores com o mesmo número. A parte explosiva, situada na zona inferior do tubo, é composta por duas cargas: uma carga primária, constituída por um explosivo muito sensível, que ao receber a combustão vinda da parte retardadora explode; uma carga secundária, situada no extremo do detonador. Figura 6.4 Representação esquemática dos componentes do detonador eléctrico. Tipos de detonadores eléctricos A potência de um detonador eléctrico depende do tipo e quantidade de explosivo. No passado, quando a carga explosiva era exclusivamente fulminato de mercúrio estabeleceu-se uma carga de potência em função da quantidade de explosivo que continha o detonador. Actualmente são usados explosivos secundários, com potências correspondentes ao nº 6 e nº 8, que equivalem a 1 e 2 gramas de fulminato de mercúrio, respectivamente, designandose por isso por detonador nº 6 ou detonador nº 8. A carga de explosivo pode ser constituída exclusivamente por pentrite (PETN) ou PETN e octogéneo (RDX). Sempre que é necessário realizar pegas com um grande número de furos é interessante dividir as explosões a fim de obter uma melhor fragmentação da rocha e reduzir as vibrações transmitidas ao solo. Tal é possível graças à utilização de detonadores com retardo, identificados por um pequeno número ligado aos fios eléctricos (Figura 6.5). Figura 6.5 Detonadores eléctricos com retardo (Cortesia: MaxamPor SA). 70

Figura 7.1 1ª Fase dum rebentamento. Numa 1ª fase (Figura 7.1), a coluna explosiva transforma-se em alguns milisegundos numa coluna de gás com alta pressão e alta velocidade, criando uma onda de choque violenta de encontro com a parede do furo. Como a pressão desenvolvida é muito superior à resistência à compressão do material-rocha, produz-se a destruição da estrutura intercristalina com formação de um anel de rocha triturada de maior ou menor diâmetro conforme a pressão de detonação do explosivo. Numa 2ª fase a onda de choque propaga-se na rocha degradando-se rapidamente. Entre 6d e 12d (d - diâmetro do furo), passa-se a zona de pré-rotura induzindo-se fissuras radiais até um determinado limite em que se entra na zona elástica da rocha e onde a onda de choque atravessa o maciço à velocidade do som na rocha sem a destruir. Na 3ª fase (Figura 7.2), logo que a onda de choque atinge a frente da bancada reflecte-se. A rocha é muito resistente à compressão mas pouco à tracção. A onda reflectida ultrapassa largamente a resistência à tracção, provocando um fenómeno de fissuração sensivelmente paralela à frente livre ao mesmo tempo que amplia fracturas previamente criadas. Praticamente ao mesmo tempo, o gás residual penetra nas fissuras alargando-as. A pressão diminui rapidamente. A rocha está fragmentada pelo efeito combinado da fracturação radial e da fracturação pela onda reflectida. O gás empurra o material para fora da cavidade a uma velocidade entre 10 e 30 m/s, (Figura 7.3). Durante esta fase ainda se produz fracturação por flexão e por colisão entres os diversos fragmentos. Figura 7.2 3ª Fase dum rebentamento. 94

Figura 8.5 Carregamento mecanizado de explosivo em cartucho. O sistema para carregamento mecanizado do ANFO a granel utiliza também o ar comprimido como transportador principalmente nas operações em subterrâneo. Depois de colocado o explosivo na cuba de armazenamento esta é pressurizada. Na parte inferior um injector aspira o explosivo, injectando-o através do tubo para o interior do furo. A céu aberto, no desmonte em bancada, o carregamento do ANFO a granel pode ser realizado por gravidade, utilizando um sistema de parafuso sem-fim para retirar o explosivo do depósito do camião cisterna. O hidrogel, a emulsão e o ANFO pesado, quando fornecidos a granel, também são carregados mecanicamente, sendo utilizado um sistema de bombagem ou de parafuso sem-fim para colocar o explosivo nos furos (geralmente de grande diâmetro). Em alguns casos, os camiões cisterna transportam a matriz por sensibilizar. Neste caso, para além do sistema de bombagem estão ainda munidos de um sistema de doseamento e mistura dos diferentes componentes. Figura 8.6 Carga mecanizada de ANFO. Figura 8.7 Camião cisterna para carga de explosivo a granel. 118

IX IMPACTES AMBIENTAIS INERENTES AO USO DE EXPLOSIVOS NA ESCAVAÇÃO DE MACIÇOS ROCHOSOS

9. IMPACTES AMBIENTAIS INERENTES AO USO DE EXPLOSIVOS NA ESCAVAÇÃO DE MACIÇOS ROCHOSOS 9.1. Introdução Numerosas directivas comunitárias relacionadas com o ambiente estão transpostas para o sistema jurídico, com o objectivo de defender as riquezas do património natural, geológico e arqueológico e a biodiversidade existente no território. A principal fonte de impactes ambientais na escavação de maciços rochosos com uso de explosivos provém dos seus efeitos, aqui apresentados por ordem crescente, habitual, de afectação: instabilidades causadas ao maciço rochoso remanescente; projecção de fragmentos; produção de poeiras; ruído das detonações; vibrações transmitidas aos terrenos. Os últimos são, geralmente, os mais susceptíveis de provocar danos em estruturas próximas dos desmontes. A causa principal dos respectivos impactes ambientais está, geralmente, no excesso de explosivo detonado, acima da quantidade estritamente necessária para fragmentar a rocha. Com efeito, qualquer excesso de energia empregue na fase de desmonte, é prejudicial, uma vez que tem como consequências: ocasionar custos mais altos de equipamentos e materiais; tornar o maciço menos resistente, mais deformável e mais permeável; provocar impactes ambientais acrescidos; obrigar a usar suportes mais resistentes e mais caros. 9.2. Estabilidade do maciço remanescente 9.2.1. Enquadramento e ocorrências Às detonações em maciços rochosos estão associados diversos fenómenos que, geralmente, concorrem para a degradação de um volume de rocha maior do que aquele que efectivamente se pretende desmontar em determinado ciclo de escavação. De entre esses fenómenos destacam-se a propagação radial de fracturas e a escamação periférica, constituindo planos de fraqueza que, ao se intersectarem, podem definir blocos passíveis de escorregamento. Esses blocos, que podem ocorrer em escavações a céu aberto ou subterrâneas, costumam designar-se por cunhas, quando a sua face maior coincide com a superfície livre de escavação. 121