Certificado digitalmente por: ANTONIO DOMINGOS RAMINA JUNIOR APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.642.398-8, DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA VARA DE REGISTROS PÚBLICOS E ANEXOS. APELANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ APELADA: LEILA CRISTINA SANTOS RELATOR: DES. ROBERTO ANTONIO MASSARO REL. CONV.: JUIZ ANTONIO DOMINGOS RAMINA JUNIOR APELAÇÃO CÍVEL RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL PRENOME DO GENITOR DA AUTORA, JÁ FALECIDO JESUZ GRAFADO COM A LETRA Z MERO ERRO MATERIAL NÃO DEMONSTRAÇÃO TITULAR DO PRENOME QUE, EM VIDA, TINHA CIÊNCIA DO ERRO DE GRAFIA, MAS NUNCA QUIS RETIFICÁ-LO OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA IMUTABILIDADE REGISTRAL ARTIGOS 57 E 58 DA LEI 6.015/1973 MEDIDA EXCEPCIONAL, QUE EXIGE MOTIVAÇÃO QUE A JUSTIFIQUE INEXISTÊNCIA, NA CASUÍSTICA SENTENÇA REFORMADA RECURSO PROVIDO Página 1 de 7
Apelação Cível nº 1.642.398-8 2 VISTOS, relatados e discutidos estes autos de apelação nº 1.642.398-8, da Vara de Registros Públicos e Anexos do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba, em que é Apelante Ministério Público do Estado do Paraná, figurando como Apelada Leila Cristina Santos. 1. Relatório Trata-se de Apelação Cível interposta contra a sentença proferida nos autos de Ação de Retificação de Registro Civil (autos nº 0000024-96.2016.8.16.0179), ajuizada por Leila Cristina Santos, por meio da qual o Juízo a quo julgou procedente o pedido para retificação junto aos assentos de nascimento, casamento com averbação do divórcio e óbito de seu genitor Darci de Jesuz Santos, para que passe a constar Darci de Jesus Santos, corrigindo a grafia z para s no prenome Jesuz. Apela o Ministério Público do Paraná, aduzindo, preliminarmente, que é nula a sentença, vez que proferida por Juízo absolutamente incompetente. Indica que em nenhum momento o Decreto Judiciário nº 444-D.M. autorizou o Projeto Justiça nos Bairros a analisar pedidos de alteração de nome, como é o caso da sentença recorrida, sendo absolutamente incompetente referido Juízo para análise de matéria que verse sobre alteração de registro civil. No mérito, alega que claramente a autora pretende a alteração do nome de seu genitor e não a retificação deste. Afinal, em nenhum momento ficou comprovado erro no nome dele em sua certidão de nascimento. Defende que pela certidão de nascimento acostada aos Página 2 de 7
Apelação Cível nº 1.642.398-8 3 autos, verifica-se que o nome colocado no pai da requerente no momento de seu registro foi Darci de Jesuz Santos, possuindo seu nome um prenome composto, de modo que Jesuz foi o segundo nome dado a ele, não se tratando de nome de família. Ainda, que na própria audiência a requerente confirmou que seu pai, quando em vida, jamais quis alterar seu nome, o que demonstra que ele entendia que seu nome foi uma deliberação de seus pais, não se tratando de erro. Assevera assim, que faltam motivos para a mudança do nome do genitor da requerente e que esta sequer teria legitimidade para alterar o nome de pessoa já falecida. Remetidos a esta instância, a douta Procuradoria Geral de Justiça, por meio do parecer de fls. 11/13-TJ, manifestou-se pelo conhecimento e provimento do Apelo. Em seguida, vieram-me conclusos os autos. É o relatório. 2. Voto. Presentes os pressupostos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade recursal, deve o presente Apelo ser conhecido e, no mérito, provido. Acerca da preliminar de incompetência do Projeto Justiça no Bairro para a análise do pedido em apreço, não se pode olvidar que o Decreto Judiciário nº 444-D.M. deste Tribunal de Justiça, ampliou a competência dos juízes atuantes nesse Projeto para a análise dos pedidos de retificação de assento de registro civil de pessoas naturais, nos termos do elencado nos arts. 109 e 110 da Lei de Registros Públicos. Infere-se do Termo de Audiência juntado à sequência 1.6, que em 27/11/2015, através do Projeto Justiça no Bairro, foi deferida a retificação do nome do genitor da Apelada, de Jesuz, para que passasse a Página 3 de 7
Apelação Cível nº 1.642.398-8 4 constar Darci de Jesus Santos. O pedido, assim, foi de retificação de registro e seu deferimento foi motivado justamente na correção ou retificação do suposto erro de grafia, atuando o Projeto de acordo com o estabelecido no supramencionado Decreto Judiciário. Demais disso, como bem apontado no parecer de fls. 12/13, considerar a incompetência (...) do Projeto Justiça nos Bairros para análise do pedido de retificação, o qual, aos olhos do Promotor de Justiça, se trata de alteração, desencontra as balizas que orientam a instituição do próprio projeto, contrariando, até mesmo, os princípios da celeridade e eficácia da tutela jurisdicional. Diante disso, revela-se plenamente possível e razoável que o pedido da apelada fosse analisado dessa forma, não devendo ser reconhecida a incompetência absoluta arguida. Deste modo, não deve ser acolhida a preliminar aqui arguida. No mérito, defende o Promotor de Justiça Recorrente que não se trata de mera retificação do nome, mas de verdadeira alteração do prenome do ascendente da Autora e que ela não teria legitimidade para deduzir tal pretensão em favor de seu genitor. Pois bem, consta na ata da audiência realizada no Projeto Justiça no Bairro que todos os documentos do senhor Darci possuíam a grafia de seu segundo prenome com Z, ou seja, Jesuz, de modo que seus registros de nascimento, de casamento, de averbação do divórcio, dentre outras, apresentavam referida grafia. Consta ainda da ata que o genitor da Apelada, mesmo sabendo desse suposto erro de grafia, nunca manifestou qualquer interesse em retificá-la. De se destacar que o nome do genitor da apelada era Darci de Jesuz Santos, não se tratando Jesuz de nome de família, mas sim de duplo prenome, escolhido por seus genitores. Ainda, como consignado na ata, não se demonstrou que o sr. Darci, quando em vida, tenha manifestado Página 4 de 7
Apelação Cível nº 1.642.398-8 5 qualquer interesse na retificação na grafia de seu nome Jesuz. Não se sabe, portanto, se seus pais, quando do registro, escolheram, intencionalmente, o nome Jesuz para o Sr. Darci, ou, até mesmo, se este, ciente do suposto erro de grafia, optou por mantê-lo até mesmo como um diferencial para seu nome. Frise-se que a Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/1973), dentre outras garantias, é regida pelo princípio da imutabilidade, de modo que o nome, em regra geral, é definitivo. Demais disso, o nome é direito personalíssimo, ou seja, que integra a personalidade, assim, qualquer ação que vise sua alteração, ainda que sob forma retificadora, só pode ser intentada motivadamente, nos termos do artigo 57 da referida Lei: Art. 57. A alteração posterior de nome, somente por exceção e motivadamente, após audiência do Ministério Público, será permitida por sentença do juiz a que estiver sujeito o registro, arquivando-se o mandado e publicando-se a alteração pela imprensa, ressalvada a hipótese do art. 110 desta Lei. Deste modo, e como dito acima, o titular do nome que aqui se busca retificar, Sr. Darci, não se preocupou em retificá-lo quando em vida, como indicado por sua filha, ora Apelada, e consignado na ata da audiência, razão pela qual, ressalvada motivação convincente justificando pretendida retificação, que na hipótese inexistira, não era o caso de se deferir o pedido. Acerca do aqui exposto: EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - PROCEDIMENTO VOLUNTÁRIO -RETIFICAÇÃO DO NOME - INVERSÃO DA ORDEM DOS PATRONÍMICOS DA Página 5 de 7
Apelação Cível nº 1.642.398-8 6 FILHA - MERA INSATISFAÇÃO DOS GENITORES - MOTIVAÇÃO IRRELEVANTE - PLEITO INDEFERIDO 1. O nome é a forma de individualização da pessoa, importando em sua identificação frente às obrigações da vida civil. 2. O registro do nome do filho no assento civil decorre de simples opção dos genitores, mas a retificação posterior, para inversão do patronímico, demanda prova de situação excepcional, a justificar o pleito. Inteligência do art. 57 da Lei 6.015/1973. 3. A insatisfação dos pais quanto à ordem de registro dos sobrenomes materno e paterno da filha não constitui motivo relevante e excepcional a justificar o pleito retificatório. 4. Recurso não provido. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.16.070199-1/001, Relator(a): Des.(a) Lílian Maciel Santos (JD Convocada), 5ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 23/02/0017, publicação da súmula em 24/02/2017) Diante do exposto, dou provimento ao apelo para o fim de se julgar improcedente o pedido de retificação, mantendo-se a grafia do nome do genitor da Apelada inalterada. Página 6 de 7
Apelação Cível nº 1.642.398-8 7 3. Dispositivo. ACORDAM os Senhores Magistrados integrantes da Décima Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao Recurso de Apelação, nos termos do voto do Relator. A Sessão foi presidida pelo Excelentíssima Senhora Desembargadora IVANISE MARIA TRATZ MARTINS, com voto, e também acompanhara o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador MARQUES CURY. Curitiba, 24 de maio de 2017. Juiz ANTONIO DOMINGOS RAMINA JUNIOR Relator Convocado Página 7 de 7