Jornal do Commercio (RJ) Economia Queda-de-braço por verbas do Orçamento de 2005 LILIAN TAHAN do Correio Braziliense A Esplanada dos Ministérios será palco de um cabo-de-guerra nas próximas semanas. De um lado da corda, estarão os ministros que lutam por um Orçamento maior em 2005. Do outro lado, ficarão os comandantes do Planejamento e da Fazenda, que têm a obrigação de distribuir o dinheiro, com economia para respeitar as metas de superávit primário para o equilíbrio fiscal. Daqui até o dia 31 de agosto, data limite para a apresentação da proposta orçamentária ao Congresso Nacional, vencerá o lado que apresentar os argumentos mais convincentes a ponto de conter a tesoura da equipe econômica do governo. Em plena fase de negociação, ministérios adiantaram suas expectativas orçamentárias para 2005. O Ministério da Educação está entre os que negociam verbas para 2005. A intenção é expandir a reforma universitária. Mas, ao mesmo tempo, o ministro Tarso Genro alega que precisa manter programas como o Brasil Alfabetizado, que em 2003 alfabetizou, segundo o governo, dois milhões de pessoas. O argumento é forte, tanto que o ministro planeja ampliar em 20% o número de acesso ao Brasil Alfabetizado. Em 2004, há a previsão de 1,6 milhão de inscritos. Em 2005, a pasta quer chegar a 1,9 milhão de pessoas que não sabem ler nem escrever Á no país, há cerca de 15 milhões de pessoas nessa situação. Universidade pública Ao mesmo tempo em que demonstra segurança para aumentar os recursos no ensino básico, o ministro garante uma forte ação voltada para o ensino superior e o ensino básico. "Vamos refinanciar a universidade pública do país", afirmou o ministro. Tarso Genro fala também em investir no ensino tecnológico, por meio da construção de 500 escolas de formação profissional, aproveitando a estrutura das fábricas brasileiras. Para alcançar as metas, planeja elevar o orçamento de R$ 6,3 bilhões para R$ 7,5 bilhões. As negociações em torno da recuperação de rodovias estão adiantadas. Na semana passada, o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, afirmou que a Presidência da República garantiu um aumento nas verbas para o programa de restauração das estradas. De R$ 2,7 bilhões em 2004, o orçamento da pasta passará a R$ 3,5 bilhões, segundo informou Nascimento. Do novo orçamento, o ministério dos Transportes informou que 80% do dinheiro, ou R$ 2,8 bilhões, serão usados para recuperar trechos esburacados e sem acostamento das estradas, principalmente na rota de escoamento da produção de grãos, no Centro- Oeste e Sul. Há no País 58 mil quilômetros de estradas sob a responsabilidade da União, dos quais 29 mil estão em péssimo estado de conservação, segundo o IBGE. Até abril do ano que vem, o Governo espera ter restaurado 11 mil quilômetros de rodovia, o que custará R$ 2,2 bilhões. Agricultura No Ministério da Agricultura, a prioridade é ampliar o volume de alimentos por meio do combate a pragas e doenças que destroem plantações e rebanhos. A proposta 1
do ministério é aumentar os investimentos orçamentários de R$ 68 milhões para 150 milhões. A pasta também pediu maior orçamento para investir em pesquisa de grãos. Se o Planejamento concordar, haverá um reforço de R$ 67 milhões na Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa) para 2005. O Ministério da Ciência e Tecnologia também faz força para puxar a corda do maior orçamento. Uma das prioridades é o projeto de lançamento de satélite em parceria com a China, que ajudaria o Governo brasileiro a planejar a produção agrícola, a controlar as variações climáticas e a conservar o meio ambiente. A proposta do ministério é investir em pesquisa para ampliar o projeto a longo prazo, passando o orçamento do programa de R$ 15,8 milhões para R$ 50 milhões. O Ministério da Ciência e Tecnologia planeja incrementar o Instituto do Milênio, que trabalha com redes virtuais de pesquisa. E haverá reforço de verbas para a reconstrução da torre de Alcântara, além da implantação do sítio de lançamento de foguete Cyclone e da participação na Estação Espacial Internacional. A pasta cogita, assim, mais R$ 19 milhões para o Conselho de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, que é de R$ 70,6 milhões. 2
Zero Hora (RS) Coluna Informe Especial Coincidência Por mais que o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Augusto Sherman Cavalcanti possa ter razão nos seus argumentos para contestar o edital da BR-101, parece até provocação. O TCU analisava o edital de fiscalização desde junho, mas a decisão só foi tomada no dia em que o Ministério dos Transportes anunciou a publicação dos textos e o fim dos entraves para a obra. 3
Folha Popular (TO) Brasil Xavantes fecham rodovia BR-158 BRASÍLIA (ABR) - Um grupo de cerca de 400 índios Xavante Maraiwatse de fecharam, anteontem à noite, há pouco um trecho da BR-158 para velar, na estrada, o corpo da segunda criança morta, nesta semana, em decorrência de pneumonia e desnutrição. De acordo com administrador da Funai (Fundação Nacional do Índio) em Goiânia, Edson Beiriz, a tribo ainda não divulgou o nome da criança, mas revelou que ela tinha apenas um ano. "Um funcionário da Funai chegou a transportá-la para um hospital em Ribeirão Cascalheira (MT), mas ela morreu antes de ser atendida", conta Beiriz. Ele recebe informações de quatro funcionários da Funai que estão na área, a mil quilômetros de Goiânia e de Cuiabá. "Tenho conversado com eles pelo telefone de um posto de gasolina. Já enviei pedido de apoio para a Polícia Federal e para o Ministério Público. Uma equipe da Funai e outra da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) deve chegar ao local nas próximas horas". De acordo com Beiriz, o bebê Jardeu Xavante, de 1 ano, foi o primeiro a morrer, na quarta-feira, de pneumonia e desnutrição. Os guerreiros da tribo enterraram o corpo na área que tradicionalmente pertencia à etnia. Uma liminar, ainda não julgada pelo Supremo Tribunal Federal, garantiu que a terra fosse ocupada por fazendeiros. Expulsos, os índios estão acampados há nove meses às margens da estrada mais próxima da reserva, que liga os principais municípios do interior do Mato Grosso. O administrador regional da Funai teme um conflito entre índios e posseiros. "Um dos anciões mandou o seguinte recado: Esse menino não morreu, ele é um guerreiro que vai entrar na terra indígena Maraiwatsede, na nossa frente", conta Beiriz. Segundo Beiriz, outras duas crianças da tribo estão hospitalizadas. "As mortes e as internações são conseqüência direta das condições precárias vividas por esses índios. Eles moram em barracas de lonas plásticas, aspiram poeira da estrada e bebem água cheia de coliformes fecais." 4
Jornal do Commercio (PE) Brasil Crianças ganham a vida tapando buracos Péssimas condições das estradas viram fonte de renda para famílias no Sertão do Ceará. Até meninos de 5 anos improvisam recapeamentos nas rodovias e recebem moedas e alimentos. Situação se repete em outros Estados JOTABÊ MEDEIROS Agência Estado CAMPOS BELOS, CE - O Pálio vermelho nem pára. O motorista abre o vidro e joga um punhado de moedas de R$ 0,05 pela janela, que ficam enterradas na areia. Os meninos atiram-se sobre elas como se fossem donuts suculentos. O motorista acelera e some na curva. No Sertão do Ceará, dezenas de meninos vivem há mais de um ano como recapeadores improvisados da rodovia BR-020, na região de Campos Belos, a 70 quilômetros de Fortaleza. Com pás velhas, crianças de até 5 anos ganham a vida jogando areia e terra nos buracos da estrada. "Buraco nunca há de faltar, não é?", diz, resignada, Maria Imaculada Ribeiro da Silva, mãe de Francisco Marcelino Ribeiro, 7 anos, e Francisco Wesley, 5, dois dos meninos que jogam areia nos buracos. "Quem tem coração bom, dá!", afirma ela, que fica na beira da estrada enquanto os meninos trabalham. Os buracos da BR-020 parecem não acabar. Os caminhões serpenteiam perigosamente e os carros correm o risco de cair em valas capazes de engolir um Fusca. Ironicamente, o trabalho dos meninos recapeadores é vital na região. O jornal O Estado de S.Paulo já denunciou essa situação em 2001, nas estradas do Maranhão. Na época, o Governo Federal anunciou a liberação de R$ 180 milhões para reparos em 18 Estados. O problema é o ofício dos meninos. Eles estão entre 5 e 10 quilômetros distantes do centro da cidade mais próxima, que é Campos Belos, e vêm e voltam de lá andando. O garoto Sirlando Paiva Pereira é um deles. Passa quase o dia inteiro jogando areia para cobrir buracos na BR-020, que liga Fortaleza a Canindé (CE). Além de dinheiro, alguns motoristas deixam arroz, açúcar feijão, segundo contam os garotos. Francisco Marcelino Ribeiro fala pelo irmão, 5, que mal consegue correr pela rodovia onde trabalha sem camisa e sapatos. E a mãe também mal consegue saber como se escreve o nome do caçula. "Tenho é seis (filhos)", ela diz. "Não sei escrever. Acho que é Iuéslei." Cerca de 60% das mercadorias do País são transportadas pelas estradas federais. Algumas delas, no entanto, já não têm nem mesmo asfalto, com os veículos trafegando pelos acostamentos como é o caso do trecho entre Cuiabá e Rondonópolis. O governo estima que já foram liberados R$ 2,7 bilhões para obras em 7 mil quilômetros. 5