ANÁLISE PRELIMINAR DE RISCOS DE ACIDENTES EM MARMORARIAS DO MUNICÍPIO DE BETIM



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Transcrição:

ANÁLISE PRELIMINAR DE RISCOS DE ACIDENTES EM MARMORARIAS DO MUNICÍPIO DE BETIM Thais D Eleuterio Costa (PUC) artigoleanpuc@gmail.com SAMUEL LARA RESENDE ALVES PINTO (PUC) SAMUCAIN@HOTMAIL.COM Helio Henrique de Matos (PUC) helio.hmatos@hotmail.com Marcia Colamarco Ferreira Resende (PUC) mcolamarco@pucminas.br luiz carlos do nascimento (PUC) lnascimento@pucminas.br No ramo marmoreiro os trabalhadores estão submetidos a diversos tipos de riscos de acidentes provenientes principalmente da precariedade e improvisação de suas instalações. O presente estudo teve como objetivo identificar os riscos de acidentes em marmorarias do município de Betim/MG e sugerir soluções preventivas para os processos e instalações nessas empresas. Foram avaliadas as 09 marmorarias do município de Betim, que participavam do Projeto de Extensão Produtividade e Cultura Lean em Arranjos Produtivos Locais, do curso de Engenharia de Produção da PUC Minas Betim, durante o período de fevereiro/2014 a março/2015. Para a análise de riscos nas microempresas foram realizadas 04 etapas de procedimento: coleta de dados, análise das informações, identificação das medidas de controle e plano de ação. Foram realizadas observações dos locais de trabalho, check lists das Normas Regulamentadoras e a análise dos dados coletados foi feita mediante a Análise Preliminar de Risco (APR). A partir das análises foram identificadas 03 situações críticas no processo das marmorarias: transporte manual de cargas pesadas e sem proteção; ausência de proteção no disco de corte da serra; fiação desprotegida com presença de água empoçada no solo. Nenhuma das situações avaliadas teve uma classificação de risco menor que moderado. Todos os riscos encontrados poderiam ser eliminados ou reduzidos através de treinamentos,

conhecimento das normas de segurança do trabalho tanto pelo empregador quanto pelos empregados e investimentos de baixo custo. Palavras-chave: Segurança no trabalho, marmoraria, análise preliminar de riscos 2

1. Introdução A cada dia, sete pessoas, em média, perdem a vida em acidentes de trabalho no Brasil. De acordo com o levantamento do Ministério da Previdência Social (2015), em 2013 foram registrados 737.378 acidentes, que resultaram em 2.797 mortes. O Ministério do Trabalho e Emprego (2010) define acidente de trabalho como a ocorrência geralmente não planejada que resulta em dano à saúde ou integridade física de trabalhadores ou de indivíduos do público. A NBR 14280 (ABNT, 2001) define um acidente de trabalho como uma ocorrência imprevista e indesejável, instantânea ou não, relacionada com o exercício do trabalho, que resulte ou possa resultar em uma lesão pessoal, sendo estes classificados entre: acidente do trabalho grave, acidente do trabalho fatal, acidente típico, acidente de trajeto, acidente devido à doença de trabalho. Segundo o Ministério da Previdência Social (2015), no ramo de trabalho com pedras, em 2012, foram registrados 178 acidentes típicos, no estado de Minas Gerais. Neste ambiente de produção, os operadores estão sujeitos a todos os tipos de risco: químico, físico, ergonômico, ambiental e risco de acidentes (FUNDACENTRO, 2008). Chrizóstomo (2014) define como marmorarias as empresas que trabalham no beneficiamento final de pedras ornamentais, principalmente granitos, mármores e ardósia. Relata também, que é comum deparar-se com empresas deste ramo que apresentam ambientes rústicos e pouco salubres, normalmente instaladas com baixo investimento, e que possuem um número de funcionários geralmente com baixa qualificação profissional. Todas essas características somadas às robustas atividades executadas na produção dos artefatos levam a riscos ocupacionais que colocam em perigo a saúde dos trabalhadores deste setor (CHIRZÓSTOMO, 2014; DUARTE, 1997). Os riscos de acidentes nestas empresas são provenientes principalmente da precariedade e improvisação de suas instalações, que podem incluir: máquinas e equipamentos defeituosos, sem manutenção e proteção, fiação desprotegida, ferramentas espalhadas no chão, eletricidade e iluminação inadequadas, falta de sinalização, além da não utilização dos equipamentos de proteção individual adequados (MORONI, 2005; BURGESS, 1997). Contemplando esta ideia, a Fundacentro (2008) destaca como demais causas de acidentes os problemas 3

relacionados ao tipo de construção, arranjo físico e organização do local, além da desatenção no manuseio de ferramentas e falta de treinamento sobre saúde e segurança do trabalho. O impacto desses acidentes na vida pessoal dos funcionários e na própria empresa pode ser de um simples incomodo, ou poucos dias de afastamento e recuperação, até incapacidades permanentes e fatalidades. Diante disso, o presente estudo teve como objetivo identificar os riscos de acidentes em marmorarias do município de Betim/MG e sugerir soluções preventivas para os processos e instalações nessas empresas. 2. Metodologia O curso de Engenharia de Produção da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico de Betim, em parceria com 9 (nove) empresários locais do setor de marmoraria, iniciaram em Fevereiro de 2014 um Projeto de Extensão intitulado "Produtividade e Cultura Lean em Arranjos Produtivos Locais", cujo objetivo geral era promover a disseminação da Cultura Lean, através da redução de perdas, melhorias na produtividade e nas condições de trabalho, bem como a organização de arranjos colaborativos destas organizações. Neste contexto, dentre um dos objetivos específicos estava o estudo e melhorias nas condições de trabalho, envolvendo os riscos de acidentes. A partir desta experiência, o estudo de caso foi desenvolvido com a participação de todas as microempresas assistidas pelo projeto de Fevereiro de 2014 a Março de 2015, empresas estas com produção típica de origem artesanal e cultura familiar. Para a realização da análise de riscos de acidentes, todos os processos de produção das marmorarias e suas instalações foram estudados, uma vez que, foram relatados em entrevista a ocorrência de acidentes provenientes destes fatores. 2.1 Procedimentos e instrumentos Para a análise de riscos nas microempresas foram realizadas 04 etapas de procedimento: coleta de dados, análise das informações, identificação das medidas de controle e plano de ação. 4

Para a coleta de dados referentes às condições e recursos do sistema foram realizadas visitas aos locais de trabalho, observações, entrevistas e questionários semi-estruturados e registros de imagens. Foram levantados problemas sobre processo de produção, acidentes, uso de EPI's e condições de trabalho, além da utilização de um check-list baseado no Manual de Referência para Marmorarias (FUNDACENTRO, 2008) e nas recomendações das Normas Regulamentadoras: NR 6 - Equipamento de Proteção Individual (BRASIL, 2011), NR 10 Segurança em instalações e Serviços em Eletricidade (BRASIL, 2004), Anexo I da NR 11 - Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais de Chapas de Mármore, Granito e outras rochas (BRASIL, 2003) e NR 12 Segurança no Trabalho em Máquinas e Equipamentos (BRASIL, 2013). Para análise das informações coletadas, identificação das medidas de controle e para elaboração do plano de ação foi utilizada a Análise Preliminar de Risco (APR), uma metodologia qualitativa estruturada para identificar os potenciais perigos decorrentes da própria operação da planta, onde é avaliado cada um dos perigos identificados, as suas causas, os métodos de detecção disponíveis e os efeitos sobre os trabalhadores, a população circunvizinha e sobre o meio ambiente, para então, priorizar os riscos e determinar planos de intervenção que minimizem ou eliminem tais riscos (CESARO, 2013). Segundo Aguiar (2011) a medida qualitativa de riscos pode ser classificada a partir de duas variáveis: frequência (probabilidade das causas) e severidade (efeito do perigo). A frequência se classifica nas seguintes categorias: A extremamente remota; B Remota; C Pouco provável; D Provável e E Frequente, enquanto que a severidade se classifica como: I Desprezível e não ocorrendo nenhuma lesão; II Marginal, onde há ocorrência de lesões leves com no máximo 15 dias de afastamento; III Crítico, com lesões de gravidade moderada e IV Catastrófico, com lesões graves ou mortes. A partir da correlação entre frequência e severidade promove-se uma matriz de classificação de riscos, sendo eles: 1 Desprezível, 2 Menor; 3 Moderado; 4 Sério e 5 Crítico. 3. Resultados 5

Todas as empresas participantes do Projeto de Extensão "Produtividade e Cultura Lean em Arranjos Produtivos Locais" foram analisadas, obtendo um total de 60 (sessenta) homens, divididos entre as 9 (nove) marmorarias, e todos trabalhadores da área de produção, abrangendo as seguintes funções: encarregados de produção, serradores, acabadores e auxiliares de limpeza. As marmorarias analisadas tinham entre 7 (sete) e 35 (trinta e cinco) anos de atuação no setor de beneficiamento final de mármores e granitos, e possuíam uma linha de produtos bem semelhantes, como pias, bancadas, lavatórios e soleiras, contando com mais de 20 tipos de granitos e mármores, atendendo à construtoras e, principalmente, ao consumidor final. A maior parte das marmorarias visitadas possuíam características semelhantes em relação a suas instalações: as áreas de produção eram galpões ou barracões de alvenaria, paredes de blocos, cobertos por telhas de fibro-cimento, onde 5 (cinco) eram pavimentadas e o restante apresentava solo exposto (terra), com a presença de desníveis. Em relação a organização e limpeza do local, observou-se muitas ferramentas, materiais, refugos de chapas e fiação desprotegida espalhadas pelo chão, além do acúmulo de água no chão proveniente das máquinas de corte à úmido e ausência ou mau funcionamento das canaletas, o que facilitava a ocorrência de acidentes elétricos. Em relação a área de estoque, somente em duas empresas os estoques encontravam-se em galpões cobertos e pavimentados, nas outras 7 (sete), os estoques estavam dispostos em áreas externas, sem cobertura e com solo exposto. Eram estocados lá, diferentes tipos de chapas, produtos acabados, refugos, entulhos e diversos outros obstáculos que dificultavam a movimentação no local. Figura 1 Macroprocesso de produção de marmoraria O processo se iniciava no descarregamento das chapas do caminhão de entrega, processo este realizado manualmente em 6 (seis) marmorarias e através de ponte rolante em 3 (três) marmorarias. O processo manual de descarregamento de chapas de mármores e granitos com peso especifico médio de 60 kg/m², dimensões de 3,0 x 2,0 metros e espessura variando de 2 a 3 cm, envolvia em média 3 (três) funcionários, sendo 1 (um) funcionário manuseando a chapa 6

em cima do caminhão e 2 (dois) funcionários em baixo para segurá-la, onde os mesmos não utilizavam luvas de proteção ou outros equipamentos de segurança, por não julgarem necessário ou porque acreditavam dificultar o descarregamento, conforme relatado pelos funcionários em entrevista. Após o descarregamento, era necessário transportar as chapas até o estoque, utilizando um dispositivo de transporte manual improvisado, de duas rodas e aproximadamente 20 (vinte) centímetros de altura, onde 2 (dois) funcionários empurravam a chapa apoiada no dispositivo em um solo irregular e não pavimentado, e ao mesmo tempo precisavam segurá-la para evitar quedas. Neste cenário, os funcionários estavam sujeitos a acidentes ao executarem tal atividade, por manusearem um material pesado, grande e com bordas cortantes. Para início do processo de produção, ocorria uma preparação da chapa no estoque, realizada por 2 (dois) funcionários do corte, um serrador e um ajudante, utilizando uma talhadeira e uma marreta para quebrar o pedaço da chapa necessário. Conforme observado na execução desta atividade, em 8 (oito) empresas, os funcionários não utilizavam óculos de proteção e luvas de raspa, neste cenário, os mesmos poderiam ser atingidos no rosto por partículas geradas durante a quebra, além de lesões nas mãos. A peça retirada do estoque era então carregada até a máquina de corte, onde em 8 (oito) empresas ocorria sem o auxilio de nenhum meio mecânico para o transporte e sem o uso de equipamentos de segurança. O caminho percorrido do estoque até a máquina de corte, normalmente era estreito e encontrava-se obstruído por refugos, produtos finalizados e entulhos, além disso, as áreas de estoque possuíam solo exposto e desníveis, onde a junção de todos estes fatores favorecia a ocorrência de acidentes. A ponte rolante era utilizada para o transporte das chapas do estoque até a máquina de corte em somente 1 (uma) empresa, pois a estrutura das outras duas que possuíam o equipamento não permitia que o mesmo alcançasse a máquina de corte. Para executar o corte da peça, nas especificações pedidas pelo cliente, o operador posicionava a chapa na mesa de corte, realizava os ajustes da altura do disco de serragem, ligava a máquina e então ligava uma válvula de acionamento da água. Em seguida, com sua mão direita girava uma manivela que empurrava a chapa em direção ao disco de serragem, e com sua mão esquerda apoiava e empurrava a chapa, chegando com a mão bem próxima ao disco 7

de serragem, que se encontrava desprotegido em todas as empresas, ou seja, qualquer descuido ou desatenção do funcionário acarretaria em uma grave lesão. Neste cenário, observou-se que 3 (três) marmorarias possuíam canaletas de água nas máquinas de corte, mas apenas 2 (duas) funcionavam adequadamente. No restante das empresas, a água respingada do processo de corte era acumulada e formava imensas poças de água em toda área de produção. Vale ressaltar que nenhuma das empresas analisadas possuíam isolamento elétrico em suas máquinas e equipamentos. A próxima etapa consistia no acabamento final da peça, constituído pelos subprocessos de lixamento, polimento e montagem final. No lixamento, o operador utilizava uma lixadeira angular com cerca de 5 kg, e pelo menos 3 (três) discos de desbaste para retirar as quinas e dar forma as bordas dos produtos. Notou-se que nenhum dos equipamentos de nenhuma das empresas avaliadas continha dispositivos de proteção, deixando o disco da lixadeira totalmente exposto e aumentando a probabilidade de ocorrerem acidentes. Além disso, o equipamento geralmente era ligado em tomadas distantes das bancadas de acabamento, fazendo com que toda a fiação ficasse espalhada pela área de produção das marmorarias. Verificou-se também, que em 4 (quatro) empresas, os fios destes equipamentos encontravam-se desprotegidos e em contato com as poças de água vindas da máquina de corte, aumentando os riscos de acidentes elétricos. No polimento, a atividade era executada utilizando politrizes e em média 6 (seis) lixas de diferentes granulometrias, objetivando um produto com superfície lisa e brilhosa. Nestas operações, os funcionários estavam expostos aos mesmos riscos presentes no lixamento, pois as máquinas não possuíam dispositivos de segurança no disco, e os fios também se encontravam desprotegidos e espalhados pelo chão. A última etapa do processo de acabamento era a montagem e resinamento das peças, onde os funcionários colavam as partes do produto utilizando normalmente silicone ou massa plástica e finalizavam o processo aplicando uma resina sob o produto. Os perigos desta atividade estavam no manuseio de peças pesadas de mármore, granito ou ardósia, que poderiam cair da bancada de acabamento e provocar acidentes lesionando os membros inferiores do funcionário, principalmente porque aproximadamente 83% deles não utilizavam sapatos de segurança adequados para a atividade. 8

Observou-se que em 7 (sete) empresas, o lixamento, o polimento e a montagem final dos produtos ocorriam na mesma bancada, o que ocasionava desorganização das ferramentas e materiais, além de grande quantidade de fiação vinda dos equipamentos elétricos distribuídos pelas bancadas de acabamento final. Através de entrevistas, foi relatado pelos funcionários a ocorrência de 33 (trinta e três) acidentes de trabalho nos últimos 24 meses, destes: 19 (dezenove) envolvendo as mãos; 7 (sete) envolvendo os braços; 5 (cinco) envolvendo os pés; 1 (um) envolvendo a barriga; e 1 (um) um acidente fatal envolvendo o esmagamento de várias partes do corpo. Destes, dezesseis (16) acidentes ocorreram no transporte das chapas, 13 (treze) no acabamento e 4 (quatro) na serragem das chapas. Os mesmos relataram, que os acidentes estavam relacionados as seguintes causas: 12 (doze) por desatenção do funcionário; 11 (onze) pela não utilização de EPI; 4 (quatro) por pedras trincadas, três (3) por falhas do equipamento e três (3) por outras causas diversas. Concluiu-se que, em média 33% dos acidentes aconteceram pela não utilização dos equipamentos de proteção individual, mostrando a necessidade de realização de treinamentos de uso correto destes equipamentos, e que a parte mais atingida na maioria dos acidentes são as mãos, fortalecendo a ideia de que todos os equipamentos de corte e acabamento necessitam de melhores dispositivos de proteção. Após análise das informações coletadas a respeito dos acidentes sofridos pelos trabalhadores, analisou-se os riscos provenientes dos 3 (três) processos de produção das marmorarias: Descarregamento, corte e acabamento, e também os riscos provenientes das instalações e organização das empresas. A Tabela 1 aborda, a partir da correlação entre as variáveis frequência e severidade, o nível de risco e suas recomendações para cada risco de acidente identificado. Tabela 01 - Análise Preliminar dos nos processos de produção, instalações e organização das marmorarias APR 01 - Descarregamento e Transporte de chapas Transporte manual de cargas pesadas e sem proteção. - Lesões nos membros superiores e inferiores; 9

- Há riscos de acidentes fatais. E - Frequente IV - Catastrófico 5 - Crítico - Utilização de EPI's adequados como bota com bico de aço e luvas de raspa, conforme estabelecido pela NR 6 Equipamentos de Proteção Individual (MTE, 2011). - Utilização de meios mecânicos como o carro transportador de chapas automatizado ou ponte rolante para a realização de descarregamento e transporte até o estoque. APR 02 - Serragem Continua Continuação Ausência de proteção no disco de corte da serra. - Lesões nos membros superiores. - Corte grave ou amputação dos dedos ou da mão. E frequente III Crítica 5 Crítico - Aquisição e uso de dispositivo de proteção para o disco de corte da serra. APR 03 - Acabamento Ausência de dispositivo de proteção nas lixadeiras. Corte grave nos membros superiores e tronco. E frequente II marginal 4 Sério Aquisição e uso de dispositivo de proteção para as lixadeiras. APR 04 - Acabamento Ausência de EPI s e/ou uso inadequado uso de EPI's (avental, bota e óculos). Lesões nos membros superiores, inferiores, tronco e olhos. E frequente II marginal 4 Sério - Aquisição e/ou utilização dos EPI's adequados, conforme NR 6 Equipamentos de Proteção Individual (MTE, 2011) e Manual de Referência para Marmorarias (FUNDACENTRO, 2008); - Definir procedimentos seguros para a utilização de máquinas e de ferramentas manuais; - Treinamentos sobre importância do uso adequado dos 10

EPI s; - Placas de sinalização alertando sobre o uso constante dos EPI s. APR 05 Montagem das peças Armazenamento e manuseio inadequados de materiais inflamáveis. Queimaduras nos membros superiores. D Provável II marginal 3 Moderado - Definir procedimentos seguros para o armazenamento e o manuseio de materiais inflamáveis; - Sinalização de produtos inflamáveis. APR 06 - Instalações Fiação desprotegida com presença de água empoçada no solo. Continua Conclusão Choques elétricos. E - Frequente IV - Catastrófica 5 - Crítico - Construção e/ou manutenção de canaletas, evitando o acúmulo de água no solo; - Proteção da fiação elétrica; - Instalação de pontos de tomada próximos as bancadas de acabamento, evitando fios espalhados pelo chão; - Adequação das instalações elétricas e do aterramento, conforme NR 10; - Adequação da máquina de corte e ferramentas manuais para duplo isolamento elétrico. - Instalação de extintores de incêndio e instrução para utilização adequada dos mesmos; APR 07 - Instalações Solo irregular e não pavimentado. Corte grave ou amputação da mão e dedos. E frequente II Marginal 4 - Sério Pavimentação e nivelamento do solo. APR 08 - Instalações Obstrução das áreas de movimentação por estoques, produtos finalizado, refugos e entulhos. Queda e/ou fraturas; 11

Corte nos membros superiores. E frequente II marginal 4 Sério - Adequação do arranjo físico da marmoraria e desobstrução das áreas de trabalho; - Definir área exclusiva para estocagem de matéria prima e área de estoque de produto acabado; - Demarcar área de circulação, conforme orientação da NR 11 Transporte, movimentação, armazenagem e manuseio de materiais, respeitando as distâncias estabelecidas para áreas de circulação; - Destinar adequadamente refugos e entulhos; Identificou-se 3 (três) riscos de acidentes classificados como críticos e 4 (quatro) riscos de acidentes como sério, evidenciando que os processos de produção atuais colocam o trabalhador diante de riscos de acidentes, devido ao manuseio de materiais de grande peso, máquinas e equipamentos sem proteção, precariedade das instalações, do arranjo físico e da organização do local. Outro fator relevante diz respeito ao não fornecimento de todos os equipamentos de proteção individual aos funcionários e a fiscalização quanto ao uso dos mesmos, fatores estes que exigem intervenções de caráter imediato por parte das empresas. 4. Considerações finais Após a obtenção dos resultados da Análise Preliminar dos, foi possível identificar quais os riscos de acidentes que os trabalhadores das nove microempresas do setor marmoreiro, estavam expostos. Além disso, foi possível classificá-los conforme seu nível de risco e prioridade de intervenção. Ressaltando que todos os riscos encontrados poderiam ser eliminados ou reduzidos através de treinamentos, conhecimento das normas de segurança do trabalho tanto pelo empregador quanto pelos empregados e investimentos de baixo custo. Outro item importante a ser considerado é a falta de fiscalização pelos empregadores quanto a segurança e saúde dos funcionários, visto que os mesmos poderiam ter suas capacidades produtivas comprometidas por um acidente de trabalho. 12

A carência de estudos e dados relacionados a saúde e segurança dos trabalhadores de marmorarias, oculta as condições de trabalho e os riscos que estes estão submetidos. Neste sentido, faz-se necessário o desenvolvimento de novas pesquisas objetivando um ambiente de trabalho mais seguro. REFERÊNCIAS AGUIAR, LA de. Metodologias de Análise de -APP & Hazop. Rio de Janeiro, 2011. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14280: Cadastro de acidentes do trabalho Procedimento e classificação. Rio de Janeiro, 2001. BRASIL. Ministério da Previdência Social. AEPS 2013 Seção IV s do Trabalho, Brasília, 2015. Disponível em: < http://www.previdencia.gov.br/aeps-2013-secao-iv-acidentes-do-trabalho/>. Acesso em: 4 mai. 2015. BRASIL. Ministério da Previdência Social. 18.1 Quantidade de acidentes do trabalho, por situação do registro e motivo, segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), no estado de Minas Gerais 2010/2012. 2015. Disponível em: < http://www.previdencia.gov.br/estatisticas/aeat- 2012/estatisticas-de-acidentes-do-trabalho-2012/subsecao-a-acidentes-do-trabalho-registrados/tabelas-2012/>. Acesso em: 4 mai. 2015. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. NR 6 Equipamento de Proteção Individual. Brasília, 2011. Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/data/files/8a7c812d36a2800001388130953c1efb/nr- 06%20%28atualizada%29%202011.pdf>. Acesso em: 4 mai. 2015. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. NR 10 Segurança em instalações e Serviços em Eletricidade. Brasília, 2004. Disponível em: 13

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