UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA. A gravura política de Rubem Grilo. Publicações impressas no Jornal Movimento.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA A gravura política de Rubem Grilo. Publicações impressas no Jornal Movimento. Plano de trabalho apresentado ao PIBIC/UFU para obtenção da bolsa de Iniciação Científica. Uberlândia 2016

1.INTRODUÇÃO Ao contrário dos pintores, os artistas gravadores não abandonam suas relações com a ilustração. A grande maioria das imagens produzidas pela gravura tem como tema o homem, o seu tempo, a sua luta, a sua vida. Por essa ligação com a política e com a literatura, a gravura sempre trabalhou como uma espécie de síntese entre a palavra e a imagem. (...) a gravura foi e é de extrema importância: ela aproxima a literatura das artes plásticas, (...)A gravura fala da gravura, fala da arte, mas não se envergonha de falar sobre o seu país, sobre o homem, sobre a realidade. A gravura é a arte da luta. ( Costa, p.12) O objetivo desse plano de trabalho é realizar uma investigação sobre processo de criação, embasamento político e modo de oferecimento nas gravuras do artista Rubem Grilo. A pesquisa se iniciará com a investigação do amplo campo da gravura como forma de manifestação política e ideológica ilustrada no Brasil, para observar como a obra do artista, no período de 1975 a 1979 se insere nesse campo. Este plano de trabalho está vinculado à pesquisa Cruzamentos gráficos. Laboratório de imagens impressas e projetadas que se situa no campo da imagem com foco na cultura do disponível, da web, do digital e dos processos gráficos contemporâneos. Abarca o estudo sobre as imagens fotográficas, vídeográficas, infográficas e autográficas entre as quais se encontra a gravura. Ela se propõe a analisar os processos gráficos, buscar os sentidos que eles determinam e estudar/provocar deslocamentos conceituais. Seu recorte metodológico considera a articulação teoria e prática para refletir sobre seus aspectos conceituais, processuais e seus modos de oferecimento, ou seja, as imagens oferecidas impressas e as imagens apresentadas projetadas. Sendo assim, este plano de trabalho pretende observar a vinculação da imagem gráfica ao texto crítico na obra de Rubem Grilo, especificamente do período em que publicou no jornal Movimento. Pretende-se observar as gravuras de Grilo no contexto de seu oferecimento, ou seja, sua publicação impressa em um periódico de esquerda, em um momento conturbado da política nacional.

2.CONTEXTO DE PESQUISA 2.1 Ditadura Militar e a Arte Contexto histórico e político da pesquisa é o período da Ditadura militar no Brasil, e é considerando este período (1964-1985) que se pretende observar as relações entre Arte e Política, na obra de Rubem Grilo. Segundo vários autores, o contexto histórico político deste período é conturbado. Tratase um momento de repressão a todas as formas de liberdade na sociedade brasileira, a ditadura militar trouxe com truculência o silêncio ao brasileiro que fosse contra o conjunto governamental da época. Apesar da força bruta para calar qualquer tipo de oposição, respira em ideias, a esperança e força de resistência, proveniente de uma produção cultural alternativa, tais como jornais, literatura, arte, música e cinema. Em nosso campo de pesquisa, temos como foco a arte deste contexto histórico, estabelecemos uma ligação direta da produção artística, como forma de diálogo ao momento vivido pelos artistas e pela sociedade. É o clamor pela contestação da ordem social, do materialismo e consumismo extremo incrustados nas raízes brasileiras. Identificamos de maneira geral ao período uma oposição intelectual e geralmente de visão política de esquerda, que produz para atingir não apenas seus grupos específicos, mas para atingir aqueles que não possuíam contato direto com uma produção cultural elitizada. Neste plano de estudos a nossa relação com a arte política será ligada pela gravura, e como esta oferece o diálogo ao contexto da época. A gravura, como método de impressão se tornou suscetível a preferência de artistas gráficos pela sua fácil obtenção de multiplicação de exemplares, e assim a favorita para acompanhar ao além da questão gráfica e de imagem, a informação, sendo utilizada como forma de ilustração em jornais alternativos do período ditatorial. Entre os veículos de comunicação que o gravador Rubem Grilo colaborou, elegemos em nosso estudo, o jornal alternativo Movimento. A imprensa alternativa cobrava com veemência a restauração da democracia e do respeito aos direitos humanos e faziam a crítica ao modelo econômico (KUCINSKI, 2003). Iniciado em 7 de julho de 1975, o jornal Movimento, veio a ser um dos mais famosos jornais alternativos no período ditatorial brasileiro. Formado por ativistas políticos e militantes de esquerda, o jornal trouxe consigo, a intensa questão ideológica e política à mídia impressa brasileira.

Nele Grilo colaborou durante quatro anos, com xilogravuras que colocavam frente ao leitor, a sua indignação ao regime de governo, e a questão de texto e imagem referente a discussão colocada na coluna do jornal. 2.2 Gravura- Tradição política Os clubes de Gravura no Brasil A gravura, como já colocado, tem suas particularidades favoráveis aos meios midiáticos que andam junto a fácil distribuição. A criação dos clubes de Gravura no Brasil, trouxe consigo tal pensamento como forma primordial de iniciar a entrega de arte diretamente ao público afastado de museus, galerias entre outros, locais de uma arte propriamente dita como elitizada. Não apenas escolhida por este fator, a gravura reuniu artistas intelectuais e ativistas políticos para colocar a força do traço, nas mãos da força manual do trabalhador. O ato do talhar, seja na madeira, ou a força dos ácidos na placa de cobre, fazem da impressão manual artística, a mais próxima da verdadeira força do trabalhador brasileiro. De maneira geral e breve as intenções de criação dos clubes são comuns a ideologia política de esquerda, porém podem ser analisadas de maneira particular e discutidas cada uma a sua maneira e história, como coloca Aracy Amaral em seu livro Arte para que?(2003). Ao nosso referencial teórico, utilizaremos a bibliografia sobre os Clubes de Gravuras como forma de análise ao seu papel político na arte e sua abordagem ao meio. 2.3 A xilogravura A xilogravura como técnica de impressão tem seus registros mais antigos no Oriente, onde os chineses praticavam a arte para imprimir orações budistas e depois cartas de baralho (COSTELLA,2013). O meio como forma de impressão e multiplicação de exemplares se posiciona como material de ampla aceitação, pela fácil obtenção de cópias para distribuição midiática ou comercial. Em sua história vemos que ela cumpre um papel de comunicação antes de ser considerada arte. Nascido pelo objetivo de financiamento de uma revista, o clube foi criado por um grupo de artistas e intelectuais que adquiriram em pouco tempo, um espaço de destaque no amplo circuito artístico (AMARAL 2003). Mesmo com um público inicialmente elitizado, o núcleo de artistas carregava em si a vontade de trazer ao público sua visão e pensamento político, tendo suas obras como meio de linguagem.

No recorte da pesquisa inicialmente teremos uma breve colocação histórica acerca da técnica de gravura e especificamente da xilogravura. Será no contexto da gravura brasileira, que pretendemos observar a prática dos clubes de gravura. Estas práticas se iniciam nos anos 50 e serão uma referência à toda produção gráfica subsequente. Esta abordagem permitirá uma aproximação teórica até chegarmos de fato a análise da xilogravura como campo visual de abordagem política. O segundo recorte será feito quando temos a passagem da discussão política da técnica para o estudo direto da trajetória e obra do artista mineiro Rubem Grilo, no período no qual publicou suas ilustrações no Jornal Movimento. 3.RECORTE TEÓRICO Feito essa consideração inicial acerca do ponto de partida da análise social da xilogravura, principalmente na obra de Aracy Amaral (1984); Carlos Scliar (1994) entre outros que ainda serão objeto de levantamento bibliográfico, selecionarei o material propriamente dito do artista mineiro, tanto as obras publicadas no Jornal em questão, quanto textos de diversos autores sobre essa produção. Aqui cabe ressaltarmos o uso de mídias como documentários, A xilogravura de Rubem Grilo, produzido pelo Instituto Arte na escola. Outro destaque de material de pesquisa é o uso de arquivos de jornais e da mídia alternativa nos quais o artista colaborou durante o regime ditatorial brasileiro, tais como Jornal Movimento, Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, entre outros. Ao contexto histórico as fontes serão baseadas nos estudos de Nadine Habert, na qual relata o momento de crise da conjuntura governamental de 70. Entraremos no período político a partir do momento em que Grilo inicia sua colaboração no jornal Movimento, tendo ainda a base teórica do contexto da ditadura militar na qual foi construído o governo propriamente dito da época. Entre as obras teóricas que abordam as relações entre arte e política, elegemos os estudos Rancière (2010), que permitirão uma perspectiva atualizada e um fundamento geral dos estudos aqui realizados. É de grande interesse a esta pesquisa trazer não só o estudo do papel da xilogravura como precursora dos processos multiexemplares em arte e forma de distribuição da imagem política (Benjamin, 1983), mas também de aproveitar o trabalho de investigação para fazer uma pequena experiência de construção de um arquivo do conjunto de obras de determinado período do artista Rubem Grilo.

4.OBJETIVOS 4.1 Objetivo Geral Fazer um levantamento das ilustrações em xilogravura do artista mineiro Rubem Grilo com o recorte temporal de 1975 a 1979, período que publicou no Jornal Movimento, relacionando sua abordagem política ao papel histórico da xilogravura como função ideológica e de discussão social. 4.2 Objetivos Específicos. Estudar a vocação da gravura como ilustração e como arte política no Brasil.. Investigar o arquivo de imagens das colaborações do artista ao Jornal Movimento no período (1975-1979).. Observar o contexto histórico e político relacionado à produção da obra política de Rubem Grilo, no período analisado. Fig. 1- Rubem Grilo, A mordaça, xilogravura, 1985 5.JUSTIFICATIVA É de grande interesse fazer dessa pesquisa uma investigação que seja base para a reflexão sobre a questão do artista e sua abordagem a política de hoje. Nessa iniciação como pesquisadora, incluo minha curiosidade sobre o campo da ilustração. Mesmo que este plano de estudos não traga este tema como assunto principal, ele pode fornecer as bases para futuras investigações na área da ilustração.

Proponho-me a aprofundar tal curiosidade através dos estudos sistematizado da gravura; sua relação com a história e sua vocação política. A iniciação à pesquisa proporcionará o aprendizado dos métodos e técnicas de pesquisa, o contato com as fontes, a sistemática do estudo e das análises das imagens através dos estudos teóricos. Assim no futuro, pretendo continuar a investigação a cerca da imagem ilustrativa no papel contemporâneo, já que aqui, trago tal como um início aos seus usos, tendo como a ilustração política da gravura de Rubem Grilo e seu recorte de tempo como objeto de estudo. Relaciono também, de um modo amplo o meu interesse ao campo da imagem, o que será possível, integrando o grupo de investigação que participa do mesmo projeto. A pesquisa Cruzamentos Gráficos, Laboratório de Imagens Imprensas e Projetadas tem como objeto de estudo em comum, a imagem e seu amplo campo da impressão, conectados pela gravura e suas hibridas formas de linguagem. A conexão do passado, objeto desse plano de estudos, com a investigação acerca da contemporaneidade da imagem, faz desta pesquisa um diálogo que permitirá refletir sobre quem somos como artistas no meio de hoje, e como fomos construídos pelo meio social e político no passado. 6.METODOLOGIA A pesquisa sobre arte, como nos coloca Cattani é aquela que envolve a análise das obras, reunindo a história da arte, a crítica de arte, as teorias da arte e ainda, conceitos de outras áreas do saber (2002). No caso temos como fonte e objeto de estudo a obra do artista Rubem Grilo, especificamente sua colaboração ao jornal Movimento. A História da Arte, a História do Brasil e as Teorias Políticas serão acessadas para cercar com propriedade o problema da pesquisa. Sendo construída apenas por uma investigação teórica a pesquisa será focada em alguns aspectos de base da mesma. (1) A análise inicial do contexto histórico na qual a pesquisa se desenvolve (2) O estudo da relação de tal contexto e como este afeta a produção artística e cultural da época (3) Levantamento de teoria e material bibliográfico sobre a produção cultural do período em questão (4) Produção de arquivo ao material impresso do Jornal Movimento do período colocado

(5) Levantamento da produção de Rubem Grilo no recorte temporal (6) Elaboração de uma análise geral ao conjunto de obras resultantes da pesquisa de arquivo do artista no contexto do seu tempo e papel de produtor de material político com a imagem. O papel do artista nesta investigação vai além de ser um pesquisador, é colocar em seu trabalho o entendimento ao passado junto ao contexto analisado. A pesquisa teórica aqui abrange não apenas a produção da escrita, mas também o trabalho de buscar as imagens em questão para serem analisadas em seu conjunto. 7.LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO BENJAMIN, Walter. A Obra de arte na época de suas técnicas de reprodução in Textos Escolhidos ( Os Pensadores ) São paulo : Abril Cultural, 1983. BRITES, B e TESSLER, E. (Orgs.) O meio como ponto zero. Metodologia da pesquisa em artes plásticas. Porto Alegre: Ed. Universidade / UFRGS, 2002. (Coleção Visualidade). COCCHIARALE, F.; GRILO, R. Impressões: panorama da xilogravura brasileira. Porto Alegre: Santander Cultural, 2004. FAJARDO, Elias. Gravura / Elias Fajardo, Felipe Sussekind, Marcio do Vale. Rio de Janeiro : Ed. SENAC, 1999 HABERT, Nadine. A década de 70 : apogeu e crise da ditadura militar brasileira. São Paulo: Ática, 1994. KOSSOVITCH, L. et al. Gravura Arte Brasileira do século XX. Cosac & Naify / Itaú Cultural. São Paulo, 2000. MARTINS, Itajahy. Gravura, arte e técnica. São Paulo : Laser print / Fundação Nestlé, 1987 RANCIÈRE, Jacques. Estética e Política. A partilha do sensível. ( entrevista e glossário por Gabriel Rockhill; tradução Vanessa Brito). Porto: Dafne Editora, 2010.. O espectador emancipado ( tradução José Miranda Justo) Lisboa: Orfeu Negro, 2010. SCLIAR, Carlos. Os clubes de Gravura do Brasil. São Paulo: Pinacoteca do Estado Secretaria de Estado da Cultura São Paulo, 1994 ( catálogo de exposição)

WANNER, Maria Celeste A. (org.) Artes Visuais pesquisa hoje. Salvador / BA : Mestrado em Artes UFBA (Anais do II Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Visuais), 2001 8. REFERÊNCIAS AMARAL, A. A experiência dos Clubes de Gravura in Arte para quê? São Paulo: Nobel, 1984 pp.175-195 CATTANI, Iclea Borsa. Arte contemporânea: o lugar da pesquisa in BRITES, B e TESSLER, E. (Orgs.) O meio como ponto zero. Metodologia da pesquisa em artes plásticas. Porto Alegre: Ed. Universidade / UFRGS, 2002. (Coleção Visualidade). CHALMERS, Vera Maria. Palavra Cortante ; Palavra Cortada. Disponível em: <http://www.celpcyro.org.br/joomla/index.php?option=com_content&view=article&itemid=8 7&id=914>. Acesso em: 16 set. 2016. COSTA, Marcus de Lontra. Poética da Resistência - Aspectos da Gravura Brasileira. São Paulo : Galeria Sesi / Coleção Gilberto Chateaubriand, 1994 ( catálogo) COSTELLA, Antonio F.. Breve História da xilogravura ilustrada. Campos do Jordão: Mantiqueira, 2003. KUCINSKI, Bernado. Jornalistas e Revolucionários: nos tempos da imprensa alternativa. São Paulo: Edusp, 2003. CAYSES, Julia Buenaventura Valencia de. Isto não é uma obra: Arte e ditadura. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0103-40142014000100011&lng=pt&nrm=iso&tlng=en>. Acesso em: 16 set. 2016.

8.CRONOGRAMA Resumo das etapas e trabalhos que serão realizados durante a pesquisa de 01 de março de 2017 a fevereiro 2018: - estudo sobre métodos e processos da pesquisa em arte e das normas do trabalho científico - Levantamento de base teórica sobre arte e política e sobre a produção de Rubem Grilo nesse campo - Levantamento de base teórica a respeito de gravura; xilogravura e os clubes de gravura no Brasil 3º. 4º. 5º. 6º. 7º. 8º. 9º. 10º. 11º. 12º. 1º. 2º. x x x x x x x x x - Levantamento das fontes das imagens. Ilustrações de Rubem Grilo no Jornal Movimento. - Estudo de sistema de organização das imagens selecionadas: arquivo -Elaboração de relatórios parciais informando os avanços na pesquisa; -Elaboração do relatório final x x x x x x x x x x x x x x x x x x