Medidas de Combate às Perdas de Água 2 As perdas de água em sistemas de abastecimento podem ser classificadas em físicas e não físicas. A classificação pelo tipo de perda facilita a identificação da medida mais adequada para seu combate. É importante que se conheça, ao menos de forma estimada, o impacto de cada perda no contexto geral, pois isso facilita na priorização dessas medidas. As perdas físicas decorrem de vazamentos, provocados por deficiências nos equipamentos, envelhecimento das tubulações e conexões, operação e manutenção inadequadas de todo o sistema. Por sua vez, as perdas não físicas, ou comerciais, decorrem de falhas nos equipamentos de medição (macro e micromedidores), erros no cadastro e fraudes nas ligações (GOMES, 2005). As ações de redução e controle de perdas não podem constituir um programa com tempo de duração limitado, mas devem ser incorporadas a um processo contínuo e permanente, passando a fazer parte da cultura da entidade operadora. Considera-se como perda física toda água que é subtraída do sistema e que não é consumida pelo cliente final. As perdas físicas no sistema de distribuição são, como regra, as de maior magnitude e as de identificação e solução mais complexas. 1
Em geral, o controle de perdas físicas é feito por meio de quatro ações complementares: gerenciamento de pressão; controle ativo de vazamentos; velocidade e qualidade dos reparos; e gerenciamento da infraestrutura. As perdas não físicas apresentam um leque de variação bastante amplo. É considerado o conceito de águas produzidas e consumidas, porém não revertidas em faturamento, englobando, inclusive, os erros de macromedição que geram outro tipo de problema: águas não produzidas porém computadas como tal. Com esta conceituação as perdas não físicas podem ser decompostas nas seguintes causas: ligações clandestinas/irregulares; ausência de micromedição; deficiências da micromedição; gerenciamento ineficiente de consumidores. As perdas não físicas podem ser significativas, dependendo de procedimentos cadastrais, de faturamento, de manutenção preventiva e adequação de hidrômetros e de monitoramento do sistema. Em geral as perdas não físicas são causadas por ligações clandestinas ou irregulares, ligações não hidrometradas, hidrômetros parados, hidrômetros que submedem, ligações inativas reabertas, erro de leitura, número de economias errado (CONEJO, LOPES, MARCKA, 1999). As perdas físicas visíveis, como o próprio nome evidencia, são aquelas que podem ser identificadas visualmente, pois as fugas de água afloram para a superfície do terreno por percolação pelo solo e pelo pavimento ou através dos dispositivos da rede. Esse tipo de perda é facilmente identificado quando ocorre em áreas de trânsito de pessoas, que em geral alertam sobre a ocorrência. As perdas físicas visíveis tornam-se mais críticas quando ocorrem em áreas isoladas com pouco trânsito de pessoas e, devido à baixa vazão do vazamento, não chegam a alterar significativamente a pressão da rede. Nesses casos, a constatação do vazamento demora mais e, consequentemente, o volume de perda de água torna-se significativo. 2
As perdas físicas não visíveis são de mais difícil detecção, sendo necessário, na maioria dos casos o uso de equipamentos específicos como os geofones mecânicos e eletrônicos, as hastes de escuta e os correlacionadores de ruídos. A avaliação das vazões das perdas físicas poderá ser efetuada diretamente ou pelo método das vazões mínimas noturnas. A vazão mínima noturna é outro indicador da ocorrência de vazamentos no sistema, pois a proporção dos vazamentos em relação ao consumo legítimo (residenciais e não residenciais) é maior. Ela geralmente ocorre no período entre 3h e 4h da madrugada. A perda noturna é calculada pela diferença entre o valor obtido pela medição da vazão mínima noturna e o valor devido ao consumo noturno e as perdas inerentes. As perdas por vazamento na rede de distribuição são todas aquelas que têm origem em rompimentos nas tubulações. São mais expressivas nas adutoras e subadutoras (tubulações principais), pois são elas que transportam as maiores vazões. A manutenção em redes muitas vezes requer seu esvaziamento, que é realizado através de descargas de rede. Os volumes das descargas são inerentes à manutenção da rede e somente podem ser considerados como perdas caso sejam excessivos e/ou desnecessários. Vazamentos que ocorrem em adutoras e subadutoras costumam gerar fluxos elevados, o que permite, na grande maioria dos casos, que sejam rapidamente detectados e eliminados. O combate a esse tipo de perda de água em redes de abastecimento pode ser realizado por meio de: manutenção preventiva da rede; adoção de procedimentos operacionais padronizados adequadamente; treinamento de pessoal para realização de manobras adequadas nas redes de abastecimento. A figura a seguir resume os principais tipos de perda por vazamento e as principais ações para o controle e redução das fugas de água. Unidade 2 3
Figura 1 Pontos de vazamento em redes de distribuição e ações para combate Fonte: Gomes et al. (2007) Setorização de redes de abastecimento Uma maneira de facilitar o controle de pressão nas tubulações é a setorização das redes de abastecimento em áreas com pressões situadas em faixas próximas. Para isso, é necessário um mapeamento da pressão na rede a fim de identificar os limites das áreas com diferentes faixas de pressão. Um setor pode ser totalmente abastecido por apenas um reservatório, desde que esse reservatório se encontre em cota piezométrica superior a 10 metros acima da cota mais elevada da área, de modo a garantir uma pressão mínima de 10 mca, estabelecida por norma. Em geral, um setor de abastecimento é definido por delimitações topográficas do terreno. Macromedição e micromedição De acordo com o PNCDA DTA C1 (CONEJO, LOPES, MARCKA, 1999), o conceito básico de macromedição compreende a correta avaliação dos volumes produzidos e dos volumes entregues a setores de abastecimento ou subsetores, quando se trata de sistemas de maior porte. Dessa maneira, é possível o controle das perdas por regiões individualizadas. 4
Segundo a Agência Nacional de Águas ANA (2010), a macromedição consiste na técnica de medição de grandes vazões e de volumes de água aportados. Pode ser empregada na verificação da conformidade das instalações de cada usuário de água e permite, ainda, a confrontação do volume medido por micromedidores de usuários com o volume medido em campo por um macromedidor, entre outras aplicações. Um adequado sistema de macromedição é obtido por meio de um correto projeto de localização dos macromedidores, com a precisa especificação dos elementos primários e secundários (componentes do medidor) e dos dispositivos e meios de calibração. A correta obtenção de dados de campo e sua consolidação em relatórios gerenciais para a formatação do sistema de informações gerenciais complementa o processo para a adequada manutenção preventiva e corretiva dos macromedidores. Por micromedição entende-se a medição realizada no ponto de entrada de abastecimento de um usuário. Normalmente, a micromedição é feita por meio de hidrômetros instalados nos ramais de entrada das edificações. Diagnóstico do parque de hidrômetros Para iniciar a gestão de um parque de hidrômetros, uma das primeiras ações a realizar é o seu diagnóstico, que fornecerá informações seguras qualitativa e quantitativamente, para a recomendação de ajustes nos procedimentos. Na estimativa das perdas de água ocorridas em função de problemas relacionados à micromedição, todos os parâmetros que podem contribuir para sua ocorrência devem ser analisados. Destaca-se para o diagnóstico a importância da verificação do índice de cobertura de micromedição, o tempo de uso e as condições de funcionamento dos hidrômetros instalados. Os hidrômetros destinados à medição de volume de água fria são regulamentados pelo Regulamento Técnico Metrológico aprovado pela portaria do Inmetro nº 246, de 17 de outubro de 2000. Segundo a portaria, os hidrômetros devem ser verificados quanto à precisão na medição em intervalos não superiores a cinco anos. Existem muitos estudos que mostram a ocorrência de perda significativa na medição registrada por um hidrômetro em uso por um tempo bem maior que aquele estipulado pela Portaria nº 246. Unidade 2 5
O diagnóstico deve avaliar também as condições de instalação dos hidrômetros, que deve seguir as recomendações do fabricante do equipamento, e, ainda,a compatibilidade da classe de vazão dos hidrômetros com o padrão de consumo que estão atendendo. Sistematizadas, as informações obtidas em campo, considerando-se as recomendações técnicas, fornecerão as informações necessárias para um adequado plano de ação no parque de medidores. Para mais informações sobre esse assunto, consulte o material completo disponível em PDF. 6