TURMA ESPECIAL TÉCNICA DE SENTENÇA



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Transcrição:

TURMA ESPECIAL TÉCNICA DE SENTENÇA SENTENÇA CRIMINAL Prof. Valéria Caldi Questão proposta Em meados de janeiro de 2013, o serviço do DISQUE DENÚNCIA recebeu denúncia anônima noticiando a existência de um grande esquema de corrupção de agentes penitenciários da Penitenciária Lemos de Brito que, mediante o pagamento de propinas, autorizava o ingresso na penitenciária de drogas e aparelhos celulares através dos familiares dos presos. A denúncia indicava, ainda, os nomes dos agentes que compunham uma determinada equipe de plantão, a saber ALAN e JOVILSON. Encaminhada a denúncia à autoridade policial, foram realizadas investigações preliminares que atestaram o que segue: i) realmente ALAN e JOVILSON eram agentes penitenciários lotados no referido presídio e compunham, há mais de 6 anos, a mesma equipe plantonista; ii) o livro de ocorrências do Presídio indicava a apreensão de drogas e aparelhos, no ano de 2012, em quantidade muito superior à dos demais presídios do complexo penitenciário; iii) todas as apreensões haviam sido realizadas pelas duas outras equipes plantonistas, não havendo nenhum registro de revista feita pelos referidos agentes que tenha resultado em apreensão de material ilícito. Com base em tais informações, foi instaurado Inquérito Policial e, em seguida, o Ministério Público requereu judicialmente a adoção de algumas medidas cautelares: i) quebra de sigilo fiscal e bancário de ALAN e JOVILSON; ii) interceptação telefônica dos referidos investigados. As medidas foram deferidas de forma fundamentada. Não foi apurada nenhuma movimentação financeira anormal por parte de ALAN. Entretanto, a quebra dos sigilos bancário e fiscal de JOVILSON demonstrou que ele é proprietário de uma fazenda no Mato Grosso do Sul, reside em apartamento luxuoso no Recreio dos Bandeirantes e mantém aplicações financeiras da ordem de R$ 800.000,00 (oitocentos mil reais) em diversos bancos. Nas interceptações telefônicas, foram gravados diversos diálogos entre ALAN e JOVILSON, nos quais tratavam, supostamente, do ingresso em sua fazenda de mercadorias como camisetas, broches, abacaxis, meteoritos e tapa orelhas. Apurou-se no inquérito que ALAN e JOVILSON não eram sócios de nenhuma empresa e que nos dias de plantão trabalhavam por 12(doze) horas seguidas. E que, na verdade, ALAN e JOVILSON aceitaram promessa de vantagem do preso CLAUDERSON VAZ DA SILVA, que cumpre pena de 10(dez) anos e 10(dez) meses de reclusão pela prática de crime de roubo praticado no ano de 2012, para que eles deixassem ingressar no presídio certa quantidade de droga e um aparelho celular. A mando de CLAUDERSON sua esposa seria a portadora destes materiais. No dia 19/02/2013, ALAN e JOVILSON travaram um diálogo no qual ALAN afirmou que estava com febre e não poderia trabalhar no dia seguinte, mas que JOVILSON estivesse atento pois iriam chegar duas encomendas muito importantes na fazenda : um tapa orelha e dois meteoritos. E que o preço acordado com o fornecedor foi de R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais). ALAN advertiu o comparsa: não esquece da nota fiscal. Segundo os analistas policiais, ALAN e JOVILSON estavam falando em códigos, referindo-se ao material ilícito que deixariam entrar no presídio e ao dinheiro que receberiam em troca. No dia 20/02/2013, por volta das 08 horas da manhã, MARIA JOSEFINA DA SILVA SANTOS, compareceu para visitar seu marido, o preso CLAUDERSON VAZ DA SILVA, levando consigo um aparelho celular sem chip e duas pedras de crack, ambos escondidos em sua genitália. JOVILSON providenciou para que ela fosse excluída dos procedimentos rotineiros de revista e permitiu que ela ingressasse diretamente com os bens para se encontrar com CLAUDERSON.

Ocorre que a equipe da Corregedoria, ciente das informações colhidas na interceptação telefônica, monitorava toda a ação e, assim que MARIA JOSEFINA entregou disfarçadamente o material ao marido, ambos foram abordados. Ato contínuo, a equipe procedeu à revista pessoal de CLAUDERSON tendo encontrado em sua bermuda os seguintes itens: i) outro aparelho de telefone celular com chip, porém descarregado e em péssimo estado; ii) 52(cinquenta e dois) papelotes de cocaína. Prosseguindo na diligência, dirigiram-se à cela de CLAUDERSON para uma vistoria extraordinária e, na sua presença, encontraram embaixo do colchão de CLAUDERSON mais uma certa quantidade de maconha e a quantia de R$ 4.987,00 (quatro mil, novecentos e oitenta e sete reais) em moedas de baixo valor. Desta quantia, R$ 3.500,00 estavam separados, presos por um elástico e envoltos em um plástico transparente. Na ocasião, o preso confirmou que o material que guardava lhe pertencia mas se negou a informar como ele teria ingressado no presídio. Quanto ao dinheiro, afirmou que se tratava de economias que sua mulher lhe levava para a aquisição de benefícios no presídio. Todo o material foi arrecadado, lavrando-se o auto de prisão em flagrante de MARIA JOSEFINA, CLAUDERSON e JOVILSON. ALAN não foi preso pois permaneceu hospitalizado por cerca de 15 dias a partir desta data. Em razão dos fatos, que tiveram grande repercussão na mídia, o Diretor do Presídio foi exonerado e as visitas a todos os presos foram suspensas por 10(dez) dias, para que se adotassem novas medidas de segurança. Os laudos periciais definitivos atestaram que as substâncias eram realmente cocaína (138 gramas), crack (8 gramas) e maconha (151 gramas). O Ministério Público ofereceu denúncia contra os investigados nos seguintes termos: Em data imprecisa, mas seguramente anterior ao dia 19 de abril de 2013, CLAUDERSON VAZ DA SILVA, nascido em 03/01/1982, atualmente cumprindo pena por crime de roubo na penitenciária Lemos de Brito na cela 10 da Ala 01, ofereceu a quantia de R$ 3.500,00 para que os agentes penitenciários ALAN PIERRE MACEDO, matrícula SEAP 123456, nascido em 10/09/1972, e JOVILSON AMÉRICO DANTAS, matrícula SEAP 012345, nascido em 20/02/1991, fizessem vista grossa e ali permitissem o ingresso de 2 pedras de crack e um aparelho de telefone celular em seu favor. ALAN e JOVILSON anuíram com a oferta e combinaram, via telefone, no dia 19 de abril de 2013, que JOVILSON providenciaria o ingresso da esposa de CLAUDERSON, MARIA JOSEFINA DA SILVA SANTOS, do lar, nascida em 21/03/1994. CLAUDERSON ordenou que MARIA JOSEFINA trouxesse ao presídio, durante a visita regular, as duas pedras de crack (8 gr) e o aparelho celular, o que ela de fato fez. No dia 20 de abril de 2013, por volta de 11 horas, MARIA JOSEFINA ingressou no presídio portando a droga e o aparelho celular e JOVILSON, que se fazia presente, violando seu dever de ofício de vedar o acesso de presos a bens desta natureza, providenciou para que ela fosse excluída dos procedimentos de revista pessoal, permitindo que ela se dirigisse diretamente ao encontro de CLAUDERSON para lhe entregar os materiais. Porém, no momento em que ela entregava a CLAUDERSON a droga e o celular, ambos foram abordados. No mesmo dia, constatou-se que CLAUDERSON tinha em sua guarda 52 papelotes de cocaína (138 gramas) e maconha (151 gramas), escondidas respectivamente em sua bermuda e debaixo do seu colchão. Além disso, tinha reservado junto aos seus pertences o dinheiro para o pagamento da

propina prometida a JOVILSON e ALAN, o que só não ocorreu em razão de suas prisões em flagrante. CLAUDERSON fizera ingressar, anteriormente, no presídio, um outro aparelho celular que também estava na sua posse no dia dos fatos. Assim agindo, os réus praticaram crimes que são capitulados da seguinte forma: i) ALAN PIERRE artigo 317, 1º, artigo 349-A, ambos do Código Penal, e artigo 33 c\c 40, II e III da Lei 11.343/06 c/c artigo 61, II, g do Código Penal. ii) JOVILSON - artigo 317, 1º, artigo 349-A, ambos do Código Penal, e artigo 33 c\c 40, II e III da Lei 11.343/06, c/c artigo 61, II, g do Código Penal. iii) MARIA JOSEFINA artigo 333, parágrafo único, artigo 349-A do Código Penal e artigo 33 c/c 40, III da Lei 11.343/06 iv) CLAUDERSON artigo 333, parágrafo único, artigo 349-A do Código Penal (2 vezes) e artigo 33 c/c 40, III da Lei 11.343/06 A denúncia foi recebida em 28/02/2013 e os réus regularmente processados. Na audiência de instrução, foram inquiridas testemunhas do fato agentes penitenciários presentes no dia da prisão e membros da Corregedoria que confirmaram toda a dinâmica dos fatos e testemunhas da defesa de JOSEFINA, confirmando as ameaças. Em seus interrogatórios, os réus exerceram o direito ao silêncio, menos MARIA JOSEFINA, que alegou ter sido ameaçada de morte por CLAUDERSON caso não realizasse o transporte da droga e do celular até o presídio. Comprovou que já apresentara pelo menos 04(quatro) queixas contra CLAUDERSON por agressão perante a Delegacia de Mulheres, juntando cópias das mesmas e dos respectivos laudos de exame de corpo de delito, atestando a ocorrência de lesões corporais gravíssimas. Finda a instrução, em alegações finais, o Ministério Público requereu a condenação dos acusados nos exatos termos da denúncia. Sobreveio a notícia de falecimento de ALAN. Ele fora assassinado na porta de casa. Juntou-se aos autos sua certidão de óbito original, da qual teve vista o Ministério Público. A defesa de JOVILSON alegou, preliminarmente, a nulidade da interceptação telefônica e de toda a prova dela decorrente, pois instaurada com base em denúncia anônima. Ainda quanto à interceptação, disse ser inválida a prova em relação a sua pessoa pois não foi realizada perícia de voz. No mérito, afirmou que não existem provas de qualquer ato de corrupção já que nunca aceitou promessa de vantagem ou recebeu qualquer quantia de CLAUDERSON. Disse, ainda, ter sido induzido em erro por ALAN, que lhe afirmou que MARIA JOSEFINA era uma prostituta conhecida sua e, naquele dia, compareceria para uma visita íntima ao preso CLAUDERSON, que estava causando muitos problemas para os agentes penitenciários da unidade e precisava se acalmar. Alegou desconhecer, por completo, que MARIA JOSEFINA entraria com drogas e celular no presídio. Postulou, assim, sua absolvição ou a desclassificação do crime para o de prevaricação. A defesa de CLAUDERSON requereu a desclassificação do crime de tráfico para o de uso compartilhado, já que, embora toda a droga estivesse em seu poder, ela se destinava ao consumo dos demais 17 detentos da cela. Sustentou, também, a tese de crime impossível pois não poderia jamais o réu traficar drogas dentro de uma instituição sujeita a tamanha vigilância como uma penitenciária. Quanto ao crime previsto no art. 349-A do CP, afirmou a impossibilidade de ser sujeito ativo do mesmo já que se encontrava dentro do presídio e ele se destina a punir o ingresso de celulares no ambiente penitenciário por pessoas que lhe são alheias. Sustentou, ainda, a insuficiência de provas do crime de corrupção.

A defesa de MARIA JOSEFINA, por fim, arguiu a inépcia da denúncia relativamente ao crime de corrupção, já que ela não descreve em nenhum momento sua participação na suposta promessa de vantagem feita por CLAUDERSON aos agentes penitenciários. No mérito, requereu sua absolvição do crime previsto no art. 349-A do CP pois o aparelho celular que levava não continha chip e, portanto, não oferecia risco ao bem jurídico protegido pela norma. Alegou, também, inexigibilidade de conduta diversa, ratificando que agiu a mando de seu marido e que estava sob séria e concreta ameaça a sua integridade física e até mesmo a sua vida. A JOVILSON e CLAUDERSON foi negada a liberdade provisória, convertendo-se suas prisões em flagrante em preventivas, para garantia da ordem pública. MARIA JOSEFINA obteve o direito de responder ao processo em liberdade, mediante o cumprimento de medidas cautelares substitutivas (comparecimento periódico em juízo e incomunicabilidade com CLAUDERSON), o que vem realizando regularmente. CLAUDERSON ostenta em sua FAC uma condenação transitada em julgado em 20.11.2012, pelo crime de roubo, encontrando-se preso desde 02.10.2012 por este fato, além de duas condenações definitivas com trânsito nos anos de 2000 e 2001, pelo crime de tráfico de drogas e lesão corporal grave, cujas penas foram cumpridas até o ano de 2006. JOVILSON não ostenta antecedentes criminais, mas já sofreu duas punições por faltas disciplinares, uma de suspensão por 90(noventa) dias e outra de advertência, ambas do ano de 2011, tudo devidamente documentado nos autos. MARIA JOSEFINA não ostenta antecedentes criminais. Com base nos dados acima, profira sentença, dispensado o relatório. ---x---