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A C Ó R D Ã O. Vistos, relatados e discutidos os autos.

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Transcrição:

Gabinete da Desa. Maria Iracema do Vale Holanda Agravo de Instrumento nº 17748-28.2008.8.06.0000/0 (2008.0023.5577-5/0) Agravantes: Gxxx Mxxx dxxxx Rxxx e Dxxx Mxxxx da Rxxx. Agravada: Lxxxx Mxxxx Rxxxxx Pxxxxx de Cxxxxxx. Relatora: Desa. Maria Iracema do Vale Holanda. EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO CIVIL. SUCESSÕES. DILIGÊNCIAS SOBRE ADMINISTRAÇÃO DO INVENTÁRIO. FIXAÇÃO DE ALUGUEL PARA O IMÓVEL INVENTARIADO. 1. A controvérsia dos presentes autos diz respeito a legitimidade dos agravantes, a realização de diligências sobre os bens do espólio e sobre a fixação de aluguel de bem utilizado pela inventariante para os demais herdeiros. 2. Com exceção da discussão sobre a alienação do veículo componente do espólio, que é ato típico de administração, as diligências requeridas visam somente a obtenção de informações necessárias à fiscalização do exercício das funções do inventariante e o exercício de direitos próprios dos demais herdeiros, não havendo ilegitimidade nestes pontos. 3. O pedido de diligências sobre declarações de imposto de renda, situação de contas bancárias, pagamento de precatórios e avaliação judicial de bens do espólio, mostra-se necessário para a fiscalização do bom desempenho das funções do inventariante, munindo os demais herdeiros com elementos que possam ensejar futura ação de remoção por eventual irregularidade na administração do espólio. 4. Como os herdeiros passam a ser co-titulares do patrimônio deixado pela falecida, nos termos do Art. 1.791 do CC/02, deve a

inventariante responder junto aos demais herdeiros pelos frutos que percebeu da coisa comum por ela utilizada. Desta maneira, com fim acautelatório, deve esta proceder o depósito mensal do valor de R$ 250,00 (duzentos e cinquenta reais) a título de aluguel do imóvel inventariado. - Agravo de instrumento conhecido e parcialmente provido. - Decisão reformada em parte. - Unânime. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos do Agravo de Instrumento nº 17748-28.2008.8.06.0000/0 (2008.0023.5577-5/0), contra decisão do Juízo da 5ª Vara de Sucessões da Comarca de Fortaleza, em que figuram as partes acima indicadas. Acorda a 4ª Câmara Cível do egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, por unanimidade, em conhecer e dar parcial provimento ao recurso, reformando em parte a decisão interlocutória agravada, nos termos do voto da Relatora. Fortaleza, de de 2010. PRESIDENTE E RELATORA PROCURADOR(A) RELATÓRIO Tratam os autos de agravo de instrumento com pedido de efeito suspensivo contra decisão proferida pelo Juízo da 5ª Vara de Sucessões da Comarca de Fortaleza que deixou de apreciar os pedidos feitos pelos herdeiros à inventariante sob o argumento de falta de

legitimidade para tanto. O caso/ a ação originária: Lenise Maria Rosa Pessoa de Carvalho ingressou com ação de abertura de inventário em virtude do falecimento de Circe Palma da Rosa (Processo Originário nº 2007.0013.4854-8). Geórgia Moura da Rosa e Davi Moura da Rosa apresentaram Impugnação às Primeiras Declarações, fazendo os seguintes requerimentos: a) determinar a expedição de ofício à Receita Federal, solicitando cópia completa das declarações de IRPF apresentadas pela inventariante (CPF n.º 382.682.803-87), referentes aos exercícios dos últimos cinco anos (2003 a 2007); b) determinar a expedição de ofício ao Banco Bradesco S/A e Banco do Brasil S/A, solicitando extrato detalhado de toda a movimentação bancária realizada desde junho de 2006 até a presente data, nas contas-corrente e poupança existentes em nome da autora da herança, informando, ainda, o saldo atualizado; c) requisitar ao Banco Central do Brasil que informe os números de todas as contas-correntes e poupança existentes em nome da inventariante; d) determinar seja expedido ofício ao Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, solicitando informações acerca de eventual pagamento do precatório n. 2005.0003.0711-6, bem como a abstenção de qualquer liberação em favor do advogado com poderes para os valores consignados no título judicial; e) determinar seja procedida a avaliação judicial dos bens do espólio, por intermédio de Oficial de Justiça, a fim de apurar o exato valor do monte partível, além de permitir o cálculo do ITCD a ser recolhido aos cofres públicos. Requer, ainda, especial prioridade

para a venda imediata do veículo, tendo em vista estar sujeito a deterioração pelo uso contínuo; f) estipular aluguel para o imóvel inventariado, enquanto não se lhe der destino definitivo, no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais), devendo a metade de tal importância ser revertida em benefício dos herdeiros peticionantes, tudo retroativo ao mês de julho de 2006. A decisão agravada: o Juízo da 5ª Vara de Sucessões da Comarca de Fortaleza não apreciou as diligências requeridas pelos herdeiros (fl. 34). Transcrevo trecho da decisão no que interessa: "Ante a falta de legitimidade para requerer diligências, deixo de apreciar os pedidos feitos pelos herdeiros às fls. 50/52, já que incumbe apenas à inventariante a administração e a representação judicial do espólio, sob pena de tumulto processual. Caso haja insatisfação quanto ao exercício da inventariança, caberá aos mesmos que ajuízem oportunamente o incidente cabível em autos apensos, no qual deverá restar sobejamente comprovada as alegadas negligências e ocultação de bens." O objeto do agravo: reformar a decisão a quo, atribuindo efeito suspensivo ao agravo (CPC, Art. 527, inc. III), face a irreversibilidade da situação a correr contra os Agravantes. É o breve relato. Decido. FUNDAMENTAÇÃO A controvérsia a ser dirimida neste agravo gira em torno de três pontos centrais: 1) a legitimidade dos agravantes; 2) a realização de diligências sobre os bens do espólio; e 3) a fixação de aluguel para o imóvel inventariado. Passemos a analisar separadamente cada um deles.

01. Da legitimidade dos agravantes. Conforme se depreende do Art. 1.784 do CC/02, o evento morte implica a abertura da sucessão e a transferência dos bens deixados pelo de cujus aos herdeiros legítimos e testamentários. Portanto, a partir deste momento, todos os herdeiros passam a ser condôminos dos bens do espólio (Art. 1.791, CC/02), possuindo, nesta condição, indubitável interesse na sua conservação. Todavia, com o intuito de evitar conflitos de interesses entre os mesmos, o ordenamento jurídico atribuiu a administração de tais bens ao inventariante, estabelecendo o Código Civil em seu Art. 1.991 que "Desde a assinatura do compromisso até a homologação da partilha, a administração da herança será exercida pelo inventariante". Por tal motivo, o magistrado está correto ao afirmar, na decisão agravada (fl. 34), "que incumbe apenas à inventariante a administração e representação judicial do espólio" e declarar a ilegitimidade dos demais herdeiros para discutir tais atos. Porém, nem todos os pedidos feitos pelos recorrentes dizem respeitos a atos típicos de administração. O único requerimento que se enquadra perfeitamente dentre aqueles que são de competência exclusiva da inventariante é o de alienação do veículo que compõe o espólio. Por esta razão, neste ponto não cabe interferência dos co-herdeiros, estando correto o magistrado a quo ao declarar a ilegitimidade deles. Não obstante, os demais pedidos dos recorrentes não tratam de atos de administração, mas de fiscalização e de exercício de direito próprio, devendo, por este motivo, serem analisados. 02. Da realização de diligências para tomar conhecimento dos

bens inventariados e da situação atual destes. Como visto no relatório, os agravantes pretendem: ter acesso às declarações de imposto de renda da falecida; tomar conhecimento da existência e situação de contas bancárias em nome da de cujus e do eventual pagamento de precatórios; e que seja realizada a avaliação judicial dos bens do espólio. Tais diligências visam somente a obtenção de informações necessárias à fiscalização da atividade administrativa exercida pela inventariante, não invadindo a seara de atribuições exclusivas desta. Somente através de tais informações é possível identificar irregularidades nos atos da inventariante e, eventualmente, requerer sua remoção. Isto fica claro, por exemplo, pela análise dos incs. III e VI do Art. 995 do CPC, que prevê hipóteses de danos aos bens do espólio, que somente podem ser efetivados mediante o pleno conhecimento dos referidos bens: "Art. 995. O inventariante será removido: (...) III - se, por culpa sua, se deteriorarem, forem dilapidados ou sofrerem dano bens do espólio; (...) Vl - se sonegar, ocultar ou desviar bens do espólio; (...)" Por tais razões, quanto às referidas diligências requeridas na petição de fls. 64/74, não há ilegitimidade dos herdeiros agravantes. Tais medidas mostram-se necessárias para a fiscalização do bom desempenho das funções do inventariante, munindo-se com elementos que possam ensejar futura ação de remoção por eventual irregularidade

na administração do espólio. 03. Da fixação de aluguel para imóvel inventariado. Passemos a analisar o pedido de fixação de aluguéis sobre o imóvel inventariado, em razão do seu uso exclusivo pela inventariante. De início, cumpre lembrar que os herdeiros passam a ser cotitulares do patrimônio deixado pela falecida. Assim, devem ser observadas as mesmas regras relativas ao condomínio, o que, inclusive, está expressamente estabelecido no Art. 1.791 do CC/02. Ou seja, como no condomínio tradicional, cada consorte responde aos outros pelos frutos que percebeu da coisa comum. O Código Civil aborda a matéria de maneira específica, prevendo em seu Art. 2.020 que o inventariante tem o dever de trazer ao acervo do inventário os frutos dos bens que estejam em sua posse. Confira-se o teor da norma citada: "Art. 2.020. Os herdeiros em posse dos bens da herança, o cônjuge sobrevivente e o inventariante são obrigados a trazer ao acervo os frutos que perceberam, desde a abertura da sucessão; têm direito ao reembolso das despesas necessárias e úteis que fizeram, e respondem pelo dano a que, por dolo ou culpa, deram causa". Os ensinamentos de Mauro Antonni afastam qualquer dúvida sobre a interpretação do Art. 2.020 (in Código Civil Comentado. São Paulo: Manole, 2008, p. 2129), in verbis: "Aquele que, da abertura da sucessão até a partilha, exercer a posse direta sobre os bens da herança, fica obrigado a trazer ao acervo hereditário os frutos (cf. art. 95) produzidos e percebidos desses bens, pois, desde a abertura da sucessão, os frutos pertencem a todos os herdeiros, assim como ao legatário pertencem os frutos da

coisa certa que lhe é legada, salvo se o testador dispor diversamente sobre isso (cf. comentário ao art. 1.923, 2º)". Da leitura dos comentários doutrinários acima transcritos, constata-se que os herdeiros possuem o direito a perceber o percentual correspondente aos frutos de seu quinhão hereditário, na condição de co-proprietários do imóvel. Como não existe avaliação judicial do imóvel, deve o depósito ser realizado em metade do valor alegado pelos recorrentes, como forma de evitar prejuízo para ambas as partes. Nada impede que, em momento posterior, de posse do valor real, o magistrado a quo reajuste tal valor de acordo com a quota parte de cada um dos herdeiros. Importante analisar qual o termo inicial para o pagamento dos aluguéis pretéritos. Neste aspecto, parece mais razoável o posicionamento que indica como momento do surgimento da obrigação do inventariante a data em que os herdeiros manifestaram de maneira expressa seu interesse nos referidos frutos. O Superior Tribunal de Justiça vem decidindo no mesmo sentido, como pode ser observado no excerto jurisprudencial a seguir transcrito: "DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. COBRANÇA DE ALUGUEL. HERDEIROS. UTILIZAÇÃO EXCLUSIVA DO IMÓVEL. OPOSIÇÃO NECESSÁRIA. TERMO INICIAL. - Aquele que ocupa exclusivamente imóvel deixado pelo falecido deverá pagar aos demais herdeiros valores a título de aluguel proporcional, quando demonstrada oposição à sua ocupação exclusiva. - Nesta hipótese, o termo inicial para o pagamento dos valores deve coincidir com a efetiva oposição, judicial ou extrajudicial, dos demais herdeiros. Recurso especial parcialmente conhecido e provido". (REsp 570.723/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/03/2007, DJ 20/08/2007 p.

268) No presente caso, o referido termo inicial pode ser observado pela apresentação da petição de fls. 64/74. Deve-se assim considerar a data de sua juntada (fl. 63v), qual seja 25 de setembro de 2007. Não há dúvida de que a postergação da garantia de tais valores pode dificultar ou mesmo inviabilizar a futura efetivação do pagamento das parcelas pretéritas. Não obstante presentes os requisitos autorizadores da antecipação dos efeitos da tutela recursal, neste ponto, como as provas constantes dos autos deste agravo de instrumento não permitem que se tenha certeza que a inventariante esteja utilizando o imóvel para uso pessoal, ou que este esteja sendo alugado, mostra-se mais prudente a adoção de uma medida acautelatória, qual seja o depósito judicial dos valores. Deste modo, evita-se danos aos agravantes e à agravada. DISPOSITIVO Diante do exposto, CONHEÇO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO E DOU-LHE PARCIAL PROVIMENTO, reformando em parte a decisão agravada, para o fim específico de reconhecer a legitimidade dos co-herdeiros para pleitos de fiscalização e determinar: 1) à inventariante o depósito mensal do valor de R$ 250,00 (duzentos e cinqüenta reais), inclusive das parcelas pretéritas a contar da data de 25 de setembro de 2007, em conta aberta especificamente para este fim, referente ao percentual que caberia aos agravantes dos frutos advindos do imóvel inventariado e 2) a expedição de ofício: a) à Receita Federal, solicitando cópia completa das declarações de IRPF apresentadas pela inventariante (CPF n.º 382.682.803-87), referentes aos exercícios dos

últimos cinco anos (2003 a 2007); b) ao Banco Bradesco S/A e Banco do Brasil S/A, solicitando extrato detalhado de toda a movimentação bancária realizada desde junho de 2006 até a presente data, nas contas-corrente e poupança existentes em nome da autora da herança, informando, ainda, o saldo atualizado; c) ao Banco Central do Brasil para que informe os números de todas as contas-correntes e poupança existentes em nome da inventariante; d) ao Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, solicitando informações acerca de eventual pagamento do precatório n. 2005.0003.0711-6, bem como a abstenção de qualquer liberação em favor do advogado com poderes para os valores consignados no título judicial. É como voto. Fortaleza, de de 2010. DESEMBARGADORA MARIA IRACEMA DO VALE HOLANDA