MODERNIZAÇÃO E CULTURA POLÍTICA NOS CICLOS DE ESTUDOS DA ADESG EM SANTA CATARINA (1970-75) Michel Goulart da Silva 1



Documentos relacionados
Os Direitos Humanos no debate parlamentar da Câmara dos Deputados nos anos da ditadura militar ( )

COMUNICAÇÃO SOCIAL E SEGURANÇA NACIONAL: O LUGAR DA COMUNICAÇÃO DE MASSA NO PROJETO DA ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG)

HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO II

RAÇA E EDUCAÇÃO: PERFIL DOS CANDIDATOS COTISTAS AUTONOMEADOS NEGROS DE ESCOLA PÚBLICA DO PROGRAMA

DITADURA, EDUCAÇÃO E DISCIPLINA: REFLEXÕES SOBRE O LIVRO DIDÁTICO DE EDUCAÇÃO MORAL E CÍVICA

Avaliação externa como instrumento da gestão do sistema de ensino: a adesão e os impasses para a busca de melhoria na educação

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: ELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DE JOGOS DIDÁTICOS: UMA EXPERIÊNCIA EXTENSIONISTA NO MUNICÍPIO DE RESTINGA SÊCA/RS/Brasil

A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA À DISTÂNCIA SILVA, Diva Souza UNIVALE GT-19: Educação Matemática

INTERPRETANDO A GEOMETRIA DE RODAS DE UM CARRO: UMA EXPERIÊNCIA COM MODELAGEM MATEMÁTICA

POLÍTICA DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA DA ESCOLA DE APLICAÇÃO DA UFPA: REPERCUSSÕES OBSERVADAS NA ESTRUTURA CURRICULAR

Relato de experiência sobre uma formação continuada para nutricionistas da Rede Estadual de Ensino de Pernambuco

PRODUTO FINAL ASSOCIADA A DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

ANÁLISE DAS CATEGORIAS SUBVERSÃO E RESISTÊNCIA A PARTIR DA RELAÇÃO IGREJA- ESTADO DURANTE A DITADURA MILITAR NO BRASIL Camila da Silva Portela *

Educação Patrimonial Centro de Memória

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES E ENSINO DE MATEMÁTICA: UMA EXPERIÊNCIA EM GRUPO

ANÁLISE DAS MELHORIAS OCORRIDAS COM A IMPLANTAÇÃO DO SETOR DE GESTÃO DE PESSOAS NA NOVA ONDA EM ARACATI CE

PROFISSÃO PROFESSOR DE MATEMÁTICA: UM ESTUDO SOBRE O PERFIL DOS ALUNOS DO CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA UEPB MONTEIRO PB.

ANÁLISE DOS TRABALHOS DE CONCLUSÃO DO CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA: REFLEXÕES INICIAIS ACERCA DA PRODUÇÃO DE 2006 A 2014

A FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA E A REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO

LEITURA E ESCRITA NO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA PROPOSTA DE APRENDIZAGEM COM LUDICIDADE

APONTAMENTOS CRÍTICOS SOBRE ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE

O ENSINO DA DANÇA E DO RITMO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: UM RELATO DE EXPERIENCIA NA REDE ESTADUAL

UTILIZANDO O BARCO POP POP COMO UM EXPERIMENTO PROBLEMATIZADOR PARA O ENSINO DE FÍSICA

Três exemplos de sistematização de experiências

Palavras-chave: Metodologia da pesquisa. Produção Científica. Educação a Distância.

FORMAÇÃO CONTINUADA DO PROFESSOR DO ENSINO FUNDAMENTAL I PARA USO DAS TECNOLOGIAS: análise dos cursos EaD e da prática docente

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DOS PROFESSORES DE MATEMÁTICA DO ENSINO MÉDIO DA ESCOLA ORLANDO VENÂNCIO DOS SANTOS DO MUNICÍPIO DE CUITÉ-PB

OBSERVATORIUM: Revista Eletrônica de Geografia, v.3, n.9, p , abr

ENTRE A MEMÓRIA E O ESQUECIMENTO. estudos sobre os 50 anos do Golpe Civil-Militar no Brasil

O USO DO TANGRAM EM SALA DE AULA: DA EDUCAÇÃO INFANTIL AO ENSINO MÉDIO

FORMAÇÃO DE EXECUTIVOS NO BRASIL: UMA PROPOSTA

Pedagogia Estácio FAMAP

Relato de Grupo de Pesquisa: Pesquisa, Educação e Atuação Profissional em Turismo e Hospitalidade.

A EDUCAÇÃO DO JOVEM E ADULTO SEGUNDO A CONCEPÇÃO DE ALFABETIZAÇÃO FREIREANA

AS CONTRIBUIÇÕES DAS VÍDEO AULAS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO.

FORMANDO PEDAGOGOS PARA ENSINAR CIÊNCIAS NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

ATÉ QUANDO ESPERAR: DESLIZAMENTOS DE SENTIDOS ENTRE O RELIGIOSO E O DISCURSO CAPITALISTA

O QUE APORTAM E O QUE OCULTAM AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO ENSINO A DISTÂNCIA DA FURG: UM OLHAR SOBRE O CURSO DE PEDAGOGIA

A PRESERVAÇÃO DOS ARQUIVOS NO MUNICÍPIO DE PALMITAL (SP)

O PERMEAR HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO FÍSICA E SEUS DESAFIOS ATUAIS. MORAIS, Suzianne 1 VILLELA, Pollyana 2

Contando histórias, construindo o passado: memórias da Escola Politécnica da. Este trabalho é um dos resultados do projeto de pesquisa Organização e

definido, cujas características são condições para a expressão prática da actividade profissional (GIMENO SACRISTAN, 1995, p. 66).

A MODELAGEM MATEMÁTICA E A INTERNET MÓVEL. Palavras-chave: Modelagem Matemática; Educação de Jovens e Adultos (EJA); Internet móvel.

Autor(es) PAULA CRISTINA MARSON. Co-Autor(es) FERNANDA TORQUETTI WINGETER LIMA THAIS MELEGA TOMÉ. Orientador(es) LEDA R.

As contribuições do PRORROGAÇÃO na formação continuada dos professores da Rede Municipal de Educação de Goiânia.

Criação dos Conselhos Municipais de

POLÍTICA EDUCACIONAL: ELABORAÇÃO E CONTINUIDADE CORDEIRO, Mauro Soares USP GT-14: Sociologia da Educação

OBSERVATÓRIO DO TRABALHO DO RECIFE

Destes temas prioritários, apenas a Educação teve a Câmara temática instalada no mês de março, quando da realização do primeiro Pleno do CDES.

ESTUDO DOS FUNDAMENTOS PSICOLÓGICOS DO ENSINO NAS PRODUÇÕES ACADÊMICAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO: O CASO DA UNICAMP

Nome: nº. Recuperação Final de História Profª Patrícia

Arquivo Público do Estado de São Paulo Oficina O(s) uso(s) de documentos de arquivo na sala de aula

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM EDUCAÇÃO: HISTÓRIA, POLÍTICA, SOCIEDADE

A GESTÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS MUNICIPAIS: UMA ANÁLISE DAS PROPOSTAS PEDAGÓGICAS WIGGERS, Verena. UFSC/ PUC GT: Educação de Crianças de 0 a 6 anos /

TERMO DE REFERÊNCIA CONTRATAÇÃO DE CONSULTOR PESSOA FÍSICA MODALIDADE PRODUTO

2 METODOLOGIA DA PESQUISA

A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE MARCAS E PATENTES EM CURSOS DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO.

TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL. Profa. Maria Eunice Damasceno Pereira

EDUCAÇÃO NÃO FORMAL E MOVIMENTOS SOCIAIS - PRÁTICAS EDUCATIVAS NOS ESPAÇOS NÃO ESCOLARES

Palavras-chave: Creche. Gestão democrática. Projeto Político-Pedagógico.

A legitimação acadêmica do campo do jornalismo empresarial. Fonte: Suzi Garcia Hantke

Apresentação. Capítulo 3 Gramsci e o Serviço Social

Investigação sobre o uso do ambiente Moodle pelos professores de uma instituição de ensino superior pública

ENSINO E APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA ESCOLAR: (RE) CONSTRUINDO CAMINHOS PARA O DESENVOLVIMENTO DE ATITUDES POSITIVAS EM RELAÇÃO À GEOMETRIA

Apresentação. Cultura, Poder e Decisão na Empresa Familiar no Brasil

PROGRAMA DINHEIRO DIRETO NA ESCOLA: um estudo nas redes municipal de Porto Alegre e estadual do Rio Grande do Sul

TREINAMENTO SOBRE PRODUTOS PARA VENDEDORES DO VAREJO COMO ESTRATÉGIA PARA MAXIMIZAR AS VENDAS 1. Liane Beatriz Rotili 2, Adriane Fabrício 3.

Apresentação do Curso

CONCEPÇÕES DE TECNOLOGIA PARA PROFESSORAS, COORDENADORAS E DIRETORAS DE CINCO ESCOLAS PÚBLICAS DE PELOTAS

Composição dos PCN 1ª a 4ª

QUADRO DE EQUIVALENTES, CONTIDAS E SUBSTITUTAS DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

RESULTADOS E EFEITOS DO PRODOCÊNCIA PARA A FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES DO INSTITUTO FEDERAL DE ALAGOAS RESUMO

AS CONTRIBUIÇÕES DO SUJEITO PESQUISADOR NAS AULAS DE LEITURA: CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS ATRAVÉS DAS IMAGENS

BOLSA FAMÍLIA Relatório-SÍNTESE. 53

Considerações sobre o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência

OS CANAIS DE PARTICIPAÇÃO NA GESTÃO DEMOCRÁTICA DO ENSINO PÚBLICO PÓS LDB 9394/96: COLEGIADO ESCOLAR E PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

4. O Comunicador da Sustentabilidade

Organização Curricular e o ensino do currículo: um processo consensuado

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO 2º SEMESTRE DE 2015

JOGOS ELETRÔNICOS CONTRIBUINDO NO ENSINO APRENDIZAGEM DE CONCEITOS MATEMÁTICOS NAS SÉRIES INICIAIS

O USO DAS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS COMO FERRAMENTA DIDÁTICA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

A INCLUSÃO DOS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS EDUCATIVAS NAS SÉRIES INICIAIS SOB A VISÃO DO PROFESSOR.

Resultados parciais das oficinas

1 Introdução. Lei Nº , de 20 de dezembro de Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE PEDAGOGIA DA FESURV - UNIVERSIDADE DE RIO VERDE

Averiguar a importância do Marketing Ambiental numa organização cooperativista de agroindustrial de grande porte da região de Londrina.

ABORDAGENS E PERSPECTIVAS DO ENSINO DE FÍSICA NOS ANOS INICIAIS E FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

5 Conclusão. FIGURA 3 Dimensões relativas aos aspectos que inibem ou facilitam a manifestação do intraempreendedorismo. Fonte: Elaborada pelo autor.

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS ÀS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DO RECIFE/PE

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO SUPERIOR. UM PROJETO INTEGRADO DE INVESTIGAÇÃO ATRAVÉS DA METODOLOGIA DA PROBLEMATIZAÇÃO

EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMEÇA NA ESCOLA: COMO O LIXO VIRA BRINQUEDO NA REDE PÚBLICA EM JUAZEIRO DO NORTE, NO SEMIÁRIDO CEARENSE

A IMPORTANCIA DOS RECURSOS DIDÁTICOS NA AULA DE GEOGRAFIA

OS SABERES PROFISSIONAIS PARA O USO DE RECURSOS TECNOLÓGICOS NA ESCOLA

DESAFIOS DE UMA PRÁTICA INOVADORA DE EDUCAÇÃO DO CAMPO: REFLEXÃO SOBRE O CURSO TÉCNICO EM AGROPECUÁRIA COM ÊNFASE EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

REDE SOCIAL DE MAPEAMENTO COLABORATIVO DE PROBLEMAS AMBIENTAIS E URBANOS NAS CIDADES Resultados preliminares

SITUAÇÕES ENFRENTADAS PELOS PROFESSORES DE BIOLOGIA DA REDE ESTADUAL E PARTICULAR DAS ESCOLAS DO MUNICÍPIO DE ANÁPOLIS.

INVESTIGANDO O OLHAR DOS PROFESSORES EM RELAÇÃO AS PESQUISAS EM CIÊNCIAS

Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc

Tarcia Paulino da Silva Universidade Estadual da Paraíba Roseane Albuquerque Ribeiro Universidade Estadual da Paraíba

Transcrição:

MODERNIZAÇÃO E CULTURA POLÍTICA NOS CICLOS DE ESTUDOS DA ADESG EM SANTA CATARINA (1970-75) Michel Goulart da Silva 1 INTRODUÇÃO Este projeto tem como problema de pesquisa a relação entre os ciclos de estudos da ADESG e os embates em torno ao projeto de modernização do estado de Santa Catarina, na primeira metade da década de 1970, travados entre os diferentes setores das elites econômicas e políticas do estado. Entende-se que esses ciclos, dos quais participaram intelectuais, políticos e empresários, eram um campo de disputa de projetos que, embora sem se mostrarem antagônicos entre si ou como dissidências em relação ao projeto da ditadura civil-militar, expressavam análises, objetivos e propostas dos diferentes grupos que há décadas vinham controlando a política no estado. Os ciclos de estudos constituíram-se em um espaço de aprofundamento dos conceitos e métodos elaborados e difundidos pela Escola Superior de Guerra (ESG), sistematizados na Doutrina de Segurança Nacional (DSN). Essa doutrina, discutida nos ciclos de estudos e aplicada às situações econômica, social e política de Santa Catarina, serviu como ferramenta teórica e metodológica para a elaboração de políticas de governos e para uma tentativa de homogeneização teórica, metodológica e conceitual dos projetos dos governos e de parte da intelectualidade catarinense. Os intelectuais que tomaram contato mais próximo e sistemático com os conceitos e objetivos propostos pela DSN poderiam melhor influenciar as massas (conceito oposto ao de elite, na DSN), visando a manutenção da hegemonia e a defesa da ordem social e dos interesses do regime. Essa forma de garantir a hegemonia, pelo consenso e não pela coerção, possibilitaria com menos obstáculos a realização dos objetivos nacionais, calcados no binômio segurança (nacional) e desenvolvimento (econômico). Os intelectuais que de alguma forma defendiam o bloco hegemônico, utilizando os conceitos e métodos da ESG, teriam a possibilidade 1 Técnico em Assuntos Educacionais no Instituto Federal Catarinense. Doutorando em História na Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: michelgsilva@yahoo.com.br

de cumprir o papel de elaboradores de políticas voltadas para o desenvolvimento econômico, além de atuar como responsáveis pelo planejamento e pelas ações dos governos. Em Santa Catarina, os primeiros ciclos da ADESG ocorreram no começo da década de 1970, sendo realizados em Florianópolis e reunindo pessoas de outras cidades do estado. Nesse período, participaram dos ciclos de estudos membros da administração do governador Colombo Salles, o que teria contribuído, segundo o próprio governador, para a elaboração do Projeto Catarinense de Desenvolvimento (PCD). Esse projeto procurava se colocar em consonância com o Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), do governo do General Emílio Garrastazu Médici (MICHELS, 1998, p. 194-6). É possível identificar os ciclos de estudos da ADESG como espaços que visavam realizar análises e elaborar projetos para Santa Catarina, a serem incorporados nos planos e ações da administração do governador Colombo Salles. Contudo, esses espaços não podem ser considerados como homogêneos, pois um conjunto bastante heterogêneo de pessoas participava dos ciclos, como palestrantes ou como estagiários. Por outro lado, a terceira fase de cada um dos ciclos, quando os estagiários deveriam elaborar respostas a problemas do estado e propostas de programas e ações governamentais, era um espaço em que poderiam expressar caracterizações e propostas diversas, por meio das monografias escritas. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para esta pesquisa, utilizar-se-á um conjunto de materiais que inclui fontes impressas de diferentes naturezas. Primeiro, para investigar o contexto econômico, político e social, far-se-á uso da imprensa diária de Santa Catarina, principalmente dos jornais O Estado e A Gazeta, de Florianópolis, e Jornal de Santa Catarina, de Blumenau, entre 1970 e 1975. Esses jornais são destacados nesta pesquisa primeiro pela sua grande circulação na época e, segundo, por expressarem as posições dos diferentes grupos econômicos e políticos do estado. Esses jornais também trazem informações a respeito da realização dos ciclos, sendo espaço de divulgação das discussões realizadas, além de

possibilitarem inferir o impacto exercido pelos ciclos na sociedade e na parcela da intelectualidade que escrevia para esses jornais. Outro conjunto de documentos a serem utilizados nesta pesquisa são os referentes aos ciclos de estudos da ADESG. Esse material, a partir da própria organização interna dos ciclos de estudos, pode ser dividido em três tipos: 1) documentos doutrinários, em sua maior parte transcrições de conferências proferidas por membros da ESG em seus cursos; 2) documentos de análise da conjuntura nacional e estadual, normalmente elaborados pela própria ESG ou transcrições de conferências realizadas por intelectuais catarinenses da época; 3) os trabalhos realizados em grupos pelos estagiários ao final dos ciclos, de onde pode-se analisar sua percepção do momento então vivido e as propostas que apontavam para a resolução desses problemas. RESULTADOS E DISCUSSÕES Esta pesquisa discute a relação entre os planos de modernização do estado de Santa Catarina e sua relação com os ciclos de estudos da ADESG, realizados entre 1970 e 1975, ou seja, a contribuição desses cursos para a elaboração de políticas econômicas, sociais e políticas no estado de Santa Catarina. Com isso, são identificados alguns dos sujeitos que participaram da legitimação e sustentação dos governos durante a ditadura e que permitem vislumbrar elementos acerca de manifestações políticas e culturais do período no estado. Por outro lado, concomitantemente, pode-se analisar a DSN como doutrina que influenciou os projetos e as ações do governo, verificando a aplicação desses conceitos para o estudo dos problemas estratégicos e conjunturais de Santa Catarina. Investigando a cultura política que se formava entre a intelectualidade no período, é possível estudar as análises estratégicas e conjunturais apresentadas nas conferências e as propostas formuladas pelos estagiários nos ciclos da ADESG, em seus trabalhos finais. Deve-se também investigar os conceitos doutrinários e os problemas conjunturais levantados nesses ciclos, além das soluções que os estagiários, por meio das monografias que elaboravam em grupos de trabalho, apontavam para esses problemas. Busca-se com isso perceber como essa intelectualidade respondia aos problemas estratégicos e conjunturais do momento,

local e nacionalmente, e como os ciclos de estudos da ADESG contribuíram, de um lado, para a caracterização dos problemas do estado e, de outro, para a elaboração de propostas que respondessem a esses problemas. Nesse sentido, pode-se verificar a relação dos intelectuais catarinenses na formulação de políticas públicas e de planos de ação governamental, verificando, entre outros aspectos, qual o impacto que essa colaboração tem nas políticas desenvolvidas principalmente ao longo do governo Colombo Salles. Com isso, verifica-se quais as contribuições que esses intelectuais, encarados como sujeitos históricos, trouxeram para uma cultura política no estado, as redes de sociabilidades por eles estabelecidas e sua participação na manutenção do bloco hegemônico no poder naquela conjuntura. CONSIDERAÇÕES FINAIS Levou-se em conta neste trabalho que as ações mais aparentes do regime repressivo foram realizadas pelos militares, que controlaram o executivo e realizaram não apenas ações repressivas como políticas e administrativas. Contudo, o regime não foi apenas isso. Houve uma parcela significativa de civis que colaboraram com o regime, consciente ou inconscientemente, velada ou abertamente, cujo papel passou por apoiar o golpe e a ditadura, delatar militantes da resistência ou mesmo assumir funções de confiança em governos ou nas universidades. REFERÊNCIAS ALVES, Maria Helena Moreira. Estado e oposição no Brasil (1964-1984). 5ª ed. Petrópolis: Vozes, 1989. ARRUDA, Antônio de. ESG: história de sua doutrina. São Paulo: GRD/INL/MEC. 1980. BRUM, Argemiro Jacob. O desenvolvimento econômico brasileiro. 18ª ed. Petrópolis Vozes, 1998. EARP, Fábio Sá; PRADO, Luiz Carlos Delorme. O milagre brasileiro : crescimento acelerado, integração internacional e distribuição de Renda. In: FERREIRA, Jorge;

DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (Orgs.). O Brasil Republicano: o tempo da ditadura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, v. 4. FICO, Carlos et al. (Org.). Ditadura e democracia na América Latina: balanço histórico e perspectivas. Rio de Janeiro: Ed. da FGV, 2008. FONTES, Virgínia Maria; MENDONÇA, Sônia Regina. História do Brasil recente (1964-1992). 4ª ed. São Paulo: Ática, 2004. GERMANO, José Willington. Estado militar e educação no Brasil (1964-1985). São Paulo: Cortez; Campinas: Ed. da UNICAMP, 1993. IANNI, Octávio. Estado e planejamento econômico no Brasil. 5ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991. MAY, Patrícia Zumblick Santos. Redes político-empresariais de Santa Catarina (1961-1970). Florianópolis, 1998. MICHELS, Ido Luiz. Crítica ao modelo catarinense de desenvolvimento: do planejamento econômico: 1956 aos precatórios, 1997. Campo Grande: Ed. da UFMS, 1998. MIYAMOTO, Shiguenoli. Escola Superior de Guerra: mito e realidade. Política e Estratégia, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 76-97, 1987. MIYAMOTO, Shiguenoli. Geopolítica e poder no Brasil. Campinas: Papirus, 1995. MONTARROYOS, Joseide Gomes. Educação de adultos como doutrinação: fundamentos e métodos da divulgação da doutrina de ''segurança e desenvolvimento'' do Brasil através das atividades da Escola Superior de Guerra e sua associação de diplomados. Recife: Ed. da UFPE, 1982. MOTTA, Rodrigo Patto Sá; REIS FILHO, Daniel Aarão; RIDENTI, Marcelo (Orgs.). O golpe e a ditadura militar: quarenta anos depois (1964-2004). Bauru: Edusc, 2004. OLIVEIRA, Eliézer Rizzo de. As forças armadas: política e ideologia no Brasil (1964-1969). 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 1978. OLIVEIRA, Eliézer Rizzo de (Org.). Militares: pensamento e ação política. Campinas: Papirus, 1987. PEREIRA, Moacir. Colombo Salles: o jogo da verdade. Florianópolis: Insular, 2007. PUGLIA, Douglas Biagio. ADESG: elites locais civis e projeto político. 2006. 153f. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Estadual Paulista, Franca. REZENDE, Maria José de. A ditadura militar no Brasil: repressão e pretensão de legitimidade (1964-1985). Londrina: Ed. da UEL, 2001.