Percepções Sobre Autoeficácia Acadêmica E Experiência Escolar: O Que Pensam Os Estudantes Do Ensino Médio? Daniela Couto Guerreiro-Casanova 1



Documentos relacionados
AS CONTRIBUIÇÕES DAS VÍDEO AULAS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO.

OS SABERES PROFISSIONAIS PARA O USO DE RECURSOS TECNOLÓGICOS NA ESCOLA

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES 1

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS ÀS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DO RECIFE/PE

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: ELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

Formação e Gestão em Processos Educativos. Josiane da Silveira dos Santos 1 Ricardo Luiz de Bittencourt 2

PROFESSORES DE CIÊNCIAS E SUAS ATUAÇÕES PEDAGÓGICAS

Imagens de professores e alunos. Andréa Becker Narvaes

POR QUE FAZER ENGENHARIA FÍSICA NO BRASIL? QUEM ESTÁ CURSANDO ENGENHARIA FÍSICA NA UFSCAR?

Palavras-chave: Ambiente de aprendizagem. Sala de aula. Percepção dos acadêmicos.

O PROCESSO DE INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: UM ESTUDO DE METODOLOGIAS FACILITADORAS PARA O PROCESSO DE ENSINO DE QUÍMICA

PIBID: DESCOBRINDO METODOLOGIAS DE ENSINO E RECURSOS DIDÁTICOS QUE PODEM FACILITAR O ENSINO DA MATEMÁTICA

Orientações para Secretarias de Educação

PRODUTO FINAL ASSOCIADA A DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Resultado da Avaliação das Disciplinas

DIFICULDADES ENFRENTADAS POR PROFESSORES E ALUNOS DA EJA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA

O COORDENADOR PEDAGÓGICO COMO FORMADOR: TRÊS ASPECTOS PARA CONSIDERAR

INTEGRAÇÃO DO ENSINO MÉDIO E TÉCNICO: PERCEPÇÕES DE ALUNOS DO IFPA (CAMPUS CASTANHAL/PA) Ana Maria Raiol da Costa UFPA Agência Financiadora: SEDUC/PA

OS MEMORIAIS DE FORMAÇÃO COMO UMA POSSIBILIDADE DE COMPREENSÃO DA PRÁTICA DE PROFESSORES ACERCA DA EDUCAÇÃO (MATEMÁTICA) INCLUSIVA.

INTERVENÇÕES ESPECÍFICAS DE MATEMÁTICA PARA ALUNOS DO PROEJA: DESCOBRINDO E SE REDESCOBRINDO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

Disciplina: Alfabetização

9 Como o aluno (pré)adolescente vê o livro didático de inglês

A DANÇA E O DEFICIENTE INTELECTUAL (D.I): UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA À INCLUSÃO

O USO DO TANGRAM EM SALA DE AULA: DA EDUCAÇÃO INFANTIL AO ENSINO MÉDIO

Palavras-chave: Políticas Curriculares; Formação de Professores; Qualidade da Educação; Plano Nacional de Educação

PALAVRAS-CHAVE (Concepções de Ciência, Professores de Química, Educação Integrada)

MÍDIAS NA EDUCAÇÃO Introdução Mídias na educação

AUTOEFICÁCIA DE GESTORES ESCOLARES: ALGUMAS PERCEPÇÕES

Avaliação-Pibid-Metas

LEITURA E ESCRITA NO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA PROPOSTA DE APRENDIZAGEM COM LUDICIDADE

Prefeitura Municipal de Santos

Recomendada. A coleção apresenta eficiência e adequação. Ciências adequados a cada faixa etária, além de

JOGOS MATEMÁTICOS: EXPERIÊNCIAS COMPARTILHADAS

O ESTÁGIO SUPERVISIONADO COMO ESPAÇO DE CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOCENTE DE LICENCIANDOS EM MATEMÁTICA

O USO DE TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO: A UTILIZAÇÃO DO CINEMA COMO FONTE HISTÓRICA Leandro Batista de Araujo* RESUMO: Atualmente constata-se a importância

O LÚDICO COMO INSTRUMENTO TRANSFORMADOR NO ENSINO DE CIÊNCIAS PARA OS ALUNOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA.

ALTERNATIVAS APRESENTADAS PELOS PROFESSORES PARA O TRABALHO COM A LEITURA EM SALA DE AULA

O AMBIENTE MOTIVADOR E A UTILIZAÇÃO DE JOGOS COMO RECURSO PEDAGÓGICO PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA

O ESTÁGIO SUPERVISIONADO E A FORMAÇÃO DE LICENCIANDOS EM CIÊNCIAS NATURAIS

MODELAGEM MATEMÁTICA: PRINCIPAIS DIFICULDADES DOS PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO 1

TRAÇOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA EM SÃO LUÍS- MA: UM DIAGNÓSTICO DO PERFIL SOCIOCULTURAL E EDUCACIONAL DE ALUNOS DAS ESCOLAS PARCEIRAS DO PIBID.

INTERPRETANDO A GEOMETRIA DE RODAS DE UM CARRO: UMA EXPERIÊNCIA COM MODELAGEM MATEMÁTICA

PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: COMPROMISSOS E DESAFIOS

COMISSÃO PRÓPRIA DE AVALIAÇÃO - CPA. Relatório da Auto Avaliação Institucional 2014

INCLUSÃO ESCOLAR: UTOPIA OU REALIDADE? UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A APRENDIZAGEM

Autor(es) PAULA CRISTINA MARSON. Co-Autor(es) FERNANDA TORQUETTI WINGETER LIMA THAIS MELEGA TOMÉ. Orientador(es) LEDA R.

ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO INICIAL DOS GRADUANDOS DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA

Gráfico 1 Jovens matriculados no ProJovem Urbano - Edição Fatia 3;

SABERES E PRÁTICAS DOCENTES: REPENSANDO A FORMAÇÃO CONTINUADA

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES NO CONTEXTO TECNOLÓGICO: DESAFIOS VINCULADOS À SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

Pedagogia Estácio FAMAP

Escola Bilíngüe. O texto que se segue pretende descrever a escola bilíngüe com base nas

5 Considerações finais

O JOGO NO ENSINO FUNDAMENTAL: EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO DOCENTE EM EDUCAÇÃO FÍSICA NO PIBID RESUMO

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A INCLUSÃO DOS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS EDUCATIVAS NAS SÉRIES INICIAIS SOB A VISÃO DO PROFESSOR.

1º Trabalho: Resumo e Reflexão de duas mensagens dos grupos de Matemática do Yahoo.

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE PEDAGOGIA DA FESURV - UNIVERSIDADE DE RIO VERDE

GERAÇÃO DA CONECTIVIDADE

A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NA EDUCAÇÃO DOS FILHOS NO CONTEXTO ESCOLAR

As contribuições do PRORROGAÇÃO na formação continuada dos professores da Rede Municipal de Educação de Goiânia.

OS CANAIS DE PARTICIPAÇÃO NA GESTÃO DEMOCRÁTICA DO ENSINO PÚBLICO PÓS LDB 9394/96: COLEGIADO ESCOLAR E PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

A QUESTÃO ÉTNICO-RACIAL NA ESCOLA: REFLEXÕES A PARTIR DA LEITURA DOCENTE

PROPOSTA DE TRABALHO ENSINO MÉDIO Pais e Alunos

X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador BA, 7 a 9 de Julho de 2010

O PROCESSO DE INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIAS NO MUNICÍPIO DE TRÊS LAGOAS, ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL: ANÁLISES E PERSPECTIVAS

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E EDUCAÇÃO ESPECIAL: uma experiência de inclusão

ATIVIDADES DESENVOVLIDAS PELO LABORATÓRIO DE ENSINO DE MATEMÁTICA LEM- FOZ

O COORDENADOR PEDAGÓGICO: A PERCEPÇÃO DE AUUTOEFICÁCIA EM RELAÇÃO ÀS SUAS ATRIBUIÇÕES FUNCIONAIS.

Contexto. Rosana Jorge Monteiro Magni

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NUMA ESCOLA DO CAMPO

A PRODUÇÃO DE VÍDEOS COMO RECURSO METODOLÓGICO INTERDISCIPLINAR

ITINERÁRIOS DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: O ESTÁGIO SUPERVISIONADO E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA

FORMAÇÃO DO PROFESSOR DO CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA FACE À INCLUSÃO DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA NA EDUCAÇÃO SUPERIOR DE ALAGOAS

GESTÃO DEMOCRÁTICA EDUCACIONAL

TÍTULO: PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS PROFISSIONAIS FORMANDOS DA ÁREA DE NEGÓCIOS DA FACIAP

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PROGRAMADAS: APROXIMAÇÃO DO ACADÊMICO DE PEDAGOGIA COM O PROFISSIONAL DO ENSINO

RESUMO. Autora: Juliana da Cruz Guilherme Coautor: Prof. Dr. Saulo Cesar Paulino e Silva COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

PROJETOS DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: DO PLANEJAMENTO À AÇÃO.

DIFICULDADES DE LEITURA E ESCRITA: REFLEXÕES A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO PIBID

FACULDADES INTEGRADAS SIMONSEN INTERVENÇÃO EDUCATIVA INSTITUCIONAL PROJETO PSICOPEDAGÓGICO

JUVENTUDE E TRABALHO: DESAFIOS PARA AS POLITICAS PÚBLICAS NO MARANHÃO

AS RELAÇÕES DO ESTUDANTE COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E SUAS IMPLICAÇÕES NO ENSINO REGULAR INCLUSIVO

ANÁLISE DA POSTURA DE UMA PROFESSORA PARTICIPANTE DE UM CURSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA

Mental Universidade Presidente Antônio Carlos ISSN (Versión impresa): BRASIL

PRINCIPAIS DIFICULDADES ENFRENTADAS PELOS PROFESSORES DE QUÍMICA DO CEIPEV. E CONTRIBUIÇÃO DO PIBID PARA SUPERÁ-LAS.

Redes Sociais (Facebook) e a difusão da informação: uma alternativa à mídia massificadora

XI Encontro de Iniciação à Docência

Proposta de Curso de Especialização em Gestão e Avaliação da Educação Profissional

ANÁLISE DA DEGRADAÇÃO DO BIOMA CAATINGA NAS IMEDIAÇÕES DA CIDADE DE SANTA CECÍLIA PB

DESENVOLVIMENTO INFANTIL EM DIFERENTES CONTEXTOS SOCIAIS

Gestão de impactos sociais nos empreendimentos Riscos e oportunidades. Por Sérgio Avelar, Fábio Risério, Viviane Freitas e Cristiano Machado

A Sustentabilidade e a Inovação na formação dos Engenheiros Brasileiros. Prof.Dr. Marco Antônio Dias CEETEPS

O professor que ensina matemática no 5º ano do Ensino Fundamental e a organização do ensino

TENDÊNCIAS RECENTES DOS ESTUDOS E DAS PRÁTICAS CURRICULARES

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DOS PROFESSORES DE MATEMÁTICA DO ENSINO MÉDIO DA ESCOLA ORLANDO VENÂNCIO DOS SANTOS DO MUNICÍPIO DE CUITÉ-PB

A INFLUÊNCIA DOCENTE NA (RE)CONSTRUÇÃO DO SIGNIFICADO DE LUGAR POR ALUNOS DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE FEIRA DE SANTANA-BA 1

CARTA ABERTA EM DEFESA DO PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO CURSO DE ENFERMAGEM DO CESUMAR SOB A ÓTICA DO SUS

Transcrição:

Percepções Sobre Autoeficácia Acadêmica E Experiência Escolar: O Que Pensam Os Estudantes Do Ensino Médio? Daniela Couto Guerreiro-Casanova 1 Roberta Gurgel Azzi 2 Marilda Aparecida Dantas 3 Eixo temático 1: Educação formal Este estudo teve como objetivo analisar os comentários dos estudantes sobre as próprias experiências escolares e compará-los com as percepções de autoeficácia acadêmica demonstradas por eles. Participaram 62 estudantes das três séries do ensino médio, com idade média de 15 anos. Desses 44 eram do gênero feminino, 58 estudavam em escolas públicas, 41 no período matutino e 41 não trabalhavam. Os dados foram obtidos por meio da escala de autoeficácia acadêmica e por uma questão sobre a experiência escolar. A análise qualitativa identificou três categorias referentes aos comentários dos estudantes: importância da escola para o futuro e profissão, crítica à escola e postura dos estudantes frente ao aprender. Essas categorias foram comparadas às respostas que os estudantes deram aos itens da escala: planejar ações para atingir meus objetivos profissionais, contribuir com ideias para a melhoria da minha escola e motivar-me para fazer as atividades relacionadas a esta disciplina. Esses estudantes mostraram ser confiantes quanto à importância da escola para o preparo para o futuro e decisão de carreira e confiantes quanto à própria capacidade de planejar ações para atingir objetivos profissionais. Relataram críticas negativas à escola e ao mesmo tempo moderada percepção quanto à própria capacidade para contribuir com ideias para a melhoria da escola. Atribuíram a motivação tanto ao aluno quanto a escola e percebiam-se moderadamente confiantes quanto à própria capacidade de se motivar. Palavras-chave: motivação; carreira; protagonismo. 1 Doutoranda na Faculdade de Educação UNICAMP. Bolsista FAPESP (danielaguerreiro@yahoo.com.br) 2 Doutora em Educação. Docente da Faculdade de Educação da UNICAMP (betazzi@uol.com.br) 3 Doutoranda na Faculdade de Educação UNICAMP (marildapsi@uol.com.br) Trabalho apresentado: GUERREIRO-CASANOVA, D. ; AZZI, R. G. ; DANTAS, M.A.. PERCEPÇÕES SOBRE AUTOEFICÁCIA ACADÊMICA E EXPERIÊNCIA ESCOLAR: O QUE PENSAM OS ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO?. In: II Seminário Violar Problematizando as Juventudes na contemporaneidade, 2012, Campinas. Anais do II Seminário Violar Problematizando as Juventudes na contemporaneidade, 2012.

Introdução Compreender como os jovens se relacionam com o saber e a escola é importante para analisar as práticas pedagógicas realizadas nas escolas (SPOSITO, 2004). Alguns estudos apontam que a percepção de autoeficácia acadêmica pode mediar o comportamento dos estudantes frente às experiências escolares (AZZI e POLYDORO, 2010; COSTA e BORUCHOVITCH, 2006; PAJARES e OLAZ, 2008; SCHUNK, 1995; ZIMMERMAN,1995). Diante disso, este estudo teve como objetivo analisar os comentários dos estudantes sobre as próprias experiências escolares e compará-los com as percepções de autoeficácia acadêmica demonstradas por eles. Para buscar entender os jovens é necessário estar alerta para a diversidade de características multidimensionais que envolvem a juventude atual (TEIXEIRA, 2011; SPOSITO, 2008). Ouvi-los, como alerta Teixeira (2011), pode ser um importante recurso a fim de se identificar o que eles pensam sobre a escola. Nesse sentido, tem-se conhecimento de que a minoria dos jovens acredita que a escola os entenda ou se interesse por eles (SPOSITO, 2008). Para parte dos jovens a escola é tida como importante para possibilitar uma perspectiva profissional, para o ingresso no ensino superior e para compreender a realidade (ABRAMOVAY e CASTRO, 2003; SPOSITO, 2008). Alguns revelam preferência por aulas que preparam para o vestibular e não valorizam projetos interdisciplinares, principalmente aqueles que ocorrem como atividades extraclasses ao longo do ensino médio. Em suas falas, os jovens demonstram maior facilidade para se engajar no processo de aprendizagem quando o professor os contagia com entusiasmo e comprometimento (ZIBAS, FERRETTI e TARTUCE, 2006, p.53). A escola lida cotidianamente com essa juventude diversa, a qual desconhece e muitas vezes não se encontra preparada para atendê-la (COSTA e BORUCHOVITCH, 2006; ZIBAS, FERRETTI e TARTUCE, 2006). Esta situação pode estar na origem de posturas estudantis incompatíveis com o espaço escolar, muitas vezes interpretadas e rotuladas como falta de motivação para aprender (COSTA e BORUCHOVITCH, 2006). A autoeficácia acadêmica tem sido uma das variáveis relacionadas à motivação para aprender mais investigadas, pois atua como mediadora dos comportamentos necessários para que a aprendizagem ocorra (AZZI e POLYDORO, 2010; COSTA e BORUCHOVITCH, 2006; PAJARES e OLAZ, 2008; SCHUNK, 1995; ZIMMERMAN, 1995). A autoeficácia acadêmica é definida como as crenças de um estudante em sua capacidade em organizar e executar cursos de ações requeridos para produzir certas realizações, referentes aos

aspectos intelectuais e de aprendizagem, colocando-se como um constructo necessário à postura requerida do estudante (BANDURA, 1993). Apesar de ser mediadora das ações necessárias para aprender, tal crença não garante que a aprendizagem ocorra, pois não substitui as habilidades e os conhecimentos entendidos como pré-requisitos. No entanto, pressupõe-se que quanto maior a crença de autoeficácia acadêmica, maior o esforço e o envolvimento do estudante com o processo de aprendizagem (BANDURA, 1997; ZIMMERMAN, 1995), bem como o uso de estratégias de ensino e aprendizagem (AZZI, GUERREIRO- CASANOVA, DANTAS e MACIEL, 2011). Esta crença, que não é estática, pode sofrer alterações ao longo das experiências escolares (BANDURA, 1993; 1997), modificando-se de uma série para outra (AZZI, GUERREIRO-CASANOVA e DANTAS, 2010), ou no decorrer do ano letivo (GUERREIRO-CASANOVA e POLYDORO, 2011). A percepção dos estudantes sobre as tarefas escolares como relevantes e interessantes influenciam os níveis de percepção de autoeficácia acadêmica (ZAMBOM, AZZI, POLYDORO, DE ROSE e GUERREIRO-CASANOVA, 2011). Diante do exposto, entende-se que ampliar o conhecimento sobre as percepções dos estudantes em relação às experiências escolares e à autoeficácia pode contribuir para elucidar a relação entre os jovens e a escola. Assim, este estudo teve como objetivo analisar os comentários dos estudantes sobre as próprias experiências escolares e compará-los com as percepções de autoeficácia acadêmica demonstradas por eles. Método Esta pesquisa descritiva caracteriza-se por conciliar técnicas de análise qualitativa e quantitativa, permitindo ampliar a compreensão sobre as variáveis pesquisadas. É parte de um estudo maior (ZAMBOM, AZZI, POLYDORO, DE ROSE e GUERREIRO-CASANOVA, 2011) que buscou investigar variáveis motivacionais em estudantes do ensino médio, o qual foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa de uma instituição de ensino superior (parecer nº 1185/2009). O recorte aqui apresentado é fundamentado na teoria social cognitiva e refere-se à percepção de autoeficácia acadêmica e experiência escolar. Procedimento

Após a autorização do Comitê de Ética em Pesquisa foram realizados contatos com as unidades escolares a fim de convidar as escolas a participarem da pesquisa. Nove escolas concordaram, formalizando o aceite via carta de autorização. Em dias e horários previamente combinados, os pesquisadores foram às escolas e apresentaram a pesquisa aos estudantes de ensino médio, esclarecendo que a identidade dos participantes seria mantida em sigilo e que a participação era voluntária. Aos estudantes que manifestaram interesse em participar da pesquisa foram entregues os termos de consentimento livre e esclarecido, os quais precisavam ser assinados pelos responsáveis dos estudantes menores de 18 anos. Estudantes maiores de 18 anos assinaram os próprios termos de consentimento livre e esclarecido. Essas coletas foram realizadas coletivamente, com duração média de 30 minutos, sempre em aulas de Português. Os participantes foram orientados a responderem os questionários considerando o contexto destas aulas. A amostra total foi composta por 636 estudantes, os quais responderam os questionários sobre diversas variáveis motivacionais, sendo a autoeficácia acadêmica uma delas. No entanto, apenas 62 estudantes escreveram comentários sobre a própria experiência escolar no espaço previsto pelo instrumento. Diante disso, a pesquisa aqui apresentada refere-se apenas aos dados obtidos por meio das respostas desses 62 estudantes. Considerar somente as respostas dos 62 estudantes foi necessário para que se pudesse realizar a comparação qualitativa e quantitativa, tal como visava esta pesquisa, mas em. Azzi, Guerreiro-Casanova e DANTAS (2010) pode-se encontrar alguns resultados sobre a autoeficácia acadêmica do conjunto dos estudantes pesquisados. Participantes A amostra aqui pesquisada foi composta por 62 estudantes de ensino médio de escolas públicas (n= 6) e privadas (n = 1) localizadas em Campinas, Bragança Paulista, Jundiaí, Limeira, Pedreira, São Bernardo do Campo, estado de São Paulo. Esses estudantes tinham idade média de 15 anos (DP = 1,17), sendo 14 anos ( n = 1) a idade mínima e 19 anos (n = 7) a idade máxima. Dezoito estudantes eram do sexo masculino e 44 do sexo feminino. Em relação à escolaridade, 22 estudantes cursavam a 1ª série do ensino médio, 23 a 2ª série e 16 a 3ª série, sendo que 41 estudantes frequentavam a escola no período matutino e 20 no período noturno. Dessa amostra 50 estudantes declararam ter repetido alguma série anterior, 58 estudantes cursavam o ensino médio em escolas públicas e 4 cursavam em uma escola privada. A menor parte (n= 21) destes estudantes trabalhava. A totalidade da amostra pretendia concluir o ensino médio e 58 estudantes declararam ter intenção de ingressar no ensino superior. Em relação à escolaridade dos pais desses estudantes, 24 estudantes declararam serem filhos de pais e 17 de mães que possuíam o ensino fundamental incompleto, sendo que 8 estudantes declararam serem filhos de pais e 6 de mães que cursaram o ensino superior completo.

Materiais para coleta de dados Para a obtenção dos dados foram utilizados: Questionário de Caracterização do Respondente: este instrumento foi elaborado pelas pesquisadoras, com objetivo de obter informações sobre as características pessoais dos estudantes que participaram da pesquisa, como idade, sexo, série, turno e condição de trabalho. Escala de Autoeficácia Acadêmica: esta escala foi desenvolvida a partir da escala de Autoeficácia na Formação Superior (POLYDORO e GUERREIRO-CASANOVA, 2011), passando por adaptações de linguagem e de contexto necessárias para a compreensão dos estudantes do ensino médio. Após essa adaptação inicial, foi realizado o processo de reflexão falada com 10 estudantes de ensino médio, aos quais foi solicitada a opinião sobre a compreensão dos itens que integravam a escala e sobre a aplicabilidade desses itens ao contexto educacional do ensino médio. Tal procedimento desencadeou pequenos ajustes de redação nos itens da escala. Após a realização da avaliação das propriedades psicométricas, a escala ficou composta por 16 itens. Para respondê-los, os estudantes foram orientados a pensarem sobre a experiência escolar atual. A partir disso, os alunos deveriam indicar o quanto eles se sentiam capazes de realizar as situações propostas em cada um dos itens, considerando um contínuo entre 1, para pouco capaz, e 7 para muito capaz. A escala demonstrou consistência interna de 0,886. Os itens organizaram-se em três dimensões, conforme pode ser observado na Figura 1.

Dimensões Destina-se a verificar Número de itens Exemplo de item Autoeficácia para decisão de carreira Confiança percebida na capacidade de buscar informações e planejar ações relevantes para a decisão de carreira. 4 itens Quanto eu sou capaz de planejar ações para atingir meus objetivos profissionais? Autoeficácia para atuar na vida escolar Confiança percebida na capacidade de atuar na vida escolar, considerando o envolvimento colaborativo com os pares e a escola/instituição. 4 itens Quanto eu sou capaz de contribuir com ideias para a melhoria da minha escola? Autoeficácia para Aprender Confiança percebida na capacidade de mobilizar esforços para se envolver nas atividades escolares considerando os aspectos cognitivos, motivacionais e comportamentais pertinentes ao processo de aprender e ao desempenho acadêmico. 8 itens Quanto eu sou capaz de motivar-me para fazer as atividades relacionadas a esta disciplina? Figura 1 - descrição das dimensões do instrumento de Autoeficácia Acadêmica Neste texto os dados discutidos referem-se apenas os itens expostos na Figura 1. Questão sobre experiência escolar: ao término da escala foi inserido um espaço no qual o estudante poderia registrar seus comentários sobre a experiência escolar. Para tanto, redigiu-se o seguinte enunciado: Se desejar utilize o espaço abaixo para escrever outros comentários sobre sua

experiência escolar. Pelo modo como o enunciado foi redigido sabia-se que havia uma possibilidade de que nem todos os participantes respondessem essa questão. Entretanto, tal questão possibilitava aos estudantes uma oportunidade de se manifestarem sobre as experiências escolares livremente. Esse aspecto contribuiu para ampliar a gama de informações coletadas. Procedimentos de Análise de Dados Os dados qualitativos referentes aos comentários dos estudantes foram transcritos na integra. Por meio de análise de conteúdo os comentários foram categorizados em: importância da escola para o futuro e profissão, crítica à escola, postura dos estudantes frente ao aprender. As respostas obtidas por meio da Escala de Autoeficácia Acadêmica foram analisadas estatisticamente por meio do programa SPSS (versão 17). Os instrumentos que apresentaram menos de 90% de respostas foram excluídos. A confiabilidade da digitação foi conferida aleatoriamente considerando-se 20% dos dados. Para a análise descritiva os resultados serão apresentados por meio da média aritmética, do desvio padrão, do valor mínimo e máximo de cada item aqui pesquisado, a saber: planejar ações para atingir meus objetivos profissionais, contribuir com ideias para a melhoria da minha escola e motivar-me para fazer as atividades relacionadas a esta disciplina. Tais itens foram selecionados para esta pesquisa devido à compatibilidade de conteúdo entre esses e as categorias identificadas. Resultados A princípio serão apresentados os resultados qualitativos. Para tanto serão expostas as categorias e alguns comentários que possam exemplificar as opiniões dos estudantes. A seguir, serão apresentados os resultados quantitativos dos itens aqui analisados. Percepções sobre experiência escolar - resultados qualitativos Dentre os comentários dos estudantes verificaram-se percepções positivas e negativas quanto às experiências escolares vivenciadas por eles. A análise de conteúdo da categoria importância da

escola para o futuro e profissão demonstra que parte dos estudantes aqui pesquisados (n = 11) valoriza a escola, como algo importante para o futuro de suas vidas, como pode ser observado no comentário a seguir: A escola é o local onde fazemos mais amizades. Também é onde aprendemos aspectos importantes para nossa vida circular. Às vezes topamos com obstáculos na escola que parecem intransponíveis, mas que devemos superar apesar de tudo. A escola é um dos locais onde mais me aplico para poder ter um futuro "melhor"! A valorização da escola parece estar ainda mais conectada ao preparo para a atividade profissional que os estudantes exercerão no futuro. O comentário a seguir pode exemplificar essa percepção: A minha experiência escolar colaborara para que no futuro eu tenha uma boa qualidade profissional e me ajudará a entrar em um bom emprego. O descontentamento com a escola em relação ao preparo para o ingresso no ensino superior também foi verificado, como pode ser observado no comentário a seguir: Acredito que só o que é passado em sala de aula não é o suficiente, para ingressar no ensino superior isso faz com que possamos procurar outros meios para adquirir conhecimento. Nessa categoria também foram verificadas percepções quanto à: importância de se valorizar a profissão docente, à necessidade de se buscar mais conhecimentos para se ter um futuro melhor, à vontade de ingressar no ensino superior; à dificuldade de se decidir qual carreira será iniciada ao término do ensino médio, à maior complexidade dos conteúdos ministrados no ensino médio, à presença de conteúdos chatos, mas reconhecidos como importantes para o preparo para a vida adulta. Dentre essas percepções, pôde-se verificar o reconhecimento dos estudantes em relação à escola. Em relação à categoria crítica à escola verificaram-se mais percepções negativas do que positivas em relação às experiências escolares. Somente quatro comentários teceram críticas positivas à escola, mais propriamente em relação às professoras de português, como por exemplo: Essa matéria e muito boa pois a professora sabe trabalhar bem com a classe em si. Os 16 comentários restantes teceram críticas negativas em relação à escola. A insatisfação com a precariedade das condições físicas e estruturais da escola pôde ser observada em comentários que

abrangiam a falta de carteiras, de internet e a sujeira da escola. Também puderam ser observadas insatisfações com as estruturas das aulas que foram consideradas monótonas, com a desorganização da escola e com a falta de respeito dos profissionais que atuam na escola em relação aos estudantes. Tais percepções podem ser observadas nos exemplos a seguir: Creio que hoje a escola não se encontra em concluções 4 necessarias para o ensino. A alguns anos atras tive aula com professores otimos que me ajudaram a criar maturidade e de forma simples me ensinaram o necessário. A desordem predomina neste local, e é o que contribui e dificulta o trabalho destes profissionais. A minha experiência escolar não são muitos boas principalmente sobre está escola e uma bagunça. Os professores não dão aula, os alunos não vem a escola. A escola e um lixo e cadeiras quebradas, janelas, o disrespeito total ao ser humano. e uma bagunça. Primeiramente quero deixar bem claro que eu tenho uma meta a seguir em minha vida profissional e infelizmente a escola E.E. quase não está me ajudando em nada, porque não tem professores capacitados como química, física, geografia, artes, inglês, devemos tratar a vida escolar do alunos com mais seriedade, o E.E. está em quarto lugar no idesp de X na minha opinião isso deve ser atualizado e se já foi temos uma grande crise no ensino de X porque se o E.E. está em quarto lugar eu nem quero imaginar o nível das outras escolas. Quero deixar bem claro que os professores que tem compromisso com os alunos de encinar realmente foram os que não estão citados nas determinadas aulas a cima. Os exemplos acima ilustram como diversas razões aparecem de modo articulado nas percepções negativas expressas nos comentários. Essas percepções multidimensionais em relação às críticas quanto às suas experiências escolares parecem sugerir que os estudantes entendem que a estrutura da escola precisa ser pedagógica e fisicamente estruturada para poder oferecer uma educação de qualidade. A categoria postura dos estudantes frente ao aprender foi a que recebeu maior número de comentários (n = 23). Nessa categoria foi possível verificar que alguns estudantes acreditam que são 4 Os comentários dos estudantes foram transcritos exatamente como eles escreveram.

responsáveis pela falta de interesse em relação aos estudos, como pode ser observado no comentário a seguir: Hoje, nós alunos temos várias fontes de informações, falta interesse de nossa parte. Eu não tento entender o que está acontecendo na aula, apena "faço" os exercicios para nota e nada a mais. Outros estudantes demonstraram percepções em que atribuem o sucesso escolar ao esforço próprio e a uma postura ativa durante as aulas. Os comentários a seguir exemplificam essas percepções: Não sou uma aluna excelente mas me esforço para entender e estou melhorando cada vez mais. Minha experiência escolar é boa, pois tenho bastante amigos, nossos professores também se tornam nossos amigos, quando tenho dúvida eu pergunto, debato com os meus colegas o assunto da aula. Há também estudantes que comentaram sobre as interferências das condições de ensino, das aulas desinteressantes e do comportamento dos demais alunos e professores. O bullying e a mudança de escola aparecem entre os aspectos que interferem nas percepções dos estudantes sobre as experiências escolares. Esses comentários ajudam a ilustrar a percepção de agente que os estudantes têm em relação ao processo de aprender. De modo geral, as percepções dos estudantes sobre as experiências escolares sugerem que esses estudantes aqui pesquisados entendem a educação escolar como importante para o futuro, sendo que para esse futuro possa se tornar realidade é necessária estrutura pedagógica e física da escola, bem como maior envolvimento do estudante com o aprender. Percepções sobre autoeficácia acadêmica - resultados quantitativos Na Tabela 1 podem-se observar as médias obtidas por meio das respostas dos estudantes à escala de autoeficácia acadêmica. É interessante lembrar que dentre as possibilidades de respostas um era o valor mínimo e sete era o valor máximo. Médias entre 1 e 3 foram consideradas fracas, entre 4 e 5 foram consideradas moderadas e entre 6 e 7 foram consideradas fortes.

Tabela 1 Dados descritivos sobre autoeficácia acadêmica. Item N Média Desvio Mínimo Máximo Padrão Quanto eu sou capaz de planejar ações para atingir 61 6,30 1,20 2 7 meus objetivos profissionais Quanto eu sou capaz de contribuir com ideias para a 59 5,10 1,96 1 7 melhoria da minha escola Quanto eu sou capaz de motivar-me para fazer as atividades relacionadas a esta disciplina 61 5,11 1,59 1 7 Por meio das médias observadas na Tabela 1, nota-se que os estudantes aqui pesquisados apresentam uma forte percepção sobre a própria capacidade de planejar ações para atingir os objetivos profissionais. Percepções moderadas foram verificadas em relação à própria capacidade de contribuir com ideias para a melhoria da escola e para se motivar para fazer as atividades relacionadas à disciplina de Português. Discussão Como pôde ser observado, os estudantes demonstraram valorizar as experiências escolares entendendo-as como importantes para o futuro e o preparo para a vida profissional, coincidindo com o verificado em outras pesquisas (ABRAMOVAY e CASTRO, 2003; SPOSITO, 2008). Tal valorização não é ingênua, pois comentam sobre alguns aspectos que parecem ser insatisfatórios, como o preparo do ensino médio para o ensino superior. Apesar de indicarem alguns aspectos que precisam ser melhorados os estudantes aqui pesquisados demonstraram forte percepção de autoeficácia para atingir os resultados profissionais. A valorização da escola como algo importante para o futuro, não diminui a percepção de que a escola tem que melhorar em vários aspectos na estrutura pedagógica e física. Isso pôde ser verificado por meio das críticas tecidas em relação à escola, as quais pontuaram mais aspectos negativos do que positivos. Os estudantes têm condições de tecer críticas negativas à escola, mas

percebem-se moderadamente capazes de contribuir com ideias para a melhoria da mesma, como pode ser verificado pelos resultados quantitativos. Em outro estudo (AZZI, GUERREIRO- CASANOVA e DANTAS, 2010), realizado com uma amostra maior, a capacidade percebida para contribuir com ideias para a melhoria da escola teve a menor média verificada dentre diversas outras tarefas escolares. Talvez a moderada percepção aqui verificada possa ser decorrente do fato de que os 62 estudantes participantes desta pesquisa, que decidiram expressar suas opiniões, sejam mais conscientes dos seus papéis dentro das escolas. No entanto, seria desejado fortalecer a essa percepção. Proporcionar condições para a real participação dos estudantes nas discussões sobre as vivências escolares é necessário a fim de se possibilitar a integração dos estudantes à escola, auxiliando a ampliar a valorização do cotidiano escolar. Isso poderia contribuir para elevar a crença de autoeficácia para se contribuir com ideias para a melhoria da escola (AZZI, GUERREIRO- CASANOVA e DANTAS, 2010). Nesta direção, incentivar o protagonismo juvenil e a participação dos estudantes nos mecanismos de gestão democrática da escola poderiam constituir metas a serem atingidas (ZIBAS et al., 2006; PARO, 2011). A preocupação com o futuro foi um aspecto identificado nas respostas dos estudantes. Vale sinalizar que se preocupam quanto ao o que fazer no futuro e reconhecem que nem sempre recebem suporte suficiente da escola no que diz respeito ao conteúdo. Mais do que se preocupar sobre o futuro, vale indicar a necessidade de espaços no ambiente escolar que possibilitem reflexões acerca de projeto de vida que incluam a questão profissional. Os dados de pesquisa de Ribeiro (2003) com jovens paulistas de escolas públicas revelaram que os principais pedidos deles em relação ao mundo do trabalho giram em torno de auxílio para pensar no futuro profissional e espaço para reflexão e construção de seu projeto profissional. Especificamente sobre a postura frente ao aprender, os estudantes aqui pesquisados atribuíram a motivação tanto ao aluno quanto a escola. Parecem indicar que o fazer ou o não fazer as atividades escolares está sob a responsabilidade deles próprios, mas aspectos externos aos estudantes também podem interferir na percepção da motivação para aprender. Por meio dos resultados quantitativos verificou-se percepção moderada quanto à própria capacidade de se motivar. A princípio, essas percepções parecem retratar a concepção de que a motivação dos estudantes é decorrente de uma complexa inter-relação entre aspectos cognitivos e sociais (AZZI e POLYDORO, 2010). Destacase, então, a necessidade de se pensar em meios de se proporcionar condições, como utilização de diversas estratégias de ensino, dentre outras, para que os estudantes possam adotar posturas mais compatíveis frente ao aprender. A questão da sociabilidade do espaço escolar foi algo reconhecido pelos estudantes em seus comentários como revelou o primeiro relato abordado neste trabalho. Eles reconhecem a escola

como espaço para conversar e conhecer outras pessoas. A sociabilidade juvenil é um aspecto importante para se refletir sobre questões educacionais. Abramovay (2004) indica a possibilidade de estimular formas diversas de convivência social para um caminho do avanço no trabalho educativo. As respostas qualitativas relativas as experiências escolares dos estudantes proporcionaram uma modesta ampliação do conhecimento que se tem sobre o que pensam os jovens em relação à escola. Apenas uma modesta ampliação, pois dos 636 participantes da pesquisa sobre variáveis motivacionais, menos de 10% fizeram apontamentos sobre suas experiências. Pesquisas na direção de conhecer os jovens estudantes contribuem para que se melhor compreenda a complexa rede que os engloba. As médias das crenças de autoeficácia encontradas revelam ser animadoras, mesmo havendo alguma variância entre elas. Talvez ainda faltem iniciativas que promovam a instrumentalização dos estudantes para que suas crenças sejam mais fortalecidas pelas próprias ações. Sugere-se que as iniciativas integrem aspectos do aprender, de atuação escolar e de planejamento para o futuro acadêmico e profissional associada à estrutura escolar. Faz se necessário buscar a ampliação do conhecimento sobre as percepções de crença de autoeficácia acadêmica e os demais aspectos motivacionais que circundam o estudante de ensino médio. Mais além, buscar a integração desse conhecimento com os assuntos complexos que foram sutilmente abordados nos resultados, como o protagonismo e a sociabilidade juvenil colocam-se como uma importante meta a ser atingida, requerendo maior exploração sobre essa temática e articulando áreas de conhecimentos. Referências ABRAMOVAY, M.; CASTRO, M. G. Ensino Médio: múltiplas vozes, Brasília: Unesco, Ministério da Educação, 2003. ABRAMOVAY, M.(Coord.) Escolas inovadoras: experiências bem-sucedidas em escolas públicas. Brasília: UNESCO, Ministério da educação, 2004. AZZI, R. G.; GUERREIRO-CASANOVA, D. C.; DANTAS, M. A.; MACIEL, A. C. DE M. Academic Self-efficacy and Learning and Study Strategies: Brazilian students perceptions. In:

15TH BIENNIAL OF THE INTERNATIONAL STUDY ASSOCIATION ON TEACHERS AND TEACHING, 5 8, July 2011. BRAGA, UNIVERSITY OF MINHO PORTUGAL. BRAGA, 2011. AZZI, R. G.; GUERREIRO-CASANOVA, D. C.; DANTAS, M. A. Autoeficácia acadêmica: possibilidade para refletir sobre o Ensino Médio. EccoS Rev. Cient., São Paulo, v. 12, n. 1, p. 51-67, jan./jun. 2010. AZZI, R. G.; POLYDORO, S. A. J. O papel da autoeficácia e autorregulação no processo motivacional. In: BORUCHOVITCH, E.; BZUNECK, J. A.; GUIMARÃES, MS. E. R. Motivação para aprender: aplicações no contexto educativo. Petropólis: Vozes. 2010. pp. 126-144. BANDURA, A. Perceived self-efficacy in cognitive development and functiong. Educational psychologist, v.28, n.2, p.117-148, 1993. BANDURA, A. Self-efficacy, the exercise of control. New York: Freeman and Company. 1997. COSTA, E. R.; BORUCHOVITCH, E. Auto-eficácia e a motivação para aprender: considerações para o desempenho escolar dos alunos. In: AZZI, R. G.; POLYDORO, S. A. J. (Org.). Autoeficácia em diferentes contextos. São Paulo: Alínea, 2006. p. 87-109. PAJARES, F.; OLAZ, F. Teoria Social cognitiva e auto-eficácia: uma visão geral. In: BANDURA; AZZI; POLYDORO. Teoria social cognitiva: conceitos básicos. Porto Alegre: Artmed, 2008. PARO, V.H. Crítica da estrutura da escola. São Paulo: Cortez, 2011. 248p. POLYDORO, S.A.J.; GUERREIRO-CASANOVA, D.C. Escala de Autoeficácia na Formação Superior: construção e estudo de validação. Avaliação Psicológica, Itatiba, v.9, n.2, p. 267-278, 2010.

RIBEIRO, M.A. Demandas em Orientação Profissional: Um Estudo Exploratório em Escolas Públicas. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 2003, 4 (1/2), 2003p. 141-151 SCHUNK, D.H. Self-efficacy and education and instruction. In: MADDUX, J.E. (ed.) Selfefficacy, adaptation and adjustment- theory, research and application. New York: Plenum Press, 1995. p. 281-303. SPOSITO, M.P. (Des)encontros entre os jovens e a escola. In: FRIGOTO, G.; CAIVATTA, M. (org). Ensino Médio ciência, cultura e trabalho. Brasília: MEC, SEMTEC, 2004. p.73 91.. Algumas reflexões e muitas indagações sobre as relações entre juventude e escola no Brasil. In: ABRAMO, H. W.; BRANCO, P. P. M. (Org.). Retratos da Juventude Brasileira, Análises de uma pesquisa nacional. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2008. p.87-127. TEIXEIRA, M. L. T. Juventude, exclusão e processos educativos. In: AZZI, R. G.; GIANFALDONI; M. H.T.A (Orgs.). Psicologia e Educação. Série ABEP Formação. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011. p. 239-253. ZAMBOM, M. P; AZZI, R. G.; POLYDORO, S. A. J.; DE ROSE, T. M.; GUERREIRO- CASANOVA, D. C. Relations entre perceptions de la structure de la classe, auto-efficacité, buts 'accomplissement, stratégiesd'apprentissage et performance dans un groupe de brésiliens. In: Congres de l'association Francophone Internationale de Recherche Scientifique em Education, UNESCO. Paris: 2011. ZIBAS, D.; FERRETTI, C.; TARTUCE, G. A reforma do ensino médio e o protagonismo de alunos e pais. In: VITAR, A.; ZIBAS, D.; FERRETI, C.; TARTUCE, G. (Orgs.). Inovações no Ensino Médio: Argentina/Brasil/Espanha. Brasília: OEI, Líber livro e São Paulo: FCCH, 2006. ZIMMERMAN, B.J. Self-efficacy and educational development. In: BANDURA,A. (Ed). Selfefficacy in changing societies. Cambridge: Cambridge University Press, 1995. p. 1-45.