B1-1995.04.07 - Palestra no I Encontro do Conselho de Clientes Manah, São Paulo-SP.



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Transcrição:

B1-1995.04.07 - Palestra no I Encontro do Conselho de Clientes Manah, São Paulo-SP. Apresentação por FPCardoso Grande amigo do Brasil conhece nosso país desde 1948 e de lá para cá tem nos visitado com freqüência. Ainda em dezembro último esteve na Embrapa em Sete Lagoas-MG para estudos conjuntos de milho contendo aminoácidos nobres, importantes para não ruminantes e para as crianças. Em palestra proferida em 1993 na IFA - Associação Internacional de Fertilizantes -, referiuse com entusiasmo ao ceifado brasileiro. Quisemos dar a ele a oportunidade de conhecer de perto a recuperação das nossas terras fracas visitando Sapezal, Campos Novos dos Parecis, Tangará da Serra, Alto Garças e Rondonópolis, para ver culturas de soja, milho, arroz, feijão e algodão, além de seringais permanentes. Em Sinop-MT inspecionamos o comportamento das terras da mata amazônica cultivadas anualmente em plantio direto e, em Unaí-MG, visitamos terras de cerrado sob irrigação. Ao passar por Brasília estivemos com o presidente da Embrapa, almoçamos com os pesquisadores do CPAC, em Planaltina, e tivemos audiência com o presidente Fernando Henrique em conjunto com o ministro da Agricultura. Durante essas conversações, Borlaug disse que a transformação de solos pobres não produtivos em terras agricultáveis, como constatado, era o maior evento agrícola da história da civilização. Após convívio de quase uma semana, pude conhecer melhor Norman. É uma pessoa muito jovial, entusiasta pelo que faz e pelo que vê. Carismático, transmite suas crenças às pessoas com quem conversa. E um agrônomo verdadeiro, vibrando e se extasiando com lavouras bem-feitas. Riu com interesse ante a expressão de um produtor frente a uma perfeita lavoura de feijão em plantio direto na resteva de milho: Vejam se não é um orgasmo aos olhos! Dr. Borlaug - Senhores Cardoso, colegas, amigos e todos os presentes. Quero fazer alguns comentários antes de explicar como vejo a situação mundial de alimentos nas próximas décadas e como isso vai afetar a economia de seu país. Mas, pela primeira vez na História da civilização, no Brasil foi feito exatamente o oposto de outros povos que se valeram da riqueza que havia sido acumulada no solo. Os senhores partiram de terras inférteis pela natureza, após lavagem e perda de nutrientes por milhões de anos - restaurando-as com fertilizantes, usando melhores variedades adaptadas a esses solos e fazendo o controle adequado das ervas daninhas. Além disso, mostraram a competência de adotar o plantio direto, capaz de reduzir custos e ao mesmo tempo proteger o solo evitando a erosão. Trata-se de um acontecimento importante que nos afeta a todos: os aqui presentes e os do resto do mundo. (...)

Agora quero voltar ao cerrado. O que os senhores têm feito - o setor pesquisador e extensionista, o setor privado de adubos, de sementes e de agroquímicos - em conjunto com a política do governo para estimular a abertura de fronteiras com estradas e investimentos, todo esse esforço reunido, é uma revolução. Para mim é uma revolução para o futuro. Em 1948, quando pela primeira vez vi os campos nativos do Rio Grande do Sul, que naquele instante estavam sendo adubados, eu pensei: nunca em minha vida vou ver esta terra produzir. Mas, já velho, estou apreciando essa mudança até agora não terminada. Os custos de produção são por demais elevados devido aos fretes de longas distâncias. O governo tem de investir para reduzir o custo do transporte. Há ainda problemas de preços e de crédito. Isso sempre tem acontecido quando ocorre uma revolução agrícola. Durante minhas visitas vimos que o que os senhores fizeram foi usar terras inférteis - não por ação humana, mas pela própria natureza durante milhões de anos lavadas de quase todos os nutrientes e com muita acidez. Os geneticistas e pesquisadores têm desenvolvido variedades mais tolerantes ao alumínio, o que ajuda até certo ponto. A variedade tem a capacidade de aumentar a produção, mas é o manejo agronômico, como a semeação na época certa, junto com o plantio direto que eu admiro muito porque reduz a erosão e os custos, que permite a expressão do potencial das novas variedades melhoradas. Não adianta produzir variedades do mais alto rendimento, se estamos utilizando menos de 40% do seu potencial. Um segundo ponto importante das variedades é a segurança da colheita, ou seja, a resistência a moléstias e pragas, que variam continuamente requerendo a substituição dessas variedades, sendo este um trabalho dos cientistas e pesquisadores. Mas o básico na produção é restaurar a fertilidade, semear na época certa, conservar a umidade, proteger a terra e contar com uma política econômica do governo que permita ao agricultor adotar essa tecnologia. Os brasileiros têm uma grande vantagem nesse ponto: a maior parte dos agricultores tem uma boa educação e pode ser alcançada através do rádio, da imprensa, da televisão e das publicações, o que não acontece em muitos países em desenvolvimento. Agora vamos passar rapidamente alguns slides : 9) Aqui está uma coisa que está sendo trabalhada em Ghana, na Embrapa - Sete Lagoas, na República da África do Sul e na China. Trata-se de aproveitar este milho com altos níveis de usina e triptofano de alto valor nutritivo. As rações podem ser balanceadas com soja, mas este milho é muito importante para os pequenos agricultores. Originalmente se chamava Opaco 2 e foi descoberto trinta anos atrás. Uma coisa que me mata é que uma tecnologia de tão grande potencial permaneça ainda nos laboratórios e campos experimentais, sem ter chegado às mãos do agricultor.

Não devemos nos esquecer de quanto têm crescido as democracias e de como continuam crescendo. Mas os senhores (do Brasil), que se preocupam com os mercados futuros, têm de considerar principalmente a China. Quando visitei aquele país pela primeira vez, em 1974, não se podia comprar nada, nem um simples canivete. Hoje fabricam toda a classe de produtos e exportam muito. Só no ano passado tiveram um superávit comercial com os Estados Unidos de 75 bilhões de dólares. A China é o mais forte candidato a futuro mercado para o Brasil. PERGUNTAS E RESPOSTAS Sr - Estamos produzindo em região longínqua, deficiente em infra-estrutura. O senhor acha que virão estradas, energia, aeroporto etc., em decorrência da produção, como aconteceu na Índia? Dr. Borlaug - Meu ponto de vista é de que deve haver produção para justificar os investimentos em infra-estrutura. Foi o fato de guardar trigo nas escolas que levou o governo da Índia a construir armazéns. Os senhores são gente corajosa, agressiva e com boas intenções que já contam com o apoio da indústria. Devem se organizar em associações de produtores para ter uma voz perante o governo, a fim de indicar os estrangulamentos e reivindicar o que falta, sejam escolas, estradas ou outros itens. O ministro Paulinelli conhece bem essas pressões. Referimo-nos a essas questões quando conversamos brevemente com o presidente da República. Dr. Borlaug - É difícil saber exatamente em que setores se caminhará mais rápido. A biotecnologia tem grande potencial, havendo experiências com o gene BT que, introduzido no algodão e na batata, tem-se mostrado capaz de controlar alguns insetos, embora não todos. Os hormônios por outro lado, tem possibilitado o aumento da produção de leite e do crescimento dos porcos, mas há reações contrárias por os considerarem uma toxina para os consumidores finais. Informaram-me sobre a falta de um herbicida eficaz para o arroz cultivado com irrigação, o que certamente está desafiando a indústria. Seguramente os estudos de genética molecular trarão novidades, desde que conjugados a plantas com potencial de comércio. Não sabemos o que pode acontecer. Devemos ter planos para cada cultura, conhecendo os pontos de estrangulamento e estabelecendo prioridades. Se quisermos resolver tudo ao mesmo tempo, não avançaremos nada e nos veremos perante o caos. Prof. Scheid Lopes, premiado pela IFA, neste ano, (Lavras, MG) - Considerando o progresso alcançado no cerrado que o senhor acaba de visitar e sempre menciona em suas palestras, não poderia a produção dessas terras ser limitada pela falta de uma decisão política adequada, como já ocorreu no ano passado? Lembremo-nos do exemplo do que foi feito na Índia, no Paquistão e na China onde decisões políticas resultaram em revoluções verdes. Poderemos alcançar o desenvolvimento do cerrado com apoio apenas da iniciativa privada? Dr. Borlaug - Meus parabéns, professor. Eu também me preocupo com uma dependência total do setor privado. As universidades estão preparando uma

nova geração de pesquisadores em agronomia e ciências correlatas, os quais necessitam fazer pesquisa para poder depois ensiná-las. O setor privado poderá não se interessar por novas plantas antes que apresentem perspectivas comerciais, embora seja importante a diversificação de culturas. Os senhores, por exemplo, têm de procurar novos tipos de rotação de cultura já que não contam com o frio para controlar pragas e moléstias. Por isso, a atividade de pesquisa financiada pelo setor público, tanto através da Embrapa como de institutos estaduais e das universidades, deve ser mantida. A idéia de tudo privatizar começou na Inglaterra e, a longo prazo, eu não gosto desse esquema. Dr. Antônio Barcelos (Porto Alegre, RS) - Já conseguimos no Brasil produtividades de 2.000 e até 5.000 kg/ha de trigo próprio para panificação. A produção veio diminuindo como conseqüência da preferência do governo pelo trigo subsidiado nos EUA e Canadá ou produzido sem adubo na Argentina. Podemos produzir três a quatro vezes mais do que hoje. Será que devemos abandonar a produção no sul do país? A produção no cerrado seria a solução para o trigo brasileiro? Dr. Borlaug - Durante minhas atividades profissionais no Paquistão e na Índia inúmeras vezes, tive de enfrentar as autoridades para convencê-las a adotar medidas que ao meu ver eram as melhores para aqueles países. O importante é lutar pelo que se considera o mais acertado e procurar fazer com que autoridades e políticos adotem nossos pontos de vista. No caso daqueles países, tive muitos contatos e atritos, e enfrentei desafios inclusive com primeiros-ministros. Assim tem de ser, mesmo quando se é um técnico. O mesmo acontece no relacionamento do setor privado com os governos. Em se tratando de países como o Brasil, com situações diversas, é difícil opinar com relação às políticas adotadas. Secretário A. Paulinelli (Belo Horizonte, MG) - Tive no doutor Norman um amigo e um consultor. Sempre confiei na auto- suficiência do Brasil em trigo e nisso fui corroborado pelo palestrante que em relatório de 1978 afirmou que o programa de trigo da Embrapa era dos melhores do mundo e que o Brasil só não alcançaria a auto-suficiência se não quisesse. Todavia, neste ano vamos importar 6 milhões de t de trigo, o que para nós, agricultores, especialmente quando políticos, é uma grande tristeza. Infelizmente tenho de me retirar para participar de uma reunião de cafeicultores que reclamam financiamento amparados em 10 bilhões de dólares deles retirados através de taxas de exportação. Doutor Norman, o senhor é um homem de experiência que pode falar também com as nossas autoridades em favor da agricultura brasileira. Ninguém melhor do que o senhor pode fazer isso. Será que não poderíamos contar com o senhor como nosso consultor, das empresas de insumos, dos agricultores, de suas cooperativas e sindicatos, os quais estão sofrendo de terríveis pragas que são muito menos agronômicas e muito mais pragas políticas? Dr. Borlaug - Conheço o senhor Paolinelli desde que era ministro da Agricultura. Encontrei nele sempre um entusiasta, condição essencial para ajudar a agricultura.

No início de sua pergunta o senhor mencionou o valor do dinheiro. Por falta de recursos, o instituto de pesquisa que ajudei a formar no México entrou em decadência e isso é uma tragédia. Estou informado de que a qualidade farinácea do trigo brasileiro é muito boa, aliada a variedades de alto rendimento. Retirando os subsídios nos EUA, não haveria razão para tão grandes importações. Há que considerar também o valor da moeda, pois a moeda supervalorizada penaliza o agricultor. Não pretendia, mas volto a repetir, com moeda supervalorizada compra-se tudo muito barato do exterior e com tal disparidade tudo acaba (para o agricultor). Dizeres do diploma conferido ao Dr. Borlaug nesta data: O Conselho de Administração, o Conselho Consultivo e o Conselho de Clientes da Manah S/A conferem o presente Diploma de Honra ao Mérito ao Professor Doutor Norman Borlaug em reconhecimento à sua dedicada participação na pesquisa agronômica com vistas ao aumento mundial de produção de alimentos e pela sua entusiástica confiança na agricultura do Brasil.